Roberto Gordo é um dos responsáveis pelo primeiro cinturão peso leve do Brasil no UFC. Ícone do jiu-jitsu, ele afia o jogo de solo de Rafael dos Anjos desde que o agora campeão do Ultimate competia de quimono. Em entrevista ao PVT dois dias antes do duelo do último sábado, o líder da Gordo Jiu-Jitsu Envolve cantou a chave para a vitória sobre Anthony Pettis: "pressionar o tempo todo". E essa foi a tônica da luta principal do UFC 185. Agora, com o sabor da conquista ainda fresquinha, Gordo conversou novamente coma gente, exaltou o sucesso da estratégia, detalhou o drama da lesão no joelho semanas antes da luta e analisou os próximos passos de seu pupilo, que deve defender o cinturão contra o vencedor da luta entre Khabib Nurmagomedov e Donald Cerrone, programada para o dia 23 de maio. Inclusive, a derrota para o russo, em abril do ano passado, ainda está engasgada na garganta do brasileiro.
"Com certeza o Rafael tem o russo na mira dele. Ele quer dar esse troco. Aliás, ele vai dar esse troco. Mas o russo tem o Cerrone pela frente. É um atleta que já foi mais testado que o russo e vem em uma fase muito boa, ainda mais na hora em que o russo vem de uma cirurgia no joelho. Um treinador não tem preferência nenhuma. O Rafael eu sei que, dentro dele, tem a preferência talvez pela revanche. Mas são duas lutas diferentes. Só que o Rafael não treina para os outros. Ele treina para ele, para ele se aprimorar. A gente traça a estratégia só ali no final e ele executa", explica o treinador.
Se o ex-campeão Anthony Pettis é conhecido pela genialidade, o campeão de agora é sinônimo de muita dedicação e esforço, além, claro, de muito talento. E essa fórmula foi importantíssima para o domínio implacável de Rafael dos Anjos no luta que lhe rendeu o cinturão dos pesos leves. Para o mestre Roberto Gordo, a busca incansável pela perfeição foi o fator fundamental para a conquista do brasileiro, que agora tema difícil missão de manter-se no topo.
"Agora fica mais difícil sim. Agora ele tem um alvo nas costas dele, que é o cinturão. Toda luta é difícil, e assim vem sendo. Como o próprio Rafael fala, ele está sempre em busca do aperfeiçoamento, então não tem muita coisa para mudar. Ele vai continuar treinando muito forte e melhorando o que tem para melhorar, pois sempre tem. Agora é esperar a próxima. Um dos diferenciais do Rafael é que ele não faz camp para luta. Ele treina o ano todo, 12 meses por ano. Claro que ele vai tirar essa semaninha de folga, até porque o pé está inchado devido aos chutes, mas acredito que na semana que vem ele já esteja treinando novamente", revela.
Confira abaixo o bate-papo completo com o mestre Roberto Gordo:
PVT: Você nos falou que a chave para a vitória seria abafar o Pettis para que ele se sentisse acuado. Saiu como o planejado. Gostaria de sua análise sobre a eficácia da estratégia.
Roberto Gordo: A luta se desenvolveu exatamente como a gente esperava. A gente sabia que seria dura, mas a pressão misturada com as quedas era o que a gente planejou. Não ficar indo direto para a queda, mas colocar pressão em pé para facilitar o caminho para a queda. Foi exatamente como o planejado e deu tudo certo.
PVT: Teve algum momento antes do fim da luta que você pensou: "o cinturão já é nosso"?
Roberto Gordo: A gente acreditou o tempo todo desde antes da luta que não seria uma luta complicada para o Rafael, pois, apesar do Pettis ser o campeão, o tipo de jogo nos favorecia, sabíamos que nosso jogo era superior. Quando acabou o terceiro round, eu até comentei com o Rafael Cordeiro, e ele concordou, que tínhamos vencido claramente os rounds. Então, a partir disso, eu sabia que ele não finalizaria o Rafael no chão, e também seria muito difícil ele nocautear o Rafael, que estava com gás ainda, ligado e inteiro. Lógico, em pé tudo pode acontecer, o cara tem golpes perigosos, mas a partir do terceiro round a gente já sabia que seria questão de tempo para comemorar.
PVT: Sobre o problema no joelho que o Rafael revelou depois da luta. Como aconteceu a lesão? Realmente preocupou ao ponto de pensarem em adiar a luta?
Roberto Gordo: Foi na semana que eu cheguei nos Estados Unidos. Faltavam quatro semanas e meia para a luta. Ele foi fazer o sparring, eu acompanhei do lado de fora, no último round - eram seis de cinco minutos -, ele foi entrar em uma queda, a caneleira deu uma travadinha no chão e torceu o joelho dele para fora. Continuou o round normal, não falou nada. Na hora que saiu, o corpo começou a esfriar e ele falou que tinha dado uma estaladinha no joelho, mas achava que não era nada. Fomos almoçar. Quando levantou da mesa depois do almoço, estava mancando. Neste mesmo dia tinha filmagem para o countdown. A estratégia era não falar para ninguém. Ele ficou treinando de joelheira. Quando os treinos eram filmados ou fotografados a gente tirava a joelheira dele. Passou a fazer duas sessões de fisioterapia por dia, manteve o cardio e o que podia manter. Como ele ficou sem poder treinar jiu-jitsu, e wresltling e chutes por duas semanas, ele deu ênfase ao boxe e à preparação física.
PVT: Agora fica mais difícil? O que muda na preparação para um atleta que agora é o mais visado da categoria?
Roberto Gordo: Agora fica mais difícil sim. Agora ele tem um alvo nas costas dele, que é o cinturão. Toda luta é difícil, e assim vem sendo. Como o próprio Rafael fala, ele está sempre em busca do aperfeiçoamento, então não tem muita coisa para mudar. Ele vai continuar treinando muito forte e melhorando o que tem para melhorar, pois sempre tem. Agora é esperar marcar a próxima. Um dos diferenciais do Rafael é que ele não faz camp para luta. Ele treina o ano todo, 12 meses por ano. Claro que ele vai tirar essa semaninha de folga, até porque o pé está inchado devido aos chutes, mas acredito que na semana que vem ele já esteja treinando novamente.
PVT: E agora? Nurmagomedov ou Cerrone? Existe uma preferência para o Russo por se tratar de um "troco", já que o Cerrone o Dos Anjos venceu muito bem?
Roberto Gordo: Com certeza o Rafael tem o russo na mira dele. Ele quer dar esse troco. Aliás, ele vai dar esse troco. Mas o russo tem o Cerrone pela frente. É um atleta que já foi mais testado que o russo e vem em uma fase muito boa, ainda mais na hora em que o russo vem de uma cirurgia no joelho. Um treinador não tem preferência nenhuma. O Rafael eu sei que, dentro dele, tem a preferência talvez pela revanche. Mas são duas lutas diferentes. Só que o Rafael não treina para os outros. Ele treina para ele, para ele se aprimorar. A gente traça a estratégia só ali no final e ele executa.
PVT: No caso do russo, o que fazer de diferente da primeira luta entre eles? Você cantou exatamente a chave para a luta contra o Pettis. Contra o Cerrone, o Dos Anjos já mostrou como fazer. Quanto ao russo, qual seria a chave?
Roberto Gordo: O russo vem 100% para agarrar. Na primeira a gente achou que ele ia trocar um pouco, mas ele não trocou. Na realidade o Rafael lutou no contra-golpe na primeira luta. Talvez a chave seja o Rafael pressionar. O cara está vindo de uma cirurgia, de uma inatividade. Inclusive, naquela luta, era o Rafael que vinha de uma inatividade de oito meses que atrapalhou na hora da luta. Isso atrapalha. O Rafael é um cara que gosta de ficar em atividade. Tanto que a luta contra o Pettis foi a quinta dele em onze meses. A gente também não quer esperar muito não. Em no máximo cinco, seis meses ele está lutando de novo. E quem vier está bem-vindo.
Fonte: http://portaldovaletudo.uol.com.br/br/n ... -mira.html" onclick="window.open(this.href);return false;
