História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
A cidade esportiva está vivendo em função da
luta Carlson Gracie X Waldemar Santana. Para
valorizar o espetáculo, houve uma espécie de
pausa no campeonato carioca de futebol.
Dirse-á uma homenagem da F.M.F aos dois jovens,
técnicos e valentes (RENATO, 08.out.1955, p. 6
cad. 2).
luta Carlson Gracie X Waldemar Santana. Para
valorizar o espetáculo, houve uma espécie de
pausa no campeonato carioca de futebol.
Dirse-á uma homenagem da F.M.F aos dois jovens,
técnicos e valentes (RENATO, 08.out.1955, p. 6
cad. 2).
Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
Ao discorrer sobre o desafio de jiu-jítsu que estava para
acontecer entre Waldemar e Carlson Gracie, Nelson Rodrigues, em
“Legenda dos Gracie” (RODRIGUES, 08 out. 1955, p.1), escreveu
o seguinte:
1- O que eu acho mais simpático na luta de hoje
entre Waldemar Santana e Carlson Gracie, é o
seu aspecto passional. Só os simples e bobos
vêem o cotejo desta noite como uma competição
exclusivamente técnica e esportiva. Não amigos,
mil vezes não. O que valoriza o choque, mais que
o Jiu-Jitsu, é a paixão de um e outro adversários.
E não tenhamos dúvida: – os dois contendores vão
medir forças à sombra do ódio. É justíssimo que
eles se odeiem, do primeiro ao último instante da
batalha. E vamos e venhamos: – nada mais odioso
do que uma luta cordial, uma luta amistosa. Se
é cordial, se é amistosa; para que lutar? Porque
não ficar em casa? Por outro lado não entendo
como se possa dar ou apanhar na cara por esporte.
É preciso que exista, por trás de cada golpe uma
justificação emocional. Cada lutador bate em
função de um sentimento exasperado. Então, sim
– a luta, seja de Jiu- Jitsu, de boxe, ou luta livre,
atinge a sua plenitude, a sua grandeza feroz, para
sua violência estúpida e magnífica.
2- Quando os adversários estão imbuídos dos
sentimentos mais cordiais e fraternos, a peleja
assume um ar de mistificação, de conto do vigário.
Felizmente o choque de Waldemar e Carlson não
corre este risco. E pelo contrário. O Jiu-Jitsu, no
caso, é apenas uma fachada de papelão tapando
algo de mais selvagem, de mais sombrio e,
mesmo, de trágico. Direi, com justificada ênfase
– é uma luta de vida ou morte. No esporte, a
derrota ou a vitória é uma contingência normal
e legítima. Já vimos que se trata de uma peleja
necessariamente antiesportiva. Pois não: – porque
a luta de vida ou morte? Vejamos. Porque ambos
1340 Artigos Originais Riqueldi Straub Lise et al.
, Porto Alegre, v. 20, n. 4, p. 1329-1349, out./dez. de 2014.
jogam tudo. Preliminarmente, há em causa, uma
quantia fabulosa: – os trezentos contos que os
Gracie depositaram no prélio. Trezentos contos!
É quanto ganhará Waldemar se derrubar Carlson.
Imaginem vocês o estímulo bárbaro, a solicitação
tremenda que recebeu o lutador negro. Para um
tubarão, um magnata, um gangster do comércio,
da indústria, a quantia pouco ou nada representa.
Mas para Waldemar constituiria uma solução
vital, a solução do presente, do futuro, e mesmo,
o resgate das misérias, das humilhações passadas,
que ainda doem na sua carne e na sua alma. E não
há duvida: – os trezentos contos que Waldemar
pode ganhar, que os Gracie podem perder,
justificam o ódio entre os antagonistas.
3- Até o momento, o único capital de Waldemar é
sua vitória inesperada e quase inverossímil sobre
Hélio Gracie. Ele é “o homem que venceu Hélio”.
Segundo Carlos Renato, o cronista que mais
entende de Jiu-Jitsu, Waldemar vai jogar também
este triunfo. Caso perca já não será mais o “homem
que venceu Hélio”, e ficará sem nada. Será fácil a
luta? Será difícil? Salvo um imprevisto, deve ser
dificílima para ambos. Quando dois adversários
jogam mais que um simples e eventual resultado,
pode-se esperar uma ferocidade recíproca e
inapelável. Quanto a Carlson, ele joga mais que os
trezentos contos – joga o nome da família. Fosse
um Carlson qualquer, um Carlson dos Anzóis
Carapuça, e as possibilidades de Waldemar
seriam imensas. O que importa, no caso, não é a
vasta e complexa técnica de Carlson, o seu elmo,
a sua lança, a sua bandeira, o seu mastro; Eis a
verdade – “ser Gracie” representa muito. Este
nome significa um peso, uma carga, um acervo de
feitos, de vitórias, de troféus. No ringue, Carlson
será mais que uma pessoa, mais que um lutador –
será um nome enfurecido a desferir golpes a torto
e a direito.
4- Durante 20 anos, ou 25, os Gracie foram, no
Brasil invencíveis. Mas a invencibilidade acaba
sendo um veneno, um ácido corrosivo. O lutador
que não perde nunca, torna-se frágil, imprudente,
vulnerável. Para muitos, a derrota de Hélio foi um
mal: para mim, um bem. Nada mais exasperado,
nada mais terrível que o derrotado que procura
a desforra. Dir-se-á que não foi Carlson quem
perdeu, foi Hélio. Não, amigos, não foi um, nem
outro. Por cima de Carlson, por cima de Hélio,
há o nome dos Gracie sempre içado, sempre
desfraldado, sempre tremulando. Não farei, nem
cabe aqui, um prognóstico. Mas devo observar
o seguinte: – o bravo Waldemar Santana terá
contra si mais que um lutador: – um nome. Vai
engalfinhar-se com o nome, a tradição, a legenda
dos Gracie.
acontecer entre Waldemar e Carlson Gracie, Nelson Rodrigues, em
“Legenda dos Gracie” (RODRIGUES, 08 out. 1955, p.1), escreveu
o seguinte:
1- O que eu acho mais simpático na luta de hoje
entre Waldemar Santana e Carlson Gracie, é o
seu aspecto passional. Só os simples e bobos
vêem o cotejo desta noite como uma competição
exclusivamente técnica e esportiva. Não amigos,
mil vezes não. O que valoriza o choque, mais que
o Jiu-Jitsu, é a paixão de um e outro adversários.
E não tenhamos dúvida: – os dois contendores vão
medir forças à sombra do ódio. É justíssimo que
eles se odeiem, do primeiro ao último instante da
batalha. E vamos e venhamos: – nada mais odioso
do que uma luta cordial, uma luta amistosa. Se
é cordial, se é amistosa; para que lutar? Porque
não ficar em casa? Por outro lado não entendo
como se possa dar ou apanhar na cara por esporte.
É preciso que exista, por trás de cada golpe uma
justificação emocional. Cada lutador bate em
função de um sentimento exasperado. Então, sim
– a luta, seja de Jiu- Jitsu, de boxe, ou luta livre,
atinge a sua plenitude, a sua grandeza feroz, para
sua violência estúpida e magnífica.
2- Quando os adversários estão imbuídos dos
sentimentos mais cordiais e fraternos, a peleja
assume um ar de mistificação, de conto do vigário.
Felizmente o choque de Waldemar e Carlson não
corre este risco. E pelo contrário. O Jiu-Jitsu, no
caso, é apenas uma fachada de papelão tapando
algo de mais selvagem, de mais sombrio e,
mesmo, de trágico. Direi, com justificada ênfase
– é uma luta de vida ou morte. No esporte, a
derrota ou a vitória é uma contingência normal
e legítima. Já vimos que se trata de uma peleja
necessariamente antiesportiva. Pois não: – porque
a luta de vida ou morte? Vejamos. Porque ambos
1340 Artigos Originais Riqueldi Straub Lise et al.
, Porto Alegre, v. 20, n. 4, p. 1329-1349, out./dez. de 2014.
jogam tudo. Preliminarmente, há em causa, uma
quantia fabulosa: – os trezentos contos que os
Gracie depositaram no prélio. Trezentos contos!
É quanto ganhará Waldemar se derrubar Carlson.
Imaginem vocês o estímulo bárbaro, a solicitação
tremenda que recebeu o lutador negro. Para um
tubarão, um magnata, um gangster do comércio,
da indústria, a quantia pouco ou nada representa.
Mas para Waldemar constituiria uma solução
vital, a solução do presente, do futuro, e mesmo,
o resgate das misérias, das humilhações passadas,
que ainda doem na sua carne e na sua alma. E não
há duvida: – os trezentos contos que Waldemar
pode ganhar, que os Gracie podem perder,
justificam o ódio entre os antagonistas.
3- Até o momento, o único capital de Waldemar é
sua vitória inesperada e quase inverossímil sobre
Hélio Gracie. Ele é “o homem que venceu Hélio”.
Segundo Carlos Renato, o cronista que mais
entende de Jiu-Jitsu, Waldemar vai jogar também
este triunfo. Caso perca já não será mais o “homem
que venceu Hélio”, e ficará sem nada. Será fácil a
luta? Será difícil? Salvo um imprevisto, deve ser
dificílima para ambos. Quando dois adversários
jogam mais que um simples e eventual resultado,
pode-se esperar uma ferocidade recíproca e
inapelável. Quanto a Carlson, ele joga mais que os
trezentos contos – joga o nome da família. Fosse
um Carlson qualquer, um Carlson dos Anzóis
Carapuça, e as possibilidades de Waldemar
seriam imensas. O que importa, no caso, não é a
vasta e complexa técnica de Carlson, o seu elmo,
a sua lança, a sua bandeira, o seu mastro; Eis a
verdade – “ser Gracie” representa muito. Este
nome significa um peso, uma carga, um acervo de
feitos, de vitórias, de troféus. No ringue, Carlson
será mais que uma pessoa, mais que um lutador –
será um nome enfurecido a desferir golpes a torto
e a direito.
4- Durante 20 anos, ou 25, os Gracie foram, no
Brasil invencíveis. Mas a invencibilidade acaba
sendo um veneno, um ácido corrosivo. O lutador
que não perde nunca, torna-se frágil, imprudente,
vulnerável. Para muitos, a derrota de Hélio foi um
mal: para mim, um bem. Nada mais exasperado,
nada mais terrível que o derrotado que procura
a desforra. Dir-se-á que não foi Carlson quem
perdeu, foi Hélio. Não, amigos, não foi um, nem
outro. Por cima de Carlson, por cima de Hélio,
há o nome dos Gracie sempre içado, sempre
desfraldado, sempre tremulando. Não farei, nem
cabe aqui, um prognóstico. Mas devo observar
o seguinte: – o bravo Waldemar Santana terá
contra si mais que um lutador: – um nome. Vai
engalfinhar-se com o nome, a tradição, a legenda
dos Gracie.
Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
Crônica sensacional. Em tempos de mimimi generalizado (até em fóruns de lutaPHDookie escreveu: ↑30 Jun 2020 21:29Ao discorrer sobre o desafio de jiu-jítsu que estava para
acontecer entre Waldemar e Carlson Gracie, Nelson Rodrigues, em
“Legenda dos Gracie” (RODRIGUES, 08 out. 1955, p.1), escreveu
o seguinte:
1- O que eu acho mais simpático na luta de hoje
entre Waldemar Santana e Carlson Gracie, é o
seu aspecto passional. Só os simples e bobos
vêem o cotejo desta noite como uma competição
exclusivamente técnica e esportiva. Não amigos,
mil vezes não. O que valoriza o choque, mais que
o Jiu-Jitsu, é a paixão de um e outro adversários.
E não tenhamos dúvida: – os dois contendores vão
medir forças à sombra do ódio. É justíssimo que
eles se odeiem, do primeiro ao último instante da
batalha. E vamos e venhamos: – nada mais odioso
do que uma luta cordial, uma luta amistosa. Se
é cordial, se é amistosa; para que lutar? Porque
não ficar em casa? Por outro lado não entendo
como se possa dar ou apanhar na cara por esporte.
É preciso que exista, por trás de cada golpe uma
justificação emocional. Cada lutador bate em
função de um sentimento exasperado. Então, sim
– a luta, seja de Jiu- Jitsu, de boxe, ou luta livre,
atinge a sua plenitude, a sua grandeza feroz, para
sua violência estúpida e magnífica.
2- Quando os adversários estão imbuídos dos
sentimentos mais cordiais e fraternos, a peleja
assume um ar de mistificação, de conto do vigário.
Felizmente o choque de Waldemar e Carlson não
corre este risco. E pelo contrário. O Jiu-Jitsu, no
caso, é apenas uma fachada de papelão tapando
algo de mais selvagem, de mais sombrio e,
mesmo, de trágico. Direi, com justificada ênfase
– é uma luta de vida ou morte. No esporte, a
derrota ou a vitória é uma contingência normal
e legítima. Já vimos que se trata de uma peleja
necessariamente antiesportiva. Pois não: – porque
a luta de vida ou morte? Vejamos. Porque ambos
1340 Artigos Originais Riqueldi Straub Lise et al.
, Porto Alegre, v. 20, n. 4, p. 1329-1349, out./dez. de 2014.
jogam tudo. Preliminarmente, há em causa, uma
quantia fabulosa: – os trezentos contos que os
Gracie depositaram no prélio. Trezentos contos!
É quanto ganhará Waldemar se derrubar Carlson.
Imaginem vocês o estímulo bárbaro, a solicitação
tremenda que recebeu o lutador negro. Para um
tubarão, um magnata, um gangster do comércio,
da indústria, a quantia pouco ou nada representa.
Mas para Waldemar constituiria uma solução
vital, a solução do presente, do futuro, e mesmo,
o resgate das misérias, das humilhações passadas,
que ainda doem na sua carne e na sua alma. E não
há duvida: – os trezentos contos que Waldemar
pode ganhar, que os Gracie podem perder,
justificam o ódio entre os antagonistas.
3- Até o momento, o único capital de Waldemar é
sua vitória inesperada e quase inverossímil sobre
Hélio Gracie. Ele é “o homem que venceu Hélio”.
Segundo Carlos Renato, o cronista que mais
entende de Jiu-Jitsu, Waldemar vai jogar também
este triunfo. Caso perca já não será mais o “homem
que venceu Hélio”, e ficará sem nada. Será fácil a
luta? Será difícil? Salvo um imprevisto, deve ser
dificílima para ambos. Quando dois adversários
jogam mais que um simples e eventual resultado,
pode-se esperar uma ferocidade recíproca e
inapelável. Quanto a Carlson, ele joga mais que os
trezentos contos – joga o nome da família. Fosse
um Carlson qualquer, um Carlson dos Anzóis
Carapuça, e as possibilidades de Waldemar
seriam imensas. O que importa, no caso, não é a
vasta e complexa técnica de Carlson, o seu elmo,
a sua lança, a sua bandeira, o seu mastro; Eis a
verdade – “ser Gracie” representa muito. Este
nome significa um peso, uma carga, um acervo de
feitos, de vitórias, de troféus. No ringue, Carlson
será mais que uma pessoa, mais que um lutador –
será um nome enfurecido a desferir golpes a torto
e a direito.
4- Durante 20 anos, ou 25, os Gracie foram, no
Brasil invencíveis. Mas a invencibilidade acaba
sendo um veneno, um ácido corrosivo. O lutador
que não perde nunca, torna-se frágil, imprudente,
vulnerável. Para muitos, a derrota de Hélio foi um
mal: para mim, um bem. Nada mais exasperado,
nada mais terrível que o derrotado que procura
a desforra. Dir-se-á que não foi Carlson quem
perdeu, foi Hélio. Não, amigos, não foi um, nem
outro. Por cima de Carlson, por cima de Hélio,
há o nome dos Gracie sempre içado, sempre
desfraldado, sempre tremulando. Não farei, nem
cabe aqui, um prognóstico. Mas devo observar
o seguinte: – o bravo Waldemar Santana terá
contra si mais que um lutador: – um nome. Vai
engalfinhar-se com o nome, a tradição, a legenda
dos Gracie.

"É preciso que exista, por trás de cada golpe uma
justificação emocional. Cada lutador bate em
função de um sentimento exasperado. Então, sim
– a luta, seja de Jiu- Jitsu, de boxe, ou luta livre,
atinge a sua plenitude, a sua grandeza feroz, para
sua violência estúpida e magnífica".
Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
"Quando Waldemar subiu ao ringue, não estava só. Dir-se-ia que, atrás dele e com ele, subia uma população imensa, subiam todos os que gostariam de esmagar, debaixo do tacão, como uma víbora hedionda, a invencibilidade dos Gracie (...) O fraco sentiu-se menos fraco, o humilhado menos humilhado, e o marido que não pia em casa levantou, por 24 horas, a crista abatida. Todos nós somos cúmplices de Waldemar"
Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
Empate frustrante na primeira luta
Mal acabou a luta, porém, Waldemar já tinha outro Gracie em seu encalço: Carlson. Ainda no ringue, o sobrinho de Hélio desafiou o ex-companheiro de treinos a enfrentá-lo, também no Vale Tudo, para vingar a derrota do tio, então com 43 anos.
- Posso dizer que me encontro em melhor situação que meu tio Hélio para lutar com o Waldemar. Espero que o vencedor de hoje não fuja à obrigação moral que tem de aceitar o desafio que ora lhe faço. Desejo lutar com Waldemar nas mesmas condições que ele enfrentou o Hélio - declarou Carlson ao jornal "O Globo".
Waldemar demorou semanas para aceitar o duelo. O baiano aproveitou a fama recém-conquistada para viajar pelo Brasil, fazendo apresentações e recebendo homenagens. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a violência de sua luta com Hélio era severamente criticada nos meios de comunicação. Apesar de cobrir o Vale Tudo, a imprensa também reclamava desde aquela época de sua "selvageria", e a polícia anunciou que não mais permitiria lutas deste tipo. Waldemar levou isso em consideração quando aceitou o desafio de Carlson. Disse que o combate deveria ser no jiu-jítsu, porque "gostaria de nunca mais intervir num espetáculo de ferocidade como aquele, porque, sinceramente, aquilo nada teve de humano."
Mesmo assim, a luta entre Carlson e Waldemar atraiu muita atenção. Desta vez, o lutador negro de 26 anos teria um adversário de seu tamanho e idade. O combate foi marcado originalmente para 30 de setembro, mas acabou adiado para 8 de outubro devido às eleições presidenciais, que aconteceram na época. Os jornais deram destaque de páginas inteiras para o duelo, chamado pelo "Última Hora" de "Fla-Flu do Jiu-Jítsu". O resultado foi um Maracanãzinho lotado, com cerca de 25 mil pessoas presentes, apesar de uma capacidade oficial de menos de 14 mil. Aproximadamente 5 mil invadiram o ginásio e disputavam a tapa lugares nas arquibancadas, a ponto de "O Globo" dizer que "o lugar mais tranquilo dentro do Maracanãzinho era dentro do ringue". Aliás, o jornal não fez resumo de duas lutas do card sob alegação de que os repórteres não conseguiram vê-las, por causa da disputa por assentos.
O combate, todavia, decepcionou. Waldemar passou a maior parte do tempo se defendendo e, após cinco rounds mornos, foi declarado o empate. O público vaiou, e Nelson Rodrigues, novamente encarregado de uma crônica, acusou os espectadores de serem "dráculas" sedentos por sangue. "Todos estavam ali com o objetivo não expresso, mas evidente, de ver sangue. Não sei por que cargas d'água, formara-se na cidade e no resto do país esta singular expectativa: de que a luta Carlson x Waldemar ia ser um múltiplo e contínuo esguicho escarlate. Em vão, os jornais, o rádio, anunciavam: jiu-jítsu, apenas jiu-jítsu. O público, com sua imaginação de índio, de criança, tem fixações imprevisíveis. Achou que ia ser "vale tudo", e ninguém pode com a teima bovina da multidão," escreveu.
Revanche quebra recordes
Waldemar Santana pareceu ter captado a ideia da multidão. Apesar de exigir uma luta de jiu-jítsu contra Hélio (que nunca aconteceu), o baiano afirmou que, contra Carlson, só lutaria se fosse no Vale Tudo. Ele reclamava de golpes ilegais que o adversário teria dado durante o combate.
- Não lutarei mais com ele em jiu-jítsu, mas só em Vale Tudo. Se Carlson sabe utilizar-se de golpes ilegais no jiu-jítsu, como fez comigo, se sabe dar como se dá no Vale Tudo, então vamos nos defrontar de novo, mas em Vale Tudo. Se eu tivesse feito o que ele fez, seria desclassificado. Ele, entretanto, não o foi, e apenas foi advertido levemente pelo juiz - alegou ao "O Globo".
Carlson, é claro, aceitou, e o novo combate, marcado originalmente para janeiro de 1956, aconteceu enfim em 21 de julho daquele ano. O "Última Hora" chegou a chamar o confronto de "Maior Luta de Todos os Tempos". No "O Globo", a luta mereceu até charge do renomado cartunista Lan. Apesar da tal proibição da polícia, as boas relações dos Gracies com as autoridades conseguiram uma liberação para o evento, novamente realizado no Maracanãzinho. Foram estipulados seis rounds de 10 minutos cada, e a edição do "O Globo" na véspera deixava bem claro: todo tipo de golpe era válido, exceto nas áreas genitais e "anti-desportivos", como "agarrar carnes, orelhas, torcer nariz e orelhas, arrancar cabelos e outros assemelhados". O Maracanãzinho voltou a transbordar de gente, com a presença de celebridades, inclusive o prefeito Negrão de Lima. A renda foi de 1,124 milhão de cruzeiros, e jornais da época diziam que mais de 40 mil pessoas estiveram presentes.
Desta vez, a luta saciou o apetite do público por um combate aberto. Carlson dominou do início ao fim, no que foi classificado como um massacre. Ele venceu por nocaute técnico aos 9m20s do quarto assalto, quando os dois caíram para fora do ringue e apenas o Gracie teve forças de retornar. Carlos Renato, no córner de Waldemar, informou ao árbitro que seu lutador, com o rosto deformado, não retornaria.
- Foi uma luta renhida, o Waldemar não tinha a técnica do Carlson. O Waldemar era como um lutador de wrestling, mas tecnicamente era inferior ao Carlson. E no boxe o Carlson também era muito melhor, então houve porrada mesmo. Mas foram lutas de alta valentia do Waldemar. Sujeito valente, apesar de não ter a nossa técnica. Enfrentou o Carlson de cabeça erguida, muito corajoso - lembra Barreto, que chegou a ser cogitado para enfrentar Waldemar no lugar de Carlson.
O "Garotão" saiu carregado nos ombros dos torcedores e aliviado por ter recuperado a honra para a família.
- Se eu tivesse perdido aquela luta, hoje os Gracie estariam vendendo bananas na feira - disse Carlson anos mais tarde no programa "Passando a Guarda", do SporTV.
Vida (e rivalidade) que segue
Se Flamengo e Fluminense são rivais em campo e irmãos históricos, o mesmo pode ser dito de Carlson Gracie e Waldemar Santana. A rixa do baiano com Hélio originou a rivalidade entre os dois, mas eles eram bons amigos na Academia Gracie e sempre mantiveram a cordialidade antes e depois de seus combates. Waldemar admitiu ao jornal "O Globo" a derrota e disse que o assunto "estava liquidado".
Porém, os dois bons amigos se enfrentariam mais quatro vezes, seja no jiu-jítsu ou no Vale Tudo, com mais uma vitória de Carlson e outros três empates. Um desses combates foi o de despedida de Carlson, em 18 de dezembro de 1970, em Brasília.
- (A rivalidade) Trazia um retorno financeiro para os dois. O Waldemar virou um profissional disso. O Carlson ainda tinha um lance da filosofia do jiu-jítsu, mas também era muito competitivo. Acabou virando o tal do Fla-Flu mesmo, uma coisa que era meio que uma garantia de bom público, de grana - comenta Fellipe Awi, autor do livro "Filho Teu Não Foge À Luta", que conta a história do desenvolvimento do Vale Tudo ao MMA.
Carlson Gracie faleceu em fevereiro de 2006, mas deixou um legado enorme para o jiu-jítsu e o MMA. Como treinador, formou nomes como Murilo Bustamante, Amaury Bitetti, Wallid Ismail, Bebeo Duarte, Carlão Barreto e o próprio Vitor Belfort. Waldemar Santana morreu em agosto de 1984, vítima de um derrame, mas também deixou um legado para o esporte. Seu sucesso chamou a atenção para os lutadores do Nordeste, que passaram a receber mais oportunidades nos grandes torneios do país. Mais tarde, seria ele quem apresentaria Rei Zulu, primeiro adversário de Rickson Gracie no Vale Tudo, à família Gracie.
Fonte: http://sportv.globo.com/site/combate/no ... zinho.html
Mal acabou a luta, porém, Waldemar já tinha outro Gracie em seu encalço: Carlson. Ainda no ringue, o sobrinho de Hélio desafiou o ex-companheiro de treinos a enfrentá-lo, também no Vale Tudo, para vingar a derrota do tio, então com 43 anos.
- Posso dizer que me encontro em melhor situação que meu tio Hélio para lutar com o Waldemar. Espero que o vencedor de hoje não fuja à obrigação moral que tem de aceitar o desafio que ora lhe faço. Desejo lutar com Waldemar nas mesmas condições que ele enfrentou o Hélio - declarou Carlson ao jornal "O Globo".
Waldemar demorou semanas para aceitar o duelo. O baiano aproveitou a fama recém-conquistada para viajar pelo Brasil, fazendo apresentações e recebendo homenagens. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a violência de sua luta com Hélio era severamente criticada nos meios de comunicação. Apesar de cobrir o Vale Tudo, a imprensa também reclamava desde aquela época de sua "selvageria", e a polícia anunciou que não mais permitiria lutas deste tipo. Waldemar levou isso em consideração quando aceitou o desafio de Carlson. Disse que o combate deveria ser no jiu-jítsu, porque "gostaria de nunca mais intervir num espetáculo de ferocidade como aquele, porque, sinceramente, aquilo nada teve de humano."
Mesmo assim, a luta entre Carlson e Waldemar atraiu muita atenção. Desta vez, o lutador negro de 26 anos teria um adversário de seu tamanho e idade. O combate foi marcado originalmente para 30 de setembro, mas acabou adiado para 8 de outubro devido às eleições presidenciais, que aconteceram na época. Os jornais deram destaque de páginas inteiras para o duelo, chamado pelo "Última Hora" de "Fla-Flu do Jiu-Jítsu". O resultado foi um Maracanãzinho lotado, com cerca de 25 mil pessoas presentes, apesar de uma capacidade oficial de menos de 14 mil. Aproximadamente 5 mil invadiram o ginásio e disputavam a tapa lugares nas arquibancadas, a ponto de "O Globo" dizer que "o lugar mais tranquilo dentro do Maracanãzinho era dentro do ringue". Aliás, o jornal não fez resumo de duas lutas do card sob alegação de que os repórteres não conseguiram vê-las, por causa da disputa por assentos.
O combate, todavia, decepcionou. Waldemar passou a maior parte do tempo se defendendo e, após cinco rounds mornos, foi declarado o empate. O público vaiou, e Nelson Rodrigues, novamente encarregado de uma crônica, acusou os espectadores de serem "dráculas" sedentos por sangue. "Todos estavam ali com o objetivo não expresso, mas evidente, de ver sangue. Não sei por que cargas d'água, formara-se na cidade e no resto do país esta singular expectativa: de que a luta Carlson x Waldemar ia ser um múltiplo e contínuo esguicho escarlate. Em vão, os jornais, o rádio, anunciavam: jiu-jítsu, apenas jiu-jítsu. O público, com sua imaginação de índio, de criança, tem fixações imprevisíveis. Achou que ia ser "vale tudo", e ninguém pode com a teima bovina da multidão," escreveu.
Revanche quebra recordes
Waldemar Santana pareceu ter captado a ideia da multidão. Apesar de exigir uma luta de jiu-jítsu contra Hélio (que nunca aconteceu), o baiano afirmou que, contra Carlson, só lutaria se fosse no Vale Tudo. Ele reclamava de golpes ilegais que o adversário teria dado durante o combate.
- Não lutarei mais com ele em jiu-jítsu, mas só em Vale Tudo. Se Carlson sabe utilizar-se de golpes ilegais no jiu-jítsu, como fez comigo, se sabe dar como se dá no Vale Tudo, então vamos nos defrontar de novo, mas em Vale Tudo. Se eu tivesse feito o que ele fez, seria desclassificado. Ele, entretanto, não o foi, e apenas foi advertido levemente pelo juiz - alegou ao "O Globo".
Carlson, é claro, aceitou, e o novo combate, marcado originalmente para janeiro de 1956, aconteceu enfim em 21 de julho daquele ano. O "Última Hora" chegou a chamar o confronto de "Maior Luta de Todos os Tempos". No "O Globo", a luta mereceu até charge do renomado cartunista Lan. Apesar da tal proibição da polícia, as boas relações dos Gracies com as autoridades conseguiram uma liberação para o evento, novamente realizado no Maracanãzinho. Foram estipulados seis rounds de 10 minutos cada, e a edição do "O Globo" na véspera deixava bem claro: todo tipo de golpe era válido, exceto nas áreas genitais e "anti-desportivos", como "agarrar carnes, orelhas, torcer nariz e orelhas, arrancar cabelos e outros assemelhados". O Maracanãzinho voltou a transbordar de gente, com a presença de celebridades, inclusive o prefeito Negrão de Lima. A renda foi de 1,124 milhão de cruzeiros, e jornais da época diziam que mais de 40 mil pessoas estiveram presentes.
Desta vez, a luta saciou o apetite do público por um combate aberto. Carlson dominou do início ao fim, no que foi classificado como um massacre. Ele venceu por nocaute técnico aos 9m20s do quarto assalto, quando os dois caíram para fora do ringue e apenas o Gracie teve forças de retornar. Carlos Renato, no córner de Waldemar, informou ao árbitro que seu lutador, com o rosto deformado, não retornaria.
- Foi uma luta renhida, o Waldemar não tinha a técnica do Carlson. O Waldemar era como um lutador de wrestling, mas tecnicamente era inferior ao Carlson. E no boxe o Carlson também era muito melhor, então houve porrada mesmo. Mas foram lutas de alta valentia do Waldemar. Sujeito valente, apesar de não ter a nossa técnica. Enfrentou o Carlson de cabeça erguida, muito corajoso - lembra Barreto, que chegou a ser cogitado para enfrentar Waldemar no lugar de Carlson.
O "Garotão" saiu carregado nos ombros dos torcedores e aliviado por ter recuperado a honra para a família.
- Se eu tivesse perdido aquela luta, hoje os Gracie estariam vendendo bananas na feira - disse Carlson anos mais tarde no programa "Passando a Guarda", do SporTV.
Vida (e rivalidade) que segue
Se Flamengo e Fluminense são rivais em campo e irmãos históricos, o mesmo pode ser dito de Carlson Gracie e Waldemar Santana. A rixa do baiano com Hélio originou a rivalidade entre os dois, mas eles eram bons amigos na Academia Gracie e sempre mantiveram a cordialidade antes e depois de seus combates. Waldemar admitiu ao jornal "O Globo" a derrota e disse que o assunto "estava liquidado".
Porém, os dois bons amigos se enfrentariam mais quatro vezes, seja no jiu-jítsu ou no Vale Tudo, com mais uma vitória de Carlson e outros três empates. Um desses combates foi o de despedida de Carlson, em 18 de dezembro de 1970, em Brasília.
- (A rivalidade) Trazia um retorno financeiro para os dois. O Waldemar virou um profissional disso. O Carlson ainda tinha um lance da filosofia do jiu-jítsu, mas também era muito competitivo. Acabou virando o tal do Fla-Flu mesmo, uma coisa que era meio que uma garantia de bom público, de grana - comenta Fellipe Awi, autor do livro "Filho Teu Não Foge À Luta", que conta a história do desenvolvimento do Vale Tudo ao MMA.
Carlson Gracie faleceu em fevereiro de 2006, mas deixou um legado enorme para o jiu-jítsu e o MMA. Como treinador, formou nomes como Murilo Bustamante, Amaury Bitetti, Wallid Ismail, Bebeo Duarte, Carlão Barreto e o próprio Vitor Belfort. Waldemar Santana morreu em agosto de 1984, vítima de um derrame, mas também deixou um legado para o esporte. Seu sucesso chamou a atenção para os lutadores do Nordeste, que passaram a receber mais oportunidades nos grandes torneios do país. Mais tarde, seria ele quem apresentaria Rei Zulu, primeiro adversário de Rickson Gracie no Vale Tudo, à família Gracie.
Fonte: http://sportv.globo.com/site/combate/no ... zinho.html
Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
Waldemar vs Carlson
Obs: percebam a quantidade de quedas de Judo...
Obs: Ignorem a narração mentirosa
Obs: percebam a quantidade de quedas de Judo...
Obs: Ignorem a narração mentirosa
Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
Esse trecho é da crônica após a luta Helio x Waldemar. A marra dos Gracie era tanta que Nelson viu a derrota do mestre como uma vingança dos fracos e humilhadosPHDookie escreveu: ↑30 Jun 2020 21:39"Quando Waldemar subiu ao ringue, não estava só. Dir-se-ia que, atrás dele e com ele, subia uma população imensa, subiam todos os que gostariam de esmagar, debaixo do tacão, como uma víbora hedionda, a invencibilidade dos Gracie (...) O fraco sentiu-se menos fraco, o humilhado menos humilhado, e o marido que não pia em casa levantou, por 24 horas, a crista abatida. Todos nós somos cúmplices de Waldemar"

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Re: História da Luta: Entrevista com WALDIMARA SANTANA (FILHA DE WALDEMAR SANTANA)
Briga de irmãos e assim mesmo, depois se resolvem, antigamente a galera era assim, brigava mas depois se resolviam, hoje em dia, qualquer bobagem um fica um com mágoa mortal pro resto da vida, a gente vê isso até neste fórum rs....
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