Axe_Spartan escreveu:
E aí magrinho, os dois do Owen são em pdf, em inglês.
Então. esse segundo livro do Matt Bissonnette já foi lançado no brasil com o titulo "Não há heróis", recomendo muito a leitura. Segue um trecho para apreciação.
5. Voltar a salvo não está garantido
Mentalidade
Pus o fuzil atrás de mim e comecei a subir a escada de metal.
Ouvia-o raspar na lateral do prédio enquanto tentava alcançar o próximo degrau.
À minha frente, meu companheiro já tinha alcançado o telhado e vencido a pequena mureta do parapeito. Cheguei ao telhado segundos depois, carregando mais de trinta quilos de coletes à prova de balas e equipamento. Abaixo, vi meus companheiros de equipe tomarem posição lentamente à porta de entrada do alvo.
Éramos a “equipe de telhado”, o que significava vigiar do alto. Estávamos em vias de atacar o refúgio de um insurgente e a tarefa
da minha equipe era subir ao telhado e dar cobertura ao assalto. Se conseguíssemos entrar no prédio pelo telhado, assaltaríamos o andar de cima enquanto o elemento terrestre assaltaria o de baixo. Teoricamente, capturaríamos os vilões no meio do caminho, antes que tivessem tempo de oferecer resistência — ou assim esperávamos.
Era 2006, o Iraque era a grande prioridade. A unidade do Exército que fora destacada para atuar no país sofrera sérias baixas e precisava de reposições. Eu estava havia mais ou menos um mês na minha primeira missão, com minha própria unidade, quando minha equipe de seis homens foi mandada do Afeganistão para ajudar no Iraque. De início, achávamos que nossa equipe seria anexada como uma unidade completa, mas ao chegar fomos separados e enviados para diferentes equipes.
Tomamos o avião para a seção militar do Aeroporto Internacional de Bagdá e seguimos de carro para a Zona Verde, área murada da capital ocupada pelas forças da Coalizão. Eu tinha estado no Iraque com
a Equipe Seal Cinco, de modo que tudo me pareceu familiar. Já no fim daquela missão, eu tinha operado em Bagdá. Nessa época, éramos todos novatos, com pouca ou nenhuma experiência de combate. Mas ao desembarcar em Bagdá agora, a sensação era diferente. Havia uma energia no ar, uma confiança que impregnava os militares por causa da nossa experiência coletiva de combate.
Eu ainda era muito novo em minha equipe e nunca tinha trabalhado com o Exército, mas ouvira rumores de que as duas forças
não se davam bem. Havia sempre uma competição, provavelmente motivada por nosso afã de sermos os melhores. Havia competições
de tiro e outros exercícios que sempre pareciam jogar as duas unidades uma contra a outra. Na minha cabeça, eu esperava ver ou viver essa tensão, mas ela nunca se manifestou. Todo o velho drama sobre qual das unidades era melhor desapareceu quando a guerra começou.
Éramos uma só equipe. E a equipe se abriu, puxou-me para dentro e fez de mim um dos seus. Ninguém queria saber qual das unidades
atirava melhor quando estávamos todos juntos lutando contra um inimigo comum.
Quando desembarquei, Jon, meu novo líder de equipe, veio falar comigo no centro de operações e me levou para o meu quarto. Também me mostrou o refeitório e a sala de ginástica e me apresentou aos demais companheiros de equipe. Minha nova equipe parecia formada por pessoas muito parecidas com os Seals da velha equipe. Usávamos o mesmo equipamento, as mesmas táticas e a mesma estrutura de comando. Eles eram Exército, eu era Marinha, e havia algumas diferenças culturais, mas a constituição básica de todos era bem familiar.
Jon me deu as boas-vindas e me incluiu em todos os planejamentos.
Nunca houve um momento em que eu não me sentisse parte da equipe, e, mais importante ainda, eu tinha a impressão de que Jon e
os demais estavam dispostos a ouvir minha opinião.
Certa vez, estávamos planejando uma missão poucas semanas depois que cheguei. Minha equipe fora designada para descer no
telhado do alvo num mh-6 Little Bird e desobstruir a partir dali. Jon estava preparando o manifesto, a lista dos companheiros que participariam da missão.
“Desta vez o espaço é apertado, rapazes”, disse Jon.
Ele estava reduzindo os números para ter certeza de que ficaríamos dentro do limite de peso. Eu esperava ser eliminado da missão.
Era o recém-chegado e, ainda por cima, Seal. O planejamento foi concluído e o resto da equipe deixou o centro de operações. Peguei
meu caderno e voltei para o quarto.
“Ei”, disse Jon, quando eu ia saindo. “Você está dentro hoje à noite.”
Mais tarde, vi Jon conversar com o outro cara novo na equipe. Ele ia sobrar. Da vez seguinte que ultrapassamos o limite de peso, fiquei de fora. Jon sempre tomou o cuidado de fazer trocas entre mim e o outro recém-chegado e garantir que eu recebesse tanto amor quanto o resto de sua equipe. Sim, eu ainda era considerado novo na unidade e nas equipes do Exército, mas era bom saber que Jon pensava em mim como parte da equipe.
Depois das primeiras missões, eu me integrei ao grupo, deixando de ser visto como o Seal que fora mandado como reposição simbólica.
Era apenas um companheiro de equipe, um dos dois recém-chegados.
Eu acabara de conhecer aqueles sujeitos, mas já confiava neles absolutamente, e eles por sua vez tinham a mesma confiança em
mim. Eu sabia que seriam capazes de arriscar a vida para salvar a minha, e faria o mesmo por eles. Atribuo a Jon o mérito de ter tornado a transição tão suave. Foi um dos melhores líderes com quem trabalhei nas forças armadas. Não contava com o respeito de sua equipe e dos outros só porque era o chefe. Conquistou o respeito de todos pelo caráter, pela capacidade de liderança e pela calma em combate. Parecia que nada o perturbava. Imediatamente passei a ver nele alguém que
valia a pena imitar.
Percebi, ao longo da minha carreira, que toda unidade de operações especiais tinha a mesma mentalidade. Éramos todos feitos do
mesmo material. Começamos com um sentido de objetivo. No passado, e em tempos de paz, havia uma rivalidade entre as unidades. Mas, quando o fogo começou, essa rivalidade foi descartada em favor do trabalho de equipe, porque, se havia uma coisa indiscutível para nós, era a necessidade de completar a missão e voltar para casa a salvo.
Se compararmos uma equipe de operações especiais — Seals, Forças, Especiais, Rangers e o comando de salvamento de paraquedistas e controladores de combate da Força Aérea — a um barco, todo mundo rema. Dos oficiais aos recém-chegados, todos são treinados para cuidar da equipe em primeiro lugar, e fazer o que for necessário para realizar a missão. Vi a mesma mentalidade quando trabalhei nas unidades de operações especiais internacionais.
Toda unidade em que trabalhei ou treinei tinha isso em comum. Alguns equipamentos ou táticas podiam ser um pouco diferentes.
Algumas unidades tinham brinquedos melhores, mas no fim das contas não fazia diferença ter o fuzil mais caro ou treinamento especial.
Todos nos oferecemos como voluntários para participar dos treinamentos mais duros que podíamos encontrar em nossos respectivos
países. Todos aprendemos a ir bem além dos nossos limites mentais e físicos.
Unidades como os Seals e outras unidades de operações especiais existem desde que a guerra foi inventada. Os gregos tinham unidades especiais, e o exército de George Washington usou atiradores especiais
durante a Revolução Americana.
Mas só depois da Segunda Guerra Mundial os oficiais começaram a inventar maneiras de selecionar e treinar forças de operações
especiais. E o primeiro passo foi sempre encontrar pessoas com a mentalidade certa para alcançar o objetivo comum da equipe. Mentalidade é o denominador comum.
Charlie Beckwith, quando chegou ao Vietnã em 1965, foi posto no comando do “Projeto Delta — Destacamento b-52”. A unidade de
reconhecimento foi criada para obter informações de inteligência na Trilha Ho Chi Minh e no Vietnã do Sul. Beckwith dispensou a maioria dos soldados da unidade quando assumiu o comando e começou
a recrutar reposições usando um folheto de propaganda.
precisa-se: De voluntários para o Projeto Delta. Garantia de medalha, ou saco de defunto, ou ambos. Requisitos: precisa ser voluntário. Precisa estar no país há pelo menos seis meses. Precisa ter um cib (Crachá de Infantaria de Combate). Precisa ter pelo menos a patente de sargento — do contrário nemapareça para falar comigo.
Ele queria encontrar sujeitos como os meus companheiros de equipe, que tinham persistência suficiente para nunca desistir e o
impulso obsessivo de cumprir a missão. Partindo da mentalidade do folheto, Beckwith mais tarde criou com base no
que aprendera com o sas [Serviço Aéreo Especial] britânico. Mas os militares não são o único exemplo. Ernest Shackleton, que liderou
três expedições britânicas à Antártica nos anos 1900, pôs, segundo consta, um anúncio num jornal londrino procurando homens dessa
espécie.
Precisam-se de homens para viagem perigosa. Salário baixo, frio terrível, longas horas de completa escuridão. Voltar a salvo não está garantido. Honrarias e reconhecimento em caso de êxito.
Eu teria me candidatado ao Projeto Delta de Beckwith e à expedição
de Shackleton.