Mensagem
por Czar » 16 Abr 2015 02:10
Tenho alguns amigos trabalhando no caso, e o problema aí é que a história não fecha.
Ela foi presa após a polícia ter sido chamada para resolver uma briga entre vizinhos, começou no apartamento dela e a idosa se envolveu na discussão. O que não está claro é que raio ela está sendo acusada de ter feito com a idosa para uma abertura de inquérito por tentativa de homicídio. A idosa foi hospitalizada? Agredida? Houve lesão corporal?
Por que ela estava sendo transferida do CDP para a ala comum? Não tinha visto juiz, constituído advogado, nada. Mas até aí estamos falando de algo "comum" para pobre no Brasil.
O que não fecha mesmo é a sequência da agressão. Não existe precedente para que alguém, do nada, morda a orelha de um carcereiro e fica com ela durante uma hora dentro da boca. Isso só teria acontecido se a prisioneira já apresentasse um quadro de descontrole e agressividade, e aí voltamos ao ponto: se estava assim, pq movê-la? Pq não imobilizá-la e sedá-la, que é o procedimento padrão para estes casos?
Sobre a mordida em si, ainda mais nestas circunstâncias, é algo que costuma ocorrer, por exemplo, como defesa por alguém que está sofrendo um estupro. É uma reação muito extrema, um reflexo, não é comum mesmo para pessoas em total descontrole.
Aí temos a prova material do espancamento brutal que ela recebeu sob custódia. Prova difundida pelos próprios carcereiros, o que agrava ainda mais a situação. Vamos deixar uma coisa bem clara, poderia ser o maior criminoso do universo, ser espancado sofrendo múltiplas fraturas pela face, corpo e possíveis danos internos estando sob custódia recebe o nome de TORTURA. Não importa o que cidadãos raivosos pensem sobre o tratamento que pessoas devam receber, mas agentes do Estado não podem descumprir a lei para punir aqueles que não cumpriram a lei - e que alias, nem foram julgados e condenados ainda. É isso que nos separa da barbárie.
Pois bem, para obscurecer ainda mais o caso, a Secretaria de Segurança envia a responsável por políticas de diversidade sexual para o cárcere para gravar um depoimento estranhíssimo dela, ainda toda destroçada, dizendo que "não foi torturada". Ora, isso não tem o MENOR PRECEDENTE. Nunca aconteceu nada parecido. Para que o desespero em gravar isso, insisto, de alguém que ainda não teve nem advogado constituído?
E para fechar, a travesti permanece sob total isolamento, assim como todos os envolvidos no caso. Ninguém, defensoria, nada, consegue acesso a ela no hospital.
A tese das pessoas que estão acompanhando o caso de perto até aqui é de ela estava sendo torturada dentro do cárcere - a forma como os cabelos estão raspados são um grande indicativo disso, parece que foram sendo cortados lenta e gradualmente com uma tesoura, e não raspados como normalmente se faz para tirar a foto da matrícula, e diga-se de passagem, é uma prática comum de tortura contra travestis - e num ato de desespero mordeu o carcereiro. Toda a operação de encobrimento do caso, a forma como ele está sendo tratado pela Secretaria de Segurança - que alias, assumiu com agilidade incomum a frente da questão - só dão margem para pensar que existe muito mais coisa por trás desta história.
Portanto, antes de tirarmos qualquer conclusão, precisamos primeiramente dos fatos. Depois, que seja feito o devido processo legal, e que cada um responda judicialmente por aquilo que fez.
"Hétero com orgulho" deve ser igual a um alcoólatra que está "limpo" há vários dias. O "hétero com orgulho" levanta de manhã, se olha no espelho, pega uma caneta, ou algo similar, e aí depois faz uma marquinha numa tabelinha com o nome "Dias sem dar o rabo". Dependendo da situação, sai gritando pela casa: - Que orgulho! Mas que orgulho, cara. Já são 15 dias sem dar o rabo. Que orgulho!
Essa é minha definição de "hétero com orgulho".