Marcelo Behring - Matéria TRIP
Enviado: 11 Nov 2014 18:32
Compartilho matéria que saiu numa Trip do ano passado sobre o Marcelo, acho que nem todos aqui leram, por isso, peço respeito a quem vem aparecer aqui pra postar coisas como "Old" etc.
Dezoito anos depois da misteriosa morte de Marcelo Behring, Trip tenta entender os conflitos de um dos maiores lutadores brasileiros de todos os tempos. Entre eles, a luta travada dentro de sua cabeça: a do poeta, boêmio e amoroso contra o pitbull que parecia estar sempre pronto para matar ou morrer
Aquele bebê gordinho, de pernas roliças, logo virou a grande atração nas reuniões de família. Como era possível ele cair no chão, bater com a cabeça ou dar uma topada e continuar correndo como se nada tivesse acontecido? Choro, então, nem pensar. O que, no início, era engraçado depois virou preocupação. O pai começou a achar que ele sofria daquela doença em que as pessoas não sentem dor, a síndrome de Riley-Day. Só quando entrou na aula de jiu-jítsu, aos 4 anos, o pequeno Marcelo deu sinais de que poderia, sim, sentir dor. Mas para isso o adversário precisava se esforçar bastante. “Levei o meu filho para gastar energia no tatame, mas, sem querer, ele machucava as outras crianças. O professor chegou a me pedir pra deixá-lo em casa por um tempo”, conta o pai, Flávio Behring, hoje um dos mestres de jiu-jítsu mais graduados do mundo.
Só que Marcelo continuou frequentando as aulas, sagrou-se campeão carioca várias vezes e até morrer, aos 30 anos, foi um dos lutadores mais temidos do Brasil. Durante anos, foi uma espécie de “controle de qualidade” de seu grande mestre Rickson Gracie. Se alguém ousava desafiar o número um da família Gracie, tinha que passar por Marcelo primeiro. Só assim o desafiante seria considerado digno de uma chance contra Rickson. “Além de lutador fantástico, o Marcelo tinha o nosso espírito guerreiro, não levava desaforo pra casa. Era como se fosse do nosso sangue”, afirma Róbson Gracie, 77 anos, hoje o primogênito da lendária família que abrasileirou o jiu-jítsu japonês e o difundiu pelo planeta. Talvez por isso Marcelo seja um personagem cultuado não só nos tatames, mas por todo mundo que gosta de histórias de valentia. Foi protagonista num tempo em que as diferenças eram resolvidas no braço.
Apesar dos 26 anos dedicados ao jiu-jítsu, a luta mais famosa da vida de Marcelo Behring foi no vale-tudo, essa modalidade que hoje atende pelo pomposo nome de MMA (artes marciais mistas, na sigla em inglês). No dia 30 de abril de 1984, o Maracanãzinho estava lotado para o primeiro desafio entre representantes do jiu-jítsu e do muay thai (boxe tailandês). Antes da história, porém, um prólogo: um ano antes, um grupo liderado por Gracies invadiu a academia Naja, no bairro do Largo do Machado, zona sul do Rio. Eles estavam em busca do lutador de muay thai Mário Dumar, que dias antes havia dado um soco em Charles Gracie, filho de Róbson, não muito longe da academia. O pau comeu dentro da Naja e o resultado da rixa foi um desafio de vale-tudo para decidir que arte marcial era a melhor. Um dos donos da Naja, Flávio Molina, queria lutar contra um Gracie, mas a família achou que ele só merecia enfrentar um discípulo – um que parecia ter o sangue deles. Marcelo bateu no adversário sem piedade. Em certo momento, o técnico de Molina jogou a toalha, num sinal de desistência, mas o árbitro da luta pegou-a no chão, enxugou o próprio suor e a arremessou para fora do ringue. Tratava-se de Hélio Vígio, ex-delegado de polícia e também um discípulo ortodoxo dos Gracies.
“Cupim de ferro”
Com a reputação de casca-grossa garantida no Rio de Janeiro, Marcelo foi dar vazão ao seu espírito inquieto fora do Brasil. Como o surf era sua segunda paixão, foi atrás das melhores ondas do planeta. Na Indonésia, impressionou os nativos quando se machucou gravemente numa barreira de corais. Suas costas ficaram em carne viva, mas ele não se queixava de dor. Foi tratado apenas com plantas da região. No Havaí, encarou os black trunks, os temidos surfistas locais, e virou amigo do bicampeão mundial de surf Tom Carroll. Na Austrália, tentou difundir o jiu-jítsu através de desafios contra adeptos de outras lutas, assim como Hélio Gracie fez no Brasil e Rorion Gracie, o criador do UFC, fez nos EUA. “Ele ficava procurando os caras mais fortões da cidade para desafiá-los. Algumas dessas lutas saíram até nos jornais de lá”, conta o pai.
Dezoito anos depois da misteriosa morte de Marcelo Behring, Trip tenta entender os conflitos de um dos maiores lutadores brasileiros de todos os tempos. Entre eles, a luta travada dentro de sua cabeça: a do poeta, boêmio e amoroso contra o pitbull que parecia estar sempre pronto para matar ou morrer
Aquele bebê gordinho, de pernas roliças, logo virou a grande atração nas reuniões de família. Como era possível ele cair no chão, bater com a cabeça ou dar uma topada e continuar correndo como se nada tivesse acontecido? Choro, então, nem pensar. O que, no início, era engraçado depois virou preocupação. O pai começou a achar que ele sofria daquela doença em que as pessoas não sentem dor, a síndrome de Riley-Day. Só quando entrou na aula de jiu-jítsu, aos 4 anos, o pequeno Marcelo deu sinais de que poderia, sim, sentir dor. Mas para isso o adversário precisava se esforçar bastante. “Levei o meu filho para gastar energia no tatame, mas, sem querer, ele machucava as outras crianças. O professor chegou a me pedir pra deixá-lo em casa por um tempo”, conta o pai, Flávio Behring, hoje um dos mestres de jiu-jítsu mais graduados do mundo.
Só que Marcelo continuou frequentando as aulas, sagrou-se campeão carioca várias vezes e até morrer, aos 30 anos, foi um dos lutadores mais temidos do Brasil. Durante anos, foi uma espécie de “controle de qualidade” de seu grande mestre Rickson Gracie. Se alguém ousava desafiar o número um da família Gracie, tinha que passar por Marcelo primeiro. Só assim o desafiante seria considerado digno de uma chance contra Rickson. “Além de lutador fantástico, o Marcelo tinha o nosso espírito guerreiro, não levava desaforo pra casa. Era como se fosse do nosso sangue”, afirma Róbson Gracie, 77 anos, hoje o primogênito da lendária família que abrasileirou o jiu-jítsu japonês e o difundiu pelo planeta. Talvez por isso Marcelo seja um personagem cultuado não só nos tatames, mas por todo mundo que gosta de histórias de valentia. Foi protagonista num tempo em que as diferenças eram resolvidas no braço.
Apesar dos 26 anos dedicados ao jiu-jítsu, a luta mais famosa da vida de Marcelo Behring foi no vale-tudo, essa modalidade que hoje atende pelo pomposo nome de MMA (artes marciais mistas, na sigla em inglês). No dia 30 de abril de 1984, o Maracanãzinho estava lotado para o primeiro desafio entre representantes do jiu-jítsu e do muay thai (boxe tailandês). Antes da história, porém, um prólogo: um ano antes, um grupo liderado por Gracies invadiu a academia Naja, no bairro do Largo do Machado, zona sul do Rio. Eles estavam em busca do lutador de muay thai Mário Dumar, que dias antes havia dado um soco em Charles Gracie, filho de Róbson, não muito longe da academia. O pau comeu dentro da Naja e o resultado da rixa foi um desafio de vale-tudo para decidir que arte marcial era a melhor. Um dos donos da Naja, Flávio Molina, queria lutar contra um Gracie, mas a família achou que ele só merecia enfrentar um discípulo – um que parecia ter o sangue deles. Marcelo bateu no adversário sem piedade. Em certo momento, o técnico de Molina jogou a toalha, num sinal de desistência, mas o árbitro da luta pegou-a no chão, enxugou o próprio suor e a arremessou para fora do ringue. Tratava-se de Hélio Vígio, ex-delegado de polícia e também um discípulo ortodoxo dos Gracies.
“Cupim de ferro”
Com a reputação de casca-grossa garantida no Rio de Janeiro, Marcelo foi dar vazão ao seu espírito inquieto fora do Brasil. Como o surf era sua segunda paixão, foi atrás das melhores ondas do planeta. Na Indonésia, impressionou os nativos quando se machucou gravemente numa barreira de corais. Suas costas ficaram em carne viva, mas ele não se queixava de dor. Foi tratado apenas com plantas da região. No Havaí, encarou os black trunks, os temidos surfistas locais, e virou amigo do bicampeão mundial de surf Tom Carroll. Na Austrália, tentou difundir o jiu-jítsu através de desafios contra adeptos de outras lutas, assim como Hélio Gracie fez no Brasil e Rorion Gracie, o criador do UFC, fez nos EUA. “Ele ficava procurando os caras mais fortões da cidade para desafiá-los. Algumas dessas lutas saíram até nos jornais de lá”, conta o pai.