Atleta da RFT, que enfrenta Dhiego Lima em Minas, conta que teve de ignorar vida no crime para seguir carreira de lutador e se compara a Spider e Jones
Por Ivan Raupp e Raphael Marinho
Uberlândia, MG
Jorge Antônio Cezário de Oliveira, ou simplesmente Jorge Blade, como prefere, é um lutador de 28 anos, invicto em sete combates e que viu a sua vida dar uma guinada de 180 graus nos últimos dias. No dia 27 de outubro, segunda-feira, ele participou da seletiva para tentar entrar na quarta edição do The Ultimate Fighter Brasil. Até passou nos testes, mas foi eliminado após a fase de entrevistas. Ao sair de lá desanimado, não imaginava o que estava para acontecer poucos dias depois, mais precisamente no fim de semana. Após uma lesão sofrida pelo polonês Pawel Pawlak, caiu em seu colo a oportunidade de, enfim, ser chamado pelo UFC. Sua estreia acontece neste sábado, em Uberlândia-MG, no "UFC: Shogun x St. Preux", contra o compatriota Dhiego Lima, pela categoria dos meio-médios (até 77kg), apesar de sua divisão de origem ser a dos leves (até 70kg).
A história de Blade, que também é chamado de Blade Bolado pelos amigos, é como a de muitos atletas brasileiros de vários esportes. O carioca foi criado na Penha, na comunidade da Vila Cruzeiro, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro. Como ele mesmo diz, sua realidade difícil "não é novidade pra ninguém, já que muitos atletas também vieram de comunidades carentes". Entretanto, a sinceridade ao falar da relação com amigos que enveredaram por outros caminhos e de como utilizou a luta para não entrar no mundo do crime chega a impressionar.
Jorge Blade é o novo contratado do UFC (Foto: Raphael Marinho)
- Na infância, a maneira de me destacar daquela realidade de maconha, pó, troca de tiros e homenagens para bandido foi a luta. O esporte me destacou disso e me fez virar um mascote local. Os bandidos gostavam que eu lutasse, me ajudavam e brincavam: "Vai lutar. Se perder vai entrar na porrada, vai tomar tiro aqui". Eles me ajudavam a não ficar perto deles. Eu chegava perto deles de sacanagem e eles falavam: "Sai daqui, você é lutador, não vem chegar perto de bandido não". Hoje em dia não tenho mais contato com eles porque teve a invasão da UPP, o pessoal anda muito escondido, e eu segui a minha carreira de lutador. É casa, trabalho, treino e academia o tempo todo. Trabalho dando aula de kickboxing e treinando. Na Vila Cruzeiro todo mundo fala que tenho que ser vereador. Me sinto um Robin Hood dali, herói dos fracos e oprimidos. Devido a isso que eles me oferecem, me sinto no dever de fazer meu máximo para poder dar resultado para eles, essa alegria, porque eu sempre fui exemplo. Consegui tirar várias pessoas desse meio da mesma forma que eu mesmo saí. Para mim é um orgulho muito grande ver a retribuição que eles me passam, falando "Vai lá, mestre, arrebenta, mete a porrada" - disse, em entrevista ao Combate.com.
A notícia de sua contratação pelo UFC foi dada pelo companheiro de Renovação Fight Team (RFT), Junior PQD. Jorge acabara de sair da academia, quando recebeu a ligação do amigo. Correu para casa, ainda sem acreditar muito no que ouviu. A ficha só foi cair quando outros amigos entraram correndo em sua casa para lhe parabenizar. Aí caiu no choro:
- Para mim foi um presente de Deus, porque tinha acabado de fazer a seletiva do TUF na segunda-feira. Fui para casa meio desacreditado mas ao mesmo tempo entreguei na mão de Deus. No dia seguinte segui treinamento e dieta, como se estivesse adivinhando que tinha algo próximo para lutar. Me perguntaram na rua quando eu ia lutar e até respondi: "Com certeza em novembro". Parecia até que eu sabia. Foi um impacto muito grande. Comecei a chorar quando caiu a ficha. Foi aquela correria, minha mulher até ficou assustada, aí liguei para o mestre Cromado, que falou para eu ligar para o médico e agilizar os exames. Eu tinha até postado nas redes sociais um verso de brincadeira: "TUF vai, TUF vem, não sei se ser reprovado me fez mal ou me fez bem". Isso antes do convite. Quando veio, não acreditei. Acabou que fez bem. Eu me preparei para algo que não sabia o que era mas que eu estava me preparando.
A sinceridade de Blade aparece até mesmo para dizer que está sendo difícil de controlar o nervosismo para sua estreia no UFC:
- Está sendo muito difícil porque é o maior evento. É a mesma coisa que você ser um ator que faz teatro em novela pequena e, do nada, é convidado para fazer um filme em Hollywood. Um Blade da vida, por exemplo (risos). É o sonho de várias pessoas do mundo todo, de vários competidores, de botar o pé nessa calçada da fama. Está sendo um impacto muito forte e complicado de se controlar. Sempre fui um atleta calmo em todas as lutas, controlado, mas dessa vez está difícil. Ouvir o Bruce Buffer anunciando é um sonho de todos os atletas, meus próprios alunos brincam com o "It's time", e agora não vai ser brincadeira, vai ser uma coisa muito séria - declarou.
Ao entrevistar o lutador, é inevitável que se pergunte a origem do apelido Blade Bolado. E Jorge Oliveira conta que em 2001, quando estreou no Brasil o filme "Blade - O Caçador de Vampiros", um casal de amigos que malhava na mesma academia em que ele dava aulas de kickboxing assistiu ao filme no cinema e já fizeram a ligação com o personagem de Wesley Snipes.
- Eu era só Jorge, Jorginho para os íntimos. Dali para frente virou só Blade. O Bolado veio do bordão de treino: "Vamos, boladão, cheio de ódio, não desiste não". Nisso veio o Bolado. Eu tinha feito um e-mail que era "bladeblindado", porque eu era muito duro, aguentava muita porrada e sempre brincava com os amigos que eles tinham que blindar o corpo e cair para o pau. Era a maneira que eu passava para eles se defenderem, deixarem o braço rígido, pronto para receber pancada. Só que hackearam meu e-mail e aí criei o "bladebolado", que ficou até hoje e pegou. Mas prefiro ser chamado de Jorge Blade, que já está há muito tempo. O Bolado é mais uma coisa pessoal. Quando perguntam meu e-mail, falo Blade Bolado e já começam a rir - brincou.
"Me comparo muito a Anderson Silva e Jon Jones"
Blade ainda não é um lutador conhecido do grande público. São sete lutas na carreira, sendo cinco nocautes e duas finalizações, sempre no primeiro round. Ao ser indagado sobre seu estilo dentro do cage, o atleta da RFT é ousado ao se comparar com Anderson Silva e Jon Jones, apesar de não soar arrogante ao fazer a afirmação. Segundo ele, o público vai se surpreender com seus golpes que fogem do convencional:
- Sou muito versátil. Me comparo muito ao Anderson Silva, Jon Jones, mais ou menos assim, porque não tem como o cara me marcar. Isso vem dos tempos de luta de kickboxing. Do nada vem um golpe que ele não esperava. Não fico no beabá, com jab e direto, chutes baixos, joelhada. Não posso me definir, prefiro dizer que sou versátil.
Marcio Cromado, líder da RFT, com Jorge Blade (Foto: Raphael Marinho)
No sábado, Jorge Blade terá pela frente um adversário mais experiente do que ele. Dhiego Lima foi finalista do TUF 19, mas não conquistou o título após ser nocauteado por Eddie Gordon no primeiro round. O lutador da RFT reconhece que não tem o hábito de estudar o jogo de seus rivais e conta que isso tem lhe custado algumas broncas de Márcio Cromado, líder da equipe:
- Foi complicado, foi muito rápido. Nunca fui de estudar o adversário, já tomei vários esporros do patrão porque eu sou daquela linhagem de que se está treinado, pode vir quem for. Tem dois braços e duas pernas.
Cromado, por sua vez, disse que já conhece algumas coisas de Dhiego Lima, mas que o mais importante é manter a cabeça de Jorge tranquila. O treinador mostrou confiança no pupilo que, de acordo com ele, é um "showman".
- A gente já conhecia o Dhiego, então dá para pensar em alguma coisa. Todo mundo viu a final do TUF, as lutas dele na casa, então dá para tirar alguma coisa dali. A questão é a cabeça dele estar boa para o dia e ele não se impressionar com a grandeza do evento. Querendo ou não, é uma pressão muito grande lutar no maior evento do mundo. Tento passar isso para eles. Eles acabam achando que não é, mas quando chegam lá, veem que é aquilo mesmo. Existe uma pressão muito grande por fazer parte do evento. Aconteceu com o (Luiz) Besouro, que é muito experiente. Ele tem que chegar de cabeça tranquila para lutar. O Blade está vindo aí, acham que ele não tem chão, mas ele foi campeão internacional de submission da Federação de Jiu-Jítsu Esportivo. Ganhou várias lutas em um dia só, finalizando e pontuando. Ele estava se preparando para isso. Cabe a mim e aos treinadores deixarmos ele de cabeça tranquila para dar show, porque ele é um showman - analisou.
O combate contra Dhiego Lima será entre os meio-médios, mas Jorge pretende descer para sua categoria de origem, até 70kg, após este duelo:
- O importante era entrar. A porta abriu nessa categoria, então não podia negar. Quem sou eu para recusar isso?
O Combate exibe o "UFC: Shogun x St. Preux" ao vivo e com exclusividade direto de Uberlândia-MG no próximo sábado, a partir de 22h30 (horário de Brasília). O Combate.com acompanha o evento em Tempo Real e exibe em vídeo ao vivo a primeira luta do card preliminar. Na sexta-feira, canal e site transmitem a pesagem oficial do evento às 16h.
UFC: Shogun x St. Preux
8 de novembro de 2014, em Uberlândia (MG)
CARD PRINCIPAL
Peso-meio-pesado: Maurício Shogun x Ovince St. Preux
Peso-mosca: Ian McCall x John Lineker
Peso-meio-médio: Warlley Alves x Alan Jouban
Peso-meio-médio: Cláudio Hannibal x Leon Edwards
Peso-palha: Juliana Lima x Nina Ansaroff
CARD PRELIMINAR
Peso-pena: Diego Rivas x Rodolfo Rubio
Peso-médio: Caio Monstro x Trevor Smith
Peso-meio-médio: Dhiego Lima x Jorge Blade
Peso-leve: Leandro Buscapé x Charlie Brenneman
Peso-galo: Thomas Almeida x Tim Gorman
Peso-meio-médio: Wagnão Silva x Colby Covington
Fonte: http://sportv.globo.com/site/combate/no ... abado.html" onclick="window.open(this.href);return false;
