parte 2: abaixo
parte 3: viewtopic.php?f=6&t=11368
Eu nem acredito que tem alguém lendo essa historia, estou muito grato. Se tiverem 10 pessoas que leram e ficaram inspirados, ficarei honrado. Quando eu falei que amo cada um aqui, é porque vocês me inspiram e motivam mais que qualquer coisa. Durante essa jornada, eu constantemente penso no OFF, e quero retribuir o carinho que voces tem me dado. Eu quero que todos estejam nessa caminhada comigo. Sozinhos somos fortes, juntos somos imbatíveis. Eu amo voces.
A parte 1 foi apenas um resumo, a parte 2 nao sera uma historia, mas sim um desabafo. Por isso, peço desculpas pelo tamanho, quero deixar tudo aqui pois eh doloroso cada vez voltar no passado e pensar no que ficou para tras. Portanto dividam em partes pois sera impossível terminar tudo de uma vez. Aqui esta minha vida, e obrigado por fazerem parte dela...
Essa eh uma historia de suor, lagrimas e sangue. Historia de como as artes marciais mudou minha vida.
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Tras a pipoca e o Michael, Begege! To te esperando aqui na janela!

Alguns aqui falaram para escrever um livro, mas este livro não teria um fim, porque eu não quero escrever o ultimo parágrafo. Não pelo temor da morte, mas pela ambição em conquistas. A minha motivação eh descobrir o limite, e embora viver intensamente, espero nunca encontra-lo.
Outro motivo que livro não eh viável eh que quero manter os detalhes entre amigos aqui. Durante essa caminhada eu descobri algo e quero que todos participem comigo. Nos estamos na caminhada para algo maior, e estou sentido isso. Todos nós temos sonhos, uns executados e outros não. Espero que essa historia possa ajudar a liberar o poder dentro de cada um de nos.
Onde paramos?
Na França, trabalhando na Ubisoft. Rotina era trabalho por 12h, depois puxar ferro ou jiu jitsu. Aquilo foi me consumindo, ja nao aguentava mais. Nao era a neve que acumulava, mas sim minha furia de explodir.




Eu não pertenço a isso, eu preciso de me expressar através das artes marciais. Para entender o que me levou a deixar tudo e me tornar lutador profissional em 2010 e mudar para os EUA, precisamos de fazer um flashback qual a origem de tudo.
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A historia nas artes marciais: liberando o ki
Ola, sou o menino Play, tenho 10 anos e sou da raça saiyadin, o único mortal com poder de luta mais próxima do mestre Arona (com 1.2% nível de testosterona do mestre).

Embora todo esse poderio, tudo nao passava de um potential. Porem, potencial nao eh nada sem o despertar 100% do dragão.
O que acontece quando um menino do interior, quieto, timido e magrelo muda para a cidade grande? Sim, bullying. Isso so contribuiu para essa furia que carrego comigo.
O bullying vinham dos fortoes do ano superior e ate bullying de meninas! Fui rejeitado pelos grupinhos de amigos e futebol, rejeitado por meninas, rejeitado por professores, rejeitado pelo motorista de onibus. E aos 10 anos de idade, parece que eu tinha um alvo no meio do peito. Mal ninguem sabia do DNA correndo pelas veias.
Aquilo so se transformou em furia, um desejo de me isolar na sala do templo ate se tornar o legendario guerreiro. E foi entre os filmes do Van Damme e Bruce Lee, pedi para ser matriculado no Karate aos 11 anos. E foi onde eu poderia controlar esse dragão interior.

Foi apos a primeira aula de "karate", que me disseram que na verdade era Judo. Na segunda aula, senti que aquilo era minha vida. Aprendi o que eh disciplina, o que eh humildade e o que eh a arte suave.
(detalhe, sabe aquelas crianças que andavam na rua de kimono indo pro treino? Sim, eu era um desses hahaha).
aos 11 anos, aos 13 anos


Enquanto durante o dia o video-game me alimentava com super herois, a noite eu vivia como um super heroi no judo: aprendia o caminho da suavidade, o máximo de energia para o mínimo de esforço, seja o galho flexível e não o tronco na tempestade, aplique técnicas de sacrifício e apague mas não bate. Eu queria viver o Bushido, era fascinado o estilo de vida dos samurais. A Arte da Guerra era meu livro de cabeceira. Aos 15 anos sai do projeto social da policia para carentes e entrei em escola de competição (escola Vencedor, em Uberlândia). Dali so tinham atletas de nível brasileiro, muitos iam para o Minas Tênis em BH ou para Bastos, SP, onde o nível era internacional.
Aos 16 anos, em um belo dia naquelas locadora de video games em bairro, jogando Street Fighter onde paga 1 Dilma e joga 2h, eu vi uma fita cassete de um magrelo de kimono chamado Rorion Gracie e abaixo escrito: Jiu Jitsu vs Judo.
Com odio, imediatemente peguei essa fita, montei na minha Monark Ranger e pedalei o mais rapido possivel, uma avaiana ficou para tras. Como alguem ousa desafiar o meu judo? Eu jamais iria permitir!

A fita começava com uma serie de lutadores brasileiros conhecido gracies, entrando no canto do tatame numa academia de judo nos EUA, e aguardando sua vez no randori. Finalizaram todos no chao, apos serem quedados. O video mostravam mais umas 5 academias invadida, e terminavam com uma de kung fu bastante violenta, pois haviam socos e pontapes.

Como isso seria possivel? Que tamanha falta de respeito desafiar outras artes marciais? Eu jamais iria perdoar-los. Listei todas as academias de jiu jitsu na cidade, amarrei a faixa branca, e fui dar o troco em cada uma delas.
Sabem aqueles caras faixa roxa que sao encardidos, aqueles que nem os marrom queriam pegar no final de treino? Aqueles que saem do triangulo esfolando ate a alma mas nao batem? Aqueles que preferem cair de cabeça ou inves de costa no chao? Pois eh, eu era um desses.
Portando a branca na cintura e roxa no espirito, estava eu entrando no tatame dos "jiu jiteiros", pra fazer um "rola". Que tamanha falta de respeito, como que comprimentam com um tapa de maos? Como que nao sentam de pernas cruzadas? como que saem para beber agua? Eu iria fazer cada um pagar por isso, e fui a caça deles.
Porem, muito cuidado! Ele era muito forte! Como havia falado na parte 1, eu vivia num mundo dos sonhos.
Play puto com os jiu jiteiros aos 16 anos

Visitei 10 academias, inclusive nas periferias, e ensinei a cada um desses que arte suave nao eh brincadeira de moleque. Inclusive me inscrevia em todo campeonato de bjj so pra passar o carro em geral (de branca, claro! haha). Vivi nessa vida invadindo academias de BJJ e campeonatos por dois anos, me sentia como um Ronin, o lobo solitário que carrega na própria espada o sabor da vingança. Em um dia na escola, um grande amigo meu (e usuário do forum aqui, John Kabira), me disse: “Ae Play, cara tem uma academia com o logo da BTT na porta!”
O que? Uma BTT dos meu idolos Arona, Paulao, Ze Mario, Minota?

Nao eh possivel! Eles deveriam ter jiu jitsu, embora sejam meus idolos no Pride, era hora de eu pegar minha querida faixa branca e ensina-los respeito ao judo.
Ainda tenha cuidado, tranquem as portas e janelas! Ele continuava muito forte e perigoso!
Play ainda puto com jiu jiteiros aos 18 anos

Chegando la, um professor muito acolhedor e muito simpatico, chamado Elan Santiago (http://www.bjjheroes.com/bjj-fighters/elan-santiago). Chegou a hora dos rolas, era meu jogo: quedão, imobilização, finalização. Me Puxou pra guarda? passo por cima igual um trator rasgando tudo (nenhum pouco de grosseiria haha). E la vai eu, todo durão, quadril de robô, perdido na meia guarda, trincando os dentes mas rasgando ate o cú!
Ate que chegou no ultimo rola, um recém graduado marrom me chama. “Oba, sera o ultimo carro do dia pra esse marrom respeitar o mestre Jigoro Kano”.
Começa o rola, pegada eh minha com postura, ele girar de lado, me mochila, e me pega no mata leão em pe! Segundo rola, ele puxa pra guarda, raspa, pega o braço, terceiro rola… eu bato.. quarto rola, eu bato… O nome dele: Lucas Lepri. Poder de luta: over 9,000

Simplesmente ele destruiu todo meu ego, me fez parecer um faixa branca na vida, o que eu era na verdade. O que para ele foi um treino normal, para mim foi caminhar para o ponto de onibus aos soluços. Deixei todos os onibus passarem, e sentado naquele banco em lagrimas eu fui convertido ao jiu jitsu.
No dia seguinte, estava la eu, como um legitimo faixa branca, fazendo a matricula e aprendendo a arte suave.
(suave ensinada por moleques que bebem agua no treino, não sentam direito no tatame, nao comprimentam direito, não usam palavras japoneses…. ta bom, ta bom! Eu ainda tinha um pouquinho de raiva guardada no coração haha! Não foi muito fácil pra adaptar).
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De volta a 2010
De Volta a França… O que eu estava fazendo atras do computador por 14h/dia? Eu nao era para estar ali, eu quero ir trocar porrada no boteco na america com o sargento da aeronautica, ser preso na Tailandia e aprender muay thai na cadeia, ir na india soltar o haduken com o velhinho monge.
Nessa fase eu conversava bastante com o Valdez do OFF, outro guerreiro que admiro muito por se aventurar lutando na Australia. Eles estava a frente de mim, e isso foi mais um empurrão a seguir os instintos.
Mas para onde ir? Como eu luto em eventos de MMA? Bom, acho que devo ir atras do Dana Branco para descobrir…
Portanto, pedi demissao da Ubisoft, coloquei umas roupas em uma mochila, e sai parti em busca do sonho, pois afinal de contas, nascemos para fazer isso. O plano eh passar 1 semana competindo BJJ na europa e partir aos EUA em busca do MMA.

Saindo ao mundo pela luta.
O plano era fazer sair pela Europa competindo BJJ, invadindo academias de BJJ (eu faço ate hoje) com paradas em Paris, Londres, Roma, e terminando em Ibiza para lavar a égua antes de ir a guerra nos EUA (ninguém eh de ferro né begege!)
Final do Paris open BJJ, pegamos o primeiro lugar.

Corner do Ivan Maciel (usuario do OFF). Eu so botando pilha: “RAYA, GOSPE NA CARA DELE, RAYA!”

luta completa: https://www.youtube.com/watch?v=PYGwWYNdsbs
John Hathaway do UFC

E uma parada rapida em Ibiza para desvendar a mitologica ilha do mestre Tony, e um “rapido” encontro com a Sabrina

Lembro que eu tava dormindo na areia da praia, varado da madrugada anterior, e varias mensagens do OFF para confirmar o video
A busca do sonho: EUA
O Aviao pousa em LA, aquela brisa de liberdade, nos primeiros passos na Terra do Tio Sam, pela segunda vez.
O plano:
1_ 2 Meses em Los Angeles treinando com mestre Rafael Cordeiro
2_ 1 mes em Vegas na academia do Wanderlei Silva.
3_ Conhecer o Dana White
3_ Mudar para NYC e treinar bjj com Lepri e MMA no Renzo.
O objetivo:
Performar em nivel alto nos treinos para pedir uma chance aos eventos.
Chegando em LA: Faca na caveira



Nesta jornada, voce tem que ser pe no chão para saber suas capacidades, e ao mesmo tempo ser insano que o sonho é possível, voce eh imbativel, e que o céu é o limite. A meu favor, eu tinha o jogo de quedas, de chão e o coração de leão.
Mestre Rafael, recem aberto a Kings MMA, ainda dava aula no galpao do Affliction onde o ring OFFICIAL estava montado. Sim, o mesmo ring que o The Last Emperor, o Belfort, Arlovisk e Minotouro subiram. Que honra! Era uma benção fazer sparring no mesmo templo.
Nessa academia, tinham outros lutadores profissionais, e outros iniciando como eu. A primeira liçao foi saber que, ao inves de faixas como graduacao, no MMA sao lutas. Ou seja, quanto mais lutas, entende-se como uma faixa maior. Experiencia eh a referencia. Portanto, eu com 0-0 era um faixa branca, esquece tudo que voce sabe de artes marciais, eh um outro jogo.
Confortavel eu estava, achei um canto que seria minha camera de ar para recuperaçao dos treinos exaustantes: sabem aquelas casinhas nos tetos das casas americanas, bem la:



Outra lição que aprendi, quando se tem luta marcada, eh como se fosse momento decisivo na vida: Todos na academia focam pra te ajudar, treinos sao estrategicos para não machucar, preparação perca de peso, a concentração e a energia eh incrível. Um dos meu parceiros de treino que também era preta de Judo (Felipe Fogolin: http://www.sherdog.com/fighter/Felipe-Fogolin-52479), tinha uma luta marcada.

Em LA, conheci um brasileiro e professor de bjj do Tito Ortiz e Chris Cyborg (Cleber Luciano: http://www.sherdog.com/fighter/Cleber-Luciano-824 ). Um old school casca grossa, que me contou da existência desse evento Long Beach Fight Night. Era minha chance de colar no evento! Apos o encontro com um dos organizadores, a questão pendente era meu visto para lutar, pois eu estava como B1, turista. Um primeiro sinal que me preocupou, mas enfim, estava muito cedo. Vamos que vamos!
Minha temporada em LA termina, saio de Los Angeles muito confiantes e eternamente grato ao mestre Rafael pelo ensinamento. Agora ca entre nos, minha trocação esta fraca, porem consegui adaptar bem o jogo de quedas e chão para o MMA. Mas seria isso o suficiente? Seria eu um lutador unidimensional?

Indo para Vegas
Chegando em Vegas de onibus, vou para um hostel. Na chegada foi um choque: Luzes, holofotes, posters enormes do UFC, mulheres, casinos, apostas. A cidade transpira entretenimento.

Chegando na academia do Wandeco, fiquei sabendo que aquela semana ele nao ia aparecer. La conheci o Michael Costa (http://www.sherdog.com/fighter/Michael-Costa-9706), que vieram da chute boxe para puxar treino pro Wanderlei. Lutadores que vinham do Brasil e iam pra Vegas, treinaram uma epoca no Wanderlei: Galvão, Maia, Jacare ate o Minota fazia uns treinos la. Alem de varios do UFC. Fiz sparring com Mike whitehead, Jorge Lopez e vitor vianna, que puxava o treino de bjj.

Fisicamente eu estava massudo, solido, cria do mestre Arona, pecoço grosso, costudo andando com 98 kg. Por causa do ritmo de competiçao desde criança, o pulmao criou uma casca que nem o Forrest Gump competiria.
Logo do primeiro treino de boxing, eu ia fazer sparring com um lutador do WEC/UFC, Scott Jorgensen (http://www.sherdog.com/fighter/Scott-Jorgensen-16852). Caralho! Agora era a hora de saber o poder de luta de um lutador de verdade, era hora de virar um saiydin!
So tinha um problema: Ele pesava 60 kg! hahaha hahah hahah! isso, vai rindo.
Nas primeiras combinaçoes eu nem via a cor do moicano dele, so via o vermelho da luva chegando ao meu rosto. Na minha cabeça, ele estava em super velocidade, mas na verdade eu estava assim:

Ele me bateu tanto, que o olho ficou enorme e roxo no meio do treino. Eu nem era capaz de defender, mesmo com os luvao de boxe. Como era possivel? Eu senti aquele mesmo sentimento de quando eu levei a sova do Lepri a 10 anos atras. Eu não aprendi a lição. Eu estava um ogro. Aumento de massa te da força e velocidade, mas precision beats power, timing beats speed. Agora eu sei como o Trunks estava se sentindo:

No final do treino, sentei no vestiario como se nada tivesse acontecido, mas quebrado por dentro. Todos foram embora, eu precisava fugir… que vergonha. Como que um um Arona iria levar carro de um Takanori Gomi? E adivinha o que acontece? O Scott entra no vestiario:
_ hey are you okay?
_ I'm okay. Thank you for the training.
_ Deixa eu te falar uma coisa: voce tem que perder peso. Porque voce carrega uns braços desse?
(eu achei que ele tava brincando, e sorri. Porem, ele nao sorriu de volta).
_ Entao, mas eu vou descer pra 93kg para lutar - eu disse
_ Nao, voce tem que descer pra 84kg.
Aquele bate papo de 3 minutos foi um choque. Ele estava certo, o meio eh muito competitivo para se pensar em estetica, e eu na verdade, andava com 98kg puramente por querer se grande. Eu quero ser o Wandeco que subiu pra pegar o Crocop no absoluto, o Arona desenhado pelo Saku, o Overeem que lancha horse meat, eu janto todo dia pra ficar forte. Entao va para o bodybuilding, porque MMA é para quem fica em pé no final da luta.
Sabe aquele filme Click, que o Adam Sandler tem um controle remoto? Eu queria pausar aquele momento, comprar uma viagem so de ida pra Marte, e sumir do mapa envergonhado. Hoje olhando para tras, eu estava opaco igual o Jeff Monson. O Vegeta estava certo. Eu vivia no mundo dos meus super herois, eu deveria descer para a realidade, que erro primario. Begege, que o mestre Arona nos perdoe, mas temos que descer pra 84kg eventualmente.
Pool party em Vegas

Em Vegas, conheci um promoter do Tuff-N-Uff (evento amador) que visitam academias, e me viu fazendo um treino no Xculture (por pouco nao pego o Belfort que treinava la). Fiquei super empolgado, poderia ser a primeira oportunidade ate a conversa do visto vier a tona… O Evento deveria patrocinar e justificar a presença do lutador. Visivel um atrito que poderia bloquear.
De frente com Dana Branco
Antes de partir para NY, chegou a hora de ir atras do UFC e saber como é o maior evento de MMA do mundo. Ate aquele momento, ja tinha passado quase 3 meses nos EUA porem uns 30 anos de aprendizagem. Lutar no esporte eh na verdade um game, e voce tem que domina-lo.
Indo para Denver - UFC FC Live 1 - Vera vs. Jones
Em 2010 o esporte estava explodindo na America, estava quase um mainstream. Era divertido ver as pessoas tirando foto comigo no aeroporto e dentro do aviao, tenho que admitir que o olho roxo e ser brasileiro ajudou. Ate uma mae pediu para tirar foto com o filho de 5 anos na aposta que eu viria a ser o The Next Big Thing. Eu queria explica-la que eu deveria aprender a trocar porrada antes de tirar a foto, mas era tarde demais. Eu tenho que ser the next big thing.
Cheguei para ver o weight in, e fui direto para o hotel dos lutadores. Eu tinha que encontrar o Dana. Passei umas 4h no lobby, e ele aparece. Ele estava passando com pressa, mas o chamei. Ele me viu, veio ate mim (para minha surpresa) e começamos a conversar. Perguntou onde eu vim, com quem treinava, quantas lutas no cartel, etc. Ai ele tira do bolso dois tickets, e fala: "vai no evento e fica na frente. Nos falamos mais tarde."
Fantastico! Eu ja tinha o ticket (la no fundão) mas agora vou ficar do lado do octagon com os outros lutadores. Evento somente no dia seguinte, hora de passar a noite no aeroporto.

Chegando no evento cedo, cheguei direto na area no piso, onde os lutadores convidados ficavam.
E conheci varios outros lutadores, como o Rashad, Shane. Fiquei amigo do primo do Vera, que ia lutar com um pouco conhecido Jon Jones.



O que me chamou atençao foi o Dana Branco, depois do evento ele foi ate os fans e falou com todos, ficou la uns 30 minutos. Fiquei impressionado. Logo depois veio falar comigo, e falamos por mais 10 min. A minha questao era: o que era preciso fazer para estar no UFC? Ele disse que olha lutadores com lutas, como terminam elas, e deixou claro que eu teria que construir um cartel ja que o UFC eh uma plataforma de exposição, e nao de preparação. Conclusão: o lutador tem que ser bom, claro. Mas acima de tudo, marketable.

Setando do lado do octagon, alguns momentos me marcaram que na minha cabeça roda em camera lenta: o Sakara trocando justo com Irvine, a pedra na mao do Cigano contra Napao, o cutovelo afiado do jones no Vera. Naquele momento eu defini o que eu queria.
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Destino Final: Renzo gracie em NYC

Chegando no aeorporto, NYC ja dava para ver como era outro universo. Mahattan é um formigueiro de predios, uma ilha caotica. Ali seria minha casa por um bom tempo, ja havia meu canto onde iria chamar meu lar: um basement junto com outros 11 mexicanos, colombianos e porto riquenhos. Sim, eram 11 no sub-solo, mais 20 na casa superior. No basement construiram um banheiro, uma cozinha e cubiculos dividos por parede de madeira fina. Afinal, quem conseguiria morar em NY e pagar $125 por mes?

Na porta da academia do Renzo, fiz uma rapida oraçao e entrei no predio. Avistei 2 ou 3 areas de treino, incrivel academia localizada no muvuco de Mahanttan. No tatame lateral estava rolando treino de bjj iniciantes, o Rafael Sapo (http://www.sherdog.com/fighter/Rafael-Natal-13968) puxando treino. No tatame central estavam os mais graduados. E o inesperado acontece:
Ei, voce é o Play? Alguem grita no meio do treino. Po moleque, o que voce esta fazendo aqui?!
Disse o Neiman Gracie (http://www.sherdog.com/fighter/Neiman-Gracie-143527), que era usuario ativo do OFF.
Quem eh Play? Aproxima-se Igor e Gregor Gracie (http://www.sherdog.com/fighter/Gregor-Gracie-23007).
E la foi o Neiman contar umas historias, Ibiza, etc. O ambiente na academia muito positivo, foi uma otima hospitalidade. Porem eu estava ali para falar com o homem chamado Renzo Gracie, que chegaria em 1 hora.
Depois do treino, escuto de longe o vozerao dele, gritando, brincando no caminho, ate o Neiman chegar e me apresentar ao Renzo:
"Po campeao, como voce esta? Po, ae, que força é essa ai hein?" Ja vem abraçando. "Vem me ajudar ali, estou aumentando a academia, esta uma bagunça!" Ai ele me levou para um tour na academia, e mostrou a area em construçao. Eu posso falar que ajudei o Renzo a rebocar a parede academia! haha! O cara é nota mil.
Entao brevemente contei minha historia, o que esta fazendo ali. Foi aqui que disse que a preparaçao de bjj eh ali, mas para MMA todo mundo desce para o Cachorrao em New Jersey.

Otimo, dia seguinte, começo no que seria minha rotina permanente: acordar 4:30am, andar 1 milha, pegar 2 metros ate a Penn Station, pegar o trem para Trenton in New Jersey, e depois o onibus para a academia. Resumindo 3h de ida e mais 3h de volta.

Primeira vez chegando em New Jersey para treino de MMA, olho o celeiro de talentos: Frank Edgar (luta marcada com BJ), Renzo (luta marcada com Hughes), Cachorrao (antes de aposentar), Gregor (fudido de pano), Igor, Sapo (recem contratado no UFC), Rolles, Andre Gusmao (tinha pegado Jones), e outros cascas. Olho do lado o Romulo Barral assistindo o treino, ainda com o joelho avariado da luta contra o Josh Barnett. Era inacreditavel aquele ambiente.

O melhor eh quando tinha super estrelas que passavam pelos treinos para fazer camps. GSP is treinar no Renzo, trazia com ele uns 6 Franceses montro (e judocas). GSP é quase intocavel, e grande para 170 pounds. Treinei bjj durante a preparaçao contra Dan Hardy. O Gunnar Nelson treinava pano com a galera, bem antes de entrar no UFC. Outro cara animal é o Eddie Alvarez, que era super star no japao naquela epoca. Vinha da Philadelphia para treinar no Cachorrao, principalmente a parte de chao. O que nunca vou esquecer era o pega-pra-capar nos treinos entre Alvarez e Edgar.
Outro momento que nao vou esquecer eh quando o Andre Gusmao pegou uma ripa de madeira enorme no canto da sala e me acertou. Bom, ninguem me disse que na verdade foi um high kick que me desmontou. Fiquei 1 semana sem treinar para pregar o cerebro no cranio de novo. Ate hoje nao sei se o knock down foi uma paulada ou um chute.
O Dan Miragliotta e o John M. sao gigantes!


Todos tinham lutas marcadas, entao nesses 3 meses estava em treino intenso como sparring, voltava pra casa igual uma mula cansada, lesoes eram corriqueiras.. Em uma dessas caminhada do trem ate o basement, chegaram 3 individuos magros, e gritando: "La Plata, La Plata!" sera que eles queriam saber quantas horas? Porque se for roubar, eh mais facil eu roubar ele do que ele me roubar. Se alguem ja esta fudido, porque tirar meus $5.17 da unica refeição do dia? Embora tanto eu como ele em criticas situaçoes, seria hermano roubando de hermano, entao eu o entrego o dinheiro e desejo-lhe boa sorte. Que o Karma reine na natureza.
Nao estava facil, e ainda chegava em casa e tinha o cano do banheiro quebrado com dejetos humanos no chao da cozinha. Se eu nao morri nessa fase, eh porque sou imune a qualquer doença imaginável! Acho que adquiri resistencia de barata.
Alem do treino de MMA, eu nao deveria perder a chance de treinar boxe no Bronx.
Foi quando o manager do time estava arrumando lutas em Atlanta City, onde havia casinos e varios eventos de medio porte. Conheci um dos promotores que me disse do problema de lutar sem visto certo. Nao era um processo simples, principalmente alguem que era 0-0. Depois de ir em um advogado so de atletas dos eventos de MMA, me disse que eu deveria montar meu cartel no Brasil, ficar conhecido, para depois voltar para lutar e aplicar para o visto O1.
Eu simplesmente estava preso com relaçao ao visto de turista, nao podia receber dinheiro, nao podia trabalhar, nao podia lutar. Nesse momento ja havia passado o ano de 2010, e quando foi em novembro abriram as inscriçoes para o BBB11.
Logo pensei: porque nao? Mas esse novo video, deveria ficar melhor que o primeiro, porque agente ja colocou o nivel do primeiro. E eis aqui a incriçao que nos levou ate o a produçao da Globo me contactar para um entrevista por skype:
E agora o dilema: a produção chamou 23 pessoas para ficarem confinada no hotel em Dezembro, dentre elas 17 iriam entrar. Porem, a grana estava contada, se eu fosse para o Brasil eu nao conseguiria voltar pela grana. Deveria interromper a carreira de lutador e arriscar o BBB ou procurar a solução para lutar sem visto nos EUA?
Apos o arrependimento do primeiro BBB que nao fui, decidi juntar todas as malas e ir pro Rio.
BBB, estamos na area - Rio la vamos nos!
Chegando no Rio em dezembro, vou para uma bateria de entrevistas, inclusive a tao conhecida cadeira eletrica. Apos uns dias, pediram para ficar no Rio ainda, e iria voltar para o hotel na primeira semana de janeiro 2011. Foi ai que, apos ficar confinado na esperança do sim, 17 entraram no programa, e ficamos entre os 5 eliminados.
oh begege, voce queria ne?

Devastado, pego o onibus na rodoviaria e volto para o interior de Minas, sentindo como se tivesse rodado em 360 por anos e nunca ter saido do lugar. Agora estava arruinado, sem dinheiro para voltar, sabendo que nao poderia lutar em eventos sem visto. Para onde ir? O que fazer da vida? Ao cair nesse beco sem saida, o fracasso foi eminente.
De volta as origens.
Eu e o Frangolino das antigas, quem lembra dele?

Ja na casa dos meus pais, eu senti como nao ha nada melhor do mundo como o lar. Cama macia, comida na geladeira, amor e carinho. E anos depois sem voltar para o lar, eu tinha esquecido o que era vida sem dor, e desde que comecei a jornada em 2007, foi apenas batalhas e feridas. E naquele habitat onde o unico despertar da manha sao pelos passaros, eu vi nas artes marciais a minha calmaria ate a tempestade na minha mente passar.
E assim fui para São Paulo competir BJJ.
Rumo a São Paulo - treinar, comer, dormir, repetir
Napão nao perdoou quando disse que assisti a luta contra o Cigano ao vivo.

Fui muito recebido na Alliance SP (treinava na Alliance MG com Tiago Rocha, antes era TT). Chegando no apartamento dos atletas, um deles chega e fala: "Voce eh o Play, nao eh?"
Era o Guile, usuario do OFF que morava la. A partir dai ja senti em casa, todos eram sangue bom e participei da rotina do time nesse curto periodo de tempo. Foram 2 meses de preparaçao para o Campeonato Paulista, estava entrando no absoluto e peso.
E ficando no meio de tanto talento do jiu jitsu, me lembrou o que vivi em 2010 ao lados de outros artistas marciais de alto nivel. Aprendi que o MMA eh pontiaguado e doloroso. O jiu jitsu eh macio e suave. Sera isso que sentem os lutadores que nao se adaptam ao MMA? Seria esses meus pensamentos reais ou eu precisava mais de treinos para ficar confortavel no MMA? Um ano de treino era pouco ainda, mas eh algo que nunca irei saber… ate hoje isso me persegue.
Galera fera: Gabi, Malfa, Serginho, Dimi, Langui, etc

No dia da competição, todos preparados indo para o ginasio em Barueri. Chegando la, vi o Charles do Bronx acompanhando os atletas. Macaco tambem. Chego na area de aquecimento para o absoluto, estava quase na hora de entrar na arena, era hora do show e eu estava sedento por ação. Eu queria matar um!
E com esse sentimento de destruição, com todo esse acumulo de furia desde 2010, eu olho para o lado e vejo uma criança de kimono perdido ali, ele deve ter entrado na sessao errada. Devo eu avisar ele para esperar la fora? Deixa quieto, ele estava no canto mesmo para nao machucar.
Chega um organizador com um prancheta e chama: "Felipe e Myao, para a area 2". O garotinho da um passo a frente e entra na area de competiçao? "Gente Gente! Cade os pais dele, alguem acode aqui! Ninguem vai falar nada?" - pensei comigo.
E olho para o lado, os outros na area de aquecimento falando: "que azar, o cara vai pegar o Myao de primeira!"
O que? O garoto iria lutar no absoluto??? Sim, e ainda digo mais: todos na area de aquecimento ja conheciam o japinha e estavam assustados. Porra!!! Como isso seria possivel ele com uns 40 a 50kg? E ao mesmo que eu era um assassino, me bateu uma admiraçao tremenda: o garoto finalizou todas as lutas que lutou e nao tomou nenhum ponto ou vantagem. Incrivel.

E assim foi inevitavel, depois de umas 15 lutas (absoluto parece que sao infinitas lutas). Chegou a hora que o cara da prancheta foi ate a area de aquecimento, ja vazia, e chamou: “quartas-de-finais: Joao Myao e Play, o guerreiro saiyadin na area #3”
E assim como Sun Tzu disse, conheça seu adversario e o conduza para o desconhecido.
O jogo dele eh technico, refinado e defensivo: puxa pra guarda, dela riva, embola, e talvez sai algo.
O meu jogo eh bruto: joga quedao de cabeça no chao, passa guarda rasgando ate o cu, pega braço, pega pescoço, pega qualquer coisa.
O jogo nao casava para ele, e venci por uma vantagem. Embora essa tenha sido a quarta de finais, foi mais dura que a final, onde saimos campeoes do torneio.
Estou procurando o video perdido em algum HD, mas basicamente foi assim a luta, eu querendo trocar em pe, e ele chamando pra guarda:
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De volta a Minas Gerais, eu chego em casa, coloco as duas medalhas no peito de minha mãe, e digo que era hora de partir. Eu odeio fracassar mais do que amo ganhar, portanto era hora de voltar a onde eu pertenço: a guerra.

Assim, em meados de 2011, eu volto pela terceira vez aos EUA, mas dessa vez inspirado no mestre que dominou o bodybuilding e hollywood: master Arnold. California, la vamos nos!
Destino: California. Objetivo: quebrar em Hollywood com artes marciais
com patrocinio de Prenda-me se for Capaz

La vamos nos de novo, eh apaga mas nao bate! Enquanto tiver gas, a batalha não esta perdida. Terceira vez nos EUA, e aquele ar de liberdade sempre no ar. “Para a direita, venha comigo” Diz um oficial do controle da borda, me levando para uma salinha a parte. “Mas porque? Voce vai me apresentar o mestre Arnold?” pensei comigo.
Depois de 4 horas sentado numa salinha de espera, vem o officer trazendo meu passaporte e dizendo: “sir, voce esta em boas condiçoes, mas quero lhe dizer que voce esta over-using o sistema”. Em outras palavras, o officer detectou o meu lado Frank Abagnale.
“Sir, voce esteve nos EUA 3 vezes em menos de 4 anos, e mudou para 5 vistos diferentes. Na proxima vez que entrar, voce tera problemas”
O recado foi claro: eu estava hackeando o sistema por usar todos os vistos possiveis no maximo de suas duraçoes afim de ficar no estado unidense a procura de oportunidades. Se eu voltasse novamente, eu seria barrado. Ou seja, essa viagem seria ser somente de ida.
Chegando em Los Angeles, o plano era dominar o mundo do cinema, atraves das artes marciais. Em outras palavras, ser stuntman (dublê). Ao conseguir nome relevante, era certo que eventos de MMA iriam se interessar. O caminho seria arduo, mas Bruce lee e Van Damme nao aconteceram do dia para a noite. Porem eu tinha apenas 6 meses para fazer acontecer, ja que o visto expiraria.
Conhecendo o meio artistico com o mestre Rey
E por causa eu tinha amigos de Houston vivendo em LA, eu ja sabia onde ir e o que fazer. Foi assim que conheci o primeiro brasileiro fazendo dubles e filmes. Lateef, o Eddie Gordon do Teken que eh um animal em capoeira.

Alguns Studios estava dando confiando papeis a mim (nada pago, tudo free), e eu precisava de um papel de sorte, uma mistura de Don Juan que era porradeiro, que falava tudo errado, e que era desengonçado. E nada desse papel, e o tempo passando. Enquanto isso, estava treinando MMA na Tapout com Jamie Yager para nao perder o ritmo.
Muita inspiraçao de todos que conheci, Mel Gibson, Ben Stiller, Rodrigo Santoro e ate o Tom Cavalcante. E durante as primeiras semanas como ator e dublê, era so assim: Entra mudo e sai calado:
Olha nois ai begege, ação pura! hahaha! A camera custou a focar! huahuahua!

Todos os dias aulas de acting, treinamento de duble, nada mais me motivava ate eu começar ir em audiçoes para papeis como ator e duble em filmes de artes marciais. Mas nao era o suficiente, eu queria entrar em ação. Eu nao queria ficar de background, eu queria falar!
Begege, corre e tras a pipoca! Agente na novela mexicana! Hablando em Spañol muchacho!


Tras o lenço begege! Tras o lenço, tem drama tambem!


Agora ta ficando bom, so falta umas lutas pra ficar melhor ainda!

Sai um Oscar pra nois mas nao sai pro Di Caprio!


Aos poucos eu estava conseguindo infiltrar em Hollywood, para a minha surpresa. O objetivo eram artes marciais nos filmes, mas o mercado eram muito pequeno para dublês, e outras oportunidades foram surgindo. Eram festas em mansao des diretores, saindo com uns top atores (ate galera da Globo no meio). Frequentando a nata durante o dia, e dormindo nas quebradas durante a noite. Afinal de contas, Prenda-me se for Capaz, ou na boca do povo: fake it until you make it.



Era imprensão minha ou estava pintando algo ali? Eu não estava indo atras de papeis como antes, agora os agentes vinham oferecendo.
E foi dizer isso ate surgir o primeiro papel para um filme de longa metragem e os Studios perguntarem: What's your visa status? Caiu como uma bomba, e logo pensei na experiencia com eventos. E quando surgiram as oportunidades para acontecer, veio essa pedra no sapato. Os Studios não patrocinavam, e sabem o que os produtores me falaram?
"Va para o Brasil e construa sua carreira, junte material, e volte depois"
Ou seja, apenas substitui eventos de MMA por Studios de Cinema. Eu ja tinha visto esse filme antes, e sabia que isso ia me levar em um beco sem saida. Eu deveria fazer algo. Havia oportunidade, mas eu nao poderia atravessar essa pedra no caminho. Este era o teto, nao dava para atravessar essa dimensão.
E o pior de tudo, restava 2 meses para o Obama me expulsar dos EUA, o visto iria expirar. E o pior ainda: os officers da entrar nos EUA disseram que eu nao entraria de novo. O que fazer? O casamento gay tinha sido aprovado, seria a solução para o visto (oh begege, vc gostou dessa ideia ne?). Seria aqui o final da nossa saga, em setembro de 2011?
Eu estava em panico, precisava de tirar o coelho da cartola equilibrando em um penhasco numa corda bamba, simplesmente eu precisava de um milagre, os planetas tinham que alinhar e o universo conspirar a favor … seria o nosso fim?

Parte 3 e FINAL coming soon, dia 10 de Feveiro!
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