Briga com OAS, discurso vago e desafios à gestão: como Koff deu a Arena ao Grêmio
No anúncio de que vai comprar a gestão da Arena do Grêmio da OAS assim que conseguir a aprovação do Conselho Deliberativo, em 30 dias, Fábio Koff caprichou no discurso emotivo, mas explicou mal como vai pagar pela operação e também como vai estruturar o clube para conseguir, nas palavras dele, “receitas engessadas em razão do contrato” com a construtora.
A realidade é que, hoje, o Grêmio não está pronto para administrar a arena. O departamento comercial vislumbra vender cotas de patrocínio que incluam camarotes e placas publicitárias, o marketing quer aumentar a receita com sócios-torcedores, o financeiro aguarda pelo dinheiro das bilheterias que, até então, não via nem a cor. São todas receitas que o Grêmio não tinha e passará a ter com a gestão do estádio. A questão é se terá capacidade para maximizá-las a ponto de, ao menos, evitar prejuízos.
A Arena, deficitária desde que foi inaugurada, exige uma estrutura muito mais qualificada para gerar dinheiro do que o Olímpico. Basta comparar. Há 130 camarotes, com preços hoje entre R$ 160 mil e R$ 220 mil anuais, contra 45 camarotes da antiga casa que saíam por R$ 70 mil. Há 8.800 cadeiras “gold”, um setor que inexistia, a serem vendidas. Além do quê, sobretudo por causa da Copa do Mundo, hoje novos estádios precisam prestar serviços “padrão Fifa”. Isso deixa para o Grêmio dois caminhos: ou contrata profissionais de primeira linha para fazer toda a gestão em casa, opção improvável, ou traz empresas específicas para vender e operar cada propriedade comercial da Arena.
De fato, não parecia haver alternativa, senão tirar a OAS do negócio, para conseguir receitas de imediato. Paulo Odone, presidente gremista que fechou a parceria com a construtora, teve o mérito de construir um estádio novo sem gastar nenhum centavo e sem ficar desabrigado durante todo o período da construção. Mas sacrificou receitas provenientes do estádio por anos demais. O Grêmio passaria a receber R$ 7 milhões anuais e 65% do lucro nos primeiros sete anos de parceria, depois R$ 14 milhões anuais e 65% nos 13 anos restantes, mas isso é pouco. Como a Arena ainda é deficitária, esses 65% equivaleriam a zero por muito tempo.
Mais: como ficou combinado com a OAS que o repasse deste dinheiro seria feito depois de determinados períodos, semestral ou anualmente, isso prejudica o fluxo de caixa do clube. Toda a verba que entraria no caixa da Arena Portoalegrense, empresa constituída por Grêmio e OAS para gerir o estádio, ficaria represada enquanto o time tem salários de atletas a pagar todo mês.
Num contexto do futebol brasileiro que tem patrocínios em retração e contratos de direitos de transmissão assinados até 2017, Koff precisou, à base de terrorismo e canibalismo, forçar a saída da OAS. Terrorismo porque, com as críticas públicas que fez à construtora desde que assumiu a presidência, toda esta história emotiva de “a Arena não é do Grêmio” e “vou deixá-la para meus filhos, netos e netos dos meus netos”, virou a torcida contra a OAS. Se tem um negócio que deixa acionista desconfortável é ler todo dia, no jornal, críticas à empresa que investe. E canibalismo porque, ao criar pacotes de ingressos e associação paralelos aos da Arena Portoalegrense, o Grêmio sufocou as receitas da empresa que geria o estádio.
A tática de Koff para reconquistar as receitas com estádio funcionou, também, porque a OAS não fez nenhuma questão de manter a gestão da Arena. Na verdade, a construtora já havia manifestado outras vezes no passado interesse em sair do negócio. Só não conseguiu porque tomou empréstimos de bancos para construir o estádio, sendo o Santander o principal deles, e esses bancos se recusavam a repassar a dívida para o clube. Do ponto de vista do banqueiro, a lógica é a seguinte: para a OAS, uma construtora, confio emprestar centenas de milhões de reais; para o Grêmio, um clube de futebol, não.
Esta, aliás, é uma pergunta-chave a ser respondida por Koff: como o Grêmio equacionou o dinheiro que a OAS tomou emprestado de bancos? Ao blog, a assessoria da presidência do clube avisou que essa e outras questões serão esclarecidas no decorrer dos 30 dias que o Conselho Deliberativo terá para analisar a operação e decidir, por voto, se a aprova.
Tudo isso torna a missão do futuro presidente gremista, seja ele Romildo Bozan Jr. ou Homero Bellini Jr., bastante delicada. Sem a OAS para se proteger de prejuízos com a operação da Arena, o Grêmio terá de se cercar de profissionais e empresas suficientemente competentes para arrecadar mais do que gasta. Koff, de saída da presidência ao fim deste ano, graças ao discurso emotivo na linha do “eu dei a Arena de fato para o Grêmio”, a despeito de qualquer resultado financeiro, já garantiu sair em alta.
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