Parabéns por vir aqui e não tentar glamourizar esse tanto de merda que aconteceu, respeito isso.LAWYER escreveu:Dei uma lida meio superficial no tópico... Bom tópico, no fim das contas, tirando um ou outro cú dando bote... Magrinho, como sempre, deu a real do que foram os anos 90. Quem se envolveu em confusão e está vivo é por milagre. Oração de mãe ajoelhada, como fazia a minha quando eu saia. Houve um momento em que todos tiveram que sair do Rio. Os Gracie então, nem se fala. O ar estava irrespirável e até os Mestres pediram pra galera dar um tempo. Ia morrer mais gente.
Teve um show na apoteose em que morreu um cara da boxthai. Houve vingança. Em outro show, um garoto do JJ foi morto a chute na cabeça. Não me comprometo com detalhes, vsf by Jeff, mas houve consequências judiciais pra uma galera que passou a ser vigiada de perto.
Dos que sobreviveram, tenho amigos que estão com alguns danos "neurais". Não é todo mundo que vive bem, depois de ter a cabeça chutada, ou levar uma tacada de baiseballl em algum lugar do corpo. Picareta eu não lembro, mas em uma briga na praça do Lido, uns dois ou três foram alvejados por tiros de besta (isso mesmo, aquela arma medieval que atira flexas)...
O Rio parecia o Japão feudal, com desafios pra tudo quanto é esquina. Os Mestres eram culpados por isso. E os Mestres que ensinaram aos Mestres foram forjados com essa mentalidade. Arte Marcial é Arte de Guerra, diziam, e ensinavam seus pupilos a serem o mais escrotos quanto possível. Tinha atleta olímpico de Judo que brigava em baile, era normal... Quando servi o Exército, percebi que criar um assassino não é um problema. O treinamento adequado faz isso. O problema é segurar ele depois... Levados a uma realidade de treinos muito próximas a combates reais, a galera se espancava nas noites quentes do Rio. Havia leniência do governo, da polícia, do judiciário. Se meia dúzia (inclusive Mestres) tivesse ido pra cadeia, muita coisa teria sido evitada.
Carlos Robson tinha 12 filhos. Meu pai dizia que era mais, tinha uns não contabilizados. Fiquei amigo de Renzo e Ralph, se bem que não sei se é possível ser amigo de Ralph... Ryan era um molequinho chato pra caralho, claramente com tdah, criado por uma irmã e Carlinhos e Renzo (mais ou menos). Nenhuma reprimenda, liberdade total, praia e academia todo dia, posição social, transtornos psíquicos não diagnosticados, nem tratados... deu ruim!
Essas confusões, brigas do passado, decepções como atleta, me afetaram muito e já procurei até ajuda terapêutica, o que foi muito bom. Eu conheci minha esposa nesse ambiente de guerra e quase estraguei meu namoro por causa disso. Houve grande resistência da família dela com relação a mim e não foi fácil superar essa resistência...Ela me ajudou muito, me deu uma família que é tudo pra mim, encontrei meu porto, sobrevivi...
Descobri anos depois que procurar uma pessoa e pedir perdão faz um bem danado aos dois. Fiz alguns pedidos, outros aguardam na prateleira das oportunidades. Vamos vivendo...
Pelo visto os mestres davam muita corda pra toda essa merda, espero que hoje em dia essa mentalidade tenha mudado.