Diferentemente de Sonnen, Bisping e outros notórios trash talkers do MMA, parece claro que as provocações do Conor não se limitam ao objetivo de promover as lutas e sua imagem, pois ele também usa tal habilidade como recurso pra desestabilizar psicologicamente seus adversários.
O grau de eficiência e influência disso nas lutas é discutível. Vai muito além do aspecto psicológico individual no sentido de manter-se confiante, seguro, não "pipocar", coisa que ninguém duvida ser de suma importância não só no universo das lutas, mas no esporte de modo geral. Conor, por sinal, é um dos mais impressionantes mesmo quando se avalia apenas essa qualidade. Nos momentos que antecedem a luta, hora em que até eu, mero espectador, dependendo dos envolvidos fico tenso bagarai, o sujeito parece estar fazendo palhaçada pra um grupo de amigos em um churrasco qualquer no quintal de sua casa.

Agora, a eficiência do lutador na ação/tentativa de manipular o psicológico do adversário ao seu favor é bem mais subjetiva de se julgar. Consensualmente, no UFC creio que é possível citar apenas o Aldo como exemplo de lutador que realmente foi pego de forma determinante nesse jogo mental do irlandês. Guardadas as devidas proporções, Alvarez é outro que deixou em muitos essa impressão.
Eu particularmente penso que se as lutas em si, sobretudo no contexto das grandes lutas do UFC, já têm o potencial de exercer sobre o lutador uma pressão psicológica fodida; digamos então, no mínimo, que ter do outro lado do octógono um sujeito que parece emocionalmente imune te provocando, instigando e desdenhando mesmo dos seus bons ataques, não é algo muito agradável, rs. Depende muito do lutador a enfrentar um cara como o Conor, mas a questão é que quando o cenário por si só é grandioso e intimidador, há muito espaço para os detalhes poderem ser decisivos.
Também é interessante notar que quando lutadores com essa característica se enfrentam, eles tendem a se anular completamente nesse sentido. É seguro dizer que as provocações do Conor na promoção das lutas contra o Nate em nada afetaram as performances do Maconha Jr, que lutou como sempre. Assim como os tapas na cara e os deboches do Nate durante a peleja também não desestabilizaram nem um pouco o irlandês. E quando seu irmão mais velho exagerou nas presepadas na luta contra o Anderson, talvez não estivesse apenas querendo tirar uma onda e fazer o negão provar do seu próprio veneno, mas também chamar o Spider pra uma briga um pouco mais franca, visto que passar 5 rounds buscando a luta e perseguindo um excepcional contra-golpeador maior do que ele não seria uma das estratégias mais inteligentes. Mas, como era de se esperar, Anderson cagou pras provocações do Maconha, colocou as mãos na cintura e ficou só olhando como uma expressão no rosto de "it's normal".

Por fim, pode-se dizer que essa é uma "arte" complexa e deveras perigosa, dominada por poucos e na qual mesmo os maiores artistas podem um dia se estrepar.

PS: Não quero dizer que Anderson só perdeu pro Weidman por ter exagerado nas provocações, nem que o Conor só venceu o Aldo por ter entrado na mente dele. Óbvio que ambos os casos envolveram muitos outros fatores.
Eu admiro pra caramba esses malucos capazes de trazer pro jogo esse fator psicológico, mental, emocional. Acho foda. Quando fala-se em QI de luta, injustamente isso quase nunca entra em discussão.