Derfel escreveu:Como assim, cara, você trouxe a questão da reprodução sexuada "para preservação da espécie". Eu só fiquei na dúvida e te questionei. E essa dúvida surgiu por inúmeros fatores. Um deles é que a reprodução sexuada existe mesmo em espécies monóicas (onde não há sexos separados/macho e fêmea). Nesse caso todos os indivíduos seriam "homossexuais" e bastante relevantes "para preservação da espécie".
agradeço pela explicação. esse é o caso da minhoca, por exemplo, onde todos os indivíduos são hermafroditas, certo?
mas como você deve saber, dentro da visão cristã, apenas o homem está sujeito ao pecado, não outras espécies animais (se não me engano, não há sequer consenso nos diferentes credos cristãos sobre se animais outros que não o homem possuem ou não uma alma, por exemplo). portanto, na visão cristã, o homem incorre em pecado ao praticar o ato homossexual, não sendo o mesmo aplicável a um cachorro. como na visão cristã o ser humano é o ápice da criação (não à toa acreditam ter o próprio deus se encarnado para salvar espiritualmente esta espécie do pecado e não qualquer outra), acreditam os seus adeptos que a evolução foi tunada de modo a permitir que a espécie humana se reproduzisse sem incorrer em pecado.
deste modo, substitua minha imprecisão sobre reprodução sexuada por reprodução sexuada em espécies com sexos separados, ou mais especificamente, na espécie humana, já que o conceito de moral cristã se aplica apenas e tão somente ao homem.
Derfel escreveu:Outro conceito absurdo é esse de " preservação da espécie". O próprio conceito de espécie é uma forma humana de classificação de seres vivos. E esses seres mudam muito com o passar do tempo. A seleção natural não atua preservando espécie nenhuma e nenhum indivíduo está preocupado com isso. No máximo, está preocupado com o sucesso da sua prole e parentes próximos. A SN atua sobre indivíduos, não sobre espécies.
quando você afirma que "nenhum indivíduo está preocupado em preservar espécie" você está se referindo aos animais de um modo geral, e não especificamente a indivíduos humanos, certo? neste caso, concordo contigo.
com relação à sua alegação de que a seleção natural não atua para preservar espécie alguma, você simplesmente não tem como provar esta afirmação (se quiser tentar, fique a vontade, eu vou gostar bastante de ver isso!). suponha que deus tenha tunado as leis da natureza de modo que a espécie humana estivesse destinada a aparecer em algum ponto do universo (que é exatamente o que crêem os cristãos). devido ao credo cristão e ao teatro da salvação, no mínimo essa espécie deveria durar o suficiente para receber o próprio deus encarnado como um de seus membros (coloca aí centenas de milhares de anos desde o aparecimento do homo sapiens até cristo). como é que você vai provar ou desmentir esta hipótese, sendo que ela não é falseável?
note que a seleção natural, bem como qualquer lei da biologia (não sei se vocês usam esse termo como usamos na física), não é uma lei fundamental, tanto quanto leis termodinâmicas não são leis fundamentais. eu particularmente não sei quais são as leis fundamentais do universo, pois seja lá quais forem, elas devem ser o bloco mínimo a partir do qual, idealmente, você conseguiria descrever quaisquer fenômenos observado no universo (incluindo o mais complicado deles, que é a consciência). no momento, o conjunto mais fundamental de leis físicas conhecidas são o modelo padrão da física de partículas + a teoria da relatividade geral para a gravitação. absolutamente quaisquer leis ou tendências macroscópicas observadas no universo estão sujeitas a estas leis mais básicas (as quais muito provavelmente estão subordinadas a leis mais fundamentais). se você muda a forma como qualquer uma das 4 interações fundamentais funcionam, bem como qualquer valor dos acoplamentos do modelo padrão, você elimina completamente a possibilidade de formação de estruturas no universo e eventos que só apareceram bem posteriormente, como a vida e a seleção natural das espécies.
o fato é que a seleção natural (e tudo o que veio antes dela) se deu de modo tal que a procriação humana ocorresse por meio do ato heterossexual. ou seja, a seleção natural colocou os atos homo e heterossexual em patamares completamente distintos de importância para a perpetuação da espécie humana, exatamente como eu havia dito antes. é impossível negar isso, obviamente, pois se as relações heterossexuais fossem extintas (ao menos até antes da invenção da fertilização in vitro, ou seja, período que abarca a maior parte da existência do homem), extinguiria-se junto com ela a espécie humana, enquanto que se fossem extintas as relações homossexuais, absolutamente nada mudaria na espécie humana. se por alguma razão, no passado, tivesse sido extinto o tesão entre homens em mulheres, não estaríamos tendo esta conversa agora. sem pensar em hipóteses religiosas, isso não seria problema algum, dadas as várias espécies já extintas, nós seríamos apenas mais uma. na visão do cristianismo, contudo, a perpetuação da espécie humana é importante simplesmente porque é um desejo de deus.
note, novamente, que dentro do credo cristão, deus "decidiu primeiro" (na verdade, sendo onisciente no credo cristão, deus simplesmente sempre teve essa postura) que o homossexualismo era pecado, e então tunou as leis da natureza de modo que o homem pudesse se reproduzir sem praticar qualquer pecado. tal afirmação é logicamente possível, embora obviamente não esteja sujeita ao escrutínio científico por não ser falseável.
Derfel escreveu:Sem contar que reprodução assexuada é de longe muito mais frequente que a sexuada. Então a seleção natural não estabeleceu absolutamente nada disso.
novamente, a seleção natural estabeleceu exatamente que o ato heterossexual fosse essencial para a perpetuação da espécie humana, enquanto o ato homossexual fosse completamente desnecessário e irrelevante para tal fim. isso não é uma opinião ou interpretação de absolutamente nada, é um fato.
talvez o problema seja semântico. não sei se é o termo perpetuação que estou usando, que poderia denotar literalmente algo "perpétuo" (se for isso, entenda "perpetuação" como prosseguimento da espécie humana por um dado intervalo de tempo, ou algum vocábulo reduzido que denote esta ideia, o que me foge à mente no momento). pode ser também o fato de eu ter falado de reprodução sexuada de modo impreciso anteriormente, neste caso, como falei acima, substitua isso por estritamente reprodução humana, já que apenas o ser humano é objeto de análise moral no cristianismo.
Derfel escreveu:Cara, é muito complicado essa história de inventar uma justificativa científica para os dogmas religiosos. É um buraco sem fundo. Você não vai encontrar nada lá.
você poderia me dizer que justificativa científica eu inventei para qual dogma religioso? eu não me lembro de ter feito isso, até porque uma tentativa deste tipo não faz absolutamente nenhum sentido. um dogma religioso é um dogma religioso justamente por não ser objeto de análise científica. acredito que eu não cometeria um erro de lógica tão básico, mas se o cometi, você poderia me trazer os quotes exatos, já que realmente não me lembro de tê-lo feito?
eu me lembro de ter posto 3 pontos:
1. (dogma religioso cristão). deus considera o ato homossexual moralmente errado.
2. (fato empírico). seres humanos só se reproduzem via ato heterossexual e não homossexual, o que coloca estes atos naturalmente em patamares completamente distintos de importância para a "perpetuação" da espécie humana.
3. (conjectura religiosa). 2 é uma consequência de 1.
note, contudo, que o ponto 3 não é falseável, portanto, não está sujeito ao escrutínio científico, embola obviamente possa ser falso ou verdadeiro (apenas é impossível checar a veracidade de tal conjectura usando o método científico). portanto, em momento algum "usei justificativas científicas para justificar dogmas religiosos", já que isso é logicamente inconsistente.
Derfel escreveu:Por outro lado entendo que essa conflito interno entre a razão e a religião acabe forçando esse tipo de coisa.
qual conflito interno? de quem?
você propõe que haja algum conflito intrínseco entre razão e religião? eu não gosto de discussões semânticas, pois são inúteis, mas me permita apenas te inquirir se posso substituir o entendimento do termo "razão" usado por você por "ciência". já que, qualquer religião, certa ou errada, é obviamente uma construção racional. neste caso, você propõe que exista um conflito intrínseco entre ciência e religião? se sim, poderia discorrer sobre isso, fiquei bastante interessado em conhecer tal conflito.
note que estou falando de conflito intrínseco entre ciência e religião, e não de conflitos pontuais entre ciência e uma dada religião, até por que eu já mencionei anteriormente que a narrativa do mito da criação no gênesis bíblico está completamente errada (e que, os católicos, por exemplo, apesar de seguirem a bíblia, não tomam mais o gênesis como literal faz anos).
this is a time of reduced awareness.