Em clima descontraído, Lumena arrumou-se em uma das suítes do local, que serviu como bastidores da produção que seria fotografada ali. A cama estava coberta por acessórios e lingeries enquanto ela vestia um roupão branco e era maquiada. Durante meia hora, Lumena refletiu sobre algumas das questões que já vivenciou enquanto mulher negra e lésbica e como a decisão de explorar o mercado erótico vem da autonomia conquistada sobre seu corpo após anos de luta, autoconhecimento e libertação.
“É maravilhoso acompanhar e fazer parte desse processo de evolução na carreira da Lumena. Desde o início do projeto, contamos com parceiros para que pudéssemos trazer o melhor conteúdo para os fãs. Estou com uma expectativa muito grande de que vamos parar a internet", comenta a empresária e CEO Aline Gabriel da agência Nala Nandê. A princípio os conteúdos estão disponíveis na plataforma Privacy e, posteriormente, serão liberados também no OnlyFans. A seguir, confira a conversa:
MARIE CLAIRE Pensando na fetichização da mulher lésbica e da mulher negra no mercado erótico, como você pretende se colocar nesse lugar?
LUMENA ALELUIA A hipersexualização de mulheres negras sempre foi uma questão para mim. Especialmente ao nível da pesquisa, na minha formação. Não dá para desconsiderar, inclusive, que o cenário do feminicídio no Brasil mata mais mulheres negras. A sexualização tem a ver com isso. Mas no extremo oposto existe uma invisibilização de mulheres negras. No meu caso, poderia até denominar como repressão. Acho que, na tentativa desesperada de romper com a personagem da "mulata", eu me escondi de maneira extrema, até desesperada. Por muito tempo mantive uma persona que escondia o corpo e reprimia desejos, fugia de qualquer situação que envolvesse liberdade com o corpo. Acho que ter ido para o reality também foi uma tentativa de sair do armário em todos os sentidos. Inclusive de questionar uma persona que vinha de uma militância radical. Sou uma Lumena que também gosta de moda, que escondeu a vaidade por muito tempo, mas, hoje em dia, me produzo, faço as unhas, coloco cílios. E isso em nada diminui a produção da minha pesquisa intelectual. Acho que este momento é uma oportunidade que tenho de equilibrar essas duas vivências e essas duas Lumenas. Poderia até brincar: "Da militância ao OnlyFans! Me autorizo". Esse ensaio demarca uma jornada que estava aqui, engavetada.
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MC A produção de conteúdo erótico ainda é extremamente voltada para o agrado de gostos masculinos. São muitas produções violentas e que sequer pensam no prazer da mulher. Como essa questão se dá para você?
LA Isso é super interessante e faz parte de uma questão estrutural, de uma ausência de referências que foquem na libido das mulheres. Mais uma vez, uma ausência extrema, uma invisibilidade extrema. Obviamente, o ensaio está vindo de uma relação artística. Estou construindo uma personagem que usa lingerie isso é bem novo na minha jornada, sabe? Eu nem sabia como colocar, mulher! Estava me batendo com as lingeries. É o primeiro passo de uma relação muito prazerosa de perceber meu corpo. Virou uma chavinha quando eu coloquei silicone. E foi muito legal que, nesse ensaio, eu quis brincar com essa essa relação do peito estar numa região afetiva. Eu tatuei "ressignifique" nessa região e coloquei também uma borboleta, símbolo de metamorfose.
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MC E como foi pensado o mood do ensaio?
LA A gente escolheu brincar com elementos que têm a ver com a Lumena que todos conheceram: intelectual, brava. Então vou usar óculos de grau, um livro, mas com a ideia de quebrar esse jogo. Pensamos em uma paleta com vermelho, que lembra paixão, e com o branco em contraste com a pele negra.
MC Qual foi o processo de tomar essa decisão?
LA Foi uma decisão bem desafiadora. O nu sempre foi uma questão para mim. Até no Carnaval minha roupa foi bem mais comportada. Eu não conseguia. Tem todo um processo de orientação maternal, empresarial. Foi bem recente mesmo, é um desafio.
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MC Você está preparada para as reações do público na internet?
LA Eu chamo de debate, de troca. Sei que virão questionamentos. O discurso radical tende a cristalizar a mulher lésbica como uma verdade única e exclusiva. A mulher bissexual também. Hoje estou afim de comunicar minhas ideias de mundo, não só minha orientação, e quero que as pessoas me desejem não por uma personagem rotulada. Estou querendo questionar essa Lumena que foi projetada no imaginário da internet. Esse novo cenário, de entrar em novas redes sociais, é para complementar essa liberdade. Uma não exclui a outra, elas se complementam. A galera, por exemplo, acha que só pego pessoas negras, nada a ver. Estou solteira, estou na pista.
MC Você tem um romance em vista?
LA Meu romance é com produção de conteúdo, com a carreira. Estou tendo vários retornos legais sobre meu trabalho como DJ e de influencer. Estou também voltando a produzir intelectualidade, começando a retomar esse lugar. Fiquei muito traumatizada com a galera falando que eu durmo na militância, almoço militância. Tive muito medo de comunicar um lugar de pesquisadora e reprimi muito isso depois do reality. "Não quero ser mais reconhecida pela produção intelectual, não quero mestrado, não quero doutorado. Não quero nada". E agora estou conseguindo tornar isso mais harmonioso. Fiz a minha primeira palestra em um evento sobre empreendedorismo. Lá, eu consegui pegar no microfone e falar de maneira leve, prazerosa, dinâmica e bem humorada

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