Rufino escreveu:Concordo com tudo. Além disso, a Honda também trouxe uma evolução do motor a partir da Hungria que foi fundamental para brecar a reação da Williams.
Realmente aquelas 3 temporadas com a Mercedes não fizeram bem pra reputação do Schumacher. Seu talento e sua importância pra F1 são inquestionáveis, mas também acho que com a morte do Senna nós perdemos um balizador muito importante para situar verdadeiramente suas performances. A não ser que vc seja um fã xiita do alemão como o Flávio Gomes e diga “Ah, mas era o talento do Schumacher que fazia seus rivais parecerem fracos”, o fato é que ele pegou um período extremamente favorável em que a qualidade dos pilotos que eram considerados seus principais adversários deixava muito a desejar. É impossível que alguém com argumentos minimamente honestos ache que Mansell, Piquet e Prost, estão no mesmo nível de Hill, Villeneuve e Hakkinen. Infelizmente, aqueles que tinham potencial para rivalizar de verdade com o alemão chegaram já na parte final da sua carreira ou um pouco depois dele abandonar a F1.
Falando do Prost, acho que assim como podemos dizer que o Schumacher aperfeiçou e levou a outros níveis a questão da importância da preparação física e a obsessão pelos detalhes trazidas pelo Senna, acho que também é justo dizer que o francês deu continuidade a um estilo introduzido pelo Niki Lauda. Realmente o apelido de “professor” não era à toa. O Prost era um exímio acertador de carro, possuía uma condução suave sempre poupando o equipamento, raramente cometia erros, era extremamente inteligente e ainda possuía um senso estratégico apuradíssimo. Ele era exatamente aquilo que vc falou, no início das corridas ninguém dava nada por ele, já que ele ficava no meio do pelotão da frente só acompanhando, de repente, quase como mágica, ele começava a aparecer em 4º, 3º e 2º... sempre fazendo um monte de volta rápida sem sequer parecer que estava se esforçando.
Teve um artigo que eu li uma vez (acho que na Autosport) e que tinha uma passagem interessante que ilustrava bem a genialidade do Prost. A história era sobre o GP da Itália de 88, em que durante a corrida o Prost (no momento em 2º) percebeu que seu motor não aguentaria até o final da corrida. Sabendo disso, ele alterou a configuração do motor e começou a fazer uma sequência de voltas rápidas e com isso, propositalmente, começou a gastar bem mais combustível do que o necessário. O Senna (estava em 1º), vendo aquela situação, começou a ficar incomodado que o Prost estava mais rápido que ele e também começou a acelerar para tentar manter a diferença entre eles. Esse acabou sendo um erro capital, já que o Senna deveria ter visto que naquele ritmo ele teria um déficit de combustível no final e, acima de tudo, notado que aquele era um comportamento totalmente atípico do Prost, já que o francês não dava ponto sem nó e jamais erraria no cálculo do consumo de combustível. O resultado foi que o Prost abandonou na metade da prova, mas o estrago já havia sido feito. O Senna teve que diminuir o ritmo no final da corrida para economizar combustível e com isso o Berger se aproximou rapidamente. Nas útlimas voltas, sob pressão, ao tentar negociar rapidamente a ultrapassagem sobre um retardatário, os dois colidem e o Senna abandona. Esse acabou sendo o único GP em que uma McLaren não ganhou naquele ano.
Ótimo comentário. Acredito que concordo com tudo!
Montfort escreveu:Foram 3 quebras a mais no bólido Williams. Como você bem lembrou, 3 nas primeiras 3 corridas, sendo o câmbio semi-automático o grande problema. À partir daí a Williams teve por 13 corridas (no total de 16) um carro melhor, o que acredito ser suficiente para afirmar que este foi o melhor carro da temporada. Se o Senna conseguiu capitalizar o máximo possível, méritos do carro e dele. A Williams teve tempo sobrando para se recuperar, tanto que em vitórias foram 8 x 7 para Mclaren, e todas as vitórias seriam do Senna se não cedesse o primeiro posto no Japão. O Mclaren era um ótimo carro, mas duvido que tivesse conseguido tantas vitórias sem o talento do Senna; assim como duvido que com dois pilotos mais constantes a Williams não conseguiria ao menos o mundial de construtores.
Não é simples assim, Montfort. Pelo menos na minha visão. Quando a Williams melhorou o problema da confiabilidade, ela ficou em posição bastante competitiva, inclusive sendo a mais rápida por determinados momentos. Mas a relação de forças foi se alternando entre a Williams e a McLaren... O problema para o Mansell é que já era tarde demais para uma reação, porque os 30 pontos nas primeiras três corridas tiveram peso grande nessa disputa.
A Williams terminou 91 em alta e já dava mostras do que seria 92, mas não dá para dizer que ela foi superior à McLaren nas últimas 13 corridas do campeonato.
Montfort escreveu: Não há isenção; há uma justificação. Um erro bobo, cometido por alguém que conhecia e se adaptava muito bem à pista, aparentemente sem nenhum motivo técnico ou mecânico para acontecer. Aliás, acho que foi o erro mais pragmático da história da F1 envolvendo um piloto de ponta. Quem é desportista profissional deve ter julgamento melhor.
Abs.
É que você colocou o episódio na conta do Ron Dennis, então achei que você estava isentando o Senna. Mas, de qualquer forma, não tem muita desculpa não. O Senna se desconcentrou com a diferença enorme pro Prost e foi uma das vítimas dos muros traiçoeiros de Monte Carlo... Acontece até com os melhores, e o episódio teve papel importante no amadurecimento que ele ainda precisava ter.
Rufino escreveu:Não sei se vc já leu, mas te indico a leitura do livro do Mark Webber "Aussie Grit: My Formula One Journey". O livro já vale a pena só pela leitura da introdução em que ele descreve como é uma corrida dentro de um carro de F1 e conclui dizendo que completar um GP é como terminar uma maratona correndo com um tênis dois números menor.
Vou botar a passagem aqui que ele fala de Mônaco:
"Mental strength is certainly what you need when it comes to racing at a place like Monaco. But then there is no place remotely like Monaco. When I was leading there it was constant resetting, lap by lap: copy and paste what you did last time round, nudge your confidence level up over a two-to-three lap stretch; don’t try to grab too much round there. At Mirabeau, for example, the downhill run followed by the right-hander that takes you towards the hairpin, you have to fight against the feeling that you’re on the brakes too early. Jenson Button once asked me if I felt, as he said he did, that as the race went on the Monaco barriers actually closed in on you even more. My answer was a firm ‘No’: those barriers don’t move; it’s always about you, your car and the track you are on."
Pô, o curioso é que estou lendo esse livro exatamente agora!

Estou ainda nos primeiros capítulos (ou seja, já passei por esse trecho que você mencionou), mas estou achando ótimo. De fato a leitura está valendo a pena.