The Griot escreveu: ↑20 Mai 2020 22:56
Desculpe a pergunta de quem não conhece a história da banda, mas pq o Waters saiu?
O Waters era um cara interiorano, caipirão mesmo... começou na guitarra e não deu muito certo, arranhava o baixo e tal...
Ele era introvertido, tinha uma péssima auto-estima.
Quando o Gilmour com aquela voz foda entrou na banda, ele assumiu os vocais quase sozinho.
O Gilmour forçava o Waters a cantar, dava força pro cara mesmo. Pra você ver:
Em A Saucerful of Secrets de 68, o Gilmour cantou todas as músicas, mesma coisa no álbum More no outro ano, que foi uma trilha sonora pra um filme.
A partir daí o Waters começou a cantar algumas músicas e as composiçoes eram compartilhadas. Alguns álbuns como Atom Heart Mother de 70, Waters, Gilmour eWright, cada um compôs uma música e cantou. Gilmour gravou todos os instrumentos da sua ótima Fat Old Sun.
E o Waters foi assumindo as composições e aumentando participação nos vocais.
A obra prima Dark Side of The Moon de 73 foi idealizada pelo Waters, mas foi um álbum gerado totalmente em turnê, eles foram compondo as músicas e testando nos shows. Enquanto o Waters aprimorava o conceito... foi um sucesso inimaginável e praticamente decretou a ruína da banda.
No próximo álbum, ninguém imaginaria que teria um álbum a altura do Dark Side e a partir de três acordes que o Gilmour ficava tocando no estúdio, o Waters criou a incrível letra Shine on you crazy diamond, que o Waters canta perfeitamente, provavelmente melhor registro vocal dele. Outro álbum de sucesso.
Nisso, as letras e as ideias eram praticamente todas do Waters e ele se sentia o gênio da banda. Se antes o Waters tinha insegurança da voz e estava vencendo isso. O Gilmour nunca superou sua insegurança em compor letras, embora tenha composto lindas músicas.
Em 77 ele decidiu fazer um álbum baseado na revolução dos bichos do Orwell... 77 era o auge do movimento punk, cujas músicas de 2 minutos inundavam as rádios, com melodias simples e baseadas em 3 acordes. Johnny Rotten do Sex Pistols faziam shows lotados com uma camiseta escrita "eu odeio Pink Floyd", os jovens se vestiam na Inglaterra assumindo o crescimento desse movimento.
E a pergunta que ficava era como o Pink Floyd iria se apresentar com músicas complexas e longas, como no álbum anterior com apenas 5 músicas e algumas com mais de 10 minutos. Como entrar na rádio?
E em 77 eles lançam Animals. O álbum começa com uma vinheta, uma canção boba de 90 segundos, falava de amor e era tocada no violão... parecia que o Pink Floyd tinha se rendido ao movimento que inundava as rádios...
E em seguida começa a segunda música, também com violão, mas era a arrebatadora Dogs com 17 minutos, com um interlúdio absurdo e um solo fenomenal de guitarras, com vocais divididos entre Gilmour e Waters. Depois Pigs e Sheep, com sintetizadores absurdos, o Wright e Gilmour numa dobradinha fodida que lembrava Echoes.
Um estrondo, ginásios e estádios lotados em toda a turnê. Nisso o Waters já era o "dono" da banda, ele idealizou o porco voados inflável, uma camiseta com um porco estampada, fez todas as letras e cantava todas as músicas.
MAs eles não são caras do glamour, eles usavam aquelas luzes todas pra se esconder do público.
Waters começou a se incomodar com os shows, porque muita gente ia pra beber e soltar fogos de artifício e ele queria passar aquela mensagem de comparar pessoas a animais, ele teve até que trocar a sequência das músicas pra tentar controlar o público. O que o irritava demais.
E ele foi ficando mais e mais incomodado, até que cuspiu num cara na fila da frente, irritado num show. Tem gravação desse momento, o áudio é bem assustados.
Daí nasceu a ideia de que ele tinha criado uma barreira entre os fãs e fez The Wall, pra exorcizar todos os seus demônios. Fala da mãe super protetora, fala do pai que morreu na guerra e nunca voltou (Daddys flown across the ocean, leaving just a memory, a snapshot at the family album), falava da sua relação de isolamento com o público e era contado como uma ópera rock, falando de um personagem que tinha feito muito sucesso no rock chamado Pink e que tinha se isolado e surtado e o sucesso foi muito pra ele.
Quase todas as letras são do Waters, o conceito também. Mas agora Waters queria ser ainda mais minucioso do que já era, perfeccionista ao extremos nos shows. Também ele fazia questão de ser ouvido e proibiu a banda de fazer shows em estádios, agora apenas em teatros, pra todo mundo prestar atenção na mensagem.
Demitiu o tecladista que tava cheirando um absurdo, o que causou um problema internao. A banda construía um muro ao longo do show e derrubava no final, fazendo com que somado aos espaços pequenos, a banda não lucrasse com os shows mas ficasse com prejuízo (o único que lucrou nessa turnê foi o tecladista que foi contratado como músico).
Ao ver as filmagens de alguns shows dá pra ver que o Waters e o Gilmour mal se falavam...
Mas é um álbum que sem o Gilmour seria um xarope sem fim. Imagine The Wall sem Comfortably Numb?
Waters ganhou um prêmio de uma famosa revista como melhor composicão de baixo em Hey You, que depois foi revogada porque foi composição e gravada pelo Gilmour... assim como foi o Gilmour que mostrou como imitar um relógio no baixo na música que ele compôs chamada Childhood's End que o Waters usou em Money...
Ou seja, um era um gênio musical e o outro um músico genial...
Waters saiu da banda depois de fazerem mais um álbum por força de contrato. Decretou que sem ele a banda tava terminada.
Gilmour brigou na justiça e ganhou o nome da banda, juntou os outros dois integrantes e fizeram alguns álbuns e shows e ganharam milhões.
Enquanto o Waters perdia a voz e fazia shows cada vez menores...