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por Mestre Santana » 08 Abr 2015 15:10
ZICO NA UDINESE
Como era de se esperar, Zico foi recebido como um rei pela torcida. E não demorou a justificar os milhões investidos em seu futebol. Logo na estreia no Campeonato Italiano, o meia conduziu a goleada por 5 a 0 sobre o Genoa, balançando as redes duas vezes e dando passes para mais dois tentos. Na rodada seguinte, os friulani se mantinham na ponta graças a mais uma atuação notável do Galinho: 3 a 1 sobre o Catania, com outros dois gols e uma assistência.
Ainda que Zico continuasse destoando, o bom início da equipe treinada por Enzo Ferrari não se manteve. Dona do terceiro melhor ataque da Serie A (47 gols marcados em 30 rodadas), a Udinese descompensava com a terceira pior defesa (40 gols sofridos) e encerrou a campanha na nona colocação, a duas vitórias da zona de classificação para a Copa da Uefa. Já na Copa da Itália, a sorte não foi diferente, com o time eliminado nas quartas de final pelo Verona.
Contudo, a irregularidade do clube não atrapalhou o sucesso de Zico em sua temporada de estreia. O brasileiro foi o vice-artilheiro da Serie A, anotando 19 gols em 24 partidas – e poderiam ser mais, não fosse uma lesão sofrida durante o segundo turno. Oito das 11 vitórias do clube no torneio contaram com ao menos um gol do camisa 10, que deixou sua marca em confrontos com os quatro primeiros colocados do campeonato naquele ano – Juventus, Roma, Fiorentina e Internazionale.
A adaptação rápida ao futebol europeu acabou reconhecida. Zico foi eleito o melhor jogador do mundo em 1983 pela revista World Soccer. O brasileiro recebeu 28% dos votos dos leitores, à frente de Michel Platini, Paulo Roberto Falcão, Diego Maradona e Karl-Heinz Rummenigge. O francês, inclusive, ganharia naquele ano a Bola de Ouro da revista France Football (na época, só europeus participavam do prêmio), registrando o quádruplo da pontuação de Kenny Dalglish, segundo colocado.
Zico marcou 19 gols, apenas um atrás na artilharia do campeonato, que ficou com Michel Platini, da campeã Juventus. O detalhe é que o francês jogou seis partidas a mais,22 muito por conta de uma lesão que Zico sofrera em amistoso contra o Brescia.
Zico não deixou de reproduzir na Itália sua jogada característica, apavorando os goleiros adversários com suas cobranças de falta, gerando até acirrados debates nos programas esportivos nos canais de televisão do país: "Como evitar os gols de Zico?", discutiam. Em sua passagem pela Udinese, Zico marcou 17 gols de falta dentre seus 57 gols. Dos gols "normais", dois são lembrados em especial: o da vitória de 1 x 0, em novembro de 1983, marcado aos 41 minutos do segundo tempo, sobre a então campeã, a Roma, que nunca havia perdido para a Udinese. Outro foi uma bicicleta em sua estreia no mítico Estádio San Siro, em jogo contra o Milan, diminuindo no final da partida o placar para 3 x 2 - ainda arranjaria tempo para dar assistência a Causio para o gol de empate. Foi também muito aplaudido e teve o seu nome gritado e cantado pelas torcidas adversárias, fato que ocorreu contra o Ascoli, Genoa e Catania. Contra o Ascoli, torcedores, repórteres e até o goleiro adversário o aplaudiram após ter feito um lindo gol. Em Gênova, o estádio inteiro cantou o seu nome e em Catania os torcedores do time rival não só gritavam e cantavam o seu nome como também torciam por ele: todas as vezes que ele tocava na bola era ovacionado e quando surgia uma falta próximo a área, clamavam para que Zico a cobrasse.
Ao terminar a partida, o jogador brasileiro Pedrinho, do Catania (e seu colega na Copa de 1982, além de ex-adversário de Vasco), foi indagado por um repórter: "Vocês poderiam ter vencido o jogo?". E ele respondeu: "Como poderíamos se até a nossa torcida estava torcendo pelo Zico?". Em uma pesquisa realizada em novembro de 2006 pelo jornal italiano La Repubblica sobre os maiores jogadores brasileiros na Itália, Zico aparece em primeiro, à frente de Mazzola, Falcão, Careca, Ronaldo e Kaká, dentre outros. Seu carisma e talento continuaram a ficar no coração do torcedor da Udinese mesmo após sua saída: em 1989, quatro anos após ter deixado o clube (que caíra para a Serie B duas temporadas após o ídolo ter ido embora), lotou o Estádio Comunale del Friuli na partida que marcava a sua despedida da Seleção Brasileira. Vinte anos depois, em novembro de 2009, o Galinho recebeu a cidadania honorária de Udine.