Pois é, Carrapeta. O negócio é que, por mais maluco que seja, existem teorias físicas compatíveis com tudo isso.
Quanto ao McGonaughey morrer ao cair em um buraco negro, acho que você se refere ao efeito comumente chamado de "espaguetização" causado pela monstruosa gravidade de um buraco negro comum, de massa estelar. Esse fenômeno aconteceria porque a gravidade do buraco negro é tão intensa que ele puxaria a parte de baixo do objeto mais próxima da superfície, ou seja, os pés do McGonaughey, mais rapidamente que a cabeça, esticando-o assim de forma mortal. O porém dessa questão é que no caso de um buraco negro supermassivo, como é o caso do do filme, a gravidade é tão intensa e o campo gravitacional tão maior que ele acaba puxando-o de forma isonomica sem nenhuma distorção, o que, em teoria, permitiria que ele se mantivesse vivo até o choque com o que quer que exista dentro do buraco negro.
Sobre a radiação emitida, na região onde ele se encontraria, até onde eu sei, ela seria muito fraca. Essa radiação foi descoberta pelo Stephen Hawking, por isso tem o nome dele. A radiação Hawking se bem lembro não é emitida pelo buraco negro, vez que ele não deixa escapar absolutamente nada, sendo, portanto, impossível emitir qualquer coisa. A radiação, muito fraca, surge do disco de acreção ao cair no horizonte de evento. Os efeitos dessa radiação no McGonaughey eu desconheço mas imagino que não seriam, a princípio, fortes o suficiente para que ele morresse instantaneamente, dada a natureza da radiação Hawking.
E sobre o final, o que aconteceu, segundo eu entendi, foi que ele caiu num espaço quintodimensional onde seria possível navegar pelo tempo tal como percorremos o espaço. Se você pensar no espaço-tempo que temos hoje como o ambiente quadridimensional que é, verá que podemos andar para trás ou para frente, para cima ou para baixo e para ambos os lados no espaço mas não podemos nunca pular para o futuro ou voltar ao passado. Na nossa realidade estamos presos no presente, impossibilitados de caminhar na quarta dimensão que é o tempo. Num espaço quintodimensional como aquele em que o McGonaughey caiu seria provável que, podendo então transitar pelo tempo linear, toda a vida do ser quadridimensional se estendesse diante dele, como acontece no filme. No final o McGonaughey se encontra num ambiente teórico matemático chamado Tesseract (não aquele do filme do Thor), onde as quatro dimensões (incluindo o tempo) se estendem ad infinitum em todas as direções.
Assim, não é que ele tenha caído coincidentemente na biblioteca no meio de todo o universo. Ele caiu dentro de um Tesseract, ou tesserato, e o tempo que se estende é o dele, da vida dele. Quando ele flutua nas três dimensões espaciais dentro do hipercubo está também flutuando pelo tempo da própria vida dele. A maneira como ele interage com o passado retratado no filme é que eu achei curioso, já que ele fica "preso" atrás da estante.
Aliás, é curioso que até o paradoxo do avô foi bem explorado no final do filme. O paradoxo do avô impõe que não seja possível, numa eventual viagem no tempo, alterar as condições que levaram àquela própria viagem. Ou seja: não seria possível ao personagem do McGonaughey, por conta do paradoxo do avô, alterar o passado dele, que o levou até aquele momento dentro do tesserato. Ele tentou mas não conseguiu fazer com que a filha dele o impedisse de sair. Ele só teve sucesso em influenciar o futuro quando se comunicou com ela no mesmo momento em que ele estaria lá dentro da quinta dimensão e ela na biblioteca procurando a resposta que ele deu.
Enfim, pelo meu pouco conhecimento em física, achei o filme excelente e, embora ele explore os limites da física, principalmente no final, não vejo nenhuma inconsistência grave na história. Houveram algumas licenças poéticas para o bem do drama mas nada que fugisse do "bom-senso" na física.
Na minha humilde opinião o filme é absolutamente excelente.