Perder aqueles indesejáveis quilos a mais deveria ser uma simples equação de comer menos calorias do que gastamos, certo? Será que então é só fechar a boca mesmo? O raciocínio pode até estar certo, mas, com os avanços da ciência, descobrimos vários fatores que podem fazer essa conta balançar para um lado ou para o outro. Sabemos hoje da influência da genética, da epigenética — que já falamos por aqui — do comportamento, além de fatores ambientais e emocionais.
A personagem mais recente a entrar nessa história é a microbiota, o conjunto de bactérias que moram no seu intestino! Elas podem ser um fator de peso — literalmente — para definir se você vai ser uma daquelas pessoas que come e não engorda de jeito nenhum ou faz parte do time que vive brigando com a balança.
O primeiro indício de que bactérias do intestino poderiam estar relacionadas com o excesso de peso veio do fato de que indivíduos obesos apresentam menor diversidade de espécies no sistema digestivo. Além disso, os bichinhos que existem ali são diferentes daqueles que habitam o corpo de sujeitos magros. Mas só isso não é suficiente para cravar a conexão entre as duas coisas, certo? Para pesquisar uma relação de causa e efeito precisávamos de um experimento com animais em um ambiente controlado, como o laboratório.
E foi exatamente o que foi feito. Pesquisadores nos Estados Unidos utilizaram camundongos estéreis, livres de germes. Esses animais são criados em uma bolha, sem contato com o mundo externo. Assim, é possível manipular as bactérias que vão para o intestino deles, escolhendo exatamente quais espécies serão inseridas. O objetivo é observar que efeito elas provocam.
A primeira coisa percebida foi que esses ratinhos livres de germes são os famosos “magros de ruim”! Eles não engordam de jeito nenhum, mesmo se os cientistas oferecessem uma dieta muito calórica — algo como comer lanches do McDonald’s todos os dias.
Numa segunda parte do estudo, o time americano selecionou bactérias de animais obesos e de animais magros para inocular nos tais camundongos estéreis. Adivinha o que aconteceu? Isso mesmo, as cobaias que receberam a microbiota dos ratos gordinhos engordaram.
Enquanto isso, a parcela que ganhou os micro-organismos dos magros permaneceu esbelta. Detalhe importante: os dois grupos continuaram a comer exatamente a mesma dieta. A única diferença era mesmo as espécies de bactérias. Aí os cientistas resolveram utilizar bactérias presentes na barriga dos seres humanos e repetiram o experimento. O resultado foi igualzinho!
Você acha então que as bactérias são problema? Calma: elas também apresentação a solução. O passo seguinte deste experimento foi colocar os camundongos obesos na mesma gaiola dos magros. Esses animais têm o estranho hábito de comer o cocô de seus amigos. Em outras palavras, os ratos gordinhos ingeriram os micro-organismos dos companheiros que estavam dentro do peso. Boa notícia: eles emagreceram.
Antes de sair por aí procurando um colega magro disposto a doar, digamos, sua produção intestinal, vamos entender como as bactérias conseguem nos fazer engordar ou emagrecer.
Em primeiro lugar, elas liberam substâncias que vão interagir com o sistema endócrino, imune e nervoso. Assim, dependendo de quais produtos elas fabricam, acabam regulando (ou desregulando) o metabolismo. Esses bichinhos podem, por exemplo, fazer você secretar mais ou menos hormônios envolvidos em regular as taxas de açúcar no sangue, o acúmulo de gordura no fígado ou até o nível de fome. Eles também podem liberar elementos nocivos que atravessam as paredes do intestino e causam uma reposta inflamatória no organismo típica de quem tem obesidade.
Ao restringimos o consumo de frutas, verduras e grãos integrais, estamos literalmente matando as nossas bactérias boas de fome, o que abre espaço para que espécies malvadas tomem conta do pedaço.
Uma flora intestinal equilibrada e com as devidas bactérias pode influenciar significativamente no emagrecimento. Não se trata de comer coco ou fazer um transplante de fezes, mas de selecionar os alimentos certos para cultivar a flora intestinal e mantê-la saudável e trabalhando a seu favor.