Jovens se inclinam para golpes militares com a corrupção.
Enviado: 08 Fev 2015 17:45
Jovens concordam mais com golpes militares quando há muita corrupção
FÁBIO VASCONCELLOS
Eleitores que vivem na maioria dos países das Américas acreditam, em geral, que a democracia é a melhor forma de governo e rejeitam golpes militares. Mas a corrupção e a criminalidade tendem a afetar essa percepção, principalmente entre os mais jovens. Uma análise feita pelo Núcleo de Jornalismo de Dados do GLOBO a partir do cruzamento dos microdados da pesquisa Projeto Opinião Pública na América Latina (Lapop, sigla em inglês) indicam que, em situações de crise, eleitores entre 16 e 25 anos estão mais propensos a aceitar golpes militares.
Pelos dados, colhidos em 28 países em 2014, cerca de 45% dos eleitores de até 25 anos consideram justificável que os militares tomem o poder quando há muita corrupção. Esse percentual cai continuamente e atinge 33% entre aqueles com mais de 55 anos. No caso de alta criminalidade, cerca de 40% dos eleitores com até 25 anos também consideram justificável um golpe militar. Como no primeiro caso, esse percentual é menor entre os mais velhos (30%).

A pesquisa do Lapop, realizada Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, apresenta quase 50 mil entrevistas. No caso do Brasil, os dados sobre golpes militares apresentam uma inversão em relação à média geral. Aqui, os jovens tendem a discordar mais da justificativa de governos militares em caso de muita corrupção quando comparado com os eleitores mais velhos. Mas, como o cruzamento por país apresenta maior variabilidade dos resultados, não é possível afirmar com certeza estatística se o resultado é mesmo diferente daquele identificado no total da pesquisa. No caso de muita criminalidade, os dados do Brasil também apresentam essa inversão em relação ao resultado geral da amostra.
Pela pesquisa, cerca 66% dos entrevistados, considerando todos os países, não consideram justificáveis golpes militares em caso muita criminalidade. Quando perguntados sobre situações de muita corrupção, 61% também se dizem contra governos militares. No ranking dos países, o Paraguai lidera com a maior proporção de respostas positivas a golpes militares quando há muita corrupção: 56%. Em segundo lugar vem a Nicarágua (55%), seguido do México (53%). O Brasil aparece em sexto lugar, com 48% dos entrevistados favoráveis a golpes militares em caso de muita corrupção.

Para Jairo Nicolau, cientista político e professor da UFRJ, há questões metodológicas da pesquisa, bem como da cultura política de cada país, que precisam ser levadas em conta:
— Esses dados são um alerta e precisam ser mais pesquisado, utilizando outras pesquisas e métodos. Pode haver variações importantes, por exemplo, entre os países que o dado agregado esconde. Além disso, uma coisa é ter pouca confiança na via institucional democrática como caminho para resolver um problema; outra coisa é ser favorável a golpes militares. De todo modo, há uma questão que me preocupa mais que é saber até que ponto os jovens têm tido um compromisso com a ordem democrática. Nas manifestações de junho de 2013, vimos grupos minoritários com atitudes que indicavam um baixo compromisso com a ordem democrática tradicional.
Luciana Veiga, cientista política e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisa as relações de apoio à democracia na América Latina. Na sua avaliação, os resultados podem ser explicados por outros dados, como o fato de os jovens tenderem a levar mais em conta o desempenho da democracia do que a democracia como um valor:
— Fizemos recentemente um estudo também com dados do Lapop e identificamos que, quanto menos idade, menos chances a pessoa tem de apoiar as dimensões mais normativas da democracia, ou seja, a democracia como um valor. E ainda, quanto menos idade, mais críticas as pessoas são em relação ao desempenho do regime. A meu ver, a experiência com o regime ditatorial ou uma maior proximidade com os anos de ditadura implicaria em mais recordação da repressão, que aumentaria a adesão da democracia como valor, no seu caráter mais normativo.
A pesquisa Lapop perguntou também aos eleitores como eles se posicionam numa escola de esquerda-centro-direita. Na média geral, os países das américas apresentam uma leve tendência à esquerda. Aproximadamente 35% se identificam com essa posição, enquanto 33% afirmam ser de centro, e outros 32%, de direita. O Brasil apresenta percentuais muito próximos da média: 31% dos entrevistados se posicionaram ao centro, enquanto 35% de esquerda e 35% de direita.
Infográfico completo:

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/base-dado ... 560457.asp" onclick="window.open(this.href);return false;
FÁBIO VASCONCELLOS
Eleitores que vivem na maioria dos países das Américas acreditam, em geral, que a democracia é a melhor forma de governo e rejeitam golpes militares. Mas a corrupção e a criminalidade tendem a afetar essa percepção, principalmente entre os mais jovens. Uma análise feita pelo Núcleo de Jornalismo de Dados do GLOBO a partir do cruzamento dos microdados da pesquisa Projeto Opinião Pública na América Latina (Lapop, sigla em inglês) indicam que, em situações de crise, eleitores entre 16 e 25 anos estão mais propensos a aceitar golpes militares.
Pelos dados, colhidos em 28 países em 2014, cerca de 45% dos eleitores de até 25 anos consideram justificável que os militares tomem o poder quando há muita corrupção. Esse percentual cai continuamente e atinge 33% entre aqueles com mais de 55 anos. No caso de alta criminalidade, cerca de 40% dos eleitores com até 25 anos também consideram justificável um golpe militar. Como no primeiro caso, esse percentual é menor entre os mais velhos (30%).

A pesquisa do Lapop, realizada Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, apresenta quase 50 mil entrevistas. No caso do Brasil, os dados sobre golpes militares apresentam uma inversão em relação à média geral. Aqui, os jovens tendem a discordar mais da justificativa de governos militares em caso de muita corrupção quando comparado com os eleitores mais velhos. Mas, como o cruzamento por país apresenta maior variabilidade dos resultados, não é possível afirmar com certeza estatística se o resultado é mesmo diferente daquele identificado no total da pesquisa. No caso de muita criminalidade, os dados do Brasil também apresentam essa inversão em relação ao resultado geral da amostra.
Pela pesquisa, cerca 66% dos entrevistados, considerando todos os países, não consideram justificáveis golpes militares em caso muita criminalidade. Quando perguntados sobre situações de muita corrupção, 61% também se dizem contra governos militares. No ranking dos países, o Paraguai lidera com a maior proporção de respostas positivas a golpes militares quando há muita corrupção: 56%. Em segundo lugar vem a Nicarágua (55%), seguido do México (53%). O Brasil aparece em sexto lugar, com 48% dos entrevistados favoráveis a golpes militares em caso de muita corrupção.

Para Jairo Nicolau, cientista político e professor da UFRJ, há questões metodológicas da pesquisa, bem como da cultura política de cada país, que precisam ser levadas em conta:
— Esses dados são um alerta e precisam ser mais pesquisado, utilizando outras pesquisas e métodos. Pode haver variações importantes, por exemplo, entre os países que o dado agregado esconde. Além disso, uma coisa é ter pouca confiança na via institucional democrática como caminho para resolver um problema; outra coisa é ser favorável a golpes militares. De todo modo, há uma questão que me preocupa mais que é saber até que ponto os jovens têm tido um compromisso com a ordem democrática. Nas manifestações de junho de 2013, vimos grupos minoritários com atitudes que indicavam um baixo compromisso com a ordem democrática tradicional.
Luciana Veiga, cientista política e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisa as relações de apoio à democracia na América Latina. Na sua avaliação, os resultados podem ser explicados por outros dados, como o fato de os jovens tenderem a levar mais em conta o desempenho da democracia do que a democracia como um valor:
— Fizemos recentemente um estudo também com dados do Lapop e identificamos que, quanto menos idade, menos chances a pessoa tem de apoiar as dimensões mais normativas da democracia, ou seja, a democracia como um valor. E ainda, quanto menos idade, mais críticas as pessoas são em relação ao desempenho do regime. A meu ver, a experiência com o regime ditatorial ou uma maior proximidade com os anos de ditadura implicaria em mais recordação da repressão, que aumentaria a adesão da democracia como valor, no seu caráter mais normativo.
A pesquisa Lapop perguntou também aos eleitores como eles se posicionam numa escola de esquerda-centro-direita. Na média geral, os países das américas apresentam uma leve tendência à esquerda. Aproximadamente 35% se identificam com essa posição, enquanto 33% afirmam ser de centro, e outros 32%, de direita. O Brasil apresenta percentuais muito próximos da média: 31% dos entrevistados se posicionaram ao centro, enquanto 35% de esquerda e 35% de direita.
Infográfico completo:

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/base-dado ... 560457.asp" onclick="window.open(this.href);return false;