A KATANA
Quando você segue um código de conduta de vida pessoal, calçado em valores como honra, disciplina,
busca de conhecimento marcial, compromisso com um mestre, você chega à palavra BUSHIDO.
BU significa militar, SHI-homem e DO- caminho. O código rígido do Bushido ditava cada aspecto de
sua conduta e exigia que o Samurai desse a vida pelo senhor a qualquer hora sem hesitação.
A quebra de um compromisso por um Samurai ou um erro de conduta, colocava toda uma família e
até um clã inteiro em perigo.
As primeiras armas Samurais foram o arco e as flechas, que deram origem ao Kyujitsu e depois ao
Kyudo, a arte do arqueiro. Entre o ano de 1100-1200 os Samurais portavam a Tachi, espada com
ângulo de curvatura que começa desde a saída do punho inicio do Tsuba, carregando a espada
com seu cortante (chamado Há) voltado para baixo do lado esquerdo, pendurada por uma faixa (nobin).
Nas histórias Japonesas sacar essa espada significava “terra ao céu”.
A partir de 1200 começa a utilização da Katana e a Tachi fica sendo utilizada pela Cavalaria devido a
sua curvatura, que permitia um melhor ângulo de corte de cima da montaria de um cavalo.
A Katana era carregada do lado esquerdo com seu fio voltado para cima, segura pelo Obi do Samurais.
A Katana não possui nenhum tipo de encordoamento (Sayaito) na Saya,pois isto não permite o
movimento da Saya na hora de sacar a espada.
Mais uma espada fazia parte do armamento do Samurai, a Wakisashi,
que junto com o Tanto (punhal) formavam um conjunto.
Este conjunto ( Katana, wakisashi e Tanto ) tinha que ser confeccionado
pelo mesmo armeiro com todas características iguais: Tsuba, Tsuka,
Saya, Munukis, Kojiri, Kissaki, Polimento, Hamon, Habaki (todas as
partes). Esse conjunto de armas era chamado Daisho.
O Samurai quando andava em lugares fechados, casas ou edifícios
públicos, andava com a Katana na mão com o Tsuka (punho ) para trás
e o fio cortante para cima, o que tornava impossível saca-la.
A wakisashi não saia da sua vestimenta e apenas o Samurai tinha o
direito de portar e transitar pelo Japão com as duas espadas.
As Katanas eram totalmente pessoais. O Armeiro tirava todas as medidas do samurai, antes de
confeccionar as espadas. As medidas de altura comprimento dos braços e quadris eram
fundamentais. De forma básica a Katana, sendo segurada pela sua guarda, paralela ao corpo,
devia ficar com uma distância de 5cm do chão. A Katana yinha um comprimento de 60 à 75 cm,
a Wakisashi de 35 cm à 59 cm.
O Samurai que imortalizou a wakisashi criando o estilo Ito Nicho ryu “Duas espadas um estilo “, foi Musashi. Este Samurai, antes dos 30 anos de idade, já tinha participado de 58 duelos. Musashi era poeta, calígrafo, sabia trabalhar metais e aprendeu o básico de carpintaria, pois produzia os seus bokens e Suburitos.
Musashi defendia que um Samurai devia ter ambidestrismo total ou seja
deveria usar de maneira independente as espadas em cada mão.
A título de curiosidade, outros grandes nomes que tinham essa
preocupação e desenvolveram esse dom ao máximo foram Mozart e
Leonardo Da Vinci.
Mozart escrevia uma partitura de Melodia com a mão esquerda enquanto a direita escrevia a Harmonia correspondente, ele também falava fluentemente de
trás para frente invertendo silabicamente todas as palavras. Leonardo da
Vinci para dificultar a leitura por estranhos, escrevia com as duas mãos,
e invertia escrita como vista num espelho
.

Outra arma que fazia parte do armamento Samurai era o Tanto, um punhal que tinha sua lâmina com até
30 cm e era usado para defesa e para cometer o ritual do Seppuku, chamado de maneira vulgar de
Harakiri (cortar a barriga ).
Algumas Katanas, a pedido dos Samurais, possuíam aberturas paralelas a saya chamadas de Hitsu,
onde guardavam um espeto pontiagudo chamado Kogai (usado como talher e arremesso ) e uma
pequena faca chamada Kogatana (usada para higiene pessoal e defesa ). Alguns carregavam o Hashi
(talheres de Bambu),também embutidos no Saya.
O Samurai colocava no campo de batalha a sua vida em jogo, por isso, tinha que ter certeza que estava
carregando a melhor de todas as espadas. Existiam vários testes de corte para dar a certeza que a
espada não falharia na hora de um duelo, ou em combate. Era comum um armeiro pagar a um carrasco
para ocupar o seu lugar, para testar a perfeição de corte de uma lâmina. Estes testes de corte nas
espadas originais Japonesas, são encontrados gravados (cinzelado) na parte final e escondida pelo
Tsuka a Espiga .
“Corte de 7 cabeças em ângulos diferentes, Shintogo Kunimitsu, dia, ano, endereço do mestre armeiro “
Outras informações como linhagem da Família, uma frase Samurai, um pensamento Budista, Zen ou da
religião do mestre armeiro eram outras escrituras que podiam ser cinzeladas na espiga.
Chamei este artigo de introdução devido ao fato que para cada parte da Katana e suas etapas de manufatura temos assunto para um livro. No próximo artigo falarei da parte principal que às vezes levava mais de 5 anos para ser confeccionada: A lâmina ( HÁ ) e suas técnicas de forja e também o porque de algumas lâminas produzidas ainda hoje no Japão valerem 10 vezes mais que o seu peso em ouro.
A KATANA
Nesse artigo continuaremos a falar sobre a Katana.
Nos concentraremos na alma da espada, sua lâmina.
Estamos no século 13, um furacão se aproxima das ilhas japonesas e afunda uma esquadra de 340 navios com 120.000 mongóis que se preparavam para invadir o Japão. Esse furacão seria mais tarde chamado de KAMIKAZE cuja tradução é o “Vento Divino”.

Neste século iria nascer um jovem que seria discípulo do grande mestre armeiro, Shintogo Kunimitsu. Seu nome era Massamune.Para contar um pouco da história e manufatura da Katana vou falar sobre Massamune.
A primeira das espadas japonesas era a Tachi, espada de curvatura longa, com ângulo de curvatura da lâmina começando no punho. O exército japonês encontrou muita dificuldade de cortar as armaduras de mongóis nos campos de batalha. As armaduras eram confeccionadas com camadas de couro muito resistentes e tratadas (curtidas) de forma que possuíam uma resistência superior a da madeira.
Algumas armaduras mongóis possuíam mais de 1000 camadas e formavam uma armadura de muita qualidade.
Isso fez que a curvatura da espada mudasse para o meio da lâmina, aumentando o ponto de impacto e ângulo de corte. Aprimorar a qualidade da fundição do aço. Foi primordial para que as diferenças de têmpera, associadas à inclusão do carbono, produzissem lâminas mais resistentes.
A produção das espadas Samurais começa sempre da mesma forma, criada antes da era de Massamune.
O método de fundição do aço mudou muito pouco. O Mestre caminhava até um rio com seus discípulos e pegava uma areia chamada SATETSO, produto da erosão do minério de ferro e encontrada nos leitos dos rios.
A fundição começava na produção de uma estrutura de barro retangular ou oval chamada TATARA. A cada ciclo de fundição, que demorava de 5 à 08 dias (dependendo da quantidade de aço produzido ) uma TATARA era utilizada.
Sempre que era necessário o fogo na fundição da Katana, o mesmo era criado de uma maneira quase mágica: golpeando-se um espeto de metal até que sua ponta ficasse incandescente. Nesse momento o mestre pegava papel de arroz que tocava no metal e acendia a TATARA.
Após 72 horas o carvalho, o carvão de pinho e alguns tipos de palhas naturais eram adicionados ao SATETSO. A 1500 graus o carvão se combina ao ferro e ao carbono e nascia o aço chamado TAMARRAGAM. No quinto dia 21 toneladas de ferro dariam origem a 1 tonelada de Aço. O bloco era partido em várias partes, ainda cheias de impurezas.
O segredo de Massamune foi usar essas impurezas a seu favor. Depois de escolher uma parte que daria origem à lâmina da Katana, uma nova fundição era iniciada. Um aprendiz seguindo as especificações, golpeava o aço, tornando a distribuição de carbono mais homogênea.
Depois de formada, a primeira chapa de aço era quebrada em vários pedaços que eram arrumados e empilhados em papel de arroz como num quebra cabeça.Cada pedaço possuía características singulares, que só o mestre mais experiente sabia identificar. O segredo de Massamune foi usar essas impurezas na proporção exata (distribuição de carbono) a seu favor.
Depois de empilhados corretamente era derramada argila liquida sobre os metais: essa argila não permitia que o aço queimasse.
O Aço então seria dobrado 6 vezes em uma direção e 6 vezes na direção oposta, criando uma serie de camadas que davam resistência máxima ao aço. Após 10 dobras tínhamos 1000 camadas.
Algumas espadas levavam anos para terem suas lâminas concluídas. Existem espadas japonesas com 500.000 camadas. Alguns projetos de armeiros levavam anos para ficarem prontos.
Uma espada deixada a um filho como último trabalho de uma vida, ou uma encomenda de um Shogun poderia levar mais de 3 anos até sua conclusão.
Quando uma espada tinha, no meio do processo de produção, uma dobra em direção errada, todo o bloco era descartado e começava-se tudo de novo.
Uma das principais características da espada Samurai é o desenho da têmpera da lâmina denominada Hamon. O que produz esse desenho na lâmina é a diferença do Aço nas camadas principais. Embora de grande beleza,Mamassamune, quando criou o Hamon, tinha como objetivo tornar prática àrestauração de espadas com desgaste de batalha, serrilhado de combate, dentesde quebra, oxidações etc.
O Hamom permitia a Massamune não deixar visível a correção da lâmina.
Quando a lâmina toma sua primeira forma ainda sem curvatura o mestre desenha seu fio com argila líquida e pó de carvão misturado, usando pincéis de bambu. A argila fará que os desenhos marquem o aço com ondas, nuvens, as pétalas de um crisântemo e grafias próprias. Nesse momento o Mestre se torna um artista e deixa a sua marca. Quando a espada volta ao fogo uma das etapas mais difíceis e que requer maior conhecimento irá acontecer. Uma tina com comprimento de (200x100x100cm) de altura é cheia de água. A temperatura da água é escolhida de acordo com o mês do ano, temperatura ambiente e umidade relativa do ar.
A lâmina é segura e é mergulhada em ângulo certo na água. Nesse momento, as diferentes camadas esfriam em tempos diferentes fazendo a curvatura da lâmina. Em 3 segundos uma lâmina poderá nascer ou morrer se acontecer um pequeno erro.
Então o Mestre armeiro mandava sua espada para o polimento. O processo de polimento era feito por outro mestre, que levava 10 dias até a entrega da espada. Eram usados pelo mestre polidor 50 tipos de pedras diferentes, cada uma menos abrasiva do que a outra. A última pedra era usada com dois dedos e era fina como papel.Era que lá fazia aparecer o Hamon!
Depois que a espada retornava ao Mestre Armeiro ele podia analisar os erros e acertos de sua obra.
O TSUBA
Um pássaro numa árvore, um pescador à beira de um rio, flores a frente de um Tori, um sol poente ou apenas uma grafia do emblema da família, Todos esses elementos são encontrados entalhados noTSUBA(a guarda da Katana) e contam uma história.
soten_shakudo_huge_kinko_tsuba_sm2Nas espadas tradicionais japonesas existem um ou dois pinos de bambu que travam qualquer movimento ou deslocamento da lâmina para fora do TSUKA (o punho da Katana). Quando estes pinos são retirados é possível soltar as partes básicas, para manutenção da lâmina e troca do TSUBA na Katana.
Alguns samurais possuíam um conjunto de tsubas para sua Katana .
Em combate usavam um TSUBA maciço, às vezes só com duas perfurações, chamadas Hitsu, por onde
tinha acesso ao Kogai e a Kogatana (pequenas facas).
Um Tsuba para visitar uma autoridade ou andar em lugares públicos era todo trabalhado com ricos entalhes e
folhado de diversos metais nobres, como prata, ouro, cobre, bronze, etc.
Honami: este nome indentifica no Japão o mestre especialista na avaliação e autenticidade de uma espada.
Para esse profissional o TSUBA e as incrições na espiga da lâmina, contam uma história. Se o Samurai
vinha de uma família de pescadores, se a sua religião era Xintoísta, Budista ou até o seu lugar de nascimento
em determinada província Japonesa.
japanese-swords-samurai-ryumon-bushido-katana-tsuba
O TSUKA (punho) é feito de uma madeira muito mais resistente que a saya , pois ele recebe toda tensão dos
movimentos e dos golpes. Ele é revestido de same (couro de arraia ou de algumas espécies de tubarão).
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A função do same não é decorativa a sua função real é não deixar deslizar a amarração, (Tsukaito) que nas
espadas originais eram trançadas com cordas de seda.
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A amarração é feita de maneira que a trança de nós não deixe a mão escorregar. A seda também ajudava na
absorção do suor das mãos em treinamentos e combates.
Outro item que acompanha a grafia do Tsuba são os MENUKIS.
Eles se encontram em lados opostos do punho da Katana e além
de decorativos, marcam a posição onde as mãos devem ficar no
Tsuka.Os menukis são muito colecionados no Japão.
No ano de 1977 um empresário Japonês do grupo Matsushita pagou a quantia de 700.000 dólares num par
de menukis que faziam parte de uma Katana de Tsukahara Bokuden.
MENUKIS – DRAGÕES ETERNOS
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O Tsuka também é composto de duas partes de acabamento: a KASHIRA, que finaliza o punho e o FUCHI ou manga, que faz o acabamento com o Tsuba.
fuchi-kashira-after-solder
Mestres em metalurgia, carpintaria, pintura e escultura , todos se encontrarm e deixam um lugar na história
na produção e criação desta obra de arte que é a Katana Japonesa.
fonte:
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