Faixa vermelha lembra ensinamentos de Hélio Gracie oito anos após a morte
Enviado: 29 Jan 2017 15:05
Faixa vermelha lembra ensinamentos de Hélio Gracie oito anos após a morte
Aos 82 anos, mestre Waldir Lima, de Teresópolis-RJ, recorda aprendizados com um dos precursores do jiu-jítsu brasileiro, que morreu no dia 29 de janeiro de 2009
"Como passa rápido, parece que foi tudo ontem". No dia em que completa oito anos da morte do grande mestre Hélio Gracie, neste domingo, 29 de janeiro, foi com esta declaração de espanto que um dos seus discípulos, o também mestre Waldir Lima, aos 83 anos, atendeu à reportagem do GloboEsporte.com. Afinal, para o faixa vermelha nono grau de jiu-jítsu de Teresópolis, Região Serrana do Rio, um dos poucos na história a conquistar a maior graduação dentro da arte suave, os ensinamentos de um dos precursores do "Brazilian Jiu-Jítsu" seguem bem vivos na memória - mesmo sete décadas após os primeiros contatos com o "Samurai Brasileiro".Aos 82 anos, mestre Waldir Lima, de Teresópolis-RJ, recorda aprendizados com um dos precursores do jiu-jítsu brasileiro, que morreu no dia 29 de janeiro de 2009
- O Hélio era bom em tudo. Ele sempre nos dizia, para eu e os outros meninos aqui de Teresópolis, para não fazermos força para não nos machucarmos. Que jiu-jítsu é técnica - lembra.
A relação do "Professor Waldir" com a arte suave teve início ainda na adolescência. Por volta dos 13 anos, ainda garoto, o mestre começou a dar os primeiros passos no tatame no sótão de um antigo estabelecimento comercial na cidade. Desde então, 70 anos se passaram.
- Nós juntávamos colchões e cobríamos com lona. Ninguém sabia muito. Mas os que sabiam um pouco mais iam passando para o outro. Íamos aprendendo assim - narra o mestre, que é muito lúcido e ainda continua ensinando jiu-jítsu na cidade onde tudo começou para ele.
Foi nesse período também em que aprendia os primeiros golpes da arte suave que Waldir Neto teve a oportunidade de conhecer Hélio Gracie. Na década de 1950, o município de Teresópolis servia de "quartel general" para a família que difundiu o jiu-jítsu brasileiro.
- Nós combinávamos e nos reuníamos para pegar alguns treinos com ele. Ele reunia todo mundo e colocava para treinar. O "pau comia". Ele ia mostrando os detalhes, sem colocar a mão. Só nos orientando. Sempre que o Hélio vinha a Teresópolis, principalmente nos fins de semana, tentávamos aprender um pouco com ele. Na casa em que os Gracie ficavam ou nos nossos locais de treino. Era comum ele dar treinos - lembra.
Waldir Lima ganhou a faixa vermelha nono grau do jiu-jítsu das mãos do mestre Robson Gracie, filho do grande Carlos Gracie e sobrinho de Hélio. Esta é a honraria máxima da arte suave atingível, já que o décimo grau está destinado somente aos pioneiros do "Brazilian Jiu-Jítsu", os cinco irmãos responsáveis por difundir a arte marcial: Carlos, Oswaldo, George, Gastão e Hélio.
Outros tempos
Com vasta experiência na área e conhecido por demorar a graduar os alunos, o "Professor Waldir" também opinou sobre o momento da arte suave. Segundo ele, o próprio Hélio Gracie não aprovaria a forma de ensino atual que, de acordo com ele, prioriza muito as competições.
- O Hélio era bom em pé, no chão, em defesa pessoal. Era muito bom de estrangulamento. Gostava muito de treinar. Treinava estrangulamento até em tocos. Se entrasse na guarda dele, batia. Sempre foi muito dedicado e respeitado. Hoje, acredito que não estaria muito satisfeito com o jiu-jítsu apresentado. Estão muito focados somente no chão, na competição. Ele mesmo falava que este não é o jiu-jítsu dele. Ele priorizava a defesa pessoal. Ele era muito severo - concluiu.
OITO ANOS SEM O SAMURAI BRASILEIRO
Nascido em Belém, no Pará, em 1º de outubro de 1913, Hélio gravou seu nome no mundo das artes marciais ao difundir o "Brazilian Jiu-Jítsu" ao lado dos irmãos, principalmente de Carlos. Ao longo de mais de 80 anos de prática esportiva, enfrentou diversos oponentes de renome e, invariavelmente, maiores que ele, para provar que sua técnica estaria acima da força bruta.
Uma de suas lutas mais famosas aconteceu no Maracanãzinho, em 1955, contra o japonês Masahiko Kimura, um dos maiores nomes das artes marciais daquele país em todos os tempos. Mesmo tendo perdido a luta por uma chave de braço, o Gracie, que pesava 63 kg contra os 100 kg do japonês, revelou que chegou a ficar inconsciente durante o combate, mas recuperou-se e continuou lutando até ter seu braço quebrado pelo oponente, o que forçou o seu córner a jogar a toalha, encerrando a disputa.
Hélio Gracie foi o último condecorado com a faixa vermelha 10º grau. Ele morreu em 29 de janeiro, em Petrópolis-RJ, aos 95 anos, por falência múltipla dos órgãos. O mestre deixou a vida para se eternizar como um dos maiores nomes das artes marciais de todos os tempos.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/rj/serra- ... morte.html