Mensagem
por Lee Jun-Fan » 10 Mar 2015 00:32
Bem, a questão do mal comportamento das crianças e adolescentes no mundo ocidental está cada vez mais rompante, fazendo o que bem entendem, faltando cada vez mais com respeito ao próximo e querendo arrombar a porta da vida adulta.
Outro dia comentei em outro tópico que a noção do ser criança é bem recente, mal tem 300/200 anos. Antes, a criança era um adulto em miniatura. Mandavam as crianças menos favorecidas para fábricas e etc sem dó. Nesse período que foi-se tendo a ideia que não era um adulto em miniatura, mas sim um ser classificado socialmente como criança.
Bem, aí vem o conceito: criança tem que ser preparada, tem que ter espaço, tem que ter carinho, afeto, tem que brincar e se expandir entendo os conceitos sociais. Logo, vem a evolução, a adolescência, potencializada pelo modo como a sociedade se formou: com os estudos, o adolescente tem que ir para escola passando pela emancipação final dos conceitos sociais lá e logo para o trabalho - ou universidade, uma fase "plus". Aí ele começaria a se emancipar, definitivamente.
A questão é que já cedo as crianças e adolescentes de hoje querem fazer de tudo, como um mini adulto dos séculos XVIII e XIX, mas com uma diferença: não querem as responsabilidades. E a culpa disso? Da sociedade ocidental em si, e este é o preço a pagar.
A sociedade atual (que é a sociedade do espetáculo) criou pais sem pulso e adolescentes sem educação. Como disse Debord, vivemos em função das representações - já na década de 60/70 que ele dizia, prevendo. Hoje os referenciais dos adolescentes passam ser coisas, ideias e personagens. Não os responsáveis pela criação deles, que seriam pais e mestres. E os pais e mestres que estão aí, são a rebarba de um período onde ainda havia algum conceito de ordem, mas muitos encaminharam para essa coisa descompromissada de ser gente.
Entendam, a lei e a ordem é fundamental para a criança. Essa de liberdade e humildade é coisa do Pavão. Sem o superego, só sobram nossos desejos, sem barreiras - aí dá ruim. E falo de ordem e lei, não de agressividade e repressão, e o modo de como os pais passarão isso cabem a eles, não há receita. Mas não podem ser omissos ou deixar a tv e internet fazer essa parte - que cai onde Debord disse e o que tem acontecido.
Trabalho com crianças há 8 anos. Uma pós minha foi na infantil, assim como uma extensão. E na boa? Tá ficando insustentável a coisa. Boa parte da nossa sociedade está doente demais, diria esquizofrênica - não sabe o que quer e que rumo tomar. Nunca foi tão difícil trabalhar com adolescentes pois, como psicanalista, trabalho com o desejo deles e tento passar a noção de que a vida é sofrida e temos uma responsabilidade para pagar o preço da liberdade. Mas nem ligam para isso, cada vez menos. Querem é prazer e fazer o que querem e desdenham da lei, bem egocêntricos e cheios de razão. E os pais não sabem o que fazer, e outros também não querem a responsabilidade da coisa - tais como os filhos, ou os filhos tais como os pais.
Sobre esse acampamento... Pode funcionar para alguns, como desandar completamente a maionese para outros. Roleta russa total. Os pais só não podem achar que a questão do mau comportamento será resolvido ali. O respeito por eles creio que já foi perdido totalmente no caso das pessoas expostas na matéria. Seria no máximo algo como "obedecer pelo medo". Não tem que ser pelo medo, e não tem que ser necessariamente obedecer. O adolescente tem que ter um entendimento que há pessoas responsáveis por ela, e elas têm que ser respeitadas, e que buscam o melhor para ele, e no futuro ele decide se segue ou não o que passaram, aceitando as consequências das escolhas. Mas hoje, quantos pais vocês conhecem que tem essa "moral" na educação? Difícil...
Wallim, BAP, Tostes, Landin: verdadeiros alicerces da reconstrução rubro-negra!

Zico: GOAT Eterno!