Olha o que as pessoas sensatas diziam sobre o endividamento. Está aí o estouro da bolha do crédito. As pessoas mais pobres precisam estar com o nome limpo para poder manter a capacidade de compra. Daí alguns dirão que foi chute, sorte ou que, se você toda horá disser que uma crise irá ocorrer, um dia acabará acertando. Mentira!!!! Ninguém pode se endividar infinitamente. O resultado está aí.
Jamais tentem desafiar as leis da economia com medidas populistas, pois a conta pode demorar um pouco, mas um dia chega e custa caro.
No Brasil, um em cada três moradores de favelas está endividado
Dados pertencem a pesquisa do Data Favela, que também aponta aumento no consumo
Reprodução/Facebook
O baixo crescimento da economia brasileira em 2014, após um período de crédito farto, atingiu as favelas do País. Nos últimos dois anos, as dívidas dos moradores das favelas brasileiras aumentaram.
Pesquisa do Instituto Data Favela, com apoio do Data Popular e da Central Única das Favelas (Cufa), a ser divulgada nesta terça-feira (3), no 2º Fórum Nova Favela Brasileira, em São Paulo, revela que um em cada três brasileiros que vivem nessas moradias tem contas atrasadas.
Em 2013, quando a pesquisa foi realizada pela primeira vez, 27% dos moradores das favelas possuíam dívidas. Esse número saltou para 35% em 2015. A questão atinge mais as pessoas entre 35 e 49 anos, que têm 45% de endividados.
Para o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, o aumento do crédito é o responsável pelo crescimento das dívidas.
— Como houve um crescimento do trabalho formal, o acesso ao crédito cresceu e levou a um aumento do endividamento. Mesmo assim, o crédito nas favelas é menor do que o do restante da sociedade.
Tal aumento está diretamente relacionado ao crescimento do consumo. A pesquisa mostra que os 12,3 milhões de moradores nas favelas brasileiras movimentam por ano R$ 68,6 bilhões, 8% a mais do que em 2013, crescendo na mesma proporção das dívidas.
'Favelas poderiam servir de modelo para cidades do futuro'
Problemas de infraestrutura, no entanto, ainda são uma realidade, apesar de a população ter mais acesso a bens de consumo, como máquina de lavar (75%), carro (24%), TV de plasma, LED ou LCD (67%).
Mas Meirelles admite que algumas condições, em que se incluem o saneamento básico e a violência, ainda não são boas.
— Um dos grandes problemas das favelas é a criminalidade. Não digo em relação ao número de traficantes, cuja porcentagem não é alta. Mas em relação a vítimas de violência e de criminalidade, os números são enormes.
Meirelles vê aspectos positivos no aumento do consumo nas favelas, que cresceu mais do que a economia brasileira neste período.
— Mesmo com um crescimento econômico não tão bom, a pesquisa mostra que o que cresce no Brasil é a renda da periferia.
O fato de o Brasil ter registado um PIB (Produto Interno Bruto, que é a soma de riquezas do País) próximo a zero em 2014, porém, começa a afetar os moradores da favela, que até então eram os propulsores da economia, segundo o economista Chau Kuohue, do Corecom.
— Os empregos ocupados por moradores das favelas, geralmente, são os de mão de obra não tão qualificada, como garçons e manobristas. A se continuar esta tendência, que em janeiro chegou aos setores de serviços e comércio, vai afetar o pagamento das contas das famílias mais pobres, que dependem de crédito, e têm sido o motor do consumo nos últimos anos.
Segundo Meirelles, porém, dois terços dos moradores garantem que não sairiam da favela em que moram nem se tivessem uma renda dobrada. Ele explica com o argumento de que ainda é mais barato morar nesse tipo de comunidade.
— Na favela, se pode comprar fiado no bar do conhecido, filhos podem ser deixados com o vizinho, economizando na creche, e redes de Wi-Fi podem ter o pagamento compartilhado por grupos de moradores.
Além disso, o dirigente acredita que os laços emocionais pesam na decisão de permanecer no local. Muitas pessoas cresceram juntas, criaram relações sociais e têm até constrangimento em deixar aquele universo.
— Nas favelas, uma frase é muito dita: prefiro ser o mais rico entre os pobres do que o mais pobre entre os ricos.
O levantamento foi feito durante o mês de fevereiro de 2015 com 2.000 moradores de 63 favelas, localizadas nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Brasília e no Distrito Federal.