Após salvar jovem e receber ajuda, morador de rua deixa casa
Enviado: 29 Out 2014 15:51

A proprietária da clínica veterinária, Silvia Mara, ajudou Everton Pereira, de 35 anos, desde que soube do ato que ele havia protagonizado. Na noite de domingo (13), ele percebeu que a menina de 16 anos era violentada por dois homens próximo à Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. Mesmo vendo que um deles estava armado, Everton tentou interceder e foi até a polícia, evitando que o crime tivesse um final ainda mais trágico. Com isso, salvou a vida da jovem, que chegou a ficar em estado grave no hospital, mas agora está fisicamente bem e se recupera em casa.
O auxílio de Silvia começou com vacinas gratuitas aos seis filhotes da cadela que Everton cuidava. Ela abrigou os animais em sua clínica veterinária. Atualmente, quatro ainda estão disponíveis para adoção, além da mãe. Segundo Silvia, após a ajuda com os cães, o morador de rua foi ao local e pediu para começar a trabalhar. Juntos, conseguiram alugar uma casa em uma vila da cidade e mobiliaram. A noite de terça para quarta seria a primeira dele na residência.
“Ele estava sendo sempre muito pontual. Chegava às 8h. Estava bem e convicto. Por isso a gente tinha esperança de que fosse dar certo. Mas eu falava para ele tomar cuidado", disse Sílvia ao G1.
Everton atuava como auxiliar na clínica. Passava por diferentes tarefas, desde dar alimentação aos animais até limpeza do local. Seu último pedido, conforme Silvia, era atuar no banho e tosa, mas a proprietária e os funcionários queriam esperar um pouco mais para lhe dar novas responsabilidades. Na última semana, haviam conficionado os documentos dele para que pudessem assinar a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).
"A gente botou televisão, geladeira, aparelho de som. E nessa noite vendeu quase tudo. Usou a bicicleta que emprestaram para ele. Quando era 8h30 e ele não havia aparecido, liguei para o seu Adão [proprietário do imóvel] e pedi para que desse uma olhada. Logo depois, me ligou com essa notícia triste”, lamentou a dona da clínica. Ela crê que os objetos levados foram vendidos para a compra de drogas.
O proprietário da casa conta que a residência que Everton ficaria está localizada nos fundos de seu terreno. Ele percebeu uma movimentação durante a madrugada, mas relata que não viu o inquilino sair com objetos do local. “Eu vi ele chegando de manhã cedo, e vi sair na madrugada, mas não tinha nada com ele. Hoje de manhã, depois que a Silvia me ligou, fui ali e percebi que a porta estava encostada. Quando entrei, vi que não tinha mais a tv, nada. E nem a bicicleta que emprestei para ele”, completa Adão.
Um outro vizinho, também viu movimentação estranha durante a madrugada. "Saí 5h40 para levar minha mulher na parada de ônibus. Quando saí notei que o portão da frente estava aberto, até estranhei, mas a casa estava fechada. Aí vi o seu Adão [proprietário] saindo depois das 7h. Botei o lixo ali na frente, tomei um banho e saí de novo. Aí eu vi que a porta estava aberta. Foi o instante que ele deve ter saído", diz Roberto Ramos da Silva.
Silvia quer registrar ocorrência pelo desaparecimento de Everton. Teme não encontrá-lo com vida. Ela ressalta, porém, que não perdeu a fé. “Ele continua sendo um herói. É muito difícil. Eu nunca venci o vício do crack. Não é a primeira vez que ajudo e que vejo isso acontecer. Mas é importante que as pessoas não sejam preconceituosas, que não façam comentários maldosos”, aponta.
A crença na recuperação era tanta que Everton havia criado forças para visitar os dois filhos, de 11 e 12 anos, e a esposa. Foi no final de semana para São Lourenço do Sul, na Região Sul do estado. Ficara feliz com o reencontro, lembra Silvia. Nesta quarta, depois de saber do ocorrido, a proprietária da clínica recebeu um telefonema da família.
“A esposa dele me ligou e relatou que, o que eu estava passando agora, ela já passou muitas vezes. Eu também passei, quando ajudei outros. Mas hoje é uma sensação de perda muito grande”, lamenta, emocionada.
Morador de rua foi à delegacia após testemunhar estupro
O estupro ocorreu na noite do dia 12 de outubro, quando a menina foi levada de uma festa por dois homens e violentada nas imediações da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. Alertada por moradores de rua, a polícia prendeu os dois agressores: um jovem de 25 anos e um homem de 56 anos, que ainda tentou fugir e atirou contra a polícia.
A menina foi internada no Hospital Fêmina na noite de domingo e teve dois dias depois. Na ocasião, o pai diz que tem vontade de chorar quando começa a imaginar o que aconteceu com sua filha. "Ficou marcado. Minha mulher só chora. Aos poucos estamos nos recuperando. É difícil para um pai", desabafa.
O homem acredita que se não fossem os moradores de rua que avisaram a polícia do crime, as consequências seriam ainda piores. "Hoje o ser humano vê alguém ser assaltado e faz que não vê, nem por medo, mas por não ter compromisso com outro ser humano. E eles se preocuparam em se deslocar até a polícia para avisar. Se não fossem eles, poderiam até ter matado ela, depois de consumarem o ato", avalia.
Fonte: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-su ... prego.html" onclick="window.open(this.href);return false;