Mensagem
por Flaalmendra » 30 Mar 2016 10:16
Sargento Dunga, Coronel Nunes e o triste ocaso da Seleção Brasileira
Dunga, de fato, é um sujeito de sorte. Se ele segue ocupando o mais importante posto do futebol brasileiro, nesta manhã de 30 março de 2016, não é nem por conta daquele empate fuleiro e miserável arrancado na noite de ontem sobre o Paraguai (2 x 2) no estádio Defensores Del Chaco. Se ele segue indefinidamente como treinador da Seleção Brasileira de Futebol é porque sequer há quem possa demiti-lo.
Quem poderia demitir Dunga? Talvez Antonio Carlos Nunes de Lima, o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol? Coronel Nunes, um sujeito com menos cacife e currículo como dirigente do que Dunga como treinador, surgiu na CBF apenas para segurar no poder o atual grupo que conduz o futebol brasileiro ladeira abaixo há décadas.
Talvez Marco Polo Del Nero? Talvez José Maria Marín ou Ricardo Teixeira? Com certeza esses três ex-presidentes ainda apitam na CBF mais do que Coronel Nunes. Mas o primeiro deles está mais preocupado com CPIs e FBIs, o segundo cumpre prisão domiciliar nos Estados Unidos e o terceiro sumiu, recolheu-se em paradeiro incerto, esperando que se esqueçam dele.
E Dunga, aqui está Dunga, é o sujeito certo no lugar certo – o sujeito certo para todo mundo esquecer de Ricardo Teixeira, Marín, Del Nero, Coronel Nunes. Dunga ocupa todas as manchetes, todas as mesas redondas, todas as coletivas de imprensa com peito aberto e espírito armado. O que segura Dunga no cargo é essa sua vocação servil, sua postura de sargentão, sua egolatria, sua atávica propensão de chamar para si as broncas e as hostilidades da opinião pública e da torcida brasileira.
Descontrole e deriva
Em sua primeira passagem pela Seleção Brasileira de Futebol, entre 2006 e 2010, Dunga ao menos podia fazer cara feia, vociferar aos microfones e bater na mesa dizendo que seu time conseguia bons resultados – não jogava bom futebol – e ninguém estava ali para isso – no entender de Dunga – mas o time conseguia bons resultados então não havia nada a se contestar.
Agora nem isso, sabe? Neste momento, após seis rodadas, a Seleção Brasileira ocupa o vexaminoso sexto lugar nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2018. Seis entre dez. É tipo como se o Brasil fosse a Ponte Preta da América do Sul. Classificam-se apenas os quatro primeiros, e o quinto tem direito a repescagem. Ou seja, o Brasil neste momento sequer iria para a repescagem. Por enquanto, ganhamos apenas de Venezuela e Peru (dois dos três últimos colocados) quando jogamos dentro de casa.
Dentro de campo, o time de Dunga sequer autoriza alguma perspectiva de que ali adiante subirá de produção, passará a jogar bem e tudo se resolverá. A se tomar esta última partida como exemplo: o que se viu foi uma equipe frouxa, sem pegada defensiva, sem descortino criativo, sem poder ofensivo. Uma equipe que só empatou – com gols aos 33 e aos 46 minutos da segunda etapa – porque o Paraguai lá pelas tantas preferiu se recolher e esperar o reloginho passar.
Na noite de ontem, em Assunção, a dupla de volantes (Luis Gustavo e Fernandinho) se via limitada à primeira metade do campo, os três meias (Renato Augusto, Douglas Costa e Willian) não esboçavam uma única jogada em conjunto, os dois laterais (Daniel Alves e Filipe Luís) ficavam impressados lá atrás boa parte do jogo e, com todo carinho e todo respeito, o centroavante brasileiro (Ricardo Oliveira) já contava trinta e cinco anos de idade.
Esta tal de Seleção Brasileira é um time açodado, desorganizado. E que desta vez, particularmente, se ressentiu da ausência de duas de suas referências: Neymar Jr e David Luiz. Ambos suspensos porque ambos bateram demais no jogo contra o Uruguai, porque ambos acusaram assim o descontrole de todos os demais deste time.
Enfim, o time de Dunga parece ser a perfeita imagem emocional, técnica e tática da atual deriva do futebol brasileiro. Nesse sentido, o ocaso da Seleção Brasileira é a perfeita tradução de todo o resto do futebol brasileiro.
Sim, faz todo sentido Sargento Dunga seguir como treinador. Parabéns, Coronel Nunes.