Supervia manda trem passar por cima de corpo caído no trilho
Enviado: 01 Ago 2015 11:34
A Supervia, empresa que administra a rede ferroviária do Rio de Janeiro, admitiu, em nota, que autorizou o maquinista a passar com o trem por cima de um corpo, que estava nos trilhos. Um homem havia sido atropelado por um trem e seu corpo ainda estava no local.
“A gente não tava sabendo e já tava horrorizada com a situação. Aí depois anuncia que é meu filho. Tem como? Tem...”, relata Eunice de Souza Fekiciano, mãe de Adilio Cabral . Ela e o irmão da vítima estiveram na delegacia, nessa sexta-feira (31), para prestar depoimento.
A polícia registrou o caso como homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Adílio tinha 33 anos e tinha saído da cadeia há seis meses, onde cumpriu pena por furto. Por causa disso, ele não conseguia emprego e decidiu trabalhar como ambulante.
Na última terça-feira (28), segundo a Supervia, Adilio invadiu os trilhos e foi atingido por um trem. “Eles pulam a linha do trem e passam ali por baixo, porque se eles passam ali por cima, acho que os doces são apreendidos”, conta o irmão de Adilio, Élcio Feliciano Junior.
Imagens feitas logo depois do acidente mostram que funcionários da Supervia estavam perto dos trilhos. Um deles acenou para o maquinista e o trem avançou. Outro vídeo mostra que o trem passou por cima do corpo.
A reportagem do Jornal Hoje perguntou à Supervia se alguém atestou a morte do Adilio antes de o trem passar, mas até agora não teve resposta. A reportagem também tentou gravar uma entrevista com algum representante da concessionária, mas a empresa disse que só vai comentar qualquer assunto relacionado ao acidente por nota.
Em posicionamento divulgado na tarde de quinta-feira (30), a Supervia admitiu que autorizou a passagem do segundo trem por cima do corpo. A nota diz que o trem que trafegou sobre o corpo tinha altura mais do que suficiente para fazer isso sem risco de atingir a vítima e que o centro de controle operacional decidiu, em caráter excepcional, autorizar a passagem do trem porque a paralisação da linha criaria transtornos para toda a movimentação do horário.
“Não se justifica autorizar que um trem passe por cima de um corpo na linha férrea. Nós entendemos que a agência reguladora deva apurar com rigor o caso e aplicar as sanções cabíveis nessas circunstâncias. Nós achamos injustificável o procedimento tomado”, disse Carlos Roberto Osório, secretário estadual de Transportes do Rio de Janeiro.
“Que tomem alguma providência. Que façam alguma coisa, porque restituí-lo não vai. Ele não volta mais”, desabafa a mãe.
Ninguém da polícia quis gravar entrevista. Em nota, a delegacia de polícia do bairro de Madureira declarou que vai ouvir todos os funcionários da Supervia que estão envolvidos. A Comissão de Direitos Humanos da OAB do Rio de Janeiro divulgou nota dizendo que o incidente se transformou em barbaridade. Além disso, tal prática, segundo a OAB, prejudica as investigações policiais.
O enterro de Adolio Cabral dos Santos acontece na tarde desta sexta-feira e a Supervia informou que vai pagar todas as despesas.