excelente texto!!!
Todos sabemos o que é ser ateu, não é necessário debater isso aqui: não acreditar em deidades e ponto final. Mas será que ateísmo é só isso mesmo? Ou será que vai além disso, talvez para a busca de acumulação de conhecimentos, algum tipo de ativismo intrinseco ou mesmo algum posicionamento político? Vamos examinar um pouco esses temas, entre outros, e debater a posição que os ateus têm ou devam ter no mundo.
Todos temos de concordar que a busca por acumulação de conhecimentos é algo nobre e que, sem dúvida alguma, deve ser incentivada. Mais ainda quando quem faz isso pretende dividir esse conhecimento – seja atuando como professor, cientista ou mesmo como um simples blogger ou vloger. E pouco importa a área também: ciência, filosofia, matemática, línguas, etc. Mas isso deveria ser visto como “obrigação de todo ateu”?
Muitos ateus procuram, também, se envolver no ativismo de algum tipo de causa. Seja a causa do ateísmo em si, seja pela defesa dos direitos humanos, por direitos a minorias, etc. Novamente, isso tudo é ótimo. Quem tem tempo, disposição e quer fazer isso, ótimo. Estará ajudando imensamente na construção de uma sociedade melhor. Mas, ainda assim, isso deveria ser “obrigação de todo ateu”?
Toda pessoa – seja ela ateia ou não – que trafega pelo “mundo ateu” de alguma forma já deve ter cansado de ver afirmações como as seguintes:
Todo ateu tem que saber filosofia;
Todo ateu tem que saber ao menos o mínimo de ciências;
Todo ateu tem que se manifestar contra isso ou aquilo;
Todo ateu tem que ter determinada posição política…
“Todo ateu tem que isso”, “todo ateu tem que aquilo”… Mas será que tem mesmo? Ou será que “ser ateu” nada mais é do que ser apenas mais um ser humano, como qualquer outro? Existe algo de intrinseco ou obrigatório em ser ateu, além, talvez, de ter uma visão de mundo um pouco diferente da maioria?
Eu já achei que tivesse. Já achei que ateus deveriam ser exemplos nesse “novo mundo” que criamos diariamente, com cada uma de nossas ações. Exemplos de caráter, exemplos de sabedoria… Mas não somos melhores do que ninguém nesse mundo, nem mesmo do que os crentes. Apenas vemos as coisas de uma forma diferente, às vezes mais claras, outras, quem sabe, nem tanto. Somos tão falíveis como qualquer outro ser humano.
A única coisa que “temos que”, em minha opinião, é em aprender a sermos mais democráticos. Isso, contudo, não é um problema exclusivo nosso: as pessoas têm agido cada vez com mais autoritarismo. Talvez coisa de ano de eleições, não sei. Mas, infelizmente, é algo bastante difundido e presente em diversos grupos.
Temos que aprender a conviver com as diferenças, não apenas em relação a “não ateus”, mas principalmente em relação a nós mesmos, uns com os outros. Como qualquer ser humano, temos de nos dar o direito de buscar ou não o conhecimento, na área que acharmos melhor. E só. Temos que nos dar o direito de praticar ativismo quando e em que área bem entendermos também. O mesmo vale para a política: sendo ateu, você pode ser de direita, esquerda, centro, de cima ou de baixo como bem preferir, ou mesmo sequer tomar posições fixas nisso tudo. É direito de todo ser humano, portanto é direito nosso também.
Mas isso tudo não é apenas nosso direito. Isto é, não podemos exigir isso apenas para nós mesmos. Tem de ser nosso dever também, em dar os mesmos direitos para os demais – ateus ou não. A palavra aqui, acho, é tolerância. Não absoluta e inquestionável, até porque certas coisas não são toleráveis, mas em boa medida a tolerância é desejável. Mas essa é apenas minha opinião.
Enfim, se existe alguma “obrigação” aqui, esta com certeza é aquela única que compartilhamos com todos os demais seres humanos: a de viver bem, o melhor possível, e sermos felizes. O resto vamos vendo, conforme a vida passa.
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