O "deus mercado" é realmente bom?

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Dekkers
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O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Dekkers » 15 Jun 2015 18:53

Por Luis Felipe Miguel*, no Blog da Boitempo

Há um elemento comum, nas manifestações recentes da direita brasileira – e não só brasileira: o discurso de que o Estado deve recuar e o mercado deve regular uma porção maior das interações humanas. Enquanto o Estado premiaria os “preguiçosos” por meio de suas políticas sociais, o mercado daria a cada um a recompensa justa pelo seu esforço. É o que diziam as faixas, nas manifestações de março e abril, que reivindicavam o direito daqueles que “trabalharam muito” a se dessolidarizar dos pobres e marginalizados. Por vezes, como quando denuncia as cotas nas universidades, este discurso ainda é tingido por um racismo indisfarçável.

É um entendimento que está presente mesmo em agentes que, à primeira vista, parecem mais motivados por uma pauta retrógrada no âmbito dos direitos individuais. Basta lembrar de Eduardo Cunha. Chegou à presidência da Câmara anunciando que barraria qualquer medida em favor do direito ao aborto, mas tratou de logo encaminhar, a todo vapor, a sacralização do financiamento privado de campanhas, seu principal interesse na “reforma política”, e o desmonte dos direitos trabalhistas, aprovando o PL 4330/2004. Jornalistas e advogados conservadores não tardaram a anunciar as vantagens da “terceirização”, que consistiriam exatamente em reduzir a regulação estatal das relações de trabalho, permitindo que a lógica do mercado opere mais livremente. Se a lógica do mercado opera, dizem eles, no final das contas todos ganham. Menos direitos trabalhistas gerariam mais lucro, logo mais riqueza, mais trabalho e maiores salários.

Será que é mesmo assim? Um conhecimento, mesmo que superficial, da história permite duvidar. Antes de que os trabalhadores conseguissem se organizar nos sindicatos e obter o reconhecimento público de alguns direitos, imperavam a jornada de 14 ou 16 horas, o trabalho infantil, a insalubridade e o salário de fome, sem descanso semanal e sem férias remuneradas. Eram essas as condições no século XIX. Engels as descreveu vividamente em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, mas quem tiver ojeriza pelo autor pode buscar qualquer historiador liberal sério que encontrará um retrato similar – efeito de um mercado de trabalho plenamente desregulado.

A ideia de que justiça é entregar a cada um aquilo a que seus méritos individuais dão direito entrou em certo senso comum, mas não é isenta de problemas. Afinal, “mérito” não é uma característica inata, mas fruto de um mundo social que valoriza certos atributos. A obtenção de tais atributos também depende centralmente das circunstâncias em que cada pessoa se encontra. E caso se prefira enfatizar os talentos naturais, não custa lembrar, como já anotava John Rawls, que eles são dádivas que recebemos gratuitamente, não configurando nenhuma forma de mérito subjetivo.

Mercado e justiça

Mesmo sem questionar o discurso da meritocracia, porém, é difícil aceitar a ideia de que o mercado realiza algum padrão de justiça, recompensando qualidades e punindo defeitos. A possibilidade de agir com eficácia no mercado depende sobretudo do controle de recursos que os próprios mecanismos de mercado distribuem de forma muito desigual e que refletem uma série de acasos, a começar pela loteria do nascimento. Ainda há quem pense que o fato de que os ricos são quase sempre filhos de ricos é uma demonstração da superioridade do material genético dos privilegiados, mas evidentemente é bem mais razoável aceitar que a relação causal é outra. O mercado não premia o mérito, seja lá o que isso for.

Até o mais competente defensor da ideia de que o mercado realiza um padrão de justiça, o falecido filósofo estadunidense Robert Nozick, reconhecia que tal justiça dependia de um momento inicial de igualdade de recursos. Uma vez que esse momento nunca existiu, toda distribuição posterior deve ser considerada injusta (conclusão de que Nozick fugia, mas que é inescapável). Uma proposta de produzir tal estado inicial ideal aparece no “socialismo de mercado” apresentado por John Roemer, em que o capital seria redistribuído equitativamente a cada geração. Deixando de lado as múltiplas dificuldades técnicas do projeto de Roemer, cabe observar que muitas das oportunidades dos filhos de famílias privilegiadas, como o acesso a bens educacionais e a redes de contatos, não dependem da herança que receberão e não são atingidas pela medida.

De resto, a “justiça” que o mercado realizaria ecoa uma visão de responsabilidade individual que nega espaço à solidariedade social. Uma aposta errada pode arruinar de maneira definitiva as possibilidades de vida de uma pessoa, mas isso não seria problema, já que cada um é responsável por seus próprios atos. E uma vez que se considera que cada um tem sua chance, não há nenhum compromisso em relação àqueles que estão em situação pior. Trata-se de uma visão de justiça que, além de fundada no pressuposto indefensável da absoluta autonomia decisória dos agentes, conduz a uma atomismo social bem pouco atraente. Por isso, muitos apologistas do mercado adotam um discurso diverso e admitem que ele pode gerar injustiças. Mas esse seria o preço a pagar pela garantia da liberdade, que o mercado produziria.

Mercado e liberdade

É corrente, nesse tipo de discurso, a oposição entre o Estado, esfera da coerção, e o mercado, espaço de interações livres e voluntárias. De fato, o cumprimento da lei é (ou pretende ser) obrigatório: não depende de minha vontade usar cinto de segurança ou pagar os impostos. Já no mercado, não sou coagido a comprar ou a vender nada; só me engajo nestas trocas se julgo que serão, de alguma maneira, vantajosas para mim. Trata-se, é claro, de uma visão ancorada num entendimento radicalmente negativo da liberdade, em que a autoridade política conta como coação, mas a necessidade material, não. Na verdade, as trocas livres e voluntárias do mercado ideal só existem nos modelos de seus ideólogos. A maior parte das pessoas age constrangida por necessidades prementes e esse é um elemento incontornável do funcionamento do mercado capitalista. Não por acaso, o capital se opõe a tudo aquilo que reduz a situação de privação do trabalho – acesso à terra, renda básica universal, pleno emprego.

Pelo menos o mercado permitiria expressar a intensidade das preferências individuais. Também é clássica a oposição entre o direito de voto, que vale o mesmo, quer eu deseje muito a vitória de um candidato, quer eu seja quase indiferente, e a troca mercantil, em que eu me disponho a pagar menos ou mais por um produto conforme minha vontade de possuí-lo seja menos ou mais intensa. Mas tal observação, que pode ser verdadeira para cada indivíduo, é falaciosa para o coletivo. Quanto mais dinheiro eu possuo, menor a utilidade marginal de cada real, logo com mais liberalidade ele pode ser dispendido. Por isso, ricos adquirem bens mesmo com preferência pouco intensa por eles, ao passo que pobres não adquirem mesmo aquilo que desejam fervorosamente. Em suma – e ao contrário da tradição liberal que opõe os dois valores –, qualquer medida de liberdade será enganadora na ausência de um patamar mínimo de igualdade.

Cabe lembrar que o quadro ainda é mais complexo, uma vez que as próprias preferências que seriam expressas “livremente” refletem assimetrias de mercado. O ambiente social em que as pessoas definem suas prioridades e anseios é influenciado pelos discursos de diversos agentes, entre os quais se encontram, com destaque, a publicidade comercial e a mídia por ela influenciada. No mercado, se manifestam preferências que o mercado busca induzir – a começar pela ideia de que o consumo é o caminho tanto para a solução dos problemas quanto para a autorrealização humana.

Se o mercado não se realiza como o espaço de liberdade que alguns de seus defensores desenham, ao menos ele seria crucial para garantir a liberdade na sociedade como um todo. De acordo com a visão pluralista, desenvolvida na metade do século passado e ainda vigorosa, sociedades de mercado permitiriam uma dispersão dos recursos de poder – em contraste com as economias estatistas, em que poder político e poder econômico estariam fundidos. Mais uma vez, tal narrativa não passa pelo crivo da investigação crítica. O poder econômico se transmuta facilmente em poder político, por meio do financiamento de campanhas, do lobby, da influência sobre a opinião pública e, enfim, da dependência estrutural que o Estado tem em relação ao investimento privado. Ele sobrevive da arrecadação de impostos, que reflete o nível de atividade econômica, que, por sua vez, reflete o nível de investimento. Com isso, os governantes, quaisquer que sejam suas simpatias políticas, precisam introjetar os interesses do capital, garantindo uma situação que estimule a manutenção de taxas elevadas de investimento econômico. Não é necessária nenhuma conexão especial com a elite política, nem a apresentação de algum tipo de chantagem ou ameaça por parte da classe capitalista; a estrutura econômica garante que seus interesses receberão uma atenção privilegiada por parte dos detentores do poder de Estado.

Uma linha auxiliar do argumento de que o mercado protege a liberdade foca em seu suposto caráter antidiscriminatório. Há quem afirme, por exemplo, que os mecanismos de mercado combatem o racismo (ou a discriminação contra pessoas com deficiência) melhor que qualquer política pública: firmas que se recusassem a contratar negros ou a vender para negros perderiam bons empregados ou bons clientes e seriam punidas na competição com seus concorrentes. É desnecessário dizer que isso não tem nenhuma comprovação empírica. Pelo contrário, regras que coíbam a discriminação racial se mostraram cruciais para impedir que as empresas respondam ao incentivo a práticas racistas que a existência de um público racista fornece. E como o racismo não é um desvio de caráter, mas um conjunto de dispositivos estruturais, ele faz com que os negros sejam marginalizados e tenham menor potencial para se tornar “bons empregados” ou “bons clientes”. Os remédios de mercado para o combate ao racismo simplesmente não funcionam.

Outras formas de preconceito também encontram incentivos em práticas de mercado. A manutenção das mulheres na posição de donas-de-casa e/ou de objetos sexuais favorece inúmeras indústrias, de eletrodomésticos a cosméticos, e é pesadamente reforçada pelo discurso publicitário. O sexismo aberto e renitente da publicidade reforça estereótipos tanto ao se dirigir às mulheres quanto ao se dirigir aos homens, a tal ponto que, ainda nos anos 1980, a solução proposta pelo Ombudsman dos Consumidores da Dinamarca para lutar contra ele foi a proibição da representação de qualquer ser humanos em anúncios. Na luta contra a desigualdade de gênero e os estereótipos contrários à emancipação das mulheres, o mercado certamente tem atrapalhado mais do que ajudado.

Mercado e progresso

Abandonados os valores mais elevados, como justiça ou liberdade, a defesa dos benefícios do mercado recua para vantagens mais instrumentais, como a “inovação” ou a ampliação geral da prosperidade. A concorrência e a busca do interesse próprio seriam os motores do progresso; sem elas, estaríamos fadados à estagnação. Se o colapso do modelo soviético, no final dos anos 1990, serve hoje de ilustração dessa tese, não custa lembrar que em outros momentos históricos um veredito oposto aparecia como igualmente óbvio. Quando escreveu seu libelo ultraliberal O caminho da servidão, em meados dos anos 1940, Friedrich Hayek justificou a superioridade do mercado unicamente em termos políticos, julgando que não valia a pena disputar a crença, amplamente dominante, de que a economia centralizada era mais eficaz.

A racionalização do processo produtivo parecia evitar vários dos problemas do jogo do mercado capitalista, como sua vulnerabilidade a crises cíclicas, e promover um desenvolvimento mais acelerado e constante. O fato de que hoje o planejamento de tipo soviético tenha sido desmoralizado não autoriza a ignorar os problemas associados à gestão puramente mercantil da economia, como as tendências à crise e à concentração da riqueza ou os elevados custos sociais e ambientais que implica. Uma prosperidade que é acompanhada pelo crescimento da pobreza, como ocorre há décadas no mundo capitalista, é a ressurreição da frase memorável do nada saudoso general Médici, que dizia que “a economia vai bem, mas o povo vai mal”.

Ao mesmo tempo, é reconhecido que os fundamentos da inovação tecnológica não são financiados pelo mercado. A pesquisa básica depende quase que integralmente de fundos públicos, mesmo nas economias capitalistas mais ricas. E nem tão básica: muito do que há de mais emblemático na “revolução tecnológica” atual nasceu diretamente da pesquisa sustentada pelo Estado, da biotecnologia à informática. Como escreveu a pesquisadora Mariana Mazzucato, da Universidade de Sussex, “todas as tecnologias que tornam ‘inteligente’ um iPhone foram bancadas pelo Estado, da tela sensível ao toque ao sistema de comando de voz Siri”.

Talvez seja difícil imaginar uma sociedade sem mercado. Talvez algum tipo de regulação mercantil da atividade econômica seja necessário, não “para sempre”, mas pelo menos até onde a vista alcança. Mas o projeto de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais livre – em que as pessoas tenham ampliado o exercício da sua autonomia – passa certamente pelo fortalecimento de um espaço abrangente de relações desmercantilizadas.

(*) Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde edita a Revista Brasileira de Ciência Política e coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê

rockit
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por rockit » 15 Jun 2015 19:50

bom texto cara..
só faltou o resuminho no final..

abs
aos mestres com carinho: kozak (RIP), molotov (RIP), brunologo (RIP), blake (RIP)

Noob
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Noob » 15 Jun 2015 21:53

Sério, parei "nas manifestações recentes da direita brasileira".

Perdi alguma coisa?
“Tu, que descanso buscas com cuidado, no mar desta vida, tempestuoso, não esperes achar nenhum repouso, senão em Cristo Jesus crucificado “

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Shin
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Shin » 15 Jun 2015 22:43

Que bosta de texto é esse?

Olha o maniqueísmo idiota que esse imbecil faz: regulamentar a terceirização é a mesma coisa que voltar ao estado das coisas da era da revolução industrial ou da revolução francesa. É um salto da Terra à Lua em direção ao liberalismo clássico! Ah, tá! OK!

E o parágrafo que começa com "Mesmo sem questionar o discurso da meritocracia..." faz o quê? Questiona o discurso da meritocracia! PORRA!

Aí depois vem e fala dos pontos de partida desiguais e blá blá blá... Mas em vez de cobrar do governo de esquerda que governa o país há mais de doze anos a melhoria dos serviços básicos, que servem justamente para dar igualdade de vantagens, como a educação, que só piora a cada ano, não, prefere usar o mesmo argumento para justificar políticas redistributivas, não de igualdade propriamente dita. Se tu quer igualdade de OPORTUNIDADE pra todos, dê educação de excelente qualidade, segurança eficaz pra que as pessoas trabalhem e estudem com a liberdade que merecem e têm direito e um sistema de saúde que funcione pra que o povo possa se preocupar com a vida e não com a morte. Mas esquerdista é hipócrita mesmo... Melhor pagar de bonzinho, Robin Hood moderno, que fazer o que é certo.

Ah, vá tomar no cu! Desonestidade intelectual nojenta essa!

E a taxação automática de que essas manifestações são da "direita brasileira"? Por que esse imbecil não foi nas manifestações entrevistar os mais diversos tipos de gente lá presente e perguntar que lado político eles escolhem? Se 1 em cada 10 responderem ser de direita é muito, mas muito mesmo! A verdade é que brasileiro não sabe o que é direita e o que é esquerda. Não sabe. E quando eu falo de brasileiro, falo de 99% desse povo burro, aculturado e alienado.

Babaca do caralho!

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pauloctba
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por pauloctba » 15 Jun 2015 22:47

O mercado não é nenhum "deus", afinal é controlado por humanos, e portanto é falho. A questão é a comparação com o estado. To sem tempo, então li pulando algumas linhas e vou responder alguns pontos:

-Na revolução industrial os salários eram baixos por causa das condições da época: Tinha muita pouca indústria para oferecer emprego, muita gente querendo o emprego e a eficiência dos meios de produção era muito baixa se compararmos com hoje. Não existia produçao o suficiente para melhorar a qualidade de vida em geral. Não tem como alimentar 1 bilhão de nego plantando milho com enxada e transportando de carroça. Por isso que qualquer peão hoje vive muito melhor do que D. Pedro, porque o volume de produção permite, e não porque um sindicato quer, ou porque o governo mandou. Se o estado funcionasse como hoje provavelmente iria sufocar a atividade industrial, atrasando ainda mais o desenvolvimento.

-O estado tem participação mínima na evolução da tecnologia, ainda mais se considerarmos que tudo o que ele investiu foi retirado justamente do setor privado. A grande maioria do que é pesquisado em universidades públicas não tem finalidade nenhuma, é coisa pra encher linguiça ou pra satisfazer a curiosidade de pesquisador. Pouquíssimos estudos bancados pelo estado dão retorno. O setor privado, por sua vez, depende do avanço técnico para crescer, e poderia inovar ainda mais se o governo não o espoliasse. Eu acho extremamente improvável que os componentes do Iphone realmente sejam fruto das pesquisas estatais, provavelmente quem disse isso fez o estudo bem longe da produçao do aparelho, e mesmo que seja verdade, as inovações jamais sairiam do papel sem o empreendedorismo que o mercado proporciona.

-A regulação estatal pode ajudar a economia? Teoricamente sim, pois o mercado nem sempre acerta nos investimentos, cria bolhas, telexfrees e outras cagadas. O problema é que o estado é muito mais falho, e na tentativa de corrigir gera crises atrás de crises, subsidiando atividades inviáveis (lembra das pesquisas universitárias?), tirando recursos das atividades produtivas, criando regras que inviabilizam atividades necessárias, dando privilégios para quem lhe convem, etc... A Telexfree custou algumas dezenas de milhões, mas olhe as cagadas estatais: A EBX custou milhares de vezes isso, e o que dizer da bolha imobiliária norte americana?

-Quanto à meritocracia, ela nunca vai predominar. Tem gente que nasce rica, pobre, bonita, feia, os pais podem educar bem ou estar pouco se lixando, você pode ter 80 ou 160 pontos de qi... Dinheiro é um detalhe entre tantos. Eu considero que uma boa educação em casa é bem mais importante do que a condição financeira da família em si. Mas o pessoal esquece que o problema não é desigualdade, e sim a pobreza. Se todos os pobres dobrarem sua renda e os ricos triplicarem, a desigualdade aumentou mas a qualidade de vida de todo mundo melhorou, e isso que importa. De que maneira alguem foi prejudicado com o capitalismo?

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Shin
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Shin » 16 Jun 2015 01:16

pauloctba escreveu:O mercado não é nenhum "deus", afinal é controlado por humanos, e portanto é falho. A questão é a comparação com o estado. To sem tempo, então li pulando algumas linhas e vou responder alguns pontos:

-Na revolução industrial os salários eram baixos por causa das condições da época: Tinha muita pouca indústria para oferecer emprego, muita gente querendo o emprego e a eficiência dos meios de produção era muito baixa se compararmos com hoje. Não existia produçao o suficiente para melhorar a qualidade de vida em geral. Não tem como alimentar 1 bilhão de nego plantando milho com enxada e transportando de carroça. Por isso que qualquer peão hoje vive muito melhor do que D. Pedro, porque o volume de produção permite, e não porque um sindicato quer, ou porque o governo mandou. Se o estado funcionasse como hoje provavelmente iria sufocar a atividade industrial, atrasando ainda mais o desenvolvimento.

-O estado tem participação mínima na evolução da tecnologia, ainda mais se considerarmos que tudo o que ele investiu foi retirado justamente do setor privado. A grande maioria do que é pesquisado em universidades públicas não tem finalidade nenhuma, é coisa pra encher linguiça ou pra satisfazer a curiosidade de pesquisador. Pouquíssimos estudos bancados pelo estado dão retorno. O setor privado, por sua vez, depende do avanço técnico para crescer, e poderia inovar ainda mais se o governo não o espoliasse. Eu acho extremamente improvável que os componentes do Iphone realmente sejam fruto das pesquisas estatais, provavelmente quem disse isso fez o estudo bem longe da produçao do aparelho, e mesmo que seja verdade, as inovações jamais sairiam do papel sem o empreendedorismo que o mercado proporciona.

-A regulação estatal pode ajudar a economia? Teoricamente sim, pois o mercado nem sempre acerta nos investimentos, cria bolhas, telexfrees e outras cagadas. O problema é que o estado é muito mais falho, e na tentativa de corrigir gera crises atrás de crises, subsidiando atividades inviáveis (lembra das pesquisas universitárias?), tirando recursos das atividades produtivas, criando regras que inviabilizam atividades necessárias, dando privilégios para quem lhe convem, etc... A Telexfree custou algumas dezenas de milhões, mas olhe as cagadas estatais: A EBX custou milhares de vezes isso, e o que dizer da bolha imobiliária norte americana?

-Quanto à meritocracia, ela nunca vai predominar. Tem gente que nasce rica, pobre, bonita, feia, os pais podem educar bem ou estar pouco se lixando, você pode ter 80 ou 160 pontos de qi... Dinheiro é um detalhe entre tantos. Eu considero que uma boa educação em casa é bem mais importante do que a condição financeira da família em si. Mas o pessoal esquece que o problema não é desigualdade, e sim a pobreza. Se todos os pobres dobrarem sua renda e os ricos triplicarem, a desigualdade aumentou mas a qualidade de vida de todo mundo melhorou, e isso que importa. De que maneira alguem foi prejudicado com o capitalismo?
A revolução industrial pagava mal por causa do regime clássico de servidão que vigorava antes do século XIX. Ninguém se pergunta por quê mesmo com as indústrias pagando tão mal tanta gente saiu do campo pra ir pra cidade morar nos cortiços... Era escroto? Era. Claro! Mas era melhor que o feudalismo de antes onde nego tinha que plantar numa terra que não era sua, trabalhar pra alguém que é rico por direito de nascimento e em troca tinha que matar e morrer em nome dos interesses particulares dos seus lordes. Mas, ei, deve ser melhor isso que trabalhar por dinheiro, não?

O mercado é falho? É. Afinal, ele é resultado dos medos e anseios de milhões, bilhões de pessoas. Mas se bilhões de pessoas decidindo juntas erram, imagine o quanto mais erram uns poucos dentro de governos que se acham perfeições intelectuais, iluminados, que pensam saber melhor que cada um de nós o que nós mesmos queremos... Aliás, não precisamos imaginar. Os últimos trinta anos do Brasil, principalmente os doze mais recentes, estão aí pra provar a MERDA que eles fazem.

Ainda assim, em vez de aperfeiçoar o próprio mercado, os socialistas/comunistas esperam acabar com ele. Pra quê? Pra dar igualdade de pobreza pra todo mundo.

É foda, cara. O crescimento só existe porque a economia se ramifica. E a economia só se ramifica por conta das forças da competitividade capitalista. A única força que leva o estado a desenvolver tecnologia é a guerra, cuja base desse desenvolvimento é a... Concorrência! Se o governo americano e a União Soviética desenvolveram muita tecnologia foi justamente por conta da competição que a Guerra Fria proporcionou.

A própria Revolução Industrial só proporcionou crescimento acima da média eterna que vigorou até o século XVIII porque ramificou, mudou, inovou a economia. Se não houver ramificação o crescimento econômico só pode ser igual ao crescimento demográfico, o que significa que assim, mesmo no melhor dos cenários, no máximo ninguém fica mais pobre, mas ninguém enriquece também. A miséria se perpetua. É por isso que o feudalismo deu tão certo e só acabou quando deu origem à Revolução Industrial. Como não havia crescimento econômico praticamente não havia mobilidade social. E por essa razão as sociedades eram castificadas em regimes de servidão, de acordo com o nascimento de cada um. Era direito de sangue ser rico e dever de sangue ser pobre.

Aí o caralho do mercado melhora a vida de todo mundo, do pobre ao rico, mas nego se importa mais se o rico é mais rico em vez de querer saber se o pobre melhorou de vida.

Sobre essa preocupação excessiva com a inveja, aliás, esse video da Thatcher é excelente.

"They'd rather have the poor poorer provided that the richer were less rich"

phpBB [video]


Como Churchill disse, "Socialism is the philosophy of failure, the creed of ignorance and the gospel of envy".

Por isso que eu digo que socialista/comunista é tudo um bando de filho da puta burro travestido de boa gente.

Fu Manchu
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Fu Manchu » 16 Jun 2015 03:54

Churchill era mais fdp que todos os comunistas que eu conheço pessoalmente juntos. O texto é uma bosta. Economia não existe. Enquanto falarem de mercado e relações humanas e do Estado como solução pra alguma coisa (Estado esse que fede a lógica econômica também) a coisa se torna a briga de dois filhos pela atenção do pai. Away.

Dekkers
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Dekkers » 16 Jun 2015 14:36

Poderia perder tempo aqui discutindo com vocês, mas vai ficar o texto só como provocação no fórum mais conservador que existe. O tal do Shin sabe tanto que disse que as pessoas foram para a cidade por causa das melhores condições da cidade em comparação com o campo na época da Revolução Industrial inglesa. Mas, o que esperar de um liberal? Não sabe nada de história mesmo. As pessoas foram para as cidades porque foram EXPULSAS do campo, gênio! Perderam seus meios de produção e foram obrigadas a trabalhar ou passar fome. A falta de regulação no mercado de trabalho fez com que as pessoas trabalhassem muito mais do que quando eram servas na Idade-Média.
E realmente as manifestações não foram da direita brasileira, gente pedindo a volta da ditadura militar, gente defendendo sonegação de impostos, privatizações; gente que não podia ver pessoas vestidas de vermelho porque odiavam os comunistas; devem ser de esquerda.

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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por JackmAtAll » 16 Jun 2015 14:55

O deus mercado é quem manda:
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Shin » 16 Jun 2015 15:05

Dekkers escreveu:Poderia perder tempo aqui discutindo com vocês, mas vai ficar o texto só como provocação no fórum mais conservador que existe. O tal do Shin sabe tanto que disse que as pessoas foram para a cidade por causa das melhores condições da cidade em comparação com o campo na época da Revolução Industrial inglesa. Mas, o que esperar de um liberal? Não sabe nada de história mesmo. As pessoas foram para as cidades porque foram EXPULSAS do campo, gênio! Perderam seus meios de produção e foram obrigadas a trabalhar ou passar fome. A falta de regulação no mercado de trabalho fez com que as pessoas trabalhassem muito mais do que quando eram servas na Idade-Média.
E realmente as manifestações não foram da direita brasileira, gente pedindo a volta da ditadura militar, gente defendendo sonegação de impostos, privatizações; gente que não podia ver pessoas vestidas de vermelho porque odiavam os comunistas; devem ser de esquerda.
O êxodo rural aconteceu porque acabou o feudalismo, meu caro. Eu disse isso lá em cima. E não tinha regulação do mercado de trabalho porque NÂO EXISTIA MERCADO DE TRABALHO antes da Revolução Industrial. Não tinha, portanto, como haver regulamentação do mercado de trabalho. Regulamentação sempre é um processo posterior, não anterior, já que ninguém no mundo tem o dom da premonição, muito menos governos, como a história ensina.

O que existia antes era um regime de servidão, escravagista e sanguinário. Tu prefere isso? Eu não. Por que será aliás que o câncer do Comunismo só floresceu no país mais atrasado da Eurásia? A Rússia na época da revolução bolchevique era o último país com o feudalismo como sistema econômico e foi justamente lá que as ideias transloucadas de Marx foram aplicadas. Pode-se seguramente dizer que a revolução industrial foi o que salvou a Europa da mesma desgraça.

Chamar os outros de conservador e burro e dizer que se nega a discutir é fácil. Argumentar é oooutro papo, não é mesmo?

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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Turbo » 16 Jun 2015 15:10

Noob escreveu:Sério, parei "nas manifestações recentes da direita brasileira".

Perdi alguma coisa?
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
chorei de rir aqui
It's time for us as a people to start making some changes. Let's change the way we eat, let's change the way we live. And let's change the way we treat each other.
You see the old way wasn't working so it's on us to do what we gotta do, to survive.

Dekkers
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Dekkers » 16 Jun 2015 15:19

Shin escreveu:
O êxodo rural aconteceu porque acabou o feudalismo, meu caro. Eu disse isso lá em cima. E não tinha regulação do mercado de trabalho porque NÂO EXISTIA MERCADO DE TRABALHO antes da Revolução Industrial. Não tinha, portanto, como haver regulamentação do mercado de trabalho. Regulamentação sempre é um processo posterior, não anterior, já que ninguém no mundo tem o dom da premonição, muito menos governos, como a história ensina.



O que existia antes era um regime de servidão, escravagista e sanguinário. Tu prefere isso? Eu não. Por que será aliás que o câncer do Comunismo só floresceu no país mais atrasado da Eurásia? A Rússia na época da revolução bolchevique era o último país com o feudalismo como sistema econômico e foi justamente lá que as ideias transloucadas de Marx foram aplicadas. Pode-se seguramente dizer que a revolução industrial foi o que salvou a Europa da mesma desgraça.

Chamar os outros de conservador e burro e dizer que se nega a discutir é fácil. Argumentar é oooutro papo, não é mesmo?
Na boa, vai ler Hobsbawn, e você vai entender que as pessoas foram expulsas do campo para a produção de lã na Inglaterra, por exemplo. Perderam seus meios de produção, não foi uma escolha. O feudalismo não acabou de repente porque as pessoas foram para as cidades. Essa expulsão das pessoas para o estabelecimento da propriedade privada no campo é a chamada acumulação primitiva do capital. Sobre o mercado de trabalho, não precisa haver um mercado de trabalho complexo como hoje em dia para haver LEGISLAÇÃO TRABALHISTA. Percebe-se que você tem uma defasagem de conhecimento de história muito grande, deve ser mais um da geração que se politizou pela Veja e aprendeu economia pelo Mises.org.

Dekkers
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Dekkers » 16 Jun 2015 15:24

E óbvio que não estou defendendo o feudalismo, jênio, mas sim dizendo algo que é fato e documentado: Depois que as pessoas foram expulsas do campo para a cidade houve um acréscimo das horas trabalhadas; as pessoas passaram a trabalhar bem mais embora fossem "livres" (para trabalhar ou morrer de fome).

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jj4life
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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por jj4life » 16 Jun 2015 15:24

Que o capitalismo não é bom, eu vejo todos os dias.






















Porém, até hoje não inventaram uma solução melhor.
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iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiit´s time!
Pegaleve escreveu:Nossa , ja vi buceta acabar com muita coisa , com um forum de lutas eh a primeira vez !

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Re: O "deus mercado" é realmente bom?

Mensagem por Shin » 16 Jun 2015 15:47

Dekkers escreveu: Na boa, vai ler Hobsbawn, e você vai entender que as pessoas foram expulsas do campo para a produção de lã na Inglaterra, por exemplo. Perderam seus meios de produção, não foi uma escolha. O feudalismo não acabou de repente porque as pessoas foram para as cidades. Essa expulsão das pessoas para o estabelecimento da propriedade privada no campo é a chamada acumulação primitiva do capital. Sobre o mercado de trabalho, não precisa haver um mercado de trabalho complexo como hoje em dia para haver LEGISLAÇÃO TRABALHISTA. Percebe-se que você tem uma defasagem de conhecimento de história muito grande, deve ser mais um da geração que se politizou pela Veja e aprendeu economia pelo Mises.org.
Como uma legislação trabalhista vai ser criada ANTES DO MERCADO DE TRABALHO, meu amigo?

E se se contabilizava horas de trabalho nas indústrias, antes, no sistema feudal, não havia como calcular quanto tempo da vida o servo dedicava ao plantio e colheita da produção da terra porque ele não era trabalhador; era escravo. Ninguém contava horas de trabalho de escravos, cara! Assiste Game of Thrones que dá pra ter uma ideia de como funciona uma economia feudal e como é a relação de trabalho dentro dela. Depois me diz como se contabiliza as horas de trabalho dessa gente.

E leia você, meu amigo. Sugeriu leituras a rodo e pelo visto nem sequer leu o Piketty. Se tivesse lido saberia que nem ele, o maior expoente da social-democracia e esquerda em geral atualmente, acredita na acumulação primitiva, ou acumulação capitalista, ou a acumulação infinita do Marx. É a tecnologia e a ramificação econômica que impedem que isso aconteça, como aconteceu depois da Revolução Industrial e vem acontecendo até hoje.

O maior mecanismo para redução da desigualdade social é ironicamente esse que tu tanto ataca... Em nome da igualdade social. Hahahaha

Preocupe-se com a sua leitura e pare de tentar adivinhar as minhas. Já errou em todas até aqui.

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