Uma empresa é afastada da concorrência porque teve problemas com os Correios. PQP, mas eu me pergunto como uma empresa pode vender serviços para os correios e trilhos para uma ferrovia. Depois uma empresa nanica se associa com uma chinesa para oferecer trilhos de baixa qualidade. Esse país quebrou e ainda não percebemos.Estatal compra trilhos, mas fica sem dinheiro para finalizar ferrovias
Alegando não ter recursos, a Valec, estatal federal que cuida de ferrovias, aprovou uma norma que vai priorizar o pagamento de trilhos em detrimento de outros compromissos, incluindo até as obras para preparar as vias para instalar o material.
A decisão vai afetar ainda mais o cronograma de conclusão de duas linhas férreas, a Norte-Sul e a Oeste-Leste.
Empresas que trabalham em trechos dessas duas ferrovias começaram a reduzir o ritmo das obras no fim do ano passado, em consequência do atraso nos pagamentos pelo governo.
Agora, sem dinheiro para tocar as obras de infraestrutura das vias, a Valec pode ficar com um estoque de trilhos, mas sem estrutura para instalá-los, o que torna praticamente impossível a entrega dos trechos das linhas férreas no próximo ano. Inicialmente, essas obras deveriam ter sido concluídas em 2012.
O trecho da Norte-Sul entre Goiás e São Paulo faria finalmente a ferrovia justificar seu nome, unindo as vias férreas dos dois extremos do país. Sem ele, perdem principalmente produtores agrícolas da região central do país. No caso da Oeste-Leste, a ferrovia escoará a produção de uma mina de ferro no interior da Bahia até o litoral.
A Lei de Licitações determina que os pagamentos feitos pelos órgãos do governo devem seguir a ordem de chegada, proibindo assim que alguma empresa seja priorizada. A Valec alega que a lei permite a priorização "em casos excepcionai".
A bilionária e polêmica compra dos trilhos para as ferrovias Norte-Sul e Oeste-Leste foi considerada um caso excepcional pela estatal.
Nos bastidores, a Folha apurou que empresários do setor estranharam a decisão. Eles sugerem a existência de irregularidades e suspeitam de favorecimento na medida.
ATRASO
A compra dos trilhos era para ter sido realizada em 2012, mas atrasou porque uma das empresas que seriam contratadas, a Dismaf, foi impedida de fornecer para o serviço público por descumprimento de contrato com os Correios.
Uma nova concorrência foi aberta em 2013, e a vencedora de 79% do contrato foi uma empresa nanica de Minas Gerais, a RMC, que se associou ao grupo chinês Pangnag, que produz trilhos e que também era associado à Dismaf.
A investigação de direcionamento da concorrência, na época estimada em R$ 942 milhões, atrasou a assinatura dos contratos, o que só ocorreu em 2014.
Os grupos RCM/Pangnag e Trop Comércio/Comerport são os fornecedores dos trilhos para a Valec. O material já está custando R$ 1,3 bilhão por causa da desvalorização do real desde o ano passado.
Essas empresas ainda têm a receber quase R$ 900 milhões desses contratos.
O problema é que, com os cortes orçamentários anunciados no mês passado, o caixa da Valec caiu para R$ 1,8 bilhão. Para terminar as obras de infraestrutura das duas ferrovias, a empresa ainda precisaria de R$ 4,4 bilhões. A estatal concluiu que a conta não fecha.
Por isso, a diretoria da Valec emitiu notas técnicas e pareceres jurídicos para justificar a priorização do pagamento dos trilhos pelo menos até novembro de 2015.
A alegação é que, se eles não forem pagos, os contratos serão rescindidos. A dificuldade em contratar uma outra fornecedora é, segundo a Valec, o motivo da priorização dessas despesas.
TRILHO MOLE
Além dos atrasos nas compras dos trilhos, a Valec já teve outros problemas com os materiais importados.
Relatório do próprio Ministério dos Transportes, de 2013, mostrou que parte do material comprado era de baixa qualidade, o que comprometia a quantidade de carga a ser transportada e a segurança da via Norte-Sul.
Para não chamar de moles os trilhos de aço importados da China, os técnicos do ministério afirmaram que o material tinha "baixa dureza".
A falta de qualidade foi identificada mesmo sem a inauguração da via. Os técnicos encontraram o aço com vários defeitos. Havia partes se despedaçando e manchas que indicavam que os trilhos poderiam trincar. A fornecedora negou problemas com o material entregue.
Economia - Tópico Oficial
Re: Economia - Tópico Oficial
Resolvi postar no tópico de economia, mas tbm caberia no de política. Depois as pessoas não entendem porque desperdiçamos tantos recursos e estamos nessa crise:
Re: Economia - Tópico Oficial
Stiglitz desmascara o falso êxito das políticas de “austeridade”
publicado em 20 de novembro de 2014 às 11:08
DilmaMerkel2
Foto: EBC
“Ajuste fiscal”? Por que não seguir a Europa
Desemprego, recessão, crise profunda da democracia. O Nobel de Economia Joseph Stiglitz desmascara o falso êxito das políticas de “austeridade” – as mesmas que conservadores querem no governo Dilma
no Outras Palavras, via Brasil em Debate
Um mito, acompanhado por uma fieira de jargões, espalha-se com rapidez no Brasil pós-eleições: o de que precisamos de um “ajuste fiscal”, de um “aperto de cintos”, para “recolocar ordem na economia”. Após um período de “descontrole” das contas públicas e “gastança”, os “agentes econômicos” (leia-se grandes bancos e empresas) teriam “perdido a confiança” no Estado e deixado de investir. Para seduzi-los novamente, seria preciso voltar às políticas mais ortodoxas. Elevação das taxas de juros. Corte de investimentos públicos. Contenção do salário mínimo, da Bolsa Família e de direitos previdenciários como o seguro-desemprego.
Repetido como mantra, esse discurso tem encontrado pouca resistência. Aécio Neves, que o sustentou durante a campanha eleitoral, foi derrotado pelos eleitores — num segundo turno em que Dilma investiu, para vencer, no tema de “Mais” mudanças e direitos. Porém, fechadas as urnas, foi como se elas nada tivessem dito. A mídia apresenta o “ajuste fiscal” como se não fosse uma opção política — mas uma necessidade objetiva e inescapável. A própria presidente reeleita pareceu abandonar, logo depois da vitória, seu discurso. Ainda em outubro, o Banco Central elevou as taxas de juros. Em 6 de novembro, ao conceder entrevista a oito veículos da velha mídia, Dilma anunciou corte de gastos. Um dia depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que o governo já os prepara.
Mas o “ajuste fiscal” é uma escolha tão óbvia, para os governantes, como mobilizar as equipes de Defesa Civil, em caso de tragédia? No texto a seguir, Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, demonstra que não. Ele examina o caso da Europa. Lá, com nome de “austeridade”, políticas de corte de direitos sociais e desmonte de serviços públicos estão sendo adotadas desde 2009. Cinco anos depois, os economistas conservadores veem sinais de “sucesso”. Stiglitz zomba. Todas as crises terminam um dia, ele lembra. Ao fazer o balanço, o que importa é aferir que sacrifícios foram exigidos, das sociedades, para enfrentá-las. Na Europa, o panorama é trágico. Além da corrosão dos direitos sociais, houve desgaste grave da democracia — desmoralizada quando os governos prometem “Mais” e entregam “mais do mesmo”. E não é só: voltam a surgir no horizonte sinais de que todo o sacrifício foi inútil. Mesmo países como a Alemanha parecem enfrentar, agora, estagnação — e contribuem para jogar lenha na fogueira de uma possível tempestade econômica mundial.
A redefinição da política econômica tornou-se um tema central. Árido aparentemente — porque interessa ao pensamento conservador reduzi-lo a algo para especialistas — ele pode ser compreendido por todos que se disponham a algum esforço. Vale a pena. Das escolhas que o Brasil fizer, neste terreno, dependerá, também, nosso futuro político, social e cultural. “Outras Palavras” insistirá no assunto. Vale, por enquanto, escutar Stiglitz:
por Joseph Stiglitz
“Se os fatos não se encaixam na teoria, mude a teoria”, diz o velho ditado. Mas muito comumente é mais fácil manter a teoria e mudar os fatos. É o que a chanceler alemã Angela Merkel e outros líderes europeus pró-austeridade parecem pensar. Mesmo com os fatos a um palmo do nariz, eles continuam negando a realidade.
A austeridade falhou. Mas seus defensores estão prontos a declarar vitória com base na evidência mais fraca de todas. A economia não está mais em colapso; logo, as medidas de austeridade só podem estar funcionando! Mas se essa for a referência, poderíamos dizer que pular de um penhasco é a melhor forma de descer uma montanha.
Toda crise chega a um fim. O sucesso não deve ser medido pelo fato de a recuperação em algum momento acontecer — mas pelo tempo que se demora para chegar a ela e por quão extensos são os danos causados pelo tombo. Vista nesses termos, a austeridade tem sido um desastre completo e absoluto. Isso está se tornando cada vez mais visível à medida em que as economias da União Europeia voltam a encarar estagnação — ou, talvez, um triplo mergulho em recessão, com o desemprego mantendo-se em altos patamares e o PIB real per capita ainda abaixo dos níveis pré-crise, em muitos países. Mesmo nas economias de melhor desempenho, como a Alemanha, o crescimento desde 2008 tem sido tão lento que, em qualquer outra circunstância, seria considerado desanimador.
Os países mais atingidos estão em depressão. Não existe outra palavra para descrever economias como a da Espanha ou da Grécia, onde quase uma em cada quatro pessoas – e mais de uma em cada duas, entre os jovens – não consegue encontrar trabalho. Dizer que o remédio está funcionando porque o índice de desemprego decresceu em alguns pontos percentuais, ou porque se pode ter um vislumbre de crescimento magro, é semelhante a um barbeiro medieval que diz que a sangria está funcionando, já que o paciente ainda não morreu.
Extrapolando o crescimento europeu modesto a partir dos anos 80, meus cálculos demonstram que a produção na zona do euro hoje está mais de 15% abaixo do ponto em que estaria, se a crise financeira de 2008 não tivesse acontecido. Isso implica uma perda de 1,6 trilhão de dólares apenas esse ano, e uma perda acumulada de mais de US$ 6,5 trilhões. Ainda mais perturbador é que essa diferença está aumentando e não diminuindo (como se esperaria depois de uma crise, quando o crescimento é tipicamente mais rápido do que normalmente conforme a economia retoma terreno perdido).
Em outras palavras, o longo período de recessão está diminuindo o crescimento potencial da Europa. Jovens que deveriam estar desenvolvendo habilidades não estão. Há evidências contundentes de seus rendimentos, ao longo da vidas, serão muito menores do que se vivessem num período de pleno emprego.
Enquanto isso, a Alemanha força outros países a seguir políticas que enfraquecem suas economias – e suas democracias. Quando os cidadãos votam repetidamente por uma mudança política (e poucas políticas importam mais aos cidadãos que aquelas que afetam seus padrões de vida), mas ficam sabendo que estes temas são decididos em outro lugar, e que, portanto, sua escolha é inútil, tanto a democracia quanto a fé no projeto europeu são corroídas.
A França votou para mudar de rumo três anos atrás. Em vez disso, os eleitores receberam outra dose de austeridade pró-corporações. Uma das propostas mais antigas na economia é o multiplicador do orçamento equilibrado. Significa que aumentar conjuntamente os impostos e as despesas estimula a economia. E se os impostos incidem sobre os ricos e as despesas beneficiam as maiorias, o multiplicador pode ser particularmente alto. Mas o dito governo socialista francês está reduzindo a tributação das empresas e cortando gastos – uma receita quase garantida para enfraquecer a economia, mas também para ganhar elogios da Alemanha…
A esperança, afirma-se, é que impostos mais baixos para pessoas jurídicas estimulem o investimento. Isso é pura bobagem. O que está reduzindo o investimento (tanto nos Estados Unidos como na Europa) é a ausência de demanda, não os impostos elevados. Na verdade, como a maior parte dos investimentos é financiada por dívidas, e como o pagamentos de juros é dedutível dos impostos, o nível de tributação das empresas tem pouco efeito na decisão de investir.
Da mesma forma, a Itália está sendo encorajada a acelerar a privatização. Mas o primeiro ministro Matteo Renzi tem o bom senso de reconhecer que vender empresas a preço de banana faz pouco sentido. Também as decisões do setor privado deveriam ser influenciadas por considerações de longo prazo, não por exigências financeiras de curto prazo. A decisão deveria ser baseada em onde essas atividades são realizadas de forma mais eficiente, servindo aos interesses da maioria dos cidadãos da melhor forma possível.
A privatização dos sistemas de Previdência, por exemplo, já provou ser dispendiosa naqueles países que a experimentaram. O sistema de saúde quase inteiramente privado norte-americano é o menos eficiente do mundo. Existem questões difíceis, mas é fácil demonstrar que vender empresas estatais por preços baixos não é uma boa forma de aumentar a força financeira a longo prazo.
Todo o sofrimento na Europa – infligido a serviço do euro – é ainda mais trágico por ser desnecessário. Apesar das evidências de que as medidas de austeridade não funcionam continuarem se acumulando, a Alemanha e outros falcões dobraram a aposta, apostando o futuro da Europa em uma teoria há muito desacreditada. Por que fornecer aos economistas mais fatos para provar isso?
Tradução: Mariana Bercht Ruy
publicado em 20 de novembro de 2014 às 11:08
DilmaMerkel2
Foto: EBC
“Ajuste fiscal”? Por que não seguir a Europa
Desemprego, recessão, crise profunda da democracia. O Nobel de Economia Joseph Stiglitz desmascara o falso êxito das políticas de “austeridade” – as mesmas que conservadores querem no governo Dilma
no Outras Palavras, via Brasil em Debate
Um mito, acompanhado por uma fieira de jargões, espalha-se com rapidez no Brasil pós-eleições: o de que precisamos de um “ajuste fiscal”, de um “aperto de cintos”, para “recolocar ordem na economia”. Após um período de “descontrole” das contas públicas e “gastança”, os “agentes econômicos” (leia-se grandes bancos e empresas) teriam “perdido a confiança” no Estado e deixado de investir. Para seduzi-los novamente, seria preciso voltar às políticas mais ortodoxas. Elevação das taxas de juros. Corte de investimentos públicos. Contenção do salário mínimo, da Bolsa Família e de direitos previdenciários como o seguro-desemprego.
Repetido como mantra, esse discurso tem encontrado pouca resistência. Aécio Neves, que o sustentou durante a campanha eleitoral, foi derrotado pelos eleitores — num segundo turno em que Dilma investiu, para vencer, no tema de “Mais” mudanças e direitos. Porém, fechadas as urnas, foi como se elas nada tivessem dito. A mídia apresenta o “ajuste fiscal” como se não fosse uma opção política — mas uma necessidade objetiva e inescapável. A própria presidente reeleita pareceu abandonar, logo depois da vitória, seu discurso. Ainda em outubro, o Banco Central elevou as taxas de juros. Em 6 de novembro, ao conceder entrevista a oito veículos da velha mídia, Dilma anunciou corte de gastos. Um dia depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que o governo já os prepara.
Mas o “ajuste fiscal” é uma escolha tão óbvia, para os governantes, como mobilizar as equipes de Defesa Civil, em caso de tragédia? No texto a seguir, Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, demonstra que não. Ele examina o caso da Europa. Lá, com nome de “austeridade”, políticas de corte de direitos sociais e desmonte de serviços públicos estão sendo adotadas desde 2009. Cinco anos depois, os economistas conservadores veem sinais de “sucesso”. Stiglitz zomba. Todas as crises terminam um dia, ele lembra. Ao fazer o balanço, o que importa é aferir que sacrifícios foram exigidos, das sociedades, para enfrentá-las. Na Europa, o panorama é trágico. Além da corrosão dos direitos sociais, houve desgaste grave da democracia — desmoralizada quando os governos prometem “Mais” e entregam “mais do mesmo”. E não é só: voltam a surgir no horizonte sinais de que todo o sacrifício foi inútil. Mesmo países como a Alemanha parecem enfrentar, agora, estagnação — e contribuem para jogar lenha na fogueira de uma possível tempestade econômica mundial.
A redefinição da política econômica tornou-se um tema central. Árido aparentemente — porque interessa ao pensamento conservador reduzi-lo a algo para especialistas — ele pode ser compreendido por todos que se disponham a algum esforço. Vale a pena. Das escolhas que o Brasil fizer, neste terreno, dependerá, também, nosso futuro político, social e cultural. “Outras Palavras” insistirá no assunto. Vale, por enquanto, escutar Stiglitz:
por Joseph Stiglitz
“Se os fatos não se encaixam na teoria, mude a teoria”, diz o velho ditado. Mas muito comumente é mais fácil manter a teoria e mudar os fatos. É o que a chanceler alemã Angela Merkel e outros líderes europeus pró-austeridade parecem pensar. Mesmo com os fatos a um palmo do nariz, eles continuam negando a realidade.
A austeridade falhou. Mas seus defensores estão prontos a declarar vitória com base na evidência mais fraca de todas. A economia não está mais em colapso; logo, as medidas de austeridade só podem estar funcionando! Mas se essa for a referência, poderíamos dizer que pular de um penhasco é a melhor forma de descer uma montanha.
Toda crise chega a um fim. O sucesso não deve ser medido pelo fato de a recuperação em algum momento acontecer — mas pelo tempo que se demora para chegar a ela e por quão extensos são os danos causados pelo tombo. Vista nesses termos, a austeridade tem sido um desastre completo e absoluto. Isso está se tornando cada vez mais visível à medida em que as economias da União Europeia voltam a encarar estagnação — ou, talvez, um triplo mergulho em recessão, com o desemprego mantendo-se em altos patamares e o PIB real per capita ainda abaixo dos níveis pré-crise, em muitos países. Mesmo nas economias de melhor desempenho, como a Alemanha, o crescimento desde 2008 tem sido tão lento que, em qualquer outra circunstância, seria considerado desanimador.
Os países mais atingidos estão em depressão. Não existe outra palavra para descrever economias como a da Espanha ou da Grécia, onde quase uma em cada quatro pessoas – e mais de uma em cada duas, entre os jovens – não consegue encontrar trabalho. Dizer que o remédio está funcionando porque o índice de desemprego decresceu em alguns pontos percentuais, ou porque se pode ter um vislumbre de crescimento magro, é semelhante a um barbeiro medieval que diz que a sangria está funcionando, já que o paciente ainda não morreu.
Extrapolando o crescimento europeu modesto a partir dos anos 80, meus cálculos demonstram que a produção na zona do euro hoje está mais de 15% abaixo do ponto em que estaria, se a crise financeira de 2008 não tivesse acontecido. Isso implica uma perda de 1,6 trilhão de dólares apenas esse ano, e uma perda acumulada de mais de US$ 6,5 trilhões. Ainda mais perturbador é que essa diferença está aumentando e não diminuindo (como se esperaria depois de uma crise, quando o crescimento é tipicamente mais rápido do que normalmente conforme a economia retoma terreno perdido).
Em outras palavras, o longo período de recessão está diminuindo o crescimento potencial da Europa. Jovens que deveriam estar desenvolvendo habilidades não estão. Há evidências contundentes de seus rendimentos, ao longo da vidas, serão muito menores do que se vivessem num período de pleno emprego.
Enquanto isso, a Alemanha força outros países a seguir políticas que enfraquecem suas economias – e suas democracias. Quando os cidadãos votam repetidamente por uma mudança política (e poucas políticas importam mais aos cidadãos que aquelas que afetam seus padrões de vida), mas ficam sabendo que estes temas são decididos em outro lugar, e que, portanto, sua escolha é inútil, tanto a democracia quanto a fé no projeto europeu são corroídas.
A França votou para mudar de rumo três anos atrás. Em vez disso, os eleitores receberam outra dose de austeridade pró-corporações. Uma das propostas mais antigas na economia é o multiplicador do orçamento equilibrado. Significa que aumentar conjuntamente os impostos e as despesas estimula a economia. E se os impostos incidem sobre os ricos e as despesas beneficiam as maiorias, o multiplicador pode ser particularmente alto. Mas o dito governo socialista francês está reduzindo a tributação das empresas e cortando gastos – uma receita quase garantida para enfraquecer a economia, mas também para ganhar elogios da Alemanha…
A esperança, afirma-se, é que impostos mais baixos para pessoas jurídicas estimulem o investimento. Isso é pura bobagem. O que está reduzindo o investimento (tanto nos Estados Unidos como na Europa) é a ausência de demanda, não os impostos elevados. Na verdade, como a maior parte dos investimentos é financiada por dívidas, e como o pagamentos de juros é dedutível dos impostos, o nível de tributação das empresas tem pouco efeito na decisão de investir.
Da mesma forma, a Itália está sendo encorajada a acelerar a privatização. Mas o primeiro ministro Matteo Renzi tem o bom senso de reconhecer que vender empresas a preço de banana faz pouco sentido. Também as decisões do setor privado deveriam ser influenciadas por considerações de longo prazo, não por exigências financeiras de curto prazo. A decisão deveria ser baseada em onde essas atividades são realizadas de forma mais eficiente, servindo aos interesses da maioria dos cidadãos da melhor forma possível.
A privatização dos sistemas de Previdência, por exemplo, já provou ser dispendiosa naqueles países que a experimentaram. O sistema de saúde quase inteiramente privado norte-americano é o menos eficiente do mundo. Existem questões difíceis, mas é fácil demonstrar que vender empresas estatais por preços baixos não é uma boa forma de aumentar a força financeira a longo prazo.
Todo o sofrimento na Europa – infligido a serviço do euro – é ainda mais trágico por ser desnecessário. Apesar das evidências de que as medidas de austeridade não funcionam continuarem se acumulando, a Alemanha e outros falcões dobraram a aposta, apostando o futuro da Europa em uma teoria há muito desacreditada. Por que fornecer aos economistas mais fatos para provar isso?
Tradução: Mariana Bercht Ruy
Re: Economia - Tópico Oficial
As quatro etapas do populismo econômicoDekkers escreveu:Stiglitz desmascara o falso êxito das políticas de “austeridade”
publicado em 20 de novembro de 2014 às 11:08
DilmaMerkel2
Foto: EBC
“Ajuste fiscal”? Por que não seguir a Europa
Desemprego, recessão, crise profunda da democracia. O Nobel de Economia Joseph Stiglitz desmascara o falso êxito das políticas de “austeridade” – as mesmas que conservadores querem no governo Dilma
no Outras Palavras, via Brasil em Debate
Um mito, acompanhado por uma fieira de jargões, espalha-se com rapidez no Brasil pós-eleições: o de que precisamos de um “ajuste fiscal”, de um “aperto de cintos”, para “recolocar ordem na economia”. Após um período de “descontrole” das contas públicas e “gastança”, os “agentes econômicos” (leia-se grandes bancos e empresas) teriam “perdido a confiança” no Estado e deixado de investir. Para seduzi-los novamente, seria preciso voltar às políticas mais ortodoxas. Elevação das taxas de juros. Corte de investimentos públicos. Contenção do salário mínimo, da Bolsa Família e de direitos previdenciários como o seguro-desemprego.
Repetido como mantra, esse discurso tem encontrado pouca resistência. Aécio Neves, que o sustentou durante a campanha eleitoral, foi derrotado pelos eleitores — num segundo turno em que Dilma investiu, para vencer, no tema de “Mais” mudanças e direitos. Porém, fechadas as urnas, foi como se elas nada tivessem dito. A mídia apresenta o “ajuste fiscal” como se não fosse uma opção política — mas uma necessidade objetiva e inescapável. A própria presidente reeleita pareceu abandonar, logo depois da vitória, seu discurso. Ainda em outubro, o Banco Central elevou as taxas de juros. Em 6 de novembro, ao conceder entrevista a oito veículos da velha mídia, Dilma anunciou corte de gastos. Um dia depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que o governo já os prepara.
Mas o “ajuste fiscal” é uma escolha tão óbvia, para os governantes, como mobilizar as equipes de Defesa Civil, em caso de tragédia? No texto a seguir, Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, demonstra que não. Ele examina o caso da Europa. Lá, com nome de “austeridade”, políticas de corte de direitos sociais e desmonte de serviços públicos estão sendo adotadas desde 2009. Cinco anos depois, os economistas conservadores veem sinais de “sucesso”. Stiglitz zomba. Todas as crises terminam um dia, ele lembra. Ao fazer o balanço, o que importa é aferir que sacrifícios foram exigidos, das sociedades, para enfrentá-las. Na Europa, o panorama é trágico. Além da corrosão dos direitos sociais, houve desgaste grave da democracia — desmoralizada quando os governos prometem “Mais” e entregam “mais do mesmo”. E não é só: voltam a surgir no horizonte sinais de que todo o sacrifício foi inútil. Mesmo países como a Alemanha parecem enfrentar, agora, estagnação — e contribuem para jogar lenha na fogueira de uma possível tempestade econômica mundial.
A redefinição da política econômica tornou-se um tema central. Árido aparentemente — porque interessa ao pensamento conservador reduzi-lo a algo para especialistas — ele pode ser compreendido por todos que se disponham a algum esforço. Vale a pena. Das escolhas que o Brasil fizer, neste terreno, dependerá, também, nosso futuro político, social e cultural. “Outras Palavras” insistirá no assunto. Vale, por enquanto, escutar Stiglitz:
por Joseph Stiglitz
“Se os fatos não se encaixam na teoria, mude a teoria”, diz o velho ditado. Mas muito comumente é mais fácil manter a teoria e mudar os fatos. É o que a chanceler alemã Angela Merkel e outros líderes europeus pró-austeridade parecem pensar. Mesmo com os fatos a um palmo do nariz, eles continuam negando a realidade.
A austeridade falhou. Mas seus defensores estão prontos a declarar vitória com base na evidência mais fraca de todas. A economia não está mais em colapso; logo, as medidas de austeridade só podem estar funcionando! Mas se essa for a referência, poderíamos dizer que pular de um penhasco é a melhor forma de descer uma montanha.
Toda crise chega a um fim. O sucesso não deve ser medido pelo fato de a recuperação em algum momento acontecer — mas pelo tempo que se demora para chegar a ela e por quão extensos são os danos causados pelo tombo. Vista nesses termos, a austeridade tem sido um desastre completo e absoluto. Isso está se tornando cada vez mais visível à medida em que as economias da União Europeia voltam a encarar estagnação — ou, talvez, um triplo mergulho em recessão, com o desemprego mantendo-se em altos patamares e o PIB real per capita ainda abaixo dos níveis pré-crise, em muitos países. Mesmo nas economias de melhor desempenho, como a Alemanha, o crescimento desde 2008 tem sido tão lento que, em qualquer outra circunstância, seria considerado desanimador.
Os países mais atingidos estão em depressão. Não existe outra palavra para descrever economias como a da Espanha ou da Grécia, onde quase uma em cada quatro pessoas – e mais de uma em cada duas, entre os jovens – não consegue encontrar trabalho. Dizer que o remédio está funcionando porque o índice de desemprego decresceu em alguns pontos percentuais, ou porque se pode ter um vislumbre de crescimento magro, é semelhante a um barbeiro medieval que diz que a sangria está funcionando, já que o paciente ainda não morreu.
Extrapolando o crescimento europeu modesto a partir dos anos 80, meus cálculos demonstram que a produção na zona do euro hoje está mais de 15% abaixo do ponto em que estaria, se a crise financeira de 2008 não tivesse acontecido. Isso implica uma perda de 1,6 trilhão de dólares apenas esse ano, e uma perda acumulada de mais de US$ 6,5 trilhões. Ainda mais perturbador é que essa diferença está aumentando e não diminuindo (como se esperaria depois de uma crise, quando o crescimento é tipicamente mais rápido do que normalmente conforme a economia retoma terreno perdido).
Em outras palavras, o longo período de recessão está diminuindo o crescimento potencial da Europa. Jovens que deveriam estar desenvolvendo habilidades não estão. Há evidências contundentes de seus rendimentos, ao longo da vidas, serão muito menores do que se vivessem num período de pleno emprego.
Enquanto isso, a Alemanha força outros países a seguir políticas que enfraquecem suas economias – e suas democracias. Quando os cidadãos votam repetidamente por uma mudança política (e poucas políticas importam mais aos cidadãos que aquelas que afetam seus padrões de vida), mas ficam sabendo que estes temas são decididos em outro lugar, e que, portanto, sua escolha é inútil, tanto a democracia quanto a fé no projeto europeu são corroídas.
A França votou para mudar de rumo três anos atrás. Em vez disso, os eleitores receberam outra dose de austeridade pró-corporações. Uma das propostas mais antigas na economia é o multiplicador do orçamento equilibrado. Significa que aumentar conjuntamente os impostos e as despesas estimula a economia. E se os impostos incidem sobre os ricos e as despesas beneficiam as maiorias, o multiplicador pode ser particularmente alto. Mas o dito governo socialista francês está reduzindo a tributação das empresas e cortando gastos – uma receita quase garantida para enfraquecer a economia, mas também para ganhar elogios da Alemanha…
A esperança, afirma-se, é que impostos mais baixos para pessoas jurídicas estimulem o investimento. Isso é pura bobagem. O que está reduzindo o investimento (tanto nos Estados Unidos como na Europa) é a ausência de demanda, não os impostos elevados. Na verdade, como a maior parte dos investimentos é financiada por dívidas, e como o pagamentos de juros é dedutível dos impostos, o nível de tributação das empresas tem pouco efeito na decisão de investir.
Da mesma forma, a Itália está sendo encorajada a acelerar a privatização. Mas o primeiro ministro Matteo Renzi tem o bom senso de reconhecer que vender empresas a preço de banana faz pouco sentido. Também as decisões do setor privado deveriam ser influenciadas por considerações de longo prazo, não por exigências financeiras de curto prazo. A decisão deveria ser baseada em onde essas atividades são realizadas de forma mais eficiente, servindo aos interesses da maioria dos cidadãos da melhor forma possível.
A privatização dos sistemas de Previdência, por exemplo, já provou ser dispendiosa naqueles países que a experimentaram. O sistema de saúde quase inteiramente privado norte-americano é o menos eficiente do mundo. Existem questões difíceis, mas é fácil demonstrar que vender empresas estatais por preços baixos não é uma boa forma de aumentar a força financeira a longo prazo.
Todo o sofrimento na Europa – infligido a serviço do euro – é ainda mais trágico por ser desnecessário. Apesar das evidências de que as medidas de austeridade não funcionam continuarem se acumulando, a Alemanha e outros falcões dobraram a aposta, apostando o futuro da Europa em uma teoria há muito desacreditada. Por que fornecer aos economistas mais fatos para provar isso?
Tradução: Mariana Bercht Ruy
O populismo econômico — ou a política econômica populista — pode ser caracterizado como sendo um programa de governo que recorre a uma maciça intervenção do estado em vários setores da economia, incentiva o consumismo (ao mesmo tempo em que desestimula os investimentos de longo prazo), e incorre em déficits no orçamento do governo.
Além de se tratar de um modelo insustentável no longo prazo, o populismo econômico possui vários estágios entre sua adoção e seu inevitável fracasso. A última década de extremo populismo na Argentina e na Venezuela [Nota do editor: e, em menor grau, no Brasil, como será demonstrado mais abaixo] pode ser descrita como tendo seguido exatamente este padrão.
Após observarem a experiência populista em vários países da América Latina, os economistas Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards identificaram em seu artigo "Macroeconomic Populism" (1990) quatro estágios universais inerentes ao populismo. Ainda que o populismo possa apresentar uma grande variedade de políticas, certas características parecem estar presentes na maioria dos casos.
O populismo normalmente estimula uma mobilização social em prol do governo, faz uso maciço da propaganda glorificando determinados políticos, utiliza símbolos e práticas de marketing para incitar os sentimentos dos eleitores, e recorre frequentemente a uma retórica que apela à luta de classes. O populismo é especialmente voltado para aqueles que têm uma renda baixa, ao passo que, paradoxalmente, as elites que controlam o partido dominante não explicam a fonte da milionária renda do seu líder. Governantes populistas têm facilidade em utilizar bodes expiatórios e em recorrer a teorias conspiratórias para explicar por que o país está passando por dificuldades, ao mesmo tempo em que se apresentam à população como os salvadores da nação. Para alguns, o populismo está associado à esquerda e a movimentos socialistas; para outros, à direita e a políticas fascistas.
Os quatro estágios do populismo, identificados por Dornbusch e Edwards, são:
Estágio I
O populista é eleito e faz um diagnóstico sobre tudo o que está ruim na economia. Ato contínuo, ele implanta políticas voltadas para atacar os sintomas e não para curar a doença. Há aumento dos gastos, há inchaço da máquina pública e há incentivos ao consumismo (mas não ao investimento de longo prazo). Nos primeiros anos de governo, as políticas aparentemente funcionam. A política macroeconômica mostra bons resultados, como um PIB crescente, uma redução no desemprego, um aumento real nos salários etc.
Como a economia está partindo de uma base baixa, há o chamado "hiato do produto", que é a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial. Isso permite que estímulos econômicos artificiais gerem um crescimento econômico grande no curto prazo e sem pressões inflacionárias. Adicionalmente, o governo paga pelas importações utilizando as reservas do banco central (artifício esse favorito de Venezuela e Argentina) e impõe regulamentações para controlar alguns preços (uma política de congelamento de preços é aplicada em simultâneo a uma política de subsídios para grandes empresas).
Tudo isso faz com que a inflação de preços fique relativamente sob controle.
Estágio II
Alguns gargalos começam a aparecer, pois as políticas populistas enfatizaram o consumismo e se esqueceram do investimento (mesmo porque os populistas tendem a demonizar empresários capitalistas).
Como consequência, o estoque de capital do país está sendo consumido mas não está sendo reposto. A produtividade cai.
Adicionalmente, as reservas internacionais utilizadas para pagar pela importação de produtos básicos também começam a cair.
Um aumento nos preços de vários bens — até então controlados — se torna imperativo, pois os produtos estavam se tornando escassos. Esse aumento geral de preços, o que equivale a uma redução no poder de compra da moeda e a um aumento do custo de vida, frequentemente leva a uma desvalorização na taxa de câmbio. Os preços dos serviços de utilidades públicas (eletricidade, tarifas de ônibus etc.) e da gasolina, controlados pelo governo, também começam a subir, pois o governo necessita de mais receitas.
Tal cenário leva a uma fuga de capitais, a qual é momentaneamente estancada pela imposição de controle de capitais. Investidores estrangeiros fogem do país, o que reduz ainda mais os investimentos produtivos.
O governo tenta controlar seu orçamento e seus déficits, mas fracassa. Dado que o custo dos prometidos subsídios à eletricidade, à gasolina e a algumas grandes empresas (as favoritas do governo) aumenta continuamente apenas para compensar o aumento do custo de vida, os déficits do governo aumentam. Novos impostos são criados e alíquotas são majoradas. A economia informal começa a crescer.
Nesse ponto, reformas fiscais se tornam necessárias, mas são evitadas pelo governo populista, pois elas vão contra toda a retórica do governo e toda a sua base de apoio.
Estágio III
Desabastecimentos e vários problemas relacionados à escassez se tornam significativos. Dado que a taxa nominal de câmbio não foi desvalorizada no mesmo ritmo da inflação de preços, há uma saída contínua de capitais (as reservas internacionais caem ainda mais). No extremo, a alta inflação de preços empurra a economia para uma desmonetização. A moeda local é utilizada apenas para transações domésticas. Os cidadãos passam a poupar em dólares americanos.
A queda na atividade econômica afeta as receitas tributárias do governo, piorando ainda mais os déficits orçamentários. O governo tem de cortar subsídios.
Para estancar a perda de reservas internacionais, uma nova desvalorização da taxa de câmbio é feita. O custo de vida dispara, a renda real dos cidadãos despenca, e sinais de instabilidade política e social surgem diariamente.
[Nota do editor: neste ponto, saques a comércios e residências se tornam comuns, como na Argentina. Na Venezuela, a distribuição de alimentos foi colocada sob supervisão militar.]
O fracasso do projeto populista se torna evidente.
Estágio IV
Um novo governo é eleito (ou o próprio governo é reeleito) e é obrigado a fazer ajustes "ortodoxos", possivelmente sob a supervisão do FMI ou de organizações internacionais que forneçam os fundos necessários para fazer as reformas econômicas (isso ocorre majoritariamente quando o país precisa de recompor suas reservas internacionais).
Como o estoque de capital do país foi consumido e destruído, sem ser reposto, os salários reais caem para níveis abaixo daqueles que vigoravam antes do início das políticas populistas. O novo governo "ortodoxo" tem então de recolher os farrapos que restaram e tentar cobrir os custos das políticas fracassadas feitas pelo regime anterior. Isso normalmente implica políticas de austeridade, altamente impopulares.
Os populistas se foram, mas os estragos de suas políticas continuam totalmente presentes.
O populismo econômico segue firme e forte
Embora Dornbusch e Edwards tenham escrito seu artigo em 1990, as similaridades com o que ocorre hoje em países como Venezuela, Argentina e Bolívia [Nota do editor: e, em menor escala, no Brasil] são notáveis.
Nos últimos anos, para manter as ideias populistas firmes na mente dos eleitores, a Venezuela criou o Ministério da Suprema Felicidade Social e a Argentina criou uma Secretária do Pensamento Nacional.
Esses quatro estágios são, na realidade, cíclicos. O movimento populista utiliza o quarto estágio para criticar as políticas "ortodoxas" adotadas pelo novo governo (que pode apenas ser o mesmo governo reeleito, mas com novos ministros), e argumenta que, durante o reinado dos populistas, as coisas estavam melhores.
Dado que as políticas ortodoxas quase sempre se baseiam exclusivamente no aumento de impostos, as coisas dificilmente melhoram. A renda real segue em queda e a economia segue em contração. Consequentemente, a opinião pública, descontente com as medidas adotadas no estágio IV, concede ao movimento populista uma vitória nas próximas eleições. Os populistas recebem uma economia em recessão e o ciclo recomeça do estágio I.
Não é de se surpreender que governos populistas normalmente surjam após tempos difíceis causados por crises econômicas. Um governo populista mais ousado pode conseguir evitar o estágio IV descobrindo novas maneiras de permanecer no governo, como, por exemplo, proibindo eleições ou criando resultados eleitorais falsos.
Nesse ponto, o governo populista consegue transformar o país em uma nação totalmente autoritária.
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Re: Economia - Tópico Oficial
O grande problema da economia no mundo real não é a teoria - talvez seja porque não tem como fazer experimentos de economia como se pode fazer em outras ciências. Mas o grande problema mesmo é que os políticos muitas vezes tomam decisões políticas ao invés de tomarem decisões técnicas. As medidas de austeridade são necessárias sim serem tomadas porque quem paga a conta como sempre são os contribuintes, quanto maior a divida maior o montante a ser pago de juros. A divida publica tem que ficar em um patamar saudável em torno de uns 30-40% do PIB, para menos se possível. Acontece que os políticos com medo de perderem votos têm medo de tirar benefícios sociais da população e perderem votos.Dekkers escreveu:Stiglitz desmascara o falso êxito das políticas de “austeridade”
publicado em 20 de novembro de 2014 às 11:08
DilmaMerkel2
Foto: EBC
“Ajuste fiscal”? Por que não seguir a Europa
Desemprego, recessão, crise profunda da democracia. O Nobel de Economia Joseph Stiglitz desmascara o falso êxito das políticas de “austeridade” – as mesmas que conservadores querem no governo Dilma
no Outras Palavras, via Brasil em Debate
Um mito, acompanhado por uma fieira de jargões, espalha-se com rapidez no Brasil pós-eleições: o de que precisamos de um “ajuste fiscal”, de um “aperto de cintos”, para “recolocar ordem na economia”. Após um período de “descontrole” das contas públicas e “gastança”, os “agentes econômicos” (leia-se grandes bancos e empresas) teriam “perdido a confiança” no Estado e deixado de investir. Para seduzi-los novamente, seria preciso voltar às políticas mais ortodoxas. Elevação das taxas de juros. Corte de investimentos públicos. Contenção do salário mínimo, da Bolsa Família e de direitos previdenciários como o seguro-desemprego.
Repetido como mantra, esse discurso tem encontrado pouca resistência. Aécio Neves, que o sustentou durante a campanha eleitoral, foi derrotado pelos eleitores — num segundo turno em que Dilma investiu, para vencer, no tema de “Mais” mudanças e direitos. Porém, fechadas as urnas, foi como se elas nada tivessem dito. A mídia apresenta o “ajuste fiscal” como se não fosse uma opção política — mas uma necessidade objetiva e inescapável. A própria presidente reeleita pareceu abandonar, logo depois da vitória, seu discurso. Ainda em outubro, o Banco Central elevou as taxas de juros. Em 6 de novembro, ao conceder entrevista a oito veículos da velha mídia, Dilma anunciou corte de gastos. Um dia depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que o governo já os prepara.
Mas o “ajuste fiscal” é uma escolha tão óbvia, para os governantes, como mobilizar as equipes de Defesa Civil, em caso de tragédia? No texto a seguir, Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, demonstra que não. Ele examina o caso da Europa. Lá, com nome de “austeridade”, políticas de corte de direitos sociais e desmonte de serviços públicos estão sendo adotadas desde 2009. Cinco anos depois, os economistas conservadores veem sinais de “sucesso”. Stiglitz zomba. Todas as crises terminam um dia, ele lembra. Ao fazer o balanço, o que importa é aferir que sacrifícios foram exigidos, das sociedades, para enfrentá-las. Na Europa, o panorama é trágico. Além da corrosão dos direitos sociais, houve desgaste grave da democracia — desmoralizada quando os governos prometem “Mais” e entregam “mais do mesmo”. E não é só: voltam a surgir no horizonte sinais de que todo o sacrifício foi inútil. Mesmo países como a Alemanha parecem enfrentar, agora, estagnação — e contribuem para jogar lenha na fogueira de uma possível tempestade econômica mundial.
A redefinição da política econômica tornou-se um tema central. Árido aparentemente — porque interessa ao pensamento conservador reduzi-lo a algo para especialistas — ele pode ser compreendido por todos que se disponham a algum esforço. Vale a pena. Das escolhas que o Brasil fizer, neste terreno, dependerá, também, nosso futuro político, social e cultural. “Outras Palavras” insistirá no assunto. Vale, por enquanto, escutar Stiglitz:
por Joseph Stiglitz
“Se os fatos não se encaixam na teoria, mude a teoria”, diz o velho ditado. Mas muito comumente é mais fácil manter a teoria e mudar os fatos. É o que a chanceler alemã Angela Merkel e outros líderes europeus pró-austeridade parecem pensar. Mesmo com os fatos a um palmo do nariz, eles continuam negando a realidade.
A austeridade falhou. Mas seus defensores estão prontos a declarar vitória com base na evidência mais fraca de todas. A economia não está mais em colapso; logo, as medidas de austeridade só podem estar funcionando! Mas se essa for a referência, poderíamos dizer que pular de um penhasco é a melhor forma de descer uma montanha.
Toda crise chega a um fim. O sucesso não deve ser medido pelo fato de a recuperação em algum momento acontecer — mas pelo tempo que se demora para chegar a ela e por quão extensos são os danos causados pelo tombo. Vista nesses termos, a austeridade tem sido um desastre completo e absoluto. Isso está se tornando cada vez mais visível à medida em que as economias da União Europeia voltam a encarar estagnação — ou, talvez, um triplo mergulho em recessão, com o desemprego mantendo-se em altos patamares e o PIB real per capita ainda abaixo dos níveis pré-crise, em muitos países. Mesmo nas economias de melhor desempenho, como a Alemanha, o crescimento desde 2008 tem sido tão lento que, em qualquer outra circunstância, seria considerado desanimador.
Os países mais atingidos estão em depressão. Não existe outra palavra para descrever economias como a da Espanha ou da Grécia, onde quase uma em cada quatro pessoas – e mais de uma em cada duas, entre os jovens – não consegue encontrar trabalho. Dizer que o remédio está funcionando porque o índice de desemprego decresceu em alguns pontos percentuais, ou porque se pode ter um vislumbre de crescimento magro, é semelhante a um barbeiro medieval que diz que a sangria está funcionando, já que o paciente ainda não morreu.
Extrapolando o crescimento europeu modesto a partir dos anos 80, meus cálculos demonstram que a produção na zona do euro hoje está mais de 15% abaixo do ponto em que estaria, se a crise financeira de 2008 não tivesse acontecido. Isso implica uma perda de 1,6 trilhão de dólares apenas esse ano, e uma perda acumulada de mais de US$ 6,5 trilhões. Ainda mais perturbador é que essa diferença está aumentando e não diminuindo (como se esperaria depois de uma crise, quando o crescimento é tipicamente mais rápido do que normalmente conforme a economia retoma terreno perdido).
Em outras palavras, o longo período de recessão está diminuindo o crescimento potencial da Europa. Jovens que deveriam estar desenvolvendo habilidades não estão. Há evidências contundentes de seus rendimentos, ao longo da vidas, serão muito menores do que se vivessem num período de pleno emprego.
Enquanto isso, a Alemanha força outros países a seguir políticas que enfraquecem suas economias – e suas democracias. Quando os cidadãos votam repetidamente por uma mudança política (e poucas políticas importam mais aos cidadãos que aquelas que afetam seus padrões de vida), mas ficam sabendo que estes temas são decididos em outro lugar, e que, portanto, sua escolha é inútil, tanto a democracia quanto a fé no projeto europeu são corroídas.
A França votou para mudar de rumo três anos atrás. Em vez disso, os eleitores receberam outra dose de austeridade pró-corporações. Uma das propostas mais antigas na economia é o multiplicador do orçamento equilibrado. Significa que aumentar conjuntamente os impostos e as despesas estimula a economia. E se os impostos incidem sobre os ricos e as despesas beneficiam as maiorias, o multiplicador pode ser particularmente alto. Mas o dito governo socialista francês está reduzindo a tributação das empresas e cortando gastos – uma receita quase garantida para enfraquecer a economia, mas também para ganhar elogios da Alemanha…
A esperança, afirma-se, é que impostos mais baixos para pessoas jurídicas estimulem o investimento. Isso é pura bobagem. O que está reduzindo o investimento (tanto nos Estados Unidos como na Europa) é a ausência de demanda, não os impostos elevados. Na verdade, como a maior parte dos investimentos é financiada por dívidas, e como o pagamentos de juros é dedutível dos impostos, o nível de tributação das empresas tem pouco efeito na decisão de investir.
Da mesma forma, a Itália está sendo encorajada a acelerar a privatização. Mas o primeiro ministro Matteo Renzi tem o bom senso de reconhecer que vender empresas a preço de banana faz pouco sentido. Também as decisões do setor privado deveriam ser influenciadas por considerações de longo prazo, não por exigências financeiras de curto prazo. A decisão deveria ser baseada em onde essas atividades são realizadas de forma mais eficiente, servindo aos interesses da maioria dos cidadãos da melhor forma possível.
A privatização dos sistemas de Previdência, por exemplo, já provou ser dispendiosa naqueles países que a experimentaram. O sistema de saúde quase inteiramente privado norte-americano é o menos eficiente do mundo. Existem questões difíceis, mas é fácil demonstrar que vender empresas estatais por preços baixos não é uma boa forma de aumentar a força financeira a longo prazo.
Todo o sofrimento na Europa – infligido a serviço do euro – é ainda mais trágico por ser desnecessário. Apesar das evidências de que as medidas de austeridade não funcionam continuarem se acumulando, a Alemanha e outros falcões dobraram a aposta, apostando o futuro da Europa em uma teoria há muito desacreditada. Por que fornecer aos economistas mais fatos para provar isso?
Tradução: Mariana Bercht Ruy
A maioria das vezes eu fico com uma preguiça de ler tópicos de economia e política, porque agora está na moda ser liberal e todo mundo acha que é errado o governo intervir na economia e que as políticas de esquerda são ruins. Para não ficar me alongando muito nesse assunto é só olhar o exemplo da Suécia e dos países nórdicos. A grande sacada de economia é buscar pela máxima eficiência, mas se o Governo for corrupto e ineficiente, aí sim, eu concordo que deve se afastar de economia e tributar o mínimo possível a população.
Re: Economia - Tópico Oficial
Peraí, a esquerda passou as últimas décadas dizendo que não havia déficit na previdência e agora quer fazer uma reforma?? O que me incomoda é a maneira como essa reforma será feita. Sou servidor público e sei que a previdência do setor público é a grande responsável pela maior parte do nosso déficit previdenciário. O problema é o calote, pois o governo nos obriga a contribuir, faz cagada com os valores arrecadas e depois nos obriga a pagar a conta dos desmandos que este mesmo governo causou.
mercado
Governo faz plano B para aposentadoria
O governo Dilma Rousseff já discute o texto de uma medida provisória ou projeto de lei para criar uma fórmula progressiva de cálculo das aposentadorias, apesar de a presidente ainda não ter decidido oficialmente se vetará a alternativa aprovada pelo Congresso, a chamada fórmula 85/95.
Uma das ideias é fixar como ponto de partida o próprio dispositivo 85/95, que seria elevado gradualmente até atingir 90/100. Tecnicamente essa nova soma da idade e do tempo de contribuição no momento da aposentadoria teria efeitos semelhantes para Previdência aos das regras atuais, do fator previdenciário.
Editoria de Arte/Folhapress
Em reunião com as centrais sindicais nesta segunda-feira (15), o governo desistiu de apresentar essa nova proposta em substituição a um eventual veto da presidente à fórmula 85/95. Os sindicalistas resistem a qualquer proposta que não seja a sanção do texto aprovado pelos congressistas.
Pela fórmula 85/95, mulheres podem se aposentar quando a soma do tempo de contribuição e da idade atingir 85, e homens, quando o resultado superar 95.
Como a mudança ameaça as contas da Previdência no médio e longo prazo, o governo pretendia acertar com as centrais uma alternativa, que seria encaminhada ao mesmo tempo em que o fator 85/95 seria vetado.
No entanto, segundo assessores presidenciais, o governo desistiu da ideia ao ser avisado de que as centrais não aceitariam outra proposta que não fosse a sanção, sem vetos, da fórmula 85/95.
A equipe optou, então, por apresentar aos sindicalistas cálculos de como ficarão as contas da Previdência se a nova regra passar a valer.
Durante o governo da petista, haveria economia de R$ 12 bilhões. Depois, porém, os gastos começariam a aumentar, atingindo uma despesa adicional para Previdência de R$ 3,2 trilhões até 2060.
SANÇÃO
A presidente precisa sancionar (ou vetar) até esta quarta-feira (17) o texto aprovado pelo Congresso.
O discurso oficial, repetido o dia todo pelos ministros, foi o de que a presidente ainda não tomou uma decisão final sobre o veto. Reservadamente, porém, diziam que a tendência era de veto.
A reunião de quase duas horas entre governo e centrais sindicais ocorreu em clima de tensão. Depois de deixarem o encontro, os sindicalistas se mostravam irredutíveis em aceitar alternativa que não fosse a sanção.
"O governo não apresentou proposta nenhuma. Ele queria saber a opinião das centrais e não quis dizer a sua", reclamou o presidente da CUT, Vagner Freitas.
"Queremos que o diálogo [com as centrais] siga independentemente da decisão que a presidente tomar. E ela ainda não tomou uma decisão", afirmou o ministro Carlos Gabas (Previdência).
No encontro do governo, ficou decidido ainda que a proposta de fixar uma idade mínima por meio de emenda constitucional será discutida no fórum que debaterá mudanças na Previdência
Social com os sindicalista
Re: Economia - Tópico Oficial
O modelo nórdico não intervém na economia. Eles têm uma alta carga tributária e muitos serviços públicos de qualidade mas a economia é de livre mercado. Não tem essa palhaçada de capitalismo de estado que temos no Brasil.OCaçadorDeMarias escreveu:
O grande problema da economia no mundo real não é a teoria - talvez seja porque não tem como fazer experimentos de economia como se pode fazer em outras ciências. Mas o grande problema mesmo é que os políticos muitas vezes tomam decisões políticas ao invés de tomarem decisões técnicas. As medidas de austeridade são necessárias sim serem tomadas porque quem paga a conta como sempre são os contribuintes, quanto maior a divida maior o montante a ser pago de juros. A divida publica tem que ficar em um patamar saudável em torno de uns 30-40% do PIB, para menos se possível. Acontece que os políticos com medo de perderem votos têm medo de tirar benefícios sociais da população e perderem votos.
A maioria das vezes eu fico com uma preguiça de ler tópicos de economia e política, porque agora está na moda ser liberal e todo mundo acha que é errado o governo intervir na economia e que as políticas de esquerda são ruins. Para não ficar me alongando muito nesse assunto é só olhar o exemplo da Suécia e dos países nórdicos. A grande sacada de economia é buscar pela máxima eficiência, mas se o Governo for corrupto e ineficiente, aí sim, eu concordo que deve se afastar de economia e tributar o mínimo possível a população.
Re: Economia - Tópico Oficial
Dica de leitura, parem de ler Constantino e "economistas" da imprensa. Leiam Ha Joon Chang, Stigltz, Krugman e Pykkety. O que vocês chamam de populismo econômico são políticas sociais e investimento, não gastos. O mundo está com baixo crescimento econômico, com um enorme crescimento da desigualdade e vocês ainda acreditam em políticas de livre-mercado? NENHUM país se desenvolveu com políticas de livre mercado (leiam o livro do Chang "Chutando a Escada" ou "Bad Samaritans", ou "23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo") e nunca se desenvolverá.
Re: Economia - Tópico Oficial
"Em termos comparativos, pegando já a proporção da carga tributária total sobre o PIB, e não apenas a que é gerida pelo governo central, temos o Brasil com 34,5%, a Argentina com 37,2%, a Holanda com 39,9%, a Alemanha com 40,4%, a França com 44,6%, a Suécia com 45,8%, a Bélgica com 46,8%, a Dinamarca com 49,0%. São ordens de grandeza, e apenas alguns países, mas o que se evidencia é que o Brasil não tem uma carga tributária particularmente elevada.
O que desequilibra e trava no país, é a fragilidade do imposto sobre os mais ricos. A alíquota máxima no Brasil é 27,5%, é a que eu pago como professor da PUC – se trata de um salário de professor – mas os muito ricos deste país também pagam 27,5%. Alguns exemplos a título comparativo: na Argentina a alíquota sobre renda elevada é 35%, no Chile 40%, na Colômbia 33%, na China 45% igual que no Reino Unido, na Suécia é 57%, nos Estados Unidos 55,9%, na Espanha 52%. Como no Brasil não temos imposto sobre a fortuna, apenas uma imposição muito frágil sobre a herança, um imposto territorial rural quase inexistente, e um IPTU com pouquíssima progressividade, o resultado é que o efeito de redistribuição do imposto é muito limitado. Se acrescentarmos que a maior parte dos impostos no Brasil é indireta, embutida nos preços, o resultado é que neste país de tanta desigualdade temos uma política tributária que reproduz a desigualdade.
As pessoas gostam de dizer que trabalham, por exemplo, cinco meses por ano para o Estado, e depois para si. Mas acham ótimo ter os filhos estudando de graça na USP ou nas universidades federais, clamam por melhores estradas e infraestruturas e assim por diante. Na realidade, quando se fala no inchaço da máquina, esquece-se que as ruas precisam ser asfaltadas, o lixo recolhido, as ruas iluminadas, o Estado gerido, e que o grosso dos funcionários públicos são professores e administradores escolares, médicos e gestores hospitalares, policias e administradores prisionais e assim por diante. E se não forem públicos, estes serviços, de toda forma indispensáveis, terão de ser privados, e portanto mais caros, e orientados para a elite que tem recursos para pagar, aprofundando a desigualdade. O conceito de Estado mínimo é um grande engodo ideológico, o que temos de fazer é melhorar a gestão da máquina pública".
Ladislau Dowbor.
O que desequilibra e trava no país, é a fragilidade do imposto sobre os mais ricos. A alíquota máxima no Brasil é 27,5%, é a que eu pago como professor da PUC – se trata de um salário de professor – mas os muito ricos deste país também pagam 27,5%. Alguns exemplos a título comparativo: na Argentina a alíquota sobre renda elevada é 35%, no Chile 40%, na Colômbia 33%, na China 45% igual que no Reino Unido, na Suécia é 57%, nos Estados Unidos 55,9%, na Espanha 52%. Como no Brasil não temos imposto sobre a fortuna, apenas uma imposição muito frágil sobre a herança, um imposto territorial rural quase inexistente, e um IPTU com pouquíssima progressividade, o resultado é que o efeito de redistribuição do imposto é muito limitado. Se acrescentarmos que a maior parte dos impostos no Brasil é indireta, embutida nos preços, o resultado é que neste país de tanta desigualdade temos uma política tributária que reproduz a desigualdade.
As pessoas gostam de dizer que trabalham, por exemplo, cinco meses por ano para o Estado, e depois para si. Mas acham ótimo ter os filhos estudando de graça na USP ou nas universidades federais, clamam por melhores estradas e infraestruturas e assim por diante. Na realidade, quando se fala no inchaço da máquina, esquece-se que as ruas precisam ser asfaltadas, o lixo recolhido, as ruas iluminadas, o Estado gerido, e que o grosso dos funcionários públicos são professores e administradores escolares, médicos e gestores hospitalares, policias e administradores prisionais e assim por diante. E se não forem públicos, estes serviços, de toda forma indispensáveis, terão de ser privados, e portanto mais caros, e orientados para a elite que tem recursos para pagar, aprofundando a desigualdade. O conceito de Estado mínimo é um grande engodo ideológico, o que temos de fazer é melhorar a gestão da máquina pública".
Ladislau Dowbor.
Re: Economia - Tópico Oficial
"Há um grande debate em torno do tamanho do Estado. Não há nenhuma indicação que mostre que um Estado menor leve a uma administração mais eficiente do país de forma global. Na realidade, quanto mais o país é desenvolvido, maior é a participação do Estado, uma correlação rigorosa que vemos nesta tabela do FMI, insuspeito de “estatismo”.
Paises de: Governo central, porcentagem do PIB, início anos 2000
Baixa Renda 17,7
Renda média baixa 21,4
Renda média alta 26,9
Alta renda 31,9
Como nos países mais ricos a porcentagem é sobre um volume de PIB mais elevado, as diferenças são muito significativas".
Ladislau Dowbor.
Paises de: Governo central, porcentagem do PIB, início anos 2000
Baixa Renda 17,7
Renda média baixa 21,4
Renda média alta 26,9
Alta renda 31,9
Como nos países mais ricos a porcentagem é sobre um volume de PIB mais elevado, as diferenças são muito significativas".
Ladislau Dowbor.
Re: Economia - Tópico Oficial
Hein?Dekkers escreveu:Dica de leitura, parem de ler Constantino e "economistas" da imprensa. Leiam Ha Joon Chang, Stigltz, Krugman e Pykkety. O que vocês chamam de populismo econômico são políticas sociais e investimento, não gastos. O mundo está com baixo crescimento econômico, com um enorme crescimento da desigualdade e vocês ainda acreditam em políticas de livre-mercado? NENHUM país se desenvolveu com políticas de livre mercado (leiam o livro do Chang "Chutando a Escada" ou "Bad Samaritans", ou "23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo") e nunca se desenvolverá.
Todos os países se desenvolveram com livre mercado, meu caro.
E Piketty se escreve com "i", um "k" e dois "t" O "y" só vem no final. Eu sei porque o livro está aqui na minha frente.
Leia antes de recomendar. Um abraço.
Editado pela última vez por Shin em 16 Jun 2015 14:13, em um total de 1 vez.
Re: Economia - Tópico Oficial
É claro que sempre haverá alguma forma de intervenção. O problema é quando o governo que usar uma estatal como a Petrobras para segurar a inflação ou um banco como o BNDES para financiar empresas de amigos. Pior ainda é quando faz uma Copa do Mundo com 12 sedes, sendo algumas deles em locais onde não existe público para jogos de futebol. Nesse caso, você pode chutar o balde, escada ou pau da barraca, que não haverá jeito. As tais políticas voltadas para o social geraram um rombo nas contas públicas, inflação, recessão e desemprego, e não têm nada a ver com o livre mercado.Dekkers escreveu:Dica de leitura, parem de ler Constantino e "economistas" da imprensa. Leiam Ha Joon Chang, Stigltz, Krugman e Pykkety. O que vocês chamam de populismo econômico são políticas sociais e investimento, não gastos. O mundo está com baixo crescimento econômico, com um enorme crescimento da desigualdade e vocês ainda acreditam em políticas de livre-mercado? NENHUM país se desenvolveu com políticas de livre mercado (leiam o livro do Chang "Chutando a Escada" ou "Bad Samaritans", ou "23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo") e nunca se desenvolverá.
Re: Economia - Tópico Oficial
A fonte dessas duas postagens é do livro "Como Funciona a Economia", tem em PDF na internet.
Re: Economia - Tópico Oficial
Qual país se desenvolveu com políticas de livre mercado? Me cita um.Shin escreveu:
Hein?
Todos os países se desenvolveram com livre mercado, meu caro.
E Piketty se escreve com "i", um "k" e dois "t" O "y" só vem no final. Eu sei porque o livro está aqui na minha frente.
Leia antes de recomendar. Um abraço.
Re: Economia - Tópico Oficial
35% do PIB é coisa pra caralho pra um país que não presta sequer UM só serviço de qualidade. E o problema do gasto do dinheiro público não está nos serviços básicos, como coleta de lixo, iluminação pública, saúde, segurança e educação, mas no resto da administração pública, inchada e ineficiente, e no tamanho absolutamente desnecessário do estado, com tantas estatais, tantos cargos efetivos e comissionados em ministérios e órgãos desnecessários, em obras inacabadas e subsídios estatais a empresas privadas que são escolhidas não pela qualidade e eficiência mas por afinidade política ou interesses particulares inconfessáveis.Dekkers escreveu:"Em termos comparativos, pegando já a proporção da carga tributária total sobre o PIB, e não apenas a que é gerida pelo governo central, temos o Brasil com 34,5%, a Argentina com 37,2%, a Holanda com 39,9%, a Alemanha com 40,4%, a França com 44,6%, a Suécia com 45,8%, a Bélgica com 46,8%, a Dinamarca com 49,0%. São ordens de grandeza, e apenas alguns países, mas o que se evidencia é que o Brasil não tem uma carga tributária particularmente elevada.
O que desequilibra e trava no país, é a fragilidade do imposto sobre os mais ricos. A alíquota máxima no Brasil é 27,5%, é a que eu pago como professor da PUC – se trata de um salário de professor – mas os muito ricos deste país também pagam 27,5%. Alguns exemplos a título comparativo: na Argentina a alíquota sobre renda elevada é 35%, no Chile 40%, na Colômbia 33%, na China 45% igual que no Reino Unido, na Suécia é 57%, nos Estados Unidos 55,9%, na Espanha 52%. Como no Brasil não temos imposto sobre a fortuna, apenas uma imposição muito frágil sobre a herança, um imposto territorial rural quase inexistente, e um IPTU com pouquíssima progressividade, o resultado é que o efeito de redistribuição do imposto é muito limitado. Se acrescentarmos que a maior parte dos impostos no Brasil é indireta, embutida nos preços, o resultado é que neste país de tanta desigualdade temos uma política tributária que reproduz a desigualdade.
As pessoas gostam de dizer que trabalham, por exemplo, cinco meses por ano para o Estado, e depois para si. Mas acham ótimo ter os filhos estudando de graça na USP ou nas universidades federais, clamam por melhores estradas e infraestruturas e assim por diante. Na realidade, quando se fala no inchaço da máquina, esquece-se que as ruas precisam ser asfaltadas, o lixo recolhido, as ruas iluminadas, o Estado gerido, e que o grosso dos funcionários públicos são professores e administradores escolares, médicos e gestores hospitalares, policias e administradores prisionais e assim por diante. E se não forem públicos, estes serviços, de toda forma indispensáveis, terão de ser privados, e portanto mais caros, e orientados para a elite que tem recursos para pagar, aprofundando a desigualdade. O conceito de Estado mínimo é um grande engodo ideológico, o que temos de fazer é melhorar a gestão da máquina pública".
Ladislau Dowbor.
A tributação tem que ser sobre a renda, não sobre o consumo. Aqui no Brasil é exatamente o contrário. Se tributa muito pouco a renda e muito o consumo, o que cria um sistema tributário altamente regressivo, que trava o desenvolvimento, reduz a produtividade e aumenta a desigualdade.
Se você realmente quer mais igualdade social, igualdade de pontos de partida para todos na medida do possível, você tem que ironicamente ser mais liberal, pregar a redução do estado, a reforma tributária com a tributação direta como regra principal e a redução drástica da indireta e o foco do estado apenas naquilo que cabe a ele fazer e que não interessa à iniciativa privada.
E esse papo de imposto sobre os ricos é lindo no papel mas veja todos os países que tentaram implantá-lo o que fazem hoje... Até a França, o berço da esquerda e de tudo o que não presta nesse mundo em termos de política já está revendo o IGF por causa das porradas que a economia levou com essa babaquice.
É simples: quem gera o desenvolvimento é o capitalista, não o trabalhador. Se você decidir tributar o capital, especificamente o principal no caso do IGF, o que configura claro e evidente confisco, o investidor vai deixar o dinheiro dele aqui por que? Ninguém é santo. Nem eu, nem você, nem ninguém, investe para perder dinheiro. O cara tira o dinheiro dele daqui e leva pra outro lugar. O resultado é crise, recessão, desemprego, pobreza e miséria. É uma conta simples que só a cegueira ideológica não deixa alguns verem.
Re: Economia - Tópico Oficial
Daí a diferença entre regular e intervir, foco da minha discussão com o Paulo umas páginas atrás.Anônimo escreveu:
É claro que sempre haverá alguma forma de intervenção. O problema é quando o governo que usar uma estatal como a Petrobras para segurar a inflação ou um banco como o BNDES para financiar empresas de amigos. Pior ainda é quando faz uma Copa do Mundo com 12 sedes, sendo algumas deles em locais onde não existe público para jogos de futebol. Nesse caso, você pode chutar o balde, escada ou pau da barraca, que não haverá jeito. As tais políticas voltadas para o social geraram um rombo nas contas públicas, inflação, recessão e desemprego, e não têm nada a ver com o livre mercado.
Se o estado intervém sempre dá merda. Sempre.
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