O mito da grande indústria bélica brasileira
Enviado: 17 Abr 2015 14:25
Um mito persistente, que dá voltas pela internet e às vezes pousa até na imprensa, é afirmar que o Brasil já teve uma das maiores indústrias de defesa do mundo. Variantes do mito falam que o país chegou a ter “a 3ª maior indústria bélica”, e que a empresa Engesa chegou a ser “o maior fabricante do Ocidente de blindados sobre rodas”. A Engesa, continuam os mitômanos, teria perdido uma concorrência para vender os tanques Osório na Arábia Saudita e terminou falindo “por pressão dos americanos”.
Entre 1980 e 1992, o auge da indústria bélica no país, “o Brasil esteve em todos esses anos, exceto 1981, entre os 20 maiores exportadores, chegando à sua máxima colocação, o 10º lugar, em 1985. Mesmo assim, o Brasil era responsável por menos de 1% do total mundial mesmo nesse ano. Depois de 1992 o país caiu fora da lista dos 20 maiores e não retornou desde então”, diz o pesquisador do SIPRI Sam Perlo-Freeman.
Ele lembra que a lista inclui apenas grandes armas convencionais, deixando de lado armas leves como fuzis, e que os valores dados em dólares de 1990 são indicativos, usados para servir de comparação. A metodologia faz sentido, pois nem sempre os valores reais de uma venda de armas são divulgados, e alguns países vendiam a preços bem diferentes. A antiga URSS, por exemplo, vendia armas bem mais baratas do que suas semelhantes ocidentais.
Pelas tabelas do SIPRI, no período de 80 a 92 o recorde de vendas foi em 1984, de 269 milhões de dólares, o que colocou o país em 11º entre os exportadores de armas. No mesmo ano, a então URSS vendeu o equivalente a 14 bilhões de dólares; os EUA venderam 11 bilhões; a Alemanha e a França venderam cada uma 2,8 bilhões de dólares de armamentos.
Em 1985, o ano em que o Brasil foi o 10º maior exportador, os números são parecidos: 202 milhões de dólares. Muito pouco, perto das vendas de 14,7 bilhões da URSS, 10,2 bilhões dos EUA, 3,6 bilhões da França, 2 bilhões do Reino Unido e 1,4 bilhão da China. Até a pequena Áustria vendeu mais armas que o Brasil nesse ano: 330 milhões de dólares.
“A Engesa era apresentada como a maior indústria de veículos blindados sobre rodas no ocidente. Jamais ao longo de minha carreira na Engesa, de 14 anos, encontrei alguma estatística que comprovasse o fato, nem como indústria, nem como exportadora”, diz o engenheiro e ex-executivo da empresa Reginaldo Bacchi.
As exportações de armas brasileiras se concentraram na Engesa e na Embraer e, em menor grau, na Avibrás Aeroespacial. Ainda hoje a Embraer é a principal exportadora na área militar do país, com produtos como os aviões de treinamento e ataque leve Tucano e Super Tucano, e as versões de avião-radar do EMB-145.
“Só posso atribuir a falência da Engesa à má administração. Os gastos com o Osório não foram nada excepcionais”, diz Bacchi.
A empresa teve sorte de ter desenvolvido suas armas em um momento histórico propício, no final dos anos 70. “Os exércitos no mundo tinham se equipado no fim da 2ª Guerra Mundial com equipamento vendido pelo Estados Unidos e Grã Bretanha a preço de banana, e estavam procurando substituí-los por coisa nova”, afirma o engenheiro.
Os países da Otan se concentravam em produzir equipamento destinado a combater os do Pacto de Varsóvia, nem sempre adequados para países do Terceiro Mundo. “Era um cenário tremendamente favorável a algumas indústrias nascentes do Brasil”, diz Bacchi.
Hoje o cenário voltou a travar o renascimento de uma indústria de defesa no país, algo que o Ministério da Defesa almeja. “Compra-se material da Alemanha, Grã Bretanha, Itália, França, Bélgica, Holanda novamente a preço de banana. Combinado a isto, os exércitos encolheram de uma maneira impressionante”, afirma o ex-executivo da Engesa. Sem uma política coerente e sustentada de compras constantes pelas forças armadas, não há como atrair as indústrias brasileiras para voltar a produzir armamento.
http://www.forte.jor.br/2010/07/12/o-mi ... rasileira/" onclick="window.open(this.href);return false;
Texto de 5 anos atrás, mas atual.
Entre 1980 e 1992, o auge da indústria bélica no país, “o Brasil esteve em todos esses anos, exceto 1981, entre os 20 maiores exportadores, chegando à sua máxima colocação, o 10º lugar, em 1985. Mesmo assim, o Brasil era responsável por menos de 1% do total mundial mesmo nesse ano. Depois de 1992 o país caiu fora da lista dos 20 maiores e não retornou desde então”, diz o pesquisador do SIPRI Sam Perlo-Freeman.
Ele lembra que a lista inclui apenas grandes armas convencionais, deixando de lado armas leves como fuzis, e que os valores dados em dólares de 1990 são indicativos, usados para servir de comparação. A metodologia faz sentido, pois nem sempre os valores reais de uma venda de armas são divulgados, e alguns países vendiam a preços bem diferentes. A antiga URSS, por exemplo, vendia armas bem mais baratas do que suas semelhantes ocidentais.
Pelas tabelas do SIPRI, no período de 80 a 92 o recorde de vendas foi em 1984, de 269 milhões de dólares, o que colocou o país em 11º entre os exportadores de armas. No mesmo ano, a então URSS vendeu o equivalente a 14 bilhões de dólares; os EUA venderam 11 bilhões; a Alemanha e a França venderam cada uma 2,8 bilhões de dólares de armamentos.
Em 1985, o ano em que o Brasil foi o 10º maior exportador, os números são parecidos: 202 milhões de dólares. Muito pouco, perto das vendas de 14,7 bilhões da URSS, 10,2 bilhões dos EUA, 3,6 bilhões da França, 2 bilhões do Reino Unido e 1,4 bilhão da China. Até a pequena Áustria vendeu mais armas que o Brasil nesse ano: 330 milhões de dólares.
“A Engesa era apresentada como a maior indústria de veículos blindados sobre rodas no ocidente. Jamais ao longo de minha carreira na Engesa, de 14 anos, encontrei alguma estatística que comprovasse o fato, nem como indústria, nem como exportadora”, diz o engenheiro e ex-executivo da empresa Reginaldo Bacchi.
As exportações de armas brasileiras se concentraram na Engesa e na Embraer e, em menor grau, na Avibrás Aeroespacial. Ainda hoje a Embraer é a principal exportadora na área militar do país, com produtos como os aviões de treinamento e ataque leve Tucano e Super Tucano, e as versões de avião-radar do EMB-145.
“Só posso atribuir a falência da Engesa à má administração. Os gastos com o Osório não foram nada excepcionais”, diz Bacchi.
A empresa teve sorte de ter desenvolvido suas armas em um momento histórico propício, no final dos anos 70. “Os exércitos no mundo tinham se equipado no fim da 2ª Guerra Mundial com equipamento vendido pelo Estados Unidos e Grã Bretanha a preço de banana, e estavam procurando substituí-los por coisa nova”, afirma o engenheiro.
Os países da Otan se concentravam em produzir equipamento destinado a combater os do Pacto de Varsóvia, nem sempre adequados para países do Terceiro Mundo. “Era um cenário tremendamente favorável a algumas indústrias nascentes do Brasil”, diz Bacchi.
Hoje o cenário voltou a travar o renascimento de uma indústria de defesa no país, algo que o Ministério da Defesa almeja. “Compra-se material da Alemanha, Grã Bretanha, Itália, França, Bélgica, Holanda novamente a preço de banana. Combinado a isto, os exércitos encolheram de uma maneira impressionante”, afirma o ex-executivo da Engesa. Sem uma política coerente e sustentada de compras constantes pelas forças armadas, não há como atrair as indústrias brasileiras para voltar a produzir armamento.
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Texto de 5 anos atrás, mas atual.