Volkswagen up!: design superior a Hyundai HB20 e Ford Ka
Em todos os artigos e matérias sobre o Volkswagen up! surgem comentários que questionam seu design - sempre variações sobre o tema: "o up! é feio" e/ou tem "interior simples" - manifestações de falta de fundamentação sobre o que é um design de qualidade.
O contra-exemplo é o que se observa nas matérias do Hyundai HB20, tido como paradigma de design. Dessa forma, ficam as questões: as críticas ao design do up! são razoáveis? O up! tem um design de qualidade? Este artigo responde estas perguntas.
O Volkswagen up! foi projetado dentro de uma linha de design industrial conhecida como "Funcionalismoo". Assim, com base em seus critérios, o up! é um sucesso absoluto. O mesmo não se pode dizer do Hyundai HB20 e do Ford Ka, como restará demonstrado.
O design '"funcionalista" tem como um de seus principais expoentes o Sr. Dieter Rams, que foi designer-chefe da Braun, uma empresa de eletrodomésticos alemã. No design funcionalista, a função se sobrepõe a qualquer outro aspecto do design, e a influência de Rams é tão grande que seus princípios de design são estudados em todas as escolas de Desenho Industrial e de Arquitetura do planeta.

Rádio Braun modelo "SK 2" - simplicidade
Rams enunciou dez princípios que precisam ser verificados na análise do design (veja detalhes aqui), que permitem ir além da subjetividade do "é bonito", ou "é feio". A qualidade de um design está diretamente relacionada à sua aderência aos 10 princípios Rams. Para Dieter Rams, o design de qualidade:
É inovador: A inovação técnica é a que determina a inovação no design. Um novo design só é admissível se desenvolvido em paralelo com avanços tecnológicos. Não deve haver o design pelo design.
Torna o produto útil: Um produto é comprado para ser usado, e ele tem que atender ao critério funcional, psicológico e estético. O bom design reforça a utilidade do produto, e rejeita os aspectos que podem relativizá-la.
É estético: A estética integra a funcionalidade. Produtos são usados diariamente e produzem efeitos sobre as pessoas e sobre seu bem estar. Portanto, apenas produtos bem executados são bonitos.
É compreensível: A função do produto está expressa em sua forma. No melhor dos mundos, a visão do produto é auto-explicativa sobre sua funcionalidade.
É discreto: O produto é uma ferramenta, um meio para se executar uma tarefa. Sendo assim, produtos não são obras de arte e tampouco peça de decoração, o que exige que seu design seja discreto, neutro e deixe espaço para a expressão do usuário.
É honesto: O design não deve superdimensionar qualidades do produto. Ele não deve parecer mais valioso ou potente do que ele realmente é, nem sugerir capacidades que o produto não seja capaz de executar. O design do produto não deve enganar o consumidor prometendo algo que não possa cumprir.
É durável: O design deve evitar estar "na moda". Ao evitar modismos, ele não fica antiquado, e dura por longos e longos anos, mesmo em uma sociedade descartável como a que vivemos. Modismos não são aceitos no funcionalismo, pois, modismos, são, por definição, temporários.
É detalhista: Nenhum aspecto do design pode ser menosprezado ou deixado ao acaso, mesmo os mais mínimos detalhes. O design meticuloso demostra respeito ao consumidor.
É ambientalmente correto: O bom design evita desperdícios, contribui para minimizar a poluição física e visual ao longo de seu ciclo de vida, contribuindo para a preservação do meio-ambiente.
Tem a menor quantidade possível de elementos de design: Menos, porém melhor. O design deve ser puro e simples, e se concentrar em seus aspectos essenciais é. O produto não deve ser carregado com linhas, adornos superfulos e frescuras desnecessárias.
Há ainda dois pontos adicionais que se aplicam ao design de qualidade sob os critérios de Rams. O primeiro é a rejeição à obsolescência programada - Rams não admite que um produto seja projetado com um design que tenha um prazo de validade pré-estabelecido. Além disso, o design de qualidade precisa ser sustentável no longo prazo.
Esse contexto mostra que há uma associação entre os princípios de Rams e as diretrizes de design dos carros da Volkswagen. Apesar de a Volkswagen não admitir isso publicamente, ao se analisar a estética de seus veículos, constata-se que Dieter Rams e "Funcionalismo" são vetores fundamentais que determinam o design de seus carros.
Análise do design do Volkswagen up! segundo Rams
Aplicado os princípios de design de Rams ao Volkswagen up!, fica claro que ele é um carro que tem um design projetado para durar por muito tempo.
O design do up! é uma aplicação radical do "Funcionalismo" estético, já que não teve que preservar linhas que guardem identidade com predecessores, pois ele é um produto novo.
O design do up! não tem excessos. É simples, puro e minimalista. Não há nem sequer uma linha de estilo na lateral. A prevalência da função é exemplificada na ausência de grade dianteira e limpeza das linhas gerais. As caixas de rodas são discretas e não há contornos marcadamente visíveis.

Volkswagen up! interior - honestidade e estética
A discrição e a honestidade do desenho transmitem solidez. Solidez esta que é sentida ao se conduzir o carro, e também nos testes de impacto. Ou seja, o design do up! atende ao critério de honestidade pois transmite uma característica que é intrínseca do carro.
Assim, se adotarmos os aspectos de classificação de Rams, podemos dizer que o up! tem bom design, design de qualidade, porque ele atende a todos os preceitos do Funcionalismo.
Análise do design do Hyundai HB20 segundo Rams
O design do Hyundai HB20 confronta diversos pontos do decálogo de Rams. O Hyundai HB20 falha ao responder ao questionamento: é útil? A necessidade de se impor um desenho "esportivo" na lateral levou a uma área envidraçada elevada e de pequenas dimensões, resultando em problemas de visibilidade, tornando o interior menos útil.
O HB20 também falha no critério de discrição, pois ele é um produto que chama a atenção para suas linhas, o que não é adequado para um carro. Um carro não é uma obra de arte e não é um objeto de decoração, e portanto deve ser discreto.
O Hyundai HB20 também não tem um design "honesto", já que suas linhas sugerem uma esportividade que não é traduzida por suas capacidades dinâmicas. O HB20 1.0 tem desempenho significativamente inferior ao do up! - ao contrário do que seu estilo "esportivo" sugere.
O Hyundai HB20 também não tem um design durável, como prova a reformulação pela qual passará o modelo ainda este ano (detalhes aqui), menos de três anos depois de seu lançamento. O up! já está no mercado europeu desde 2011 e não há sinal de facelift.
E finalmente o design do HB20 falha na diretriz de "ter a menor quantidade de elementos de estilo possíveis". O HB20 tem uma carroceria cheia de linhas de estilo, recortes pronunciados e formas ostensivas, a maioria das quais desnecessária e sem função prática alguma, a não ser "o estilo pelo estilo" - enquanto o up! não tem nem uma linha de estilo na lateral, o HB20 tem nada menos que quatro! O HB20 ainda não aprendeu que "menos é mais".
Dessa forma, segundo os critérios de classificação de Rams, podemos dizer que o Hyundai HB20 não tem bom design. Seu estilo não é de qualidade, porque ele não atende a todos os preceitos do Funcionalismo.
Análise do design do Ford Ka segundo Rams
O Ford Ka é outro carro que falha no crivo de qualidade de design de Rams. A maior falha do Ford Ka é na questão estética. O Ka não é um produto bem executado e não tem qualidade na execução dos detalhes. Portanto, o Ford Ka não é um caro bonito, pois somente carros bem construídos são bonitos, segundo Rams.
O Ford Ka falha também no critério de discrição, com sua dianteira com grade de radiador desproporcional que chama a atenção em demasia quebrando a harmonia da dianteira. Também não é honesto, ao dispor de um estilo que sugere um tipo de performance que seu conjunto mecânico não consegue entregar.
O compacto da Ford não tem um estilo pensado em seus mínimos detalhes, e isso fica claro no interior, que adota um painel proeminente e que rouba espaço útil dos passageiros dianteiros.

Ford Ka - painel com desenho poluído e excessivo
O desenho interno do painel e da carroceria também é carregado - menos que do HB20 - falhando ao atender ao critério da menor quantidade possível de elementos.
Concluindo, segundo os critérios de classificação de Rams, o Ford Ka não tem um design de qualidade pois ele falha em atender a preceitos fundamentais do Funcionalismo.
Funcionalismo - cultura estética do século XXI
É importante considerar que a tendência de desenho funcionalista, honesta e minimalista, não é a única cultura estética. Entretanto, é ela que prevalece sobre todas as demais correntes no design do século XXI. A Apple, uma das empresas de maior sucesso deste tempo tem no funcionalismo e em Rams uma religião, e o resultado são produtos que não chamam a atenção por si mesmos, mas por por sua simplicidade e continuidade.
Conclusão
Segundo os conceitos de avaliação de qualidade de design estabelecidos pelo designer alemão Dieter Rams, o Volkswagen up! tem um design de qualidade e que atende a todos os requisitos do Funcionalismo. Já o Hyundai HB20 e Ford Ka não passam nesse crivo, e, portanto, seus projetos de design não podem ser classificados como de qualidade.
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