
Anteriormente discutimos em detalhes a tendência de Barão de swingar a torto e a direito sempre que ele abandona sua fórmula de soltar um ou dois socos ao mesmo tempo.

A trocação final ilustrou exatamente o que vínhamos falando sobre o jogo de Barão. Uma vez que ele dá o primeiro soco e entra numa trocação, sua defesa desaparece. Ele se estica para a frente da cintura, ergue o queixo e abaixa sua mão de trás, swingando loucamente.

Primeiramente, Barão tem ótimos contragolpes quando seus adversários o atacam do jeito que ele gosta - em uma investida de cada vez. Urijah Faber foi respondido com jabs de contragolpe e ganchos de esquerda nas duas lutas que fez com Barão, quando tentou entrar com saraivadas de socos.
O que Barão versus Dillashaw ilustra amplamente é a diferença entre boxear e socar. Barão bate forte, todos sabemos disso, e ele quase sempre procura jogar socos com poder de nocaute. Dillashaw, por outro lado, não conectou bombas a todo momento, mas acertou os socos constantemente, e estes ganham pontos. O ritmo por si só desgastou Barão até a última gota de sangue no round final, e o inchaço no seu olho sugere que, afinal de contas, conectar, quando feito de forma consistente, é conectar forte o bastante.
O que realmente complicou o processo para Barão, e isso é outra coisa que discutimos anteriormente, é que ele simplesmente não recebeu muitas oportunidades de contragolpe. Nas suas lutas com Urijah Faber, ou Michael McDonald, estes começavam num ritmo lento e depois viriam a correr para dentro com swings. Mas o liso Eddie Wineland, cuja performance contra Barão me impressionou bastante, fez este preparar a mão, esperar a hora de soltar o gatilho e contragolpear no vazio, na luta entre eles.




Na velha coletânea japonesa de artes marciais existe uma técnica chamada sankabu-tobi - o salto triangular. É executada com pulos ao redor do adversário até que se consiga se posicionar atrás dele. Você não conseguirá fazê-la no estilo Ong Bak, mas o mais próximo disso que você pode conseguir sem poderes mágicos é tentar pular direto para trás do adversário no momento do zigue-zague.

E aqui está Roy Jones mostrando a ideia no ápice da sua execução. Difícil de fazer, mas bem legal se as circunstâncias trabalharem a favor.

Um dos principais fatores que estava notavelmente ausente da performance de Barão foi seu jogo de chutes baixos. Ele acertou poucos, e eu estou certo de que machucaram, mas não mostrou o mesmo empenho em usar essa arma que ele normalmente costuma mostrar. Isso ocorreu porque Dillashaw eliminou essa possibilidade. Como dissemos naquele Killing the King, se você não sabe por onde começar contra um adversário, a melhor coisa a se fazer é tirar o que eles têm de melhor e forçá-los a usar o plano B.
Os pés de Dillashaw estiveram frequentemente alinhados ao corpo enquanto ele dançava e circulava. Isso significa que para chutar, Barão realmente teria de andar para a frente e buscar as pernas, pois não havia uma perna sobrando na frente do corpo que se apresentasse como um alvo.
Esse é um dos trade-offs da luta - quanto mais abertos seus pés estão na sua base, mais espaço você tem para conduzir a perna de trás e gerar potência. Mas, ao deixar as pernas paralelas, você elimina o alvo dos chutes baixos e pode se movimentar lateralmente com liberdade. Se se começa a correr para dentro tentando conectar chutes baixos contra esse tipo de base, sobretudo contra um wrestler forte, surge um risco considerável de se ter a perna agarrada e o corpo pregado no chão.
Embora não tenha demonstrado muito durante a luta, Dillashaw era "o wrestler" e essa devia ser a principal preocupação de Barão ao entrar lá. Quando McDonald e Wineland estavam incomodando Barão em pé, ele foi para o clinch ou tentou entradas de queda. O fato dele ter hesitado tanto em tentar isso contra Dillashaw mesmo quando vinha sendo espancado em pé deve sugerir que, apesar de ausente, o wrestling de Dillashaw teve papel importante na luta.
Essa distância que Dillashaw manteve com os pés alinhados - pronto para se movimentar lateralmente - se mostrou realmente útil quando Barão tentou o seu costumeiro chute rodado. Barão é um minimalista: ótimo jab, ótimo overhand, ótimo chute baixo de direita, ótimo chute giratório de direita - é basicamente isso o que ele tem em pé. Quando está sem ideias, recorre ao chute giratório. Contra Eddie Wineland, deu certo. Contra Dillashaw, não deu - ficou óbvio que o representante da Team Alpha Male estava treinado para isso.
Quando um chute giratório vem até você, a melhor coisa a fazer é tratar seu adversário como uma porta giratória. Suas costas se tornam a seção da porta na qual você pode entrar. Você a segue e tenta permanecer no ângulo que ele não enxerga o maior tempo possível enquanto o chute dele passa batido. Ele acaba se deparando numa posição estranha, desequilibrado e precisando esticar o pescoço para conseguir vê-lo enquanto você responde com socos.

Eu digo isso toda vez que Anderson Silva ou Lyoto Machida lutam, mas aquele que controla a distância controla as ações. Controle as ações e a luta é sua.
Então quais foram as fraquezas de Dillashaw em sua performance? Bem, ele ainda pisa bastante na hora de golpear. Isto é, ele troca de base no meio dos ataques. É muito difícil para os adversários conseguirem acompanhá-lo, ele faz os socos entrarem por ângulos incomuns, o que o permite dominar novos ângulos em relação ao adversário. Mas isso também significa que ele se desequilibra quando o tiro sai pela culatra. Se você leva uma boa porrada durante uma combinação em que pisa os pés, você vai se desequilibrar com muito mais facilidade do que numa situação onde você se encontra apoiado numa base mais firme.


Mas isso não passa de especulação que podemos deixar para outro dia, por enquanto vamos somente reverenciar Dillashaw por sua incrível performance e aplaudi-lo por conseguir fazer o que outros trinta e poucos lutadores não conseguiram fazer - vencer Renan Barão.
Matéria completa, escrita por Jack Slack: http://fightland.vice.com/blog/how-tj-d ... d-the-king