Marcial escreveu:
Templo e Guilherme, a comoção seletiva é natural e esperada (não é surreal), embora não seja a atitude mais inteligente.
As pessoas tendem a se identificar com aquelas que compartilham os mesmos valores e modo de vida que elas próprias.
Quando uma bomba cai na Síria, ou uma milícia mata milhares na África, há a percepção de que aquilo não nos ameaça.
São países em estado de guerra deflagrada, onde há conflito aberto e nenhuma menção ao 'estado democrático de direito'.
Mesmo catástrofes como a de Mariana, no quintal de casa, por ter acontecido num ambiente rural, não tem essa atenção.
Mas quando os ataques acontecem num show de rock ou num restaurante que você ou seus amigos poderiam estar, fodeu.
O sentimento de pertencimento, mesmo que seja falso, desperta a solidariedade nas pessoas. A civilização funciona assim.
É justamente por isso que existem estes ataques, pois os autores sabem que esta é a forma de causar medo nos inimigos.
Não estou defendendo a 'comoção seletiva', mas apenas demonstrando que se trata de uma coisa humana, muito humana.
Perfeito. É absolutamente natural. Nós tendemos a nos preocupar apenas com o que faz parte do nosso círculo de influência. As tragédias que ocorrem no oriente médio e na África, regiões de países em constante guerra civil, com governos ditatoriais se alternando sangrentamente no poder, não faz parte da nossa realidade.
Não é que não nos preocupemos ou não nos indignemos com essas mortes; quer dizer apenas que nesses casos o medo não está presente. Quando isso acontece num país desorganizado e numa realidade muito distante da nossa, isso não parece nos ser uma ameaça; quando acontece num país ocidental, supostamente protegido, nos dá a certeza de que nós aqui no Brasil também não estamos seguros. É isso o que impressiona e é isso o que nos faz dar mais atenção ao que acontece na França que ao que acontece na Nigéria: o medo de sermos os próximos.
Mas, como eu disse, nessas horas sempre tem um babaca pra criticar a indignação alheia, mesmo que esse mesmo babaca não tenha dado um pio sobre outra tragédia de que ninguém falou.