Não é a meritocracia; é o valor que se cria
- PaU NA Muleira
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Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Meritocracia é uma palavra bonita. Não. É uma palavra que remete a uma coisa bonita: que cada um receba de acordo com seu mérito, que em geral é igual a esforço, dedicação; às vezes se inclui a inteligência.
E — é o que garantem alguns liberais — é isso que vigora no mercado. Quem se esforça, chega lá.
É questionável até que ponto esse tal mérito pessoal sequer exista. Hélio Schwartsman, na Folha, apontou aquele fato que ninguém gosta de lembrar: o esforço pessoal, o suor, a capacidade de trabalho, a inteligência; todos dependem de variáveis que estão fora da escolha pessoal — do mérito, portanto — do indivíduo. Essa esfera do que é só meu, do mérito próprio distinto das circunstâncias do ambiente e da história, simplesmente não existe. Ao menos, não da forma simplória que se vende.
E existindo ou não, será verdade que o mercado premia justamente o mérito? Se for, caro liberal, então você está obrigado a defender que Gugu Liberato e Faustão têm mais mérito do que um professor realmente excelente e que realmente ensine coisas úteis.
Nada contra o Gugu e o Faustão, mas eles não são meu exemplo ideal de disciplina, dedicação e trabalho duro. E, mesmo assim, o mercado os recompensa muito bem. Do outro lado, milhões de trabalhadores labutam dia e noite, e outros milhões de desempregados procuram o que fazer, e continuam pobres. Ainda falta esforço? São preguiçosos, burros talvez?
Nada disso.
O que realmente determina a remuneração no mercado não é o mérito, não é a virtude, não é o esforço ou a dedicação. É apenas a criação de valor; o valor que aquela pessoa consegue adicionar à vida dos demais.
Não importa se é por esforço, inteligência, sorte, talento natural, herança; quanto mais imprescindível ela for aos outros, mais os outros estarão dispostos a servi-la.
O esforço por si só não garante nada. É verdade que, tudo o mais constante, se a pessoa encontra um campo em que ela gera valor, o esperado é que mais esforço gere mais valor. Com o passar das gerações, a ascensão social se acumula: a filha da retirante nordestina que trabalha de empregada tem computador, aula de inglês e provavelmente não será doméstica quando crescer.
É assim que as sociedades enriquecem. Não é de uma hora para outra, e não tem nada a ver com a crença ingênua de que a renda é ou deveria ser proporcional ao mérito.
Nada é garantido. Às vezes o setor em que o sujeito trabalha fica obsoleto, e o valor produzido pela dedicação de uma vida cai abruptamente. Havia gente muito dedicada entre os técnicos de vitrola de meados dos anos 1990; e mesmo assim…
Meritocracia é um conceito que se aplica ao interior de organizações. Promover membros com base no mérito (em geral medido por algum indicador) pode ser melhor do que fazê-lo por tempo de serviço, pela opinião subjetiva de um superior etc. Meritocracia é um modelo de gestão. Até mesmo o governo, por exemplo, poderia se beneficiar dela, reduzindo suas ineficiências. Não é um modelo sem falhas: a necessidade de mostrar resultados cria uma pressão interna muito grande e pode minar a cooperação, a manipulação dos indicadores pode viciar o sistema de avaliação.
Encontrar o sistema mais adequado a cada contexto é uma questão de administração, de funcionamento interno de organizações, que nada tem a ver com o mercado. Mercado é o processo (sim, memorizem isso: o mercado é um processo) no qual algumas organizações existem e operam. Às vezes organizações nada meritocráticas prosperam no mercado, e organizações meritocráticas podem existir fora dele.
Satisfaça as necessidades dos outros, e as suas serão satisfeitas. Não importa se é por mérito, por sorte ou por talento. O cara mais esforçado e bem-intencionado do mundo, se não criar valor, ficará de mãos vazias.
Achou injusto? Então aqui vai um segredo: é você quem perpetua esse sistema. Se sua geladeira quebra, você vai querer um técnico esforçado e que dê tudo de si, ou vai querer um que faça um ótimo serviço, com pouco esforço e a um baixo custo? Quer um restaurante ruim mas com funcionários esforçados ou quer comer bem? O mundo reflete o seu código de valores e, veja só, ele não é meritocrático.
A vida não é e nem deve ser uma corrida que parte de condições iguais e na qual, no fim do jogo, vencem os melhores. Na medida em que esse sonho meritocrático é sequer possível (estamos muito longe de corrigir desigualdades genéticas, por exemplo), ele exigiria um investimento enorme só para produzi-lo; sacrificaríamos valor para criar condições artificiais que se adequem a esse ideal abstrato. Todos ficariam mais pobres para realizar esse sonho moral.
Mas quem disse que a igualdade é moralmente superior à desigualdade? Se um meteorito cai na minha casa e não na sua, isso é injusto? É imoral?
O sistema de mercado não premia a virtude; ele premia, e portanto incentiva, o valor. É feio dizê-lo? Pode ser, mas ele tem um lado bom: é o sistema que permite que a vida de todos melhore ao mesmo tempo. Que todo mundo que quer subir tenha que ajudar os outros a subir também. Ele não iguala o patamar de todo mundo, mas garante que a direção de mudança seja para cima.
O ideal da meritocracia tem o seu apelo, mas ele depende de meias-verdades: a ideia do mérito que é só meu e de mais ninguém, a de que meu suor justifica o que eu ganhei. Sem suor ou inteligência, o ganho é sujo, indevido. Mas o outro lado dessa moeda é feio: implica dizer que quem não chegou lá não teve mérito; que a pobreza é culpa do pobre.
A lógica do mercado é outra: você criou valor, será recompensado. Sua riqueza não diz nada sobre o seu mérito; ela não justifica e nem precisa ser justificada. O resultado desse foco no valor é que mais valor é criado. Você recebe aquilo que entrega e todos ganham.
Joel Pinheiro da Fonseca é mestre em filosofia e escreve no site spotniks.com.
E — é o que garantem alguns liberais — é isso que vigora no mercado. Quem se esforça, chega lá.
É questionável até que ponto esse tal mérito pessoal sequer exista. Hélio Schwartsman, na Folha, apontou aquele fato que ninguém gosta de lembrar: o esforço pessoal, o suor, a capacidade de trabalho, a inteligência; todos dependem de variáveis que estão fora da escolha pessoal — do mérito, portanto — do indivíduo. Essa esfera do que é só meu, do mérito próprio distinto das circunstâncias do ambiente e da história, simplesmente não existe. Ao menos, não da forma simplória que se vende.
E existindo ou não, será verdade que o mercado premia justamente o mérito? Se for, caro liberal, então você está obrigado a defender que Gugu Liberato e Faustão têm mais mérito do que um professor realmente excelente e que realmente ensine coisas úteis.
Nada contra o Gugu e o Faustão, mas eles não são meu exemplo ideal de disciplina, dedicação e trabalho duro. E, mesmo assim, o mercado os recompensa muito bem. Do outro lado, milhões de trabalhadores labutam dia e noite, e outros milhões de desempregados procuram o que fazer, e continuam pobres. Ainda falta esforço? São preguiçosos, burros talvez?
Nada disso.
O que realmente determina a remuneração no mercado não é o mérito, não é a virtude, não é o esforço ou a dedicação. É apenas a criação de valor; o valor que aquela pessoa consegue adicionar à vida dos demais.
Não importa se é por esforço, inteligência, sorte, talento natural, herança; quanto mais imprescindível ela for aos outros, mais os outros estarão dispostos a servi-la.
O esforço por si só não garante nada. É verdade que, tudo o mais constante, se a pessoa encontra um campo em que ela gera valor, o esperado é que mais esforço gere mais valor. Com o passar das gerações, a ascensão social se acumula: a filha da retirante nordestina que trabalha de empregada tem computador, aula de inglês e provavelmente não será doméstica quando crescer.
É assim que as sociedades enriquecem. Não é de uma hora para outra, e não tem nada a ver com a crença ingênua de que a renda é ou deveria ser proporcional ao mérito.
Nada é garantido. Às vezes o setor em que o sujeito trabalha fica obsoleto, e o valor produzido pela dedicação de uma vida cai abruptamente. Havia gente muito dedicada entre os técnicos de vitrola de meados dos anos 1990; e mesmo assim…
Meritocracia é um conceito que se aplica ao interior de organizações. Promover membros com base no mérito (em geral medido por algum indicador) pode ser melhor do que fazê-lo por tempo de serviço, pela opinião subjetiva de um superior etc. Meritocracia é um modelo de gestão. Até mesmo o governo, por exemplo, poderia se beneficiar dela, reduzindo suas ineficiências. Não é um modelo sem falhas: a necessidade de mostrar resultados cria uma pressão interna muito grande e pode minar a cooperação, a manipulação dos indicadores pode viciar o sistema de avaliação.
Encontrar o sistema mais adequado a cada contexto é uma questão de administração, de funcionamento interno de organizações, que nada tem a ver com o mercado. Mercado é o processo (sim, memorizem isso: o mercado é um processo) no qual algumas organizações existem e operam. Às vezes organizações nada meritocráticas prosperam no mercado, e organizações meritocráticas podem existir fora dele.
Satisfaça as necessidades dos outros, e as suas serão satisfeitas. Não importa se é por mérito, por sorte ou por talento. O cara mais esforçado e bem-intencionado do mundo, se não criar valor, ficará de mãos vazias.
Achou injusto? Então aqui vai um segredo: é você quem perpetua esse sistema. Se sua geladeira quebra, você vai querer um técnico esforçado e que dê tudo de si, ou vai querer um que faça um ótimo serviço, com pouco esforço e a um baixo custo? Quer um restaurante ruim mas com funcionários esforçados ou quer comer bem? O mundo reflete o seu código de valores e, veja só, ele não é meritocrático.
A vida não é e nem deve ser uma corrida que parte de condições iguais e na qual, no fim do jogo, vencem os melhores. Na medida em que esse sonho meritocrático é sequer possível (estamos muito longe de corrigir desigualdades genéticas, por exemplo), ele exigiria um investimento enorme só para produzi-lo; sacrificaríamos valor para criar condições artificiais que se adequem a esse ideal abstrato. Todos ficariam mais pobres para realizar esse sonho moral.
Mas quem disse que a igualdade é moralmente superior à desigualdade? Se um meteorito cai na minha casa e não na sua, isso é injusto? É imoral?
O sistema de mercado não premia a virtude; ele premia, e portanto incentiva, o valor. É feio dizê-lo? Pode ser, mas ele tem um lado bom: é o sistema que permite que a vida de todos melhore ao mesmo tempo. Que todo mundo que quer subir tenha que ajudar os outros a subir também. Ele não iguala o patamar de todo mundo, mas garante que a direção de mudança seja para cima.
O ideal da meritocracia tem o seu apelo, mas ele depende de meias-verdades: a ideia do mérito que é só meu e de mais ninguém, a de que meu suor justifica o que eu ganhei. Sem suor ou inteligência, o ganho é sujo, indevido. Mas o outro lado dessa moeda é feio: implica dizer que quem não chegou lá não teve mérito; que a pobreza é culpa do pobre.
A lógica do mercado é outra: você criou valor, será recompensado. Sua riqueza não diz nada sobre o seu mérito; ela não justifica e nem precisa ser justificada. O resultado desse foco no valor é que mais valor é criado. Você recebe aquilo que entrega e todos ganham.
Joel Pinheiro da Fonseca é mestre em filosofia e escreve no site spotniks.com.
"Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória! Seja o vosso trabalho uma luta! Seja a vossa paz uma vitória!" Nietzsche
Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Li o texto e a conclusão que chego é que ele não entendeu o básico do básico.
Ele parte de uma premissa errada e toda sua lógica sai torta desta premissa errada.
Meritocracia nao é um valor pessoal e sim coletivo. O merito não se mede pelo esforço. Isto é uma derivação da mais valia.
Não existe uma pessoa, um estado, um ser, ou um ente do universo que vai dizer quem tem mérito ou não. É a sociedade de forma irracional através das interações sociais.
Ele parte de uma premissa errada e toda sua lógica sai torta desta premissa errada.
Meritocracia nao é um valor pessoal e sim coletivo. O merito não se mede pelo esforço. Isto é uma derivação da mais valia.
Não existe uma pessoa, um estado, um ser, ou um ente do universo que vai dizer quem tem mérito ou não. É a sociedade de forma irracional através das interações sociais.
Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Minha opiniao...
Creio que o artigo acima eh baseado num conceito erroneo do que eh meritocracia. Pelo menos comparado com que eu entendo pela mesma. A meritocracia eh apenas um sistema que visa fazer com que as pessoas sejam bem sucedidas pelos seus meritos, e nao por causa de pertencer a uma "casta nobre" ou familia poderosa.
A meritocracia nao garante que quem tem virtudes sera sucedido. Apenas eh um sistema que limita (ou tenta limitar) o controle da sociedade por pessoas que nao chegaram aquelas posicoes por merito proprio (ou seja, monarquias ou ditaduras com Korea do Norte por exemplo). Os meritos das pessoas podem ate ser de natureza nao virtuosa. Ela pode ser uma excelente negociadora ou "vendedora de sonhos"
... mas continua sendo uma qualidade da pessoa, e nao algo passado automaticamente dentro de uma hierarquia de poder.
Se eu criar um imperio financeiro, posso ate deixar meu filho no controle quando me for, mas se a sua performance como administrador for mediocre, o sistema rapidamente vai remove-lo do controle nos negocios (atraves dos acionistas) ou o negocio ira a falencia.O sistema nao tentara manter industrias funcionando perpetuamente somente por pertencer a alguem famoso ou "poderoso".
Exemplos simples dentro da UFC: Roger e Rolles Gracie nao tiveram lugar garantido na UFC por serem Gracie.
Eu por exemplo, dentro da minha "mediocridade", ou seja, mesmo nao sendo ninguem, sempre disse aos meus filhos que tudo que eu tenho eh meu e da mae deles. Eles ainda nao eram ninguem, nem tinham se provado em NADA. Eles tem que providenciar as suas proprias vidas, e nao ficar esperando contar com o que os pais conseguiram na vida. Se nos pudermos e acharmos que devemos ajudar em algo, ajudaremos, mas o unico legado que realmente poderiam esperar de nos era a darmos melhor educacao e saude possiveis. O resto era com eles. ( E para complicar, ainda disse que life is a bitch.
) Por sorte, parece que prestaram atencao e acreditaram.
Creio que o artigo acima eh baseado num conceito erroneo do que eh meritocracia. Pelo menos comparado com que eu entendo pela mesma. A meritocracia eh apenas um sistema que visa fazer com que as pessoas sejam bem sucedidas pelos seus meritos, e nao por causa de pertencer a uma "casta nobre" ou familia poderosa.
A meritocracia nao garante que quem tem virtudes sera sucedido. Apenas eh um sistema que limita (ou tenta limitar) o controle da sociedade por pessoas que nao chegaram aquelas posicoes por merito proprio (ou seja, monarquias ou ditaduras com Korea do Norte por exemplo). Os meritos das pessoas podem ate ser de natureza nao virtuosa. Ela pode ser uma excelente negociadora ou "vendedora de sonhos"

Se eu criar um imperio financeiro, posso ate deixar meu filho no controle quando me for, mas se a sua performance como administrador for mediocre, o sistema rapidamente vai remove-lo do controle nos negocios (atraves dos acionistas) ou o negocio ira a falencia.O sistema nao tentara manter industrias funcionando perpetuamente somente por pertencer a alguem famoso ou "poderoso".
Exemplos simples dentro da UFC: Roger e Rolles Gracie nao tiveram lugar garantido na UFC por serem Gracie.
Eu por exemplo, dentro da minha "mediocridade", ou seja, mesmo nao sendo ninguem, sempre disse aos meus filhos que tudo que eu tenho eh meu e da mae deles. Eles ainda nao eram ninguem, nem tinham se provado em NADA. Eles tem que providenciar as suas proprias vidas, e nao ficar esperando contar com o que os pais conseguiram na vida. Se nos pudermos e acharmos que devemos ajudar em algo, ajudaremos, mas o unico legado que realmente poderiam esperar de nos era a darmos melhor educacao e saude possiveis. O resto era com eles. ( E para complicar, ainda disse que life is a bitch.


All it takes for evil to prevail is for good men to do nothing -E.Burke
Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Na empresa que eu trabalho eles dão valor a meritocracia através de avaliações... avaliações que são concretizadas pelo gerente...
No intervalo de dez anos do sistema implantado, ficou claro quem merecia os méritos e teve aumento de salário.
Ficou claro também quem não teve aumento nesse intervalo e entrou na justiça TRABALHISTA e ganhou!!!!!!!!!!
Abs.
No intervalo de dez anos do sistema implantado, ficou claro quem merecia os méritos e teve aumento de salário.
Ficou claro também quem não teve aumento nesse intervalo e entrou na justiça TRABALHISTA e ganhou!!!!!!!!!!
Abs.
Quando olho para trás
há um vulto desconhecido
desfazendo-se em névoa...
Sempre que olho para trás
alguém que eu conheci
se perde na neblina...
SHIKI ( 1867-1902 )
Estrada da Primavera
há um vulto desconhecido
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Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Mesmo Gugu e Faustão, por mais que não gostemos dos seus programas, têm seus méritos. São profissionais dedicados, persistentes e que sabem vender o seu produto. A Coca Cola é açúcar puro e só faz mal a saúde, mas é uma marcar mundial de refrigerante vendida em todos os cantos do planeta. Podemos despreza a Coca Cola porque esta causa obesidade?
Vários fatores contribuem para o sucesso profissional de uma pessoa. Fica difícil imaginar um sujeito displicente, que não cumpre seus compromissos, sendo bem sucedido. Ex: Tim Maia e Adriano Imperador.
No mundo artístico e esportivo é mais fácil medir o desempenho e o mérito de cada um, mas nas outras profissões não é muito diferente.
Vários fatores contribuem para o sucesso profissional de uma pessoa. Fica difícil imaginar um sujeito displicente, que não cumpre seus compromissos, sendo bem sucedido. Ex: Tim Maia e Adriano Imperador.
No mundo artístico e esportivo é mais fácil medir o desempenho e o mérito de cada um, mas nas outras profissões não é muito diferente.
Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
O autor do texto faz comparações incoerentes, pois confunde mérito com esforço pessoal.
Também não cabe falar em meritocracia em ambientes distintos, como comparar o mérito do apresentador de televisão e o professor na sala de aula.
A meritocracia pressupõe o reconhecimento do mérito de um indivíduo dentre outros, na mesma realidade e na mesma condição dos demais.
A meritocracia para ser implementada com sucesso em um ambiente corporativo deve ser baseada em critérios objetivos pré-definidos, como por exemplo, ter graduação, pós, etc., porque o mérito em si é um conceito subjetivo, variável de pessoa para pessoa. Eu posso achar que um sujeito é um ótimo funcionário, enquanto outros podem não pensar o mesmo.
Também não cabe falar em meritocracia em ambientes distintos, como comparar o mérito do apresentador de televisão e o professor na sala de aula.
A meritocracia pressupõe o reconhecimento do mérito de um indivíduo dentre outros, na mesma realidade e na mesma condição dos demais.
A meritocracia para ser implementada com sucesso em um ambiente corporativo deve ser baseada em critérios objetivos pré-definidos, como por exemplo, ter graduação, pós, etc., porque o mérito em si é um conceito subjetivo, variável de pessoa para pessoa. Eu posso achar que um sujeito é um ótimo funcionário, enquanto outros podem não pensar o mesmo.
Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
VagabondMusashi escreveu:Nao me paree que entenderam o texto. Ele esta absolutamente correto : a unica coisa que importa eh o valor que se cria.
Discutir a semantica do que constitui meritocracia ou nao eh focar totalmente na coisa errada
Esse silogismo leva a crer que o professor deveria ganhar muito mais do que um apresentador de televisão.
Mas até o conceito do valor de algo é subjetivo, variável de pessoa para pessoa. Algo que tem valor para você talvez não tenha para mim, e vice versa.
Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
VagabondMusashi escreveu:Nao me paree que entenderam o texto. Ele esta absolutamente correto : a unica coisa que importa eh o valor que se cria.
Discutir a semantica do que constitui meritocracia ou nao eh focar totalmente na coisa errada
Mas Vagabond, eh obvio que o mercado recompensa valor criado. A critica que se fez eh que ele comeca com uma afirmativa errada:
"Meritocracia é uma palavra bonita. Não. É uma palavra que remete a uma coisa bonita: que cada um receba de acordo com seu mérito, que em geral é igual a esforço, dedicação; às vezes se inclui a inteligência."
E isso nao eh ao que meritocracia "remete" para quem entende o que meritocracia eh. Meritocracia define muito mais o que ela "nao eh" do que o que ela eh, ja que merito eh algo subjetivo e relativistico.
Era mais facil ele ter comecado dizendo que "As pessoas nao entendem o que eh meritocracia." E ai a logica dele nao estaria tentando desprovar o conceito, mas explicando o mesmo. Do jeito que esta parece que a meritocracia nao vigora, quando na verdade o que ele da de exemplo eh exatamente a meritocracia funcionando.

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Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Eu li uma vez um texto excelente sobre meritocracia e privilégio.
Um Professor pegou a lixeira da classe e colocou na frente, embaixo da lousa. Aí pediu para cada aluno arrancar uma folha do caderno e amassar.


O jogo era simples. Os alunos representavam o povo, e todos teriam a chance de ficar ricos e serem bem sucedidos, sendo que essa conquista seria simbolizada por acertar a bolinha de papel dentro do Cesto de Lixo, jogando sentado no seu lugar.


Obviamente, os estudantes do fundo da classe reclamaram que não era justo, que era muito mais difícil pra eles em relação aos que estavam na frente.

Bom, eles arremessaram. E como era previsível, a maioria dos que estavam nas primeiras fileira conseguiram "alcançar o sucesso". E alguns que estavam mais atrás, mesmo que em número muito menor, também conseguiram.

Então o Professor apontou o óbvio: quem estava na frente tinha muito mais chances de acertar, ainda que a oportunidade existisse pra todos.

E que ninguém nas primeiras fileiras havia reclamado de injustiça. Quem estava nas primeiras fileiras não tinha sequer visão desse privilégio que eles tinham, pois eles só enxergavam a distância entre eles e seu objetivo.

Um Professor pegou a lixeira da classe e colocou na frente, embaixo da lousa. Aí pediu para cada aluno arrancar uma folha do caderno e amassar.


O jogo era simples. Os alunos representavam o povo, e todos teriam a chance de ficar ricos e serem bem sucedidos, sendo que essa conquista seria simbolizada por acertar a bolinha de papel dentro do Cesto de Lixo, jogando sentado no seu lugar.


Obviamente, os estudantes do fundo da classe reclamaram que não era justo, que era muito mais difícil pra eles em relação aos que estavam na frente.

Bom, eles arremessaram. E como era previsível, a maioria dos que estavam nas primeiras fileira conseguiram "alcançar o sucesso". E alguns que estavam mais atrás, mesmo que em número muito menor, também conseguiram.

Então o Professor apontou o óbvio: quem estava na frente tinha muito mais chances de acertar, ainda que a oportunidade existisse pra todos.

E que ninguém nas primeiras fileiras havia reclamado de injustiça. Quem estava nas primeiras fileiras não tinha sequer visão desse privilégio que eles tinham, pois eles só enxergavam a distância entre eles e seu objetivo.


Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Nofun,
Na minha opiniao, isso nao eh "previlegio" no sentido que a meritocracia tenta evitar... Eh apenas oportunidade, ou seja voce estar numa condicao oportuna quando uma situacao se apresenta. O previlegio que a meritocracia tenta evitar seria voce delegar os alunos que vao sentar permanentemente na primeira fileira, e sempre jogar o mesmo jogo.
Na minha opiniao, isso nao eh "previlegio" no sentido que a meritocracia tenta evitar... Eh apenas oportunidade, ou seja voce estar numa condicao oportuna quando uma situacao se apresenta. O previlegio que a meritocracia tenta evitar seria voce delegar os alunos que vao sentar permanentemente na primeira fileira, e sempre jogar o mesmo jogo.

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Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Armlock, eu entendi, mas vejo diferente. Vejo essa história como uma metáfora de uma fotografia de um momento exato.armlock escreveu:Nofun,
Na minha opiniao, isso nao eh "previlegio" no sentido que a meritocracia tenta evitar... Eh apenas oportunidade, ou seja voce estar numa condicao oportuna quando uma situacao se apresenta. O previlegio que a meritocracia tenta evitar seria voce delegar os alunos que vão sentar permanentemente na primeira fileira, e sempre jogar o mesmo jogo.
Hoje, existem três garotos. Um deles estuda no Colégio Dante Alighieri, um dos melhores de SP, tempo integral, excelentes professores, ensino bilíngue, atividades complementares.
Outro estuda em uma escola pública em Pinheiros, pública mas bem organizada. Meio período, e tirando greves e faltas de professores, ele recebe uma boa educação.
E o terceiro estuda numa escola de periferia no Capão Redondo. Tráfico dentro da escola, péssimos professores, sem estrutura. Clima de medo o tempo todo. Sem lanche no intervalo.
Os três têm chance de chegar a presidente de uma multinacional? Sim. Temos diversos exemplos de CEOs que começaram como Office Boy na firma. Recentemente um aluno do Capão Redondo foi aceito em Harvard - http://g1.globo.com/educacao/noticia/20 ... d-eua.html" onclick="window.open(this.href);return false;
Mas sem dúvida nenhuma a chance do primeiro garoto ser bem sucedido é imensamente maior do que a do terceiro. Ele tem uma lista de privilégios enorme, que relativizam a meritocracia.

Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Mas note que isso nao tem nada demais. A meritocracia apenas estipula que voce tenha os meritos proprios. Como voce os obtem eh irrelevante.NoFunAtAll escreveu:
Armlock, eu entendi, mas vejo diferente. Vejo essa história como uma metáfora de uma fotografia de um momento exato.
Mas sem dúvida nenhuma a chance do primeiro garoto ser bem sucedido é imensamente maior do que a do terceiro. Ele tem uma lista de privilégios enorme, que relativizam a meritocracia.
Se voce for campeao de basquete porque voce nasceu alto, voce tambem tem previlegios sobre os que nasceram baixos e tem que treinar talvez muito mais que voce sem ter o mesmo sucesso. Ou se voce for um monstro de forte voce poderia ter (talvez) muito mais chances que quem nao eh para se tornar campeao de wrestling.
Se voce nasceu numa familia rica que te deu educacao, e voce for inteligente, voce tera mais chance de sucesso em alguma area que alguem que nasceu em familia pobre, eh inteligente, mas nao pode ter educacao. Ate ai isso nao vai contra meritocracia. Ela nao pergunta como voce obteve os seus "meritos".
No final das contas, a meritocracia nao eh sobre dar um ponto de partida igual para todos. Isso nao existe em nada na natureza.
Editado pela última vez por armlock em 19 Mar 2015 13:01, em um total de 1 vez.

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Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Sim, concordo totalmente. É que é muito comum ver pessoas enchendo a boca pra falar em "Meritocracia isso e aquilo", como se realmente todos partissem do mesmo ponto e tivessem chances iguais.armlock escreveu:
Mas note que isso nao tem nada demais. A meritocracia apenas estipula que voce tenha os meritos proprios. Como voce os obtem eh irrelevante.
Se voce for campeao de basquete porque voce nasceu alto, voce tambem tem previlegios sobre os que nasceram baixos e tem que treinar talvez muito mais que voce sem ter o mesmo sucesso. Ou se voce for um monstro de forte voce poderia ter (talvez) muito mais chances que quem nao eh para se tornar campeao de wrestling.
Se voce nasceu numa familia rica que te deu educacao, e voce for inteligente, voce tera mais chance de sucesso em alguma area que alguem que nasceu em familia pobre, eh inteligente, mas nao pode ter educacao. Ate ai isso nao vai contra meritocracia. Ela nao pergunta como voce obteve os seus "meritos".
No final das contas, a meritocracia nao eh sobre dar um ponto de partida igual para todos. Isso nao existe.

- Qui-Gon Jinn
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Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
Em um lugar onde a democracia e exercitada como nos EUA, eu ate acredito na meritocracia, mas no Brasil das capitânias hereditárias isso e simplório demais.
TEAM Sagraódio
Re: Não é a meritocracia; é o valor que se cria
[Minha opinião]
Esse texto é o resultado de um filósofo falando de mercado. Isso por si só já explica a falta de entendimento do assunto. O problema é básico, é conceitual. Os exemplos que ele deu só reforçam sua ignorância sobre o assunto em questão.
Sobre o que alguns discutiram posteriormente, vejo que tem gente confundindo um pouco as coisas, assumindo que a meritocracia abarcaria outros pontos. Meritocracia, na prática, é a valorização do esforço, dedicação da pessoa. Para isso, quem recompensa deve, necessariamente, calibrar sua régua para evitar os privilégios. Há inúmeras variáveis a serem consideradas. No mercado corporativo, por exemplo, as áreas de desenvolvimento organizacional avaliam os profissionais da empresa quanto à aderência às competências da empresa. Espera-se que um gestor tenha uma exigência maior em termos de aderência às competências, por conta de sua maturidade, responsabilidade, atribuições etc, o que é natural. Vc não pode exigir que um estagiário ou analista tenham as mesmas competências do gestor. Basta ver os comportamentos desdobrados a partir dessas competências. Normalmente não são os mesmos. Depois disso, usa-se a metodologia do 9Box (pelo menos em boa parte das empresas) para cruzar competências com performance (resultado entregue). Feito o cruzamento, os profissionais avaliados são classificados no eixo performance (+/-) e competência (+/-). Quem tiver no quadrante (+/+) é promovido, recebe aumento de salário etc etc. Quem aparecer no quadrante (-/-) quase sempre é demitido, pois esse enquadramento significa que o avaliado tem baixo potencial e baixa performance. A PLR (participação nos lucros e resultados) das empresas também é paga com base nesses critérios.
Essa é a prática.
Esse texto é o resultado de um filósofo falando de mercado. Isso por si só já explica a falta de entendimento do assunto. O problema é básico, é conceitual. Os exemplos que ele deu só reforçam sua ignorância sobre o assunto em questão.
Sobre o que alguns discutiram posteriormente, vejo que tem gente confundindo um pouco as coisas, assumindo que a meritocracia abarcaria outros pontos. Meritocracia, na prática, é a valorização do esforço, dedicação da pessoa. Para isso, quem recompensa deve, necessariamente, calibrar sua régua para evitar os privilégios. Há inúmeras variáveis a serem consideradas. No mercado corporativo, por exemplo, as áreas de desenvolvimento organizacional avaliam os profissionais da empresa quanto à aderência às competências da empresa. Espera-se que um gestor tenha uma exigência maior em termos de aderência às competências, por conta de sua maturidade, responsabilidade, atribuições etc, o que é natural. Vc não pode exigir que um estagiário ou analista tenham as mesmas competências do gestor. Basta ver os comportamentos desdobrados a partir dessas competências. Normalmente não são os mesmos. Depois disso, usa-se a metodologia do 9Box (pelo menos em boa parte das empresas) para cruzar competências com performance (resultado entregue). Feito o cruzamento, os profissionais avaliados são classificados no eixo performance (+/-) e competência (+/-). Quem tiver no quadrante (+/+) é promovido, recebe aumento de salário etc etc. Quem aparecer no quadrante (-/-) quase sempre é demitido, pois esse enquadramento significa que o avaliado tem baixo potencial e baixa performance. A PLR (participação nos lucros e resultados) das empresas também é paga com base nesses critérios.
Essa é a prática.
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