
As chaves de pé parecem ter uma má reputação no meio do jiu-jítsu. Em outras artes de grappling similares como o sambô e o catch wrestling elas ocupam uma posição importante.
Recentemente uma galera começou a aprimorar o jogo da sapataria (Garry Tonon e Eddie Cummings sem kimono e Luiz Panza e Cavaca com o pano, por exemplo) mas tais técnicas ainda não são tão evoluídas na arte suave e muita gente ainda as enxerga como sendo “baixas”, grosseria ou torce o nariz por cona do risco de lesões – especialmente as chaves de calcanhar. Por que isso?
Me lembro de ter treinado no Brasil há dez anos, ainda era faixa azul e tinha técnicas muito limitdas. Constantemente eu tentava atacar o pé de caras mais habilidosos que eu. Até me saí bem fazendo isso, mas um dia um dos faixas pretas me aconselhou:
"Reparei voce indo no pé de todo mundo. Voce é até bom nisso, mas o restante do seu jogo é bem pobre e sua guarda aberta é deficiente.

Ele estava completamente certo. Eu tinha passado muito menos tempo desenvolvendo aspectos mais importantes do meu jogo como uma boa guarda, passagens ou aprimorando posições e simplesmente tinha focado em pegar na finalização mais fácil que me aparecia: a chave de pé a partir da passagem de guarda.
Na minha academia, permitimos chaves de pé em todos os níveis, mas há uma razão para não incentivarmos faixas brancas a irem pros pés nos treinos: A probabilidade de lesão é maior, já que iniciantes têm menos controle de suas ações. Um outro motivo é que eles focariam menos nos desenvolvimento das técnicas de base.
Na minha opinião, chaves de pé devem ser vistas como apenas mais uma das armas do jiu-jítsu. No entanto, elas são muito úteis, principalmente contra oponentes que não as treinam constantemente. Pratique-as, mas até voce adquirir um nível mais avançado, não dê tanta ênfase ao ponto do seu jogo todo resumir-se a elas.
O campeão mundial Marcio Feitosa, certa vez disse numa entrevista ao Grapplearts:
"É fato que chaves de pé não deixam o jogo fluir tão bem como deveria, mas são movimentos como quaisquer outros. A única coisa que dizemos aos nossos alunos para não fazer são golpes que rotacionem o joelho pra dentro – não é porque não gostamos desse tipo de técnica, é porque pode machucar o companheiro. Na rotação, quando voce sente a dor, seu joelho já está machucado, é por isso que paramos de ensinar esses golpes. Também não ensinamos chaves de cervical, pois voce pode machucar alguém seriamente com isso.
É mais difícil pegar um braço, pois é muito escorregadio, outras coisas também. Ao praticar chaves de pé com o kimono, é preciso ser muito técnico, porque o oponente vai segurar na sua gola e será capaz de defender muito melhor. Se ele fizer isso, voce pode até ficar cansado tentando puxar o pé dele.
Sem kimono é bem mais difícil do cara defender. Escorrega mais, porém se pegar, fica mais difícil sair, pois não há o pano para segurar.Também se tem menos finalizações sem kimono – não se tem a lapela pra usar o tempo todo, voce tem menos chaves de braço e estrangulamentos, então ataca-se mais os pés e as pernas."
O importante é treinar esta parte do jogo, já que é sempre bom poder contar com uma finalização rápida quando se precisa de uma (como por exemplo quando voce está atrás no placar e a luta tá quase no fim), mas não se esqueça daquele velho ditado do jiu-jítsu: “Primeiro posição, depois finalização”.
Até a próxima.
Créditos da imagem: Rise Again BJJ
Fonte: http://bjjforum.com.br/por-que-as-chave ... jiu-jitsu/