O ponto aí é, como eu disse, a acomodação. O cara não abre mão de uma vida melhor porque ele quer continuar na favela. O motivo é outro. Ele teme encarar uma realidade diferente da qual vive. Enfrentar isso é um salto no escuro. Não conheço quem tenha saído da favela para um lugar melhor e depois voltado pra favela por vontade própria. Só voltou quem ficou ferrado novamente.muttley escreveu:
O livro que fiz referência e que o Constantino critica trata bastante dessa questão. A partir de pesquisa se verificou que um percentual expressivo de moradores desses lugares não gostariam ou tem planos de se mudar, apesar de apontar vários problemas nos lugares onde vivem.
Exato! Mas aí teríamos um 'ambiente' de pessoas que se ajudam e sem os problemas básicos de uma comunidade carente. Já imaginou um lugar 'comum', tranquilo, sem sofisticação, mas onde há companheirismo entre os cidadãos e serviço público de qualidade? Deixa de ser favela e a discussão muda! O Estado, naturalmente, tem responsabilidade nisso.O próprio Seu Jorge na entrevista criticou o abandono do Estado (leia-se serviço público em sentido amplo - segurança, educação, saúde etc) e disse que não tocaria lá porque não gostaria de ser cúmplice de eventual poder paralelo que domine a região. Acho que nisso ele está muito certo.
Cara, mas gente pobre sempre vai existir. Você pode até melhorar as condições de um determinado local e possibilitar que as próximas gerações que viverão ali não passem pelo que seus pais passaram, mas, de alguma forma ou em algum outro lugar, vai surgir um novo pobre e vai criar uma nova favela.O que penso que deva ser levado em conta é que é uma aglomeração de milhões de pessoas em todos os grandes centros urbanos do país e que nessa existência e nas próximas gerações, essas pessoas continuarão lá, seja por escolha ou por não alcançar uma renda que permita a mudança.
O que se deve esperar dessa gente? Que se olhe no espelho todo dia e se sinta uma merda porque não tem uma vida "adequada" a partir da perspectiva da classe média? Que a única chance de humanização ou respeito como cidadão deva ocorrer quando se conseguir "sair" da favela?
Recomendo a leitura desse texto do Leandro Narloch
País rico é país sem pobreza?
http://veja.abril.com.br/blog/cacador-d ... m-pobreza/" onclick="window.open(this.href);return false;
Mas não é o Constantino que prega um discurso de menos Estado? De uma maior autonomia para que os agentes econômicos se auto organizem e gerem mais eficiência? Isso não é uma contradição?
Outra coisa, o processo histórico que deu origem às favelas, como foi que ocorreu? Foi em um governo de esquerda? A desigualdade e o baixo nível de escolarização nesse país foi efeito de algum governo de esquerda?
Mas vc está entrando no mérito do autor e não do texto. Se eu fosse me prender a isso, nem leria o Constantino (ele é ateu e eu cristão). Não é pelo fato dele ser ateu que eu vou discordar de tudo, assim como não é pelo fato do Reinaldo Azevedo e do Olavo de Carvalho serem cristãos (no caso deles, católicos) que eu sou obrigado a concordar com tudo.
E sobre direita e esquerda é complicado discutir, pois os significados abarcam tantas coisas que eu posso estar dizendo uma e vc outra.