Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

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PHDookie
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Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por PHDookie » 30 Out 2020 19:56

Dona de uma "personalidade espevitada", Maria Bonita - que, em vida, era conhecida como Maria de Déa - era uma mulher empoderada, transgressora, bem-humorada e "um tipo meio canalha". Mas apesar de estar "à frente do seu tempo", não se incomodava com a opressão em que viviam suas colegas de cangaço e apoiava que mulheres adúlteras fossem assassinadas.

É assim que a jornalista Adriana Negreiros retrata a cangaceira, que acaba de biografar em Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço (Objetiva). O livro conta a história do cangaço dando destaque às mulheres e aos relatos que fizeram sobre como era a vida no bando de Lampião. "Fui percebendo em conversas com pesquisadores do tema como as histórias delas eram desqualificadas", diz Negreiros.

Maria Gomes de Oliveira (1910 - 1938) era uma dona de casa casada quando começou a namorar Lampião, em 1929, e decidiu juntar-se ao bando no ano seguinte, tornando-se a primeira mulher do grupo. Seria uma das poucas a tornar-se cangaceira por vontade própria - muitas foram raptadas.

Ela acabou morta junto com Lampião e outros membros do bando num ataque das forças de segurança a um acampamento onde pernoitavam. Foi decapitada e, assim como os demais, sua cabeça foi exposta diante da Prefeitura de Piranhas (AL).

O livro também se esforça para desfazer a imagem de Lampião como o "Robin Hood do sertão", disseminada na mídia e por movimentos de esquerda da época. "Ele era aliado dos grandes latifundiários do Nordeste e era amigo de um interventor. O fato de ter passado impune tantos anos se deve à relação que tinha com o poder. Os grandes prejudicados eram os mais pobres."

Adriana Negreiros

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CRÉDITO,MARCOS VILAS BOAS
Legenda da foto,
Livro de Adriana Negreiros quer desfazer a ideia de que Lampião era o 'Robin Hood do sertão'

Adriana é jornalista e trabalhou nas revistas Veja, Cláudia e Playboy. A seguir, veja trechos da entrevista com a autora:

BBC News Brasil - Como surgiu a ideia de escrever uma biografia de Maria Bonita?

Adriana Negreiros - Sempre tive muito interesse no cangaço. Sou nordestina, do Ceará. Minha família é de Mossoró, a única cidade que conseguiu expulsar Lampião. Isso foi um marco na história do cangaço e é lembrado até hoje.

Assim como muitas mulheres, eu estava vivendo a onda feminista. Minha geração está muito acostumada a ver homens no poder. Muita coisa foi naturalizada e agora estamos questionando. Quis contar a história do cangaço da perspectiva das mulheres. Lampião é uma figura exuberante, mas tinha um monte de mulheres que participaram do cangaço e que foram totalmente ignoradas.

BBC News Brasil - A imagem que tinha dela antes de escrever o livro mudou?

Negreiros - Sim. Tinha uma visão muito mitificada. Quando pensamos nela, imaginamos uma mulher guerreira, que pega em armas. Não sabia que as cangaceiras não pegavam em armas. Havia uma diferença entre o espaço das mulheres e dos homens. Elas tinham uma função doméstica, ainda que não tivessem casa. Quem brilhava no espaço público eram os cangaceiros. Elas eram coadjuvantes. A maioria nem sabia atirar.

BBC News Brasil - Em que sentido diria que ela foi uma mulher transgressora?

Negreiros - Diferentemente da maioria das cangaceiras, ela entrou para o bando porque quis. Era empoderada para seu tempo e para aquele lugar. Vivia no sertão, nos anos 1920. Era uma mulher casada, de quem se esperava obediência ao marido. O Código Civil da época previa isso - a mulher precisava de autorização do marido para trabalhar. No entanto, ela era muito infeliz no casamento. O marido era um fanfarrão, não era presente, nem muito viril. Ela se sentia sexualmente insatisfeita com ele. Há indícios de que ela tinha um amante.

Quando ficava de saco cheio do marido, não ia chorar pelos cantos, ia para o forró, dançar. Tinha uma personalidade mais espevitada mesmo. Ela era transgressora do ponto de vista do comportamento, era corajosa nesse aspecto. Era muito bem-humorada, não estava nem aí para o pensassem dela. Não se levava a sério. Se quisessem caçoar dela, ela estava pouco se lixando. (...) Ela falava alto, ria muito, era um tipo meio canalha, gosto disso nela.

Dadá (a cangaceira Sérgia Ribeiro da Silva) também é muito interessante. Foi raptada (pelo cangaceiro Corisco), mas mais tarde disse que o amava. Acho que era uma estratégia de sobrevivência. Se adaptou à situação. Isso deu a ela um papel de protagonismo. Os homens a obedeciam, mas não achavam aquilo muito certo. Mas ela foi uma sobrevivente.



BBC News Brasil - Por um lado, Maria Bonita agiu a favor da própria liberdade. Por outro lado reproduzia o machismo violento dos homens. Dá para dizer que ela era feminista?

Negreiros - Não. Era transgressora, à frente do seu tempo, mas não tinha consciência política, de gênero. Não se mostrava incomodada com a situação de opressão contra as mulheres. O conceito de sororidade passava longe ali. As mulheres não protegiam umas às outras.

O código de conduta era totalmente machista. Uma mulher que cometesse um adultério era morta; o homem, não. As mulheres até incentivavam que as outras fossem punidas. Havia suspeita de que (a cangaceira) Cristina, por exemplo, tivesse um caso com outro cangaceiro. Maria foi uma das que mais apoiou que ela fosse morta, como ela de fato foi.



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A cangaceira Cristina, que foi morta por suspeita de traição; Maria Bonita defendia que ela fosse executada

BBC News Brasil - A imagem que se tem dela é que entrou para o cangaço por amor a Lampião. Acha que foi isso mesmo que a motivou?

Negreiros - Amor é demais. Nem conhecia bem ele. Mas ele era a grande celebridade naquela época. Era um astro, um machão, tinha dinheiro, era um valentão. Do lado dele ela se sentiria segura. Isso tudo a atraiu.

(O escritor) Ariano Suassuna fala que eram figuras extraordinárias, almas grandes. Ele tem admiração especialmente pela Maria. Ele fala que acha que ela se apaixonou por um cara que era um rei, um homem que iria salvar ela daquela vidinha pequena, de um marido que não dava conta do recado, que não dava atenção a ela. Uma vida à mercê de uma série de violências. Viu a possibilidade de segurança e notoriedade ao lado dele. Isso foi virando um sentimento que podemos chamar de amor. Era uma relação afetuosa.


Lampião e Maria Bonita
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Um raro caso de foto espontânea do casal: a imagem de Maria penteando os cabelos de Lampião foi registrada durante a filmagem de um documentário sobre o cangaço

BBC News Brasil - Você diz no livro que, durante a pesquisa, viu que os relatos das mulheres sobre o cangaço eram constantemente questionados. Como era isso?

Negreiros - Isso me chocou muito. Fui percebendo em conversas com pesquisadores do tema que as histórias delas eram desqualificadas. Muitas delas entraram no cangaço não porque quiseram, mas porque foram obrigadas. Foram raptadas. Não foi uma opção. Eu comentava com as pessoas essas questões que muito me chocavam - de abandono dos filhos, por exemplo (após darem à luz, mulheres do cangaço eram obrigadas a entregar os filhos para outras famílias) - e ouvia as pessoas relativizando, dizendo "será que foi isso mesmo"?

Dadá, por exemplo, foi raptada pelo Corisco, mas as pessoas diziam que não era bem assim. Eu pensava "como uma menina de 12 anos vai escolher ser raptada, estuprada e ir morar no mato, passando fome e sede, sem nunca mais ver os pais?".

Quer dizer, mesmo quando elas têm voz (Dadá deu muitas entrevistas depois de deixar a prisão), a voz delas é silenciada, sobretudo quando diz respeito a violências que sofreram. Essa é uma lógica que persiste até hoje.


BBC News Brasil - E muitas delas eram ignoradas nas narrativas da época...

Negreiros - Sim. Li praticamente tudo que foi publicado sobre o cangaço. Tem muita coisa escrita por pessoas que viveram o cangaço. Nos relatos, as mulheres sempre são tratadas de uma forma meio escrota. Fui juntando tudo, um trabalho de garimpo, mesmo.


BBC News Brasil - Deve ter sido difícil juntar tudo e fazer um retrato da Maria. Fez uma interpretação própria?

Negreiros - Sim. As questões que me incomodaram acabaram conduzindo o trabalho, especialmente essa questão do descrédito. Resolvi assumir a versão delas.


BBC News Brasil - É isso que quer dizer quando fala que o livro é feminista?

Negreiros - Sim, quis olhar pelos olhos das mulheres, acreditar na versão delas. Também tentei deixar muito claro as estruturas de opressão que atuavam no cangaço.

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As cangaceiras Nenê, Maria Jovina e Durvinha

BBC News Brasil - No imaginário coletivo, cangaceiros são vistos como Robin Hoods do sertão. O livro faz questão de desmontar isso.

Negreiros - Movimentos sociais tentaram vê-los como revolucionários, como se tivessem consciência da distribuição equivocada da propriedade privada, mas não tinham. Lampião queria ser coronel. Ele falava nas entrevistas "quero ser fazendeiro, governador". Não queria organizar um movimento de camponeses oprimidos. Essa é uma ideia equivocada.

Os pobres ficavam no meio do fogo cruzado. Eram vítimas dos cangaceiros e das forças volantes (polícia). Não tinham para onde correr. Uma pessoa que tivesse sua casa visitada por cangaceiros tinha que obedecer e depois passaria a sofrer represália da polícia porque era "amiga de cangaceiro". Não tinha isso de que distribuíam dinheiro. Eventualmente, Lampião fazia agrados porque era um gênio das relações públicas, mas era para ter simpatia de determinada região e ser protegido.

Nos filmes há imagens deles entrando nas cidades e jogando coisas para o alto. Eles podiam até fazer isso, entrar tirando coisas do corpo, mas era pra se livrar de peso. Lampião não tinha a menor consciência de classe. Não tenho dúvida de que, se tivesse um aliado que fosse um grande latifundiário e que tivesse um problema com um pequeno produtor, ficaria do lado do latifundiário. Não diria (vou ficar do lado dos) "meus colegas pobres, oprimidos". Além disso, era um cara racista. Odiava negros.


BBC News Brasil - Por que a esquerda não via isso?

Negreiros - Não é tão preto no branco. Apesar de Lampião ser aliado dos latifundiários, de o cangaço ser um banditismo rural, é um movimento de insurreição.

Hoje, o sertão é região esquecida. Imagine naquela época. Ninguém tinha olhos para o sertão. A vida do sertanejo não era fácil. A perspectiva era ter uma plantação, torcer para que chovesse. Uma vida condenada àquilo. Ou (a pessoa) se conformava de que aquela era sua sina ou se rebelava contra isso. De alguma maneira, o cangaço tem na sua gênese certo componente de insurreição.

Frederico Pernambucano de Mello (pesquisador do cangaço) chama de "irredentismo". A coisa do "vou ser meu próprio rei, farei meu próprio destino". Isso não torna as coisas muito claras. Não é fácil perceber onde começa a questão social e termina a necessidade de ficar rico ou o desejo de ser maioral do sertão.

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BBC News Brasil - No livro, você narra estupros, mulheres que eram marcadas como vacas só por usarem cabelos curtos, assassinatos por motivos fúteis, capação. O grau de violência que eles cometiam te surpreendeu?

Negreiros - Sim, surpreendeu. Era uma coisa patológica. A região é muito violenta e era uma coisa muito naturalizada. Em relação às mulheres, eram tratadas como propriedade, como se fossem vacas. Teve uma cangaceira que depois de morta teve a vagina arrancada. O soldado ficou carregando aquilo na bolsa.

BBC News Brasil - Viu paralelos com o Brasil de hoje?

Negreiros - Me parece ter certa semelhança com tráfico de drogas no Rio. A política do terror inspira confiança por meio do medo. Ao mesmo tempo, espalha o terror. E na ostentação também. Não faziam questão de se esconder. Traficantes também estão sempre muito armados, com ouro. É um poder paralelo. E as pessoas recorriam aos cangaceiros para resolver conflitos, às vezes até antes de procurar a polícia. A corrupção policial - os policiais vendiam armas para cangaceiros.

fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45304399

Punk666
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Punk666 » 30 Out 2020 20:08

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Não entendo Brasil romantizar bandidos Maria e o Grupo do Lampião eram um bando de canalhas,deveras sujos e mataram muitos inocentes.

Se ela era feminista ou não é irrelevante,bandidos(a) merecem ser esquecidos pelo tempo.

Pobre humanidade que acha bonito quem age pela violência...

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Aquiles
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Aquiles » 30 Out 2020 20:16

É essa aí da foto? Feia pacarai, tomar no cu
Conservador e cristão, mas às vezes sou hipócrita.

Foda-se

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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Clonaldinho Carioca » 30 Out 2020 20:26

Aquiles escreveu:
30 Out 2020 20:16
É essa aí da foto? Feia pacarai, tomar no cu
realmente, alcunhar essa criatura de maria "bonita" é sacanagem! :lol:

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Kabeça Grande BJJ
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Kabeça Grande BJJ » 30 Out 2020 20:27

Marmita de bandido since 1920.
Apodreçam no inferno, raça maldita!
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por VBB » 30 Out 2020 20:28

A jornalista Adriana Negreiros precisa com urgência ser apresentada ao anacronismo. Essa entrevista é uma aula de equiparações esdrúxulas em busca de um discurso que foi montado provavelmente antes do início da pesquisa. Quem tem o feeling da pesquisa bibliográfica sente o faro de longe.

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brunodsr
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por brunodsr » 30 Out 2020 20:44

Corisco e Dada foram os piores do bando. Nos dois museus do cangaço (triunfo e Serra talhada) onde estive, a história do bando de lampião divide opiniões. Alguns o colocam como transgressor do sistema e, portanto, herói. Outros, tratam o bando de lampião como bandidos sanguinários e sádicos.
"Ser famoso na Internet vale tanto quanto ser rico no Banco Imobiliário." by NoFun
"Você fala uma mentira na TV e 100 milhões de pessoas te assistem. Depois, três artigos te desmentem e cinco mil pessoas lêem." by César Benjamin

PHDookie
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por PHDookie » 30 Out 2020 20:58

brunodsr escreveu:
30 Out 2020 20:44
Corisco e Dada foram os piores do bando. Nos dois museus do cangaço (triunfo e Serra talhada) onde estive, a história do bando de lampião divide opiniões. Alguns o colocam como transgressor do sistema e, portanto, herói. Outros, tratam o bando de lampião como bandidos sanguinários e sádicos.
Eram bandidos como os que tem hoje, só que o Lampião era muito esperto e fazia alianças com grandes Coróneis e politicos e muitas vzs resolvia conflitos locais para eles, porra até o Padre Cicero(outra figura controversa) recebeu o Lampião e o promoveu a capitão...
Mas maldade na época era a lei, tem o massacre da familia Gilo onde assassinaram uma familia inteira por puro ego(houve um conflito de terras, um dos interessados escreveu uma carta em nome dos Gilos desafiando o Lampião, Lampião veio com mais de 40 cangaceiros e dizimou a familia). Tinha o estuprador Zé Baiano no bando que estuprava e depois marcava as mulheres na virilha ou na buchecha com um ferro de marcar gado. Teve muita ruindade, mas parecia ser uma figura querida pelos cangaceiros e tempos depois foi romantizado como figura que desafiou os coroneis ai já viu né....

PHDookie
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por PHDookie » 30 Out 2020 21:04

O massacre da familia Gilo

"Em dezembro de 1925 o senhor Gino Donato do Nascimento descobriu que 12 burros de sua propriedade tinham desaparecidos. Manoel Gilo, filho mais velho de Gilo Donato, seguiu as pistas dos animais indo encontra-los em Lavras de Mangabeira, Ceará, em posse do coronel Raimundo Augusto, que havia comprado os animais de Horácio Grande.
A verdade é que Horácio Grande foi processado e preso por esse roubo e depois jurou matar Gilo Donato.

Tempos depois realizou um frustrado ataque a residência de Gilo onde saiu baleado e perdeu o comparsa apelidado de Brasa Viva. Horácio Grande depois entrou no bando de Lampião e através de sua irmã e sua esposa forjou cartas falsas como se fossem de Gilo Donato afrontando o Rei do Cangaço...No dia "26 de agosto de 1926, quinta feira", às 4 horas da manhã, Lampião com um grupo em torno de 120 cangaceiros, atacou a fazenda Tapera. Um longo tiroteio rompeu o silencio do local. Por horas as pessoas da vizinha Floresta ouviram os tiros ecoando. O capitão Antônio Muniz de Farias, comandante das forças volantes que estavam na cidade, não mostrou coragem pra ir lutar contra os cangaceiros e defender a família Gilo. Quando a casa da sede se encontrava quase totalmente destruídos e vários mortos banhavam de sangue seus compartimentos, Lampião comandou a invasão a residência." Nos conta João de Sousa Lima.

"Gostaria de convocar todos os pesquisadores para debatermos sobre a data exata da Chacina ocorrida na "Tapera dos Gilo" . A maioria dos escritores registram 26/08/1926, poucos 28/08/1926. Qual a data correta?"
Marcos de Carmelita


Marcos de Carmelita ao lado de Dona Dejinha, filha de Cassimiro Gilo

Geraldo Ferraz um dos mais conceituados pesquisadores sobre a temática e neto de comandante Theophanes Ferraz confirma:"Acredito, pelo registro que possuo, que o tiroteio foi, realmente, no dia 28 de agosto de 1926, assim vejamos:Telegrama do comandante Muniz de Farias, para o comando da Força Pública (grafia da época): “Floresta, 29. São 9:30 quando sigo deligencia com 37 homens fim tomar conhecimento tiroteio consta fazenda Tapera distante daqui 2 léguas. Saudações Muniz de Farias. Capitão Comandante."

E continuamos com a narrativa de João de Sousa Lima ...
Manoel Gilo foi capturado ainda vivo, estando morto seu pai Gino Donato, o irmão Evaristo, o cunhado Joaquim Damião e Ângelo de Rufina. Na estrada ficaram mortos Permino, Henrique (casado com uma irmã de Gilo), Zé Pedro, Ernesto (da fazenda São Pedro), Janjão, Alexandre Ciriaco (morto quando tentava defender os Gilos e que tinha vindo da fazenda São Pedro), Pedro Alexandre (na Barra do Silva).

Ainda tombou morto um soldado que havia ido com Mané Neto, que mesmo estando baleado e com poucos homens sob seu comando, mesmo assim contrariou as ordens do capitão Muniz e foi tentar salvar a família Gilo. Com a quantidade de cangaceiros sendo muito superior ao grupo de Mané Neto ele comandou uma retirada. Lampião pegou Manoel Gilo e perguntou o porquê dele mandar as cartas confrontando Lampião. Manoel Gilo respondeu que era analfabeto e não sabia escrever; nesse momento Horácio Grande pegou a pistola e atirou, matando Manoel Gilo. Só ai Lampião percebeu a trama que Horácio o havia colocado. O Rei do Cangaço o expulsou na hora do seu bando.


Marcos de Carmelita e o local onde foram sepultados

Leonardo Ferraz Gominho, renomado pesquisador de Floresta, assevera: "Se o dia 26 de agosto de 1926 caiu em um dia de sábado, a chacina ocorreu no dia 26. Lampião deixou parte dos seus cabras no caminho que levava à cidade, para aprisionar as pessoas que iam à feira em Floresta. E a feira era no sábado. Se sábado foi dia 28, perfeito ! Ouvi a história contada por meu avô ,Fortunato de Sá Gominho - Siato, e também por João Gominho, irmão de Siato. Ambos estavam em Floresta no dia da chacina;eram comerciantes, não perdiam feira;e afirmavam que chegavam a ouvir o som dos tiros. Um sábado, 28 de agosto de 1926. Sem sombra de dúvida".

Marcos de Carmelita, pesquisador e um dos organizadores do Cariri Cangaço Floresta, revela:"Amigos, quando em reunião com os Gilos eles sempre afirmavam que era dia 26/08/1926. Quando perguntei, em que dia da semana ocorreu o fato, eles respondiam sábado. Foi aí que mostrei o calendário de 1926 e eles disseram ser 28/08/1926. O quadro que foi pintado em Homenagem aos Gilos tem a data 28/08/1926. Alguns historiadores dizem que o Capitão Muniz só foi ao local três dias depois. Apesar do comandante ter sido um covarde, no local tombou o soldado João de Paula Ferreira da volante de Manoel Neto, ficando a Tapera a uns 10 km de distância. A polícia foi no local no outro dia. Ciato Gominho e outros familiares estavam em Floresta no dia da Chacina e Leonardo Gominho e Geraldo Ferraz estão certíssimos. "

E continua Marcos de Carmelita: "Todo Florestano tem conhecimento que a luta se deu em um sábado, dia da feira, não existia feira na quinta. Os filhos dos almocreves que foram capturados na estrada também confirmam a data. Os depoimentos do Senhor Eliseu que conviveu com os moradores da Fazenda Monte em Belém do São Francisco e que foram presos junto com os outros na Quixabeira do Riacho do Arcanjo, confirmaram a mesma história. Véio, filho de Zé de Anjo, ainda vivo e extraordinariamente lúcido, teve um caso amoroso quando era muito jovem, tinha uns dezoito anos, com Luciana Barros , a Lulu, que estava dentro da casa dos Gilos na hora do ataque e que perdeu seu pai, também morto pelos cangaceiros na casa de Joaquim Damião. O problema é que a Tapera e os outros grandes combates em Floresta foram muito pouco escritos e pesquisados."



"Quantos cabras estavam com Lampião por ocasião desse episódio na Tapera dos Gilo ?"


Segundo o pesquisador e escritor José Bezerra Lima Irmão em seu brilhante "Raposa das Caatingas" revela: "Lampião contava com 120 cangaceiros". Já Marcos de Carmelita acentua: "Não há como precisar a quantidade de cangaceiros. Ao sair da Tapera e chegar na Fazenda Água Branca, do Major da Guarda Nacional, Tiburtino Aĺves de Carvalho, fora quatro que foram mortos, o seu filho Alcides Carvalho contabilizou 94 cangaceiros na calçada da casa grande e vinham dois baleados que foram tratados por seu Alcides."

Já Geraldo Ferraz pontua: "Sobre a quantidade de cangaceiros liderados por Lampião, tenho a informar que, segundo o Cel. Veremundo Soares, em comunicação ao Governador Sérgio Loreto, no dia 31 de agosto, 03 dias após o massacre, Lampião liderava 112 (cento e doze) homens. O telegrama: "Salgueiro, 31 de agosto de 1926. Communico vossencia grupo bandido Lampeão composto 112 homens achava-se esta noite povoado Conceição municipio Belem Cabrobó tomando animaes e depredando. Dolorosa situação do sertanejo. Saudações. Veremundo Soares. Prefeito.”

fonte: http://cariricangaco.blogspot.com/2016/ ... %20ecoando.

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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Michael Schumacher » 30 Out 2020 21:49

Tenho o livro de marcos de carmelita as cruzes do cangaço raro e caro como qualquer bom livro sobre o tema.

Manoel neto teve que pedir várias vezes ao capitão muniz que estava se cagando de medo, lhe dar ao menos 10 homens pra ir enfrentar lampião com mais de 100 bandidos mesmo baleado num dos braços e ainda usando tipoia.

Capitão nascimento seria uma moça perto do tenente Manuel neto, o homi era muito "disposto" falava manso e me faz lembrar o fedor em algo:ambos não tinham cara e aparência do que realmente eram capazes.

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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Vitorino » 30 Out 2020 21:54

Meu avô sempre dizia que o Lampião era pau mandado de governantes e eles matavam os homens para estuprar as mulheres deles depois.
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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Michael Schumacher » 30 Out 2020 22:08

brunodsr escreveu:
30 Out 2020 20:44
Corisco e Dada foram os piores do bando. Nos dois museus do cangaço (triunfo e Serra talhada) onde estive, a história do bando de lampião divide opiniões. Alguns o colocam como transgressor do sistema e, portanto, herói. Outros, tratam o bando de lampião como bandidos sanguinários e sádicos.
A gesta sertaneja por meio de sua literatura de cordel e seus cantadores de feira sempre fizeram culto a coragem, ainda mais no início do século XX. um verso que sintetiza isso :

Ali se aprecia muito
Um cantador, um vaqueiro,
Um amansador de potro
Que seja bom catingueiro
Um homem que mata Onça
Ou então um cangaceiro


Lampião definitivamente era muito corajoso embora tenha matado muita gente de forma covarde. Também era muito inteligente, quando foi pra bahia por exemplo fugido de Pernambuco com apenas 5 cabras estava em "paz e amor" e distribuía dinheiro pra ganhar a confiança das populações pobres,ja havia feito isso em outras épocas inclusive na passagem por juazeiro.

Aqui Frederico pernambucano de Melo, talvez a maior autoridade quando o assunto é cangaco, explica um pouco as raízes do banditismo rural inclusive a violência usada pelos cangaceiros remontando a época da colonização quando os índios tapuias que habitavam o sertão eram muito mais violentos do que os do litoral.

phpBB [video]



Nessa vídeo uma das diversas crueldades de lampião: matou 7 soldados totalmente indefesos de forma covarde.

phpBB [video]
Editado pela última vez por Michael Schumacher em 30 Out 2020 22:30, em um total de 1 vez.

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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por cardonelli » 30 Out 2020 22:08

Era putinha do lampião e dizem as mas línguas que geral passava o rodo nela..e além disso feia pá caraleo..
America needs Trump.
The World needs Mr. Trump.
Give peace a chance. "THE GREAT WHITE HOPE" :2handed:

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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Paulo J. » 30 Out 2020 22:24

Sério? Ela ainda não era uma lacradora nos anos trinta? Que peninha, mas como era bandida e quadrilheira, já serve para eles admirarem.
Representante Oficial do Partido Comunista Conservador

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Re: Maria Bonita foi uma mulher transgressora, mas passou longe de ser feminista, diz biógrafa da cangaceira

Mensagem por Kabeça Grande BJJ » 30 Out 2020 22:27

Michael Schumacher escreveu:
30 Out 2020 21:49
Tenho o livro de marcos de carmelita as cruzes do cangaço raro e caro como qualquer bom livro sobre o tema.

Manoel neto teve que pedir várias vezes ao capitão muniz que estava se cagando de medo, lhe dar ao menos 10 homens pra ir enfrentar lampião com mais de 100 bandidos mesmo baleado num dos braços e ainda usando tipoia.

Capitão nascimento seria uma moça perto do tenente Manuel neto, o homi era muito "disposto" falava manso e me faz lembrar o fedor em algo:ambos não tinham cara e aparência do que realmente eram capazes.

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