
Desde a fracassada participação nas eliminatórias da Euro 2016, a seleção da Holanda vive uma espécie de “depressão”. Pior: a “depressão” é agravada por dois fatores. A lembrança recente do que a seleção pode fazer (nem parece que se fala de uma equipe que fez o que fez na Copa de 2014, quando ninguém esperava o terceiro lugar, e que estava acostumada a despachar adversários nas eliminatórias dos torneios), e a desconfiança constante de torcida e acompanhantes de futebol em geral, a partir da ausência da Euro. A ponto de já se falar, até exageradamente, que a Holanda viverá uma espécie de “hungarização”, estando condenada a viver das lembranças para sempre, nos clubes e na seleção. Como a Hungria, após 1954 – participação na Euro 2016 à parte.
Tal desconfiança tem razão de ser. Afinal, também não se supunha que o vexame holandês fosse ser tão grande na qualificação para o torneio continental de seleções. Sem contar a dificuldade na renovação de jogadores, já abordada nesta coluna. No entanto, o olhar de soslaio para a Laranja já está tomando um vulto grande demais. E o grupo convocado para as datas Fifa – neste sábado, contra a Bulgária, em Sofia, pelas eliminatórias da Copa de 2018, e na próxima terça, em amistoso contra a Itália, na Amsterdam Arena – tem as condições de provar que, se não é a melhor geração de jogadores que a Holanda teve (longe disso), também não é a pior, como parece.
Para começo de conversa, os trabalhos de preparação dos 25 jogadores convocados, em Noordwijk, já tiveram um clima mais otimista. E ao olhar para a relação feita por Danny Blind, ela até abre algumas possibilidades. Principalmente num setor sempre problemático: a defesa. Que, tudo indicava, sofreria ainda mais para estes jogos: afinal, com as lesões de Jeffrey Bruma e Virgil van Dijk, nenhum dos zagueiros titulares nas últimas partidas de 2016 estará à disposição.
Mas, se Bruma e Van Dijk estão machucados, Stefan de Vrij está recuperado e voltou a ser lembrado. Como já mostrou na Copa de 2014, o zagueiro oferece segurança – e até mais habilidade com a bola nos pés. De quebra, De Vrij ainda poderia formar a dupla de zaga no 4-3-3 com outro convocado: justamente o seu companheiro na Lazio, Wesley Hoedt, estreante na Laranja. Ambos formam a terceira melhor defesa do Campeonato Italiano, só perdendo para Juventus e Roma – e o entrosamento nos Biancocelesti pode muito bem ser reproduzido na Oranje.
Sem contar aquela que foi a maior surpresa da convocação: Matthijs de Ligt. Tudo bem, o zagueiro de 17 anos vem correspondendo nas oportunidades que ganha no Ajax; foi muito bem na partida de volta das oitavas de final da Liga Europa, contra o Copenhague; e o próprio técnico do Ajax, Peter Bosz, sugeriu: “Se eu fosse o técnico da seleção, ousaria com [a convocação de] De Ligt”. O que não se esperava era que Danny Blind atendesse aos pedidos e incluísse o jovem na lista final – embora só se devam esperar oportunidades no amistoso contra a Itália.
Ainda assim, Blind foi bem positivo ao falar de De Ligt: “Eu não sou o pai dele, não o conheço como homem, mas gosto das reações dele em campo. Ele tem aprendido muito com o Ajax, sejam coisas boas ou ruins. Pode ser que ele comece jogando, ainda mais porque temos duas partidas a serem disputadas”. Se aproveitar a chance, o novato certamente será mais uma opção. Como o é Rick Karsdorp, muito bem pelo Feyenoord na temporada, já se consolidando como nome na lateral direita, onde disputa posição com a dupla do Ajax (o titular Joël Veltman e o reserva Kenny Tete). Na lateral esquerda, não há muita contestação: Daley Blind é o nome.
O meio-campo também foi outro setor do time que aparentemente sofreria, mas oferece motivos para esperança, aqui e ali. Davy Klaassen já entrou naquela categoria de jogadores que está grande demais para o Campeonato Holandês; é o mais importante na equipe do Ajax, controlando o ritmo da equipe e mostrando por que é o capitão Ajacied. Contrariando todas as expectativas, Kevin Strootman conseguiu ótima sequência de jogos na temporada, ganhou paz após as lesões, e enfim é o que todos esperavam que ele fosse quando chegou à Roma: um dos pilares da equipe. Assim como Georginio Wijnaldum, certamente um dos melhores e mais importantes jogadores do Liverpool na atualidade. Sem contar Jens Toornstra e Tonny Vilhena: também convocados, os meio-campistas certamente serão lembranças de destaque no Feyenoord cada vez mais próximo do consagrador título holandês. Porém, nenhum deles ainda é páreo para a importância do capitão Wesley Sneijder no elenco – e poucos ousam imaginar Danny Blind escalando a Oranje sem ele, por mais que o nível de suas atuações tenha caído visivelmente.
Mas se há quem pense que Sneijder devia ser passado na seleção holandesa (e nem é absurdo pensar assim), simplesmente não há quem imagine a Laranja sem Arjen Robben na ponta esquerda do ataque, com a camisa 11. E Robben assumiu, em entrevista coletiva, que pensou na possibilidade: “Eu me perguntei se deveria seguir nas duas frentes, clube e seleção, ou se somente jogaria pelo Bayern. Até falei com minha família, com minha esposa e com o técnico [Blind]”. Para a sorte da Holanda, as lesões renitentes deram uma trégua. Foi o suficiente para que o atacante voltasse a ser muito importante nos bávaros rubros. E para que ele decidisse seguir em frente: “Agora, já estou em forma há um tempo. Por isso, decidi continuar na seleção. Ainda quero jogar mais uma Copa”.
E ao lado de Robben, no centro do ataque, está uma das grandes dúvidas de Danny Blind. Vincent Janssen é grossa decepção – até previsível, a bem da verdade – no Tottenham, até aqui, mas tem cumprido seu papel na seleção. Porém, tem na concorrência um Bas Dost que voltou a viver grande fase – não só como goleador do Campeonato Português, mas marcando gols a ponto de disputar seriamente a Chuteira de Ouro europeia. A questão está posta sobre quem será o “camisa 9” holandês. Na ponta esquerda, também parece clara a opção por outro “renascido das cinzas”: Memphis Depay, enfim com tempo e oportunidades para jogar no Lyon.
Janssen, Dost, Memphis, Klaassen, Wijnaldum, Strootman: várias boas opções para formar uma equipe boa. Não excelente, mas boa. Oferecendo a Danny Blind até a possibilidade de pensar num novo esquema tático: um 3-4-3, à moda de Antonio Conte no Chelsea (“É uma opção à disposição”). Mas tal variedade também acaba sendo um problema para a Holanda, já que não são nomes respeitáveis como os veteranos Sneijder e Robben. Contudo, é preferível ter uma variedade razoável de nomes a uma variedade cheia de problemas. É justamente o que acontece entre os goleiros. Maarten Stekelenburg parecia definitivamente recuperado, mas lesionou-se novamente e perdeu o lugar no Everton; Jasper Cillessen parece contentar-se só de estar no Barcelona e poder jogar as partidas na Copa do Rei; Michel Vorm tem experiência e capacidade, mas não tem a menor chance de jogar no Tottenham; após a turbulenta passagem pelo Ajax, Tim Krul apenas recupera o ritmo de jogo no AZ. Resta Jeroen Zoet – que até já foi mais importante no PSV, mas tem cumprido seu papel, o que parece suficiente.
É um problema. Mas que, nem de longe, significa que o time da Holanda é indefensavelmente ruim. Parece melhor que todos os adversários do grupo A das eliminatórias europeias para a Copa (exceto a França, claro). Já seria suficiente para tentar a repescagem – onde um possível adversário seria a Itália, contra a qual a Laranja se testará no amistoso da próxima terça. Se toda morte traz um período de luto, após o qual é necessário continuar, nesta sexta que marca o primeiro ano do desaparecimento de Johan Cruyff, a Holanda já parece serena para entender que a vida continua.
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Resumindo, é possível que a Holanda vire uma Hungria ? Será que é cedo para se pensar nisso ?
Quando a Alemanha percebeu que a seleção estava ficando cada mais fraca tomou uma atitude e mexeu em toda estrutura de sua, tendo o resultado chegando em 2014.