Movimento LGBT e Comissão da OAB consideram publicação criminosa.
Jornal diz que termo 'viadagem' não está relacionado à homossexualidade.
O texto de uma 'simpatia pra curar viadagem', publicada na coluna de orações em um jornal que circula
semanalmente em Boa Vista, gerou revolta no movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).
O conteúdo da publicação usa termos como 'sofrente' e ainda dá dicas de receitas de chá somada a surras de 'cipó de fogo' nas nádegas
para a suposta cura.
Em um dos trechos da 'simpatia', é descrito que 'o sofrente deve tomar de manhã cedo uma xícara de mari-mari quente e forte,
uma colher de sopa de jatobá e duas xícaras de polpas de jenipapo'. (...) "Na hora de deitar, o 'sofrente' deve levar uma surra de cipó de fogo
(doze cipoadas em cada uma das nádegas) por sete dias", diz o texto.
A publicação ainda cita: "Se no oitavo dia não sentir melhora [o 'sofrente'], deixe o menino ser feliz do jeitinho que ele quer".
Para Sebastião Diniz, presidente do grupo Diversidade Roraima, o jornal fez uma divulgação preconceituosa e incitou a violência.
"Lendo o teor da publicação, ficou claro que essas 'cipoadas' nas nádegas são uma agressão aos gays e um preconceito abominável.
Acionamos a OAB-RR [Ordem dos Advogados do Brasil em Roraima]. Pediremos uma retratação pública do jornal e recorreremos ao
Ministério Público. Essa atitude só fomenta e segrega a nossa cidadania LGBT e vamos à Secretaria de Direitos Humanos ", disse Diniz.
Ainda segundo ele, a 'simpatia pra curar viadagem' remete ao assunto da 'cura gay' que virou debate nacional.
"Essa situação traz o questionamento do comportamento dessa pessoa que escreve algo tão agressivo sobre a homossexualidade.
O jornal deveria abordar assuntos com conteúdo educativo, mas vemos que o teor discriminatório imperou", sustentou Diniz.
De acordo com a advogada Lourdes Icassatti, presidente da Comissão da Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo da OAB-RR,
o texto da 'simpatia pra curar viadagem' é criminoso e homofóbico.
"Essa publicação estimula a violência contra os homossexuais. O anúncio convence que o homoafetivo é errado e deve ser punido com agressão.
Os gays têm direitos e a OAB-RR é totalmente contra violência à classe LGBT. Vamos aos órgãos jurídicos pedir providências,
mas antes queremos uma retratação desse jornal", enfatizou Lourdes.
Na coluna de orações, ainda há um texto de uma prece para Santo Expedito. Entretanto, a sugestão dessa oração não tem teor irônico ou discriminatório.
O jornal, que circula semanalmente, contém 24 páginas e está na sua 16ª edição.
Dono de jornal se pronuncia
O proprietário do periódico, Aroldo Pinheiro, que também é presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Roraima (Sinjoper),
justificou que o termo 'viadagem' não está relacionado à homossexualidade.
"Essa 'viadagem' citada na publicação não se refere aos homossexuais. Não tenho nada contra gays, até porque sou amigo de alguns.
Só é procurar no dicionário a palavra 'viadagem' em suas diversas traduções (sic). E cada um encare como quiser.
Caso queiram usar [a simpatia], podem usar. Se alguém tiver alguma doença de viadagem (sic), a simpatia cura", ironizou.
Em consulta aos dicionários Aurélio e Houaiss, não foi encontrado o termo viadagem. Os dois apenas dão como sinônimo para 'homem homossexual' a palavra 'veado',
entre outras definições para o mesmo termo.
No dia 17 de maio de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou o homossexualismo da lista internacional de doenças.
Um projeto de lei aprovado em 2006 na Câmara dos Deputados torna a homofobia crime com punição semelhante a de crimes resultantes de discriminação
ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Novo Código Penal
Tramita também no Senado a reforma do Código Penal brasileiro, que criminaliza a homofobia ao incluir um artigo que determina
prisão de 1 a 5 anos para quem praticar discriminação ou preconceito de “identidade ou orientação sexual”. O texto assegura,
por outro lado, a livre manifestação do pensamento “de natureza crítica”, especialmente em casos de “liberdade de consciência e de crenças religiosas”.
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