O novo imbecil coletivo - Olavo de Carvalho

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liverblow
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O novo imbecil coletivo - Olavo de Carvalho

Mensagem por liverblow » 18 Mai 2015 13:48

O novo imbecil coletivo

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 30 de outubro de 2012

Quando entre os anos 80 e 90 comecei a redigir as notas que viriam a compor O Imbecil Coletivo, os personagens a que ali eu me referia eram indivíduos inteligentes, razoavelmente cultos, apenas corrompidos pela auto-intoxicação ideológica e por um corporativismo de partido que, alçando-os a posições muito superiores aos seus méritos, deformavam completamente sua visão do universo e de si mesmos. Foi por isso que os defini como “um grupo de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a finalidade de imbecilizar-se umas às outras”.

Essa definição já não se aplica aos novos tagarelas e opinadores, que atuam sobretudo através da internete que hoje estão entre os vinte e os quarenta anos de idade. Tal como seus antecessores, são pessoas de inteligência normal ou superior separadas do pleno uso de seus dons pela intervenção de forças sociais e culturais. A diferença é que essas forças os atacaram numa idade mais tenra e já não são bem as mesmas que lesaram os seus antecessores.

Até os anos 70, os brasileiros recebiam no primário e no ginásio uma educação normal, deficiente o quanto fosse. Só vinham a corromper-se quando chegavam à universidade e, em vez de uma abertura efetiva para o mundo da alta cultura, recebiam doses maciças de doutrinação comunista, oferecida sob o pretexto, àquela altura bastante verossímil, da luta pela restauração das liberdades democráticas. A pressão do ambiente, a imposição do vocabulário e o controle altamente seletivo dos temas e da bibliografia faziam com que a aquisição do status de brasileiro culto se identificasse, na mente de cada estudante, com a absorção do estilo esquerdista de pensar, de sentir e de ser – na verdade, nada mais que um conjunto de cacoetes mentais.

O trabalho dos professores-doutrinadores era complementado pela grande mídia, que, então já amplamente dominada por ativistas e simpatizantes de esquerda, envolvia os intelectuais e artistas de sua preferência ideológica numa aura de prestígio sublime, ao mesmo tempo que jogava na lata de lixo do esquecimento os escritores e pensadores considerados inconvenientes, exceto quando podia explorá-los como exceções que por sua própria raridade e exotismo confirmavam a regra.

Criada e mantida pelas universidades, pelo movimento editorial e pela mídia impressa, a atmosfera de imbecilização ideológica era, por assim dizer, um produto de luxo, só acessível às classes média e alta, deixando intacta a massa popular.

A partir dos anos 80, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de “doutrinação” explícita.

Do ponto de vista do aprendizado, do rendimento escolar dos alunos, e sobretudo da alfabetização, os resultados foram catastróficos.

Não há espaço aqui para explicar a coisa toda, mas, em resumidas contas, é o seguinte. Todo idioma compõe-se de uma parte mais ou menos fechada, estável e mecânica – o alfabeto, a ortografia, a lista de fonemas e suas combinações, as regras básicas da morfologia e da sintaxe -- e de uma parte aberta, movente e fluida: o universo inteiro dos significados, dos valores, das nuances e das intenções de discurso. A primeira aprende-se eminentemente por memorização e exercícios repetitivos. A segunda, pelo auto-enriquecimento intelectual permanente, pelo acesso aos bens de alta cultura, pelo uso da inteligência comparativa, crítica e analítica e, last not least, pelo exercício das habilidades pessoais de comunicação e expressão. Sem o domínio adequado da primeira parte, é impossível orientar-se na segunda. Seria como saltar e dançar antes de ter aprendido a andar. É exatamente essa inversão que o socioconstrutivismo impõe aos alunos, pretendendo que participem ativamente – e até criativamente – do “universo da cultura” antes de ter os instrumentos de base necessários à articulação verbal de seus pensamentos, percepções e estados interiores.

O socioconstrutivismo mistura a alfabetização com a aquisição de conteúdos, com a socialização e até com o exercício da reflexão crítica, tornando o processo enormemente complicado e, no caminho, negligenciando a aquisição das habilidades fonético-silábicas elementares sem as quais ninguém pode chegar a um domínio suficiente da linguagem.

O produto dessa monstruosidade pedagógica são estudantes que chegam ao mestrado e ao doutorado sem conhecimentos mínimos de ortografia e com uma reduzida capacidade de articular experiência e linguagem. Na universidade aprendem a macaquear o jargão de uma ou várias especialidades acadêmicas que, na falta de um domínio razoável da língua geral e literária, compreendem de maneira coisificada, quase fetichista, permanecendo quase sempre insensíveis às nuances de sentido e incapazes de apreender, na prática, a diferença entre um conceito e uma figura de linguagem. Em geral não têm sequer o senso da “forma”, seja no que lêem, seja no que escrevem.

Aplicado em escala nacional, o socioconstrutivismo resultou numa espetacular democratização da inépcia, que hoje se distribui mais ou menos equitativamente entre todos os jovens brasileiros estudantes ou diplomados, sem distinções de credo ou de ideologia. O novo imbecil coletivo, ao contrário do antigo, não tem carteirinha de partido.

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Re: O novo imbecil coletivo - Olavo de Carvalho

Mensagem por JackmAtAll » 18 Mai 2015 14:49

Mestre Olavo merece um tópico
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Re: O novo imbecil coletivo - Olavo de Carvalho

Mensagem por Gugu_ » 18 Mai 2015 14:50

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Buda
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Re: O novo imbecil coletivo - Olavo de Carvalho

Mensagem por Buda » 18 Mai 2015 15:11

Não sou autoridade no assunto educação
Mas o fato e que muitos colégios de hoje são um lixo
Meu afilhado estuda num colégio top no Rj e que tem uma colocação boa no enem
E eles adotam essa metodologia construtivista
E vou te contar que e tragicômica
O garoto aprende errado e fica escrevendo errado por anos e só depois e aí passa a aprender o certo
E muito estranho
No final do ano tem um monte de trabalho pra evitar reprovações

As universidades estão ruins
Em direito eu posso falar
A faculdade praticamente não serve para nada
O cara tem que ser autodidata
As pos graduações idem
Um conhecido que faz mestrado foi obrigado a fazer um trabalho sobre uma tese isolada de um autor que onorientador dele do mestrado gosta
E algo que ninguém conhece, ninguém aplica , mas o cara e forçado a estudar e fazer uma trabalho sobre aquilo

O canotilho quando veio ao Brasil criticou muito isso
Essa falta de liberdade para criar novas teses, expor novas análises e interpretações
E disse que esse ensino engessado e ditatorial e o responsável pela falta de produtividade intelectual do direito no Brasil

O ensino no Brasil, ate onde eu conheço, virou uma mera reprodução daquilo que o professor entende ser a verdade absoluta
Ou seja, não ah liberdade para analisar e pensar, logo não há espaço para a inteligência
Tudo de resume a doutrinação e memorização

Isso o que eu disse e um fato
Não e uma opinião minha

Agora o que o olavo faz e ver marxismo em tudo isso
Aí já são outros 500
Tem muita literatura e documentários sobre isso
Ele se fundamenta neles
Louco ele não e
Mas dai a falar que tudo e verdade, também não sei

A questão é: porque é que a educação está assim?
E coincidência?
Uma série de equívocos coordenados?
Ou há uma teoria que explique essa reunião organizada de acontecimentos?

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Holden
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Re: O novo imbecil coletivo - Olavo de Carvalho

Mensagem por Holden » 18 Mai 2015 15:16

"Na universidade aprendem a macaquear o jargão de uma ou várias especialidades acadêmicas que, na falta de um domínio razoável da língua geral e literária, compreendem de maneira coisificada, quase fetichista, permanecendo quase sempre insensíveis às nuances de sentido e incapazes de apreender, na prática, a diferença entre um conceito e uma figura de linguagem. Em geral não têm sequer o senso da “forma”, seja no que lêem, seja no que escrevem."

É engraçado porque isso descreve basicamente todo o modo de pensar e debater da direita neoconservadora que o idolatra.
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liverblow
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Re: O novo imbecil coletivo - Olavo de Carvalho

Mensagem por liverblow » 18 Mai 2015 15:25

Buda escreveu:Não sou autoridade no assunto educação
Mas o fato e que muitos colégios de hoje são um lixo
Meu afilhado estuda num colégio top no Rj e que tem uma colocação boa no enem
E eles adotam essa metodologia construtivista
E vou te contar que e tragicômica
O garoto aprende errado e fica escrevendo errado por anos e só depois e aí passa a aprender o certo
E muito estranho
No final do ano tem um monte de trabalho pra evitar reprovações

As universidades estão ruins
Em direito eu posso falar
A faculdade praticamente não serve para nada
O cara tem que ser autodidata
As pos graduações idem
Um conhecido que faz mestrado foi obrigado a fazer um trabalho sobre uma tese isolada de um autor que onorientador dele do mestrado gosta
E algo que ninguém conhece, ninguém aplica , mas o cara e forçado a estudar e fazer uma trabalho sobre aquilo

O canotilho quando veio ao Brasil criticou muito isso
Essa falta de liberdade para criar novas teses, expor novas análises e interpretações
E disse que esse ensino engessado e ditatorial e o responsável pela falta de produtividade intelectual do direito no Brasil

O ensino no Brasil, ate onde eu conheço, virou uma mera reprodução daquilo que o professor entende ser a verdade absoluta
Ou seja, não ah liberdade para analisar e pensar, logo não há espaço para a inteligência
Tudo de resume a doutrinação e memorização

Isso o que eu disse e um fato
Não e uma opinião minha

Agora o que o olavo faz e ver marxismo em tudo isso
Aí já são outros 500
Tem muita literatura e documentários sobre isso
Ele se fundamenta neles
Louco ele não e
Mas dai a falar que tudo e verdade, também não sei

A questão é: porque é que a educação está assim?
E coincidência?
Uma série de equívocos coordenados?
Ou há uma teoria que explique essa reunião organizada de acontecimentos?
Esse processo de emburrecimento é visível a todos, e tem gente que nega.
“Eu e meu público nos entendemos perfeitamente. Eles não ouvem o que digo, e eu não digo o que eles desejam ouvir”. - Karl Kraus

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