Ex-presidente da CBF está impedido de participar de atividades relacionadas ao futebol e terá que pagar multa de cerca de R$ 3,5 milhões. Defesa cita "surpresa e indignação" e afirma que vai recorrer
O ex-presidente da CBF Marco Polo del Nero foi banido de forma definitiva de atividades relacionadas ao futebol. A Fifa anunciou nesta sexta-feira que o Comitê de Ética da entidade decidiu impedir para sempre que o dirigente possa exercer qualquer função no esporte - justamente após o fim de duas suspensões, uma de 90 e outra de 45 dias ao brasileiro.
- A câmara de decisão concordou com as recomendações da câmara de investigação e considerou o senhor Del Nero culpado de violar os artigos 21 (suborno e corrupção), 20 (oferecer ou aceitar presentes ou outros benefícios), 19 (conflitos de interesse), 15 (lealdade) e 13 (regras gerais de conduta) do Código de Ética da Fifa - diz a nota oficial divulgada pela entidade.
O banimento é exatamente a mesma punição recebida pelo antecessor de Del Nero, José Maria Marín. Além de estar impedido de desenvolver qualquer função ligada ao futebol, Marco Polo terá que pagar uma multa de 1 milhão de francos suíços (R$ 3,5 milhões).
A defesa de Del Nero informou que vai recorrer da decisão anunciada hoje pela Fifa. O primeiro recurso será apresentado ao Comitê de Apelação da Fifa. Caso este recurso seja negado, o passo seguinte será recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, na Suíça - que é a última instância em casos de justiça desportiva.
Em nota oficial, o escritório de advogados que defende Del Nero apontou "surpresa e indignação" pela decisão do Comitê de Ética, alegando que não houve "produção de prova referente ao suposto envolvimento em esquemas de corrupção" por parte de Marco Polo e citando "incontáveis violações processuais cometidas pelo Comitê de ética".
- Por isso, o Sr. Marco Polo Del Nero recorrerá da decisão e tem a convicção de que a punição de primeira instância será reformada mediante análise por tribunal independente e não sujetio a interferências externas - diz o comunicado.
O banimento de Del Nero ocorre pouco mais de uma semana depois de Rogério Caboclo ter sido eleito o próximo presidente da CBF - tendo sido candidato único e contando com o apoio de Marco Polo. Até Caboclo assumir, em abril de 2019, a entidade continuará sendo regida pelo Coronel Nunes.
- A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informa que tomou conhecimento, hoje (27), da decisão do Comitê de Ética da Fifa em relação ao presidente Marco Polo Del Nero. A entidade esclarece que, em cumprimento à citada decisão e em linha com seu Estatuto, o vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima segue à frente da Presidência - disse a CBF em nota divulgada em seu site.
Da presidência da CBF ao banimento
Eleito presidente da CBF em 2014, sucedendo José Maria Marín, Marco Polo del Nero tornou-se alvo de investigações do FBI em 2015, suspeito de envolvimento em esquemas de corrupção - e desde então não deixou mais o Brasil, onde não é acusado de nenhum crime. Naquele ano, foi indiciado pelo departamento de Justiça dos EUA por sete crimes (três de fraude, três de lavagem de dinheiro e um por integrar uma organização criminosa). Logo depois, o Comitê de Ética da Fifa abriu uma investigação interna, que demorou a avançar.
Entretanto, a partir do julgamento de Marín em um tribunal de Nova York, em dezembro do ano passado, o caso andou. Del Nero foi citado em diversos depoimentos, planilhas, gravações e outros documentos - que foram tornados públicas pela investigação norte-americana. Os promotores do "Caso Fifa" afirmaram que Del Nero recebeu US$ 6,5 milhões em subornos para beneficiar empresas de marketing esportivo em contratos relacionados a Copa América, Taça Libertadores e Copa do Brasil. E a Fifa reabriu a investigação sobre o ex-presidente da CBF.
No fim do ano passado, a entidade máxima do futebol mundial decidiu suspender Del Nero por 90 dias, fazendo com que o vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima, Coronel Nunes, assumisse a presidência da CBF interinamente. Esta suspensão foi estendida, como esperado, por 45 dias - em um prazo que expirou justamente nesta sexta.
Os documentos que embasaram o banimento
O que levou a Fifa a inicialmente suspender Del Nero e agora bani-lo de forma definitiva foi uma série de documentos produzidos pela investigação americana - além de depoimentos de J. Hawilla, Alejandro Burzaco e Eladio Rodrigues. O primeiro é dono da Traffic, empresa de marketing esportivo que subornava dirigentes para obter contratos . Os outros dois eram diretores da Torneos, agência argentina que operava da mesma forma.
Burzaco era o CEO da Torneos. Ele contou que, em 2012, quando Ricardo Teixeira deixou a presidência da CBF, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero "herdaram" um pagamento de propina anual de US$ 600 mil. Em troca desse valor, deveriam facilitar a vida da Torneos e sempre renovar os contratos relacionados à Copa Libertadores.

Em 2013 esse valor subiu para US$ 900 mil anuais, segundo o depoimento de Eladio Rodriguez, funcionário da Torneos responsável por fazer os pagamentos e registrá-los em planilhas.

Burzaco depôs que, em novembro de 2014, Del Nero pediu um aumento no valor anual da propina: de US$ 900 mil para US$ 1,2 milhão. Na época, ele ainda era vice-presidente da CBF. Já havia sido eleito presidente, mas só assumiria o cargo em abril de 2015, em substituição a Marin. Por isso, teria pedido a Burzaco que só pagasse o valor de US$ 1,2 milhão depois de junho. Assim, não precisaria dividir o dinheiro com seu antecessor.

Em 2013, a Torneos se juntou com a Traffic e a Full Play para formar a Datisa, empresa que compraria todos os direitos da Copa América (2015, 2019 e 2023), sempre operando da mesma forma: pagando propina aos dirigentes da Conmebol. Segundo Burzaco, os dirigentes da CBF receberiam US$ 3 milhões pela assinatura do contrato com a Datisa e mais US$ 3 milhões a cada edição do torneio que fosse disputada.

O documento acima é uma planilha apreendida com Eladio Rodriguez, funcionário da Torneos, e mostra o registro do pagamento de US$ 3,9 milhões a "Brasilero" em 2013 – US$ 900 mil pela Libertadores e US$ 3 milhões pela Copa América. Segundo o depoimento de Rodriguez, Marin e Del Nero dividiram esse valor. Uma outra planilha da Torneos, referente ao ano 2014, mostra mais um pagamento de US$ 900 mil relacionada à Copa Libertadores.

Outros dois documentos apreendidos chamaram a atenção do Comitê de Ética da Fifa. Um deles é um e-mail que Eladio Rodriguez enviou a si próprio no dia 6 de junho de 2013 com uma lista de tarefas a cumprir. Uma delas diz: "Telefonar a Marco Polo sobre transferência". Sua planilha de pagamentos registra uma saída de US$ 900 mil no dia 7 de junho de 2013.

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