Mensagem
por Tenente Murphy » 09 Fev 2018 13:13
"Quase que invariavelmente as pessoas formam suas crenças não baseadas nas provas, mas naquilo que elas acham atraente."
BLAISE PASCAL
Por que alguém deve acreditar em alguma coisa?
O escritor e orador James Sire lidera um impressionante seminário interativo para universitários dos Estados Unidos. O seminário chama-se Por que alguém deve acreditar em alguma coisa?
Com um título tão intrigante como esse, o evento normalmente atrai um grande público. Sire começa fazendo a seguinte pergunta ao público: "Por que as pessoas acreditam naquilo em que acreditam?". Apesar da grande variedade de respostas, Sire mostra que cada resposta obtida encaixa-se em uma dessas quatro categorias: sociológica, psicológica, religiosa e filosófica.
Sociológicas: pais, amigos, sociedade, cultura
Psicológicas: conforto, tranquilidade, significado, propósito, esperança, identidade
Religiosa: escrituras, pastor/padre, guru, rabino, líder religioso, igreja
Filosófica: uniformidade, coerência, inteireza (melhor explicação de todas as provas)
Seguindo a ordem, Sire aborda as razões de cada categoria, perguntando aos estudantes: "Essa é uma boa razão para acreditar em alguma coisa?". Se ele tiver à mão alunos bem afiados, o diálogo poderia seguir mais ou menos assim:
Sire: — Vejo que muitos de vocês citaram fatores sociológicos. Muitas pessoas, por exemplo, abraçam certas crenças porque seus pais tinham as mesmas crenças. Vocês acham que isso por si só é uma boa razão para acreditar-se em alguma coisa?
Alunos: — Não, os pais às vezes estão errados!
Sire: — Tudo bem. E quanto às influências culturais? Vocês acham que as pessoas devem acreditar em alguma coisa simplesmente porque aquilo é culturalmente aceitável?
Alunos: — Não, não necessariamente. Os nazistas tinham uma cultura que aceitava o assassinato de todos os judeus. Isso certamente não tornava sua posição correta!
Sire: — Bom. Agora, alguns de vocês mencionaram fatores psicológicos como conforto. Essa é uma razão boa o suficiente para se acreditar em alguma coisa?
Alunos: — Não, não estamos "confortáveis" com isso! Falando seriamente, o conforto não é um teste para a verdade. Podemos ser confortados pela crença de que existe um Deus em algum lugar lá fora que se importa conosco, mas isso não significa necessariamente que ele realmente exista. Do mesmo modo, um viciado pode ficar temporariamente confortado pelo uso de certo tipo de droga, mas, na verdade, aquela droga pode matá-la.
Sire: — Então você está dizendo que a verdade é importante porque pode haver conseqüências quando você estiver errado?
Alunos: — Sim, se alguém estiver errado sobre uma droga, poderá tomar uma dose muito grande e morrer. Do mesmo modo, se alguém estiver errado sobre a espessura do gelo sobre um lago, pode cair e morrer congelado na água.
Sire: — Portanto, por motivos pragmáticos, faz sentido que acreditemos apenas naquilo que é verdadeiro.
Alunos: — Naturalmente. A longo prazo, a verdade protege, e o erro ameaça.
Sire: — Muito bem. Portanto, razões sociológicas e psicológicas sozinhas não são bases adequadas para se acreditar em alguma coisa. E quanto às razões religiosas? Alguns mencionaram a Bíblia; outros mencionaram o Alcorão; ainda outros obtiveram suas crenças de sacerdotes ou gurus. É possível acreditar em alguma coisa simplesmente porque alguma fonte religiosa ou um livro sagrado diz assim?
Alunos: — Não, porque se levanta a seguinte questão: "Devemos acreditar em qual escritura ou em qual fonte?". Além do mais, elas ensinam coisas contraditórias.
Sire: — Você poderia me dar um exemplo?
Alunos: — Bem, vamos tomar a Bíblia e o Alcorão como exemplos. Não é possível que os dois sejam verdadeiros porque contradizem um ao outro. A Bíblia diz que Jesus morreu na cruz e que ressuscitou três dias depois (lCo 15.1-8), enquanto o Alcorão diz que Jesus existiu, mas que não morreu na cruz (Surata 4.157). Se um deles está certo, então o outro está errado. Se Jesus nunca existiu, então ambos estão errados.
Sire: — Então, como podemos julgar entre, digamos, a Bíblia e o Alcorão?
Alunos: — Precisamos de algumas provas exteriores a essas chamadas escrituras para que possamos descobrir qual é verdadeira, se é que alguma delas o é.
Sire: — De qual categoria devemos extrair tais provas?
Alunos: — Tudo o que nos resta é a categoria filosófica.
Sire: — Mas como é possível que a filosofia de alguém seja uma prova? Não seria apenas a opinião de uma pessoa?
Alunos: — Não, não estamos nos referindo à filosofia nesse sentido da palavra, mas em seu sentido clássico, no qual filosofia significa encontrar a verdade por meio da lógica, da evidência e da ciência.
Sire: — Excelente! Assim, com essa definição em mente, façamos a mesma pergunta à categoria filosófica. Vale a pena acreditar em alguma coisa se ela for racional, se for apoiada por comprovação e se melhor explicar todas as informações?
Alunos: — Isso certamente nos parece correto!
Ao expor justificativas inadequadas para as crenças, o caminho fica limpo para aquele que está buscando a verdade encontrar justificativas adequadas.
A abordagem socrática de Sire ajuda os alunos a perceberem pelo menos três classes. Em primeiro lugar, qualquer ensinamento — religioso ou não — só é digno de confiança se apontar para a verdade. A apatia em relação à verdade pode ser perigosa. De fato, acreditar num erro pode ter conseqüências mortais, tanto temporais — se determinado numero de ensinamentos religiosos for verdadeiros — quanto eternas.
Em segundo lugar, muitas crenças que as pessoas possuem hoje não são apoiadas pela evidência, mas apenas pela preferência subjetiva daqueles que as professam. Como disse Pascal, as pessoas chegam às suas crenças quase que invariavelmente baseadas não numa prova, mas naquilo que elas acham atraente. Mas a verdade não é um assunto subjetivo, e sim bastante objetivo.
Por último, com o objetivo de encontrar a verdade, deve-se estar pronto a abdicar das preferências subjetivas em favor dos fatos objetivos. A melhor maneira de se descobrir os fatos é utilizar a lógica, a evidência e a ciência.
RESUMO
1. As pessoas normalmente obtêm suas crenças proveniente dos pais, dos amigos, da religião de infância ou da cultura. Às vezes, elas formulam suas crenças baseadas apenas nos sentimentos. Embora tais sentimentos possam ser verdadeiros, também é possível que não o sejam. A única maneira de estar razoavelmente certo é testar as crenças por meio das evidências. Isso é feito por meio da utilização de alguns princípios filosóficos sérios, incluindo aqueles encontrados na lógica e na ciência.
2. A lógica diz que os opostos não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo e no mesmo sentido. A lógica é parte da própria realidade tanto nos Estados Unidos, na Índia, no Brasil ou em qualquer lugar do Universo.
3. Ao usarmos a lei da não-contradição, podemos ver que Hume não é cético em relação ao ceticismo nem Kant o é em relação ao agnosticismo. Portanto, suas visões são falhas em si mesmas. É possível conhecer a verdade sobre Deus.
4. Muitas verdades sobre Deus podem ser conhecidas por seus efeitos, os quais podem ser observados. Por meio de muitas observações (indução), podemos chegar a conclusões razoáveis (deduções) sobre a existência e a natureza de Deus.
5. A verdade na moralidade e na religião tem conseqüências temporais e podem ter consequências até mesmo eternas. A apatia e a ignorância podem ser fatais. Você pode não se importar com aquilo que não conhece, mas isso pode ferir você.
6. Então, por que uma pessoa deveria acreditar em alguma coisa? Porque existem evidências que apoiam suas crenças e porque as crenças têm conseqüências.
[1] Aqueles que discordam da necessidade da lógica para se descobrir a verdade estão derrotando a si mesmos e provando minha ideia. Por quê? Porque eles tentam usar a lógica para negar a lógica. Isso é o mesmo que tentar usar a linguagem para comunicar que a linguagem não pode ser usada para comunicar!
Existem muitas outras verdades sobre a verdade. Veja algumas delas:
· A verdade é descoberta, e não inventada. Ela existe independentemente do conhecimento que uma pessoa tenha dela (a lei da gravidade existia antes de Newton).
· A verdade é transcultural. Se alguma coisa é verdadeira, então ela é verdadeira para todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as épocas (2 + 2 = 4 para todo o mundo, em todo lugar, o tempo todo).
· A verdade é imutável, embora as nossas crenças sobre a verdade possam mudar (quando começamos a acreditar que a Terra era redonda, em vez de plana, a verdade sobre a Terra não mudou; o que mudou foi nossa crença sobre a forma da Terra).
· As crenças não podem mudar um fato, não importa com que seriedade elas sejam esposadas (alguém pode sinceramente acreditar que o mundo é plano, mas isso faz apenas a pessoa estar sinceramente errada).
· A verdade não é afetada pela atitude de quem a professa (uma pessoa arrogante não torna falsa a verdade que ela professa. Uma pessoa humilde não faz o erro que ela professa transformar-se em verdade).
· Todas as verdades são verdades absolutas. Até mesmo as verdades que parecem ser relativas são realmente absolutas (a afirmação "Eu, Murphy, senti calor no dia 20 de janeiro de 2018 aparentemente é uma verdade relativa, mas é realmente absoluta para todo o mundo, em todos os lugares, que Murphy teve a sensação de calor naquele dia).
RESUMO
1.Apesar do relativismo que emana de nossa cultura, a verdade é absoluta, exclusiva e passível de conhecimento. Negar a verdade absoluta e sua cognoscibilidade é uma afirmação falsa em si mesma.
2.O princípio da não-contradição ajuda a expor uma afirmação falsa em si mesma, tão comum nos dias de hoje. Isso inclui afirmações como "Não existe verdade!" (isso é verdade?); "Toda verdade é relativa!" (essa verdade é relativa?) e "Você não pode conhecer a verdade!" (então como você sabe isso?). Basicamente, qualquer declaração que não possa ser afirmada (porque contradiz a si mesma) deve ser falsa. Os relativistas são derrotados por sua própria lógica.
3.A verdade não depende de nossos sentimentos ou preferências. Uma coisa é verdadeira quer gostemos dela quer não, quer nos ofenda ou não, quer destrua nossos conceitos ou não, quer seja exposta por uma pessoa arrogante ou não.
4.Ao contrário do que diz a opinião popular, as principais religiões mundiais não "ensinam as mesmas coisas". Elas possuem diferenças essenciais e concordância apenas superficial. Não é possível que todas as religiões sejam verdadeiras, porque ensinam coisas opostas.
5.Analisando logicamente, uma vez que não é possível todas as religiões serem verdadeiras, não podemos defender a nova definição de tolerância que exige aceitarmos a impossível ideia de que todas as crenças religiosas são verdadeiras. Devemos respeitar as crenças dos outros, mas amorosamente dizer o que pensamos ser a verdade. Além do mais, se você realmente ama e respeita as pessoas, sabiamente lhes dirá a verdade sobre informações que podem ter conseqüências eternas.