Fórmula 1 analisa possível parceiro para Hamilton na Mercedes em 2017. Wehrlein é solução lógica, Bottas tem chances e até retorno de Button e Felipe Massa é cogitado
Profissionais da F1 e da mídia do mundo todo trocaram informações, nesta sexta-feira, sobre quem poderá ser o companheiro de Lewis Hamilton na Mercedes em 2017. Nico Rosberg, campeão do mundo, anunciou também nesta sexta-feira, surpreendentemente, na festa de entrega do prêmio em Viena, Áustria, que decidiu abandonar a F1. Uma bomba!
Existe simplesmente na F1 uma vaga de piloto no melhor carro da competição, com elevada probabilidade, na temporada programada para começar dia 26 de março na Austrália.
Os desdobramentos da decisão de Rosberg são profundos. O primeiro diz respeito à competência do novo companheiro de Hamilton. Rosberg pode não ser tão talentoso quanto o inglês, mas em especial nesta temporada ofereceu resistência ao terceiro título do adversário com desempenho como bem poucos pilotos seriam capazes.
E vencer Hamilton com o mesmo carro e tratamento é um atestado com firma reconhecida por Michael Schumacher, Ayrton Senna, Juan Manuel Fangio, dentre outros supercampeões, de que Rosberg é, mesmo sem ser genial, um grande piloto.
Se o novo companheiro de Hamilton não for dos mais competentes, há o risco de a F1 ser muito monótona em 2017, caso o seu modelo seja tão eficiente como o dos três últimos campeonatos. Hamilton dominaria o campeonato sem maiores dificuldades.
A saída do alemão de 31 anos da Mercedes e da F1 gera reflexos importantes também no mercado de pilotos. Hoje há apenas quatro vagas em aberto: a cobiçadíssima da Mercedes, as duas da Manor e uma da Sauber.
Existem quatro pilotos que disputaram a temporada deste ano sem contrato, ainda: Pascal Wehrlein, piloto da Manor até o GP de Abu Dhabi, domingo, Felipe Nasr, Sauber, o mexicano Esteban Gutierrez, Haas, e o indonésio Rio Hayanto, Manor, este substituído pelo francês Esteban Ocon na Manor a partir do GP da Bélgica, 13º do calendário, dia 28 de agosto.
WEHRLEIN, SOLUÇÃO LÓGICA

Não está claro se Toto Wolff, sócio e diretor da equipe Mercedes, além de diretor esportivo da montadora alemã, fará a escolha natural de eleger Wehrlein como o novo titular do time tricampeão do mundo.
Ele é alemão, jovem, 22 anos, faz parte da academia da Mercedes, realizou muito bom trabalho no ano de estreia, ao somar um ponto no GP da Áustria e passar cinco vezes para o Q2, nas classificações, mesmo com um carro reconhecidamente lento. Antes da F1, Wehrlein venceu o conceituado Campeonato Alemão de Turismo, o DTM, com a Mercedes, claro.
Possivelmente Wolff está se perguntando se é hora de colocar Wehrlein num carro vencedor, depois de apenas 21 GPs numa equipe de bem poucos recursos. O GloboEsporte.com conversou, nesta sexta-feira, com dois profissionais da F1 e jornalistas de várias nacionalidades.
Para a maioria, Wehrlein não deve ser a escolha de Wolff. A Mercedes precisaria de alguém mais lapidado, com mais experiência de lutar pelo pódio. O jovem alemão é, por enquanto, somente uma promessa.
BOTTAS, BOAS CHANCES

Há um nome que emerge, diante das circunstâncias, com chances até mesmo não pequenas, de ficar com a vaga, apesar de apenas há pouco ter sido anunciado por seu time: o finlandês Valtteri Bottas. A Williams informou, dia 3 de novembro, que ele e o estreante canadense Lance Stroll, adolescente de 18 anos, campeão este ano da F3 europeia, formarão a sua dupla em 2017.
Há elementos que sugerem ser possível um acordo entre Wolff e quem decide na Williams, Claire, filha de Frank Williams, sócia e diretora, e o diretor geral da organização, Mike O'Driscoll. Wolff tem interesse em Bottas. Razão: o dirigente austríaco é sócio da Aces Management, junto de Mika Hakkinen, ex-piloto bicampeão do mundo, 1998 e 1999, pela McLaren, e o empresário belga Didier Coton, empresa responsável pelo gerenciamento da carreira de Bottas.
Antes de assumir a Mercedes, em janeiro de 2013, Wolff investiu dinheiro próprio na formação de Bottas. Como sócio da Williams, na época, em 2012, Wolff o levou para lá, depois de ser campeão da GP3, para ser piloto de testes e o promoveu a titular em 2013. Mais importante: Bottas demonstrou competência para ascender a uma escuderia vencedora. Disputou quatro campeonatos pela Williams e obteve nove pódios.
ECCLESTONE QUER MEDALHÃO

Bottas é um nome na lista da Mercedes, dentre outros. A essa altura, é provável que até Bernie Ecclestone esteja acompanhando, de perto, o que está acontecendo no mercado de pilotos. Se pudesse, o ainda homem forte da F1 amaria ver um medalhão ao lado de Hamilton, como Fernando Alonso, da McLaren-Honda, mas as chances são pequenas. Mais para a frente falaremos do espanhol.
O que Wolff teria a oferecer a Claire Williams e Mike O'Driscoll para convencê-los a liberar Bottas? O time compete com unidade motriz Mercedes e paga cerca de 16 milhões de euros (R$ 60 milhões) por ano. É bem possível que Wolff conseguisse aprovação do board da montadora para ir além dos 5 milhões de euros de desconto, a que tem direito de oferecer às equipes que utilizam unidade motriz Mercedes, para negociar a contratação de pilotos do seu interesse.
E diante da emergência e importância do caso, faz sentido acreditarmos que a concessão seria generosa, como por exemplo simplesmente fornecer a unidade motriz a Williams sem cobrar. Essa possibilidade é real. Nessa hipótese, nada fantasiosa, Claire e O'Driscoll arregalariam os olhos.
FALTA EXPERIÊNCIA
O problema é que a Williams precisaria de alguém com experiência em lutar pelo pódio e não há no mercado. Claire, O'Driscoll e o diretor técnico da Williams, Pat Symonds, acreditam que o novo modelo da Williams os permitirá lutar pelo pódio com regularidade, como nas temporadas de 2014 e 2015.
A mudança radical do regulamento, em 2017, é o motivo. Carros e pneus mais largos e unidades motrizes mais potentes deverão deixar os carros cerca de quatro segundos mais rápidos. A Williams dispõe de orçamento de uma organização média da F1, não mais de 150 milhões de euros (R$ 550 milhões), metade da Mercedes, RBR e Ferrari, por exemplo, mas tem estrutura de time campeão.
Wolff tem ainda a oferecer Wehrlein, mas o alemão não atende ao pré-requisito da Williams. Outro piloto no mercado, Felipe Nasr, também não. Ambos, apesar do grande potencial, são ainda incógnitas. E há ainda um problema para a Williams liberar Bottas. Seu outro piloto, Stroll, é completamente inexperiente, não apenas na F1 como no automobilismo. Precisará de alguém que sabe o que faz e não como ele, que está lá para descobrir tudo. É algo que a Williams terá de resolver se aceitar negociar com Wolff.
Assim como Wehrlein, o francês Esteban Ocon, 19 anos, é bem conceituado na Mercedes. Há dois anos é piloto da academia. Ele foi campeão da F3 europeia em 2014, com 17 anos, batendo a grande estrela hoje da F1, Max Verstappen, terceiro no campeonato, e conquistou o título da GP3 no ano passado, também na temporada de estreia. E ratificou a impressão de piloto com grande potencial de evolução nas nove etapas que disputou este ano pela Manor.
Ocon foi o escolhido por Vijay Mallya, sócio e diretor da Force India, para ser o companheiro de Sérgio Perez em 2017. A relação do time com a Mercedes ajudou a viabilizar o negócio. A Force India compete com a unidade motriz alemã. Wolff reduziu o valor a ser pago pela escuderia para assinar com Ocon. O diretor da Mercedes precisa conhecer melhor o potencial do promissor francês.
QUANTO CUSTA?
Mallya poderia, como Claire e O'Driscoll com Bottas, liberar Ocon, diante de uma importante compensação financeira: o fornecimento da unidade motriz a preços simbólicos ou mesmo de graça. Estamos falando da rescisão do contrato de um piloto que toda a F1 acompanha com atenção.
O caso de Ocon parece ser o mesmo de Wehrlein. Wolff pode não desejar apostar num deles, diante de sua total falta de experiência em lutar pelas primeiras colocações na F1, realidade bem distinta da que aprenderam este ano, ambos estreantes na competição, na Manor. Mas, sem dúvida, o diretor da Mercedes pode surpreender e optar por um deles.
DESGASTE COM OUTRAS MONTADORAS
Que alternativas teria Wolff? Não há outra: pagar a multa do rompimento do contrato de outro piloto de interesse da Mercedes. E assumir o degaste, não pequeno, de uma decisão dessa natureza. No caso de Bottas, os danos à imagem da Mercedes seriam menores. Mas se o escolhido tiver contrato com uma escuderia de montadora, McLaren-Honda, Ferrari-Fiat e Renault, um clima de animosidade será criado com uma empresa da área.
Essa realidade não inviabiliza o negócio, mas o board da Mercedes pode não concordar, a fim de preservar a imagem da montadora. Na hipótese de Wolff receber sinal verde para ir adiante, por quem poderia se interessar? Quem se lembra do que ele disse quando o próprio Rosberg não tinha ainda assinado a renovação do contrato para 2017 e 2018?
No dia 22 de julho, sexta-feira do GP da Hungria, 12º do campeonato, a Mercedes anunciou a extensão do compromisso de Rosberg. Pouco antes, Wolff declarou que se o alemão não permanecesse na Mercedes o espanhol Fernando Alonso, uma vez disponível, seria um “excelente opção”.
Ocorre que, ao que se sabe, Alonso, de 35 anos, tem contrato com a McLaren-Honda até o fim do 2017 e sem cláusula que o permita deixar a organização antes disso, segundo explicou Ron Dennis, ainda no fim do ano passado. Mas, de novo, nada é impossível na F1. Se Wolff acenar com a possibilidade de contratar Alonso, o espanhol faria de tudo para se transferir.
NOTÍCIA TODA HORA
E Ecclestone seria o catalisador do negócio. Para a F1 seria fenomenal. Para a imprensa, então, nem se fala. Uma guerra seria declarada, a curto prazo, entre o campeão do mundo de 2005 e 2006 e Hamilton, vencedor nas temporadas de 2008, 2014 e 2015.
Sairia Rosberg da Mercedes e entraria Alonso. Todos teriam garantia de notícia todo dia.
Resta saber se Wolff e mesmo o board da Mercedes concordariam em enfrentar esse inferno. Se com um piloto moderado, como Rosberg, o desafio de administrar a luta com Hamilton já foi bastante complexo, com Alonso seria quase impossível.
Seria inocência acreditar que o espanhol ou o inglês acatariam ordem para preservar o interesse do time. Para se ter uma ideia, domingo, no Circuito Yas Marina, a Mercedes pediu para Hamilton acelerar o ritmo pois a Mercedes poderia perder a corrida. A resposta do inglês: “Deixem-me em paz”. Depois falou, ainda: “Fui contratado para correr, não para obedecer ordens”.
A hipótese de Alonso deixar a McLaren para ir a Mercedes, apesar de maravilhosa para os interesses da F1, parece, hoje, pouco realista. Em razão do seu contrato e de Wolff e Niki Lauda saberem que estariam comprando um imenso problema, não administrável. De novo, nada é impossível na F1.
O SONHO DE VETTEL

O caso das duplas da Ferrari, Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen, e da RBR, Daniel Ricciardo e Max Verstappen, sugere ser ainda mais complexo. É muito pouco provável que um deles seja o companheiro de Hamilton em 2017. Agora, se Vettel tivesse a chance, iria correndo.
O tetracampeão do mundo está uma pilha de nervos. O motivo é conhecido. Com a experiência que tem e a conhecida inteligência, Vettel já viu que o modelo de gestão da Ferrari, adotado pelo presidente da empresa e da Fiat, Sérgio Marchionne, muito provavelmente não levará a escuderia ao título.
Marchionne privilegiou engenheiros jovens da Ferrari, ao dispensar o grupo liderado pelo capaz James Allison, em julho. Pela lei das probabilidades, que leva em conta a história da F1, as chances de a Ferrari conceber e construir um carro vencedor em 2017 são pequenas.
A rescisão de Vettel custaria uma fortuna, além de danificar a imagem da Mercedes, por desrespeitar o compromisso da Ferrari com o piloto. Mas não é impossível, somente pouco provável. O mesmo vale para outro piloto do interesse da Mercedes, agora com a saída de Rosberg, o alemão Nico Hulkenberg.
Dia 14 de outubro, depois do GP do Japão, 17º do calendário, a montadora francesa anunciou a contratação de Hulkenberg. Foi a escolha do diretor do time, o francês Frederic Vasseur, com quem o piloto foi campeão da GP2, pela ART GP, em 2009, na sua temporada de estreia.Tirá-lo da Renault teria um custo alto de imagem e financeiro para a Mercedes. Pouco provável.
VELHA GUARDA, DE VOLTA
Outro caminho possível, mas da mesma forma surpreendente se der certo, é a contratação de um dos dois pilotos que deixaram a F1, Jenson Button, pela McLaren, campeão do mundo de 2009, com Brawn GP, e Felipe Massa, Williams, depois de oito anos como titular da Ferrari, de 2006 a 2013, e um vice-campeonato nesse tempo, em 2008.
Como se vê, os caminhos da Mercedes são: primeiro, apostar as fichas em Wehrlein. Não criaria problemas. O piloto alemão é da sua academia e não tem contrato com ninguém. Segundo, seria a Mercedes convencer Vijay Mallya a liberar outro piloto da sua academia, Ocon, em troca de vantagens significativas no preço do fornecimento da unidade motriz.
Terceiro, jogar pesado e tirar um piloto capaz de lutar com Hamilton pelo título se o modelo de 2017 seguir sendo muito eficiente, como tudo indica. Como a dupla da Ferrari e RBR têm compromissos de ferro com seus times, o foco estaria em Alonso, um piloto extraordinário, mas cujo último título remonta ao distante 2005, pela Renault. Mas seria entrar em duas guerras, a da liberação do espanhol e o gerenciamento da convivência com Hamilton. Possivelmente seria explosiva, como em 2007, quando ambos competiram pela McLaren.
É por todos esses elementos que a candidatura de Bottas ganha força. Sua liberação seria menos complexa. A única questão é quem a Williams contrataria. É pouco provável que a organização inglesa aceite a oferta da Mercedes, Wehrlein, pela pouca experiência num ano difícil para os pilotos, como será 2017, com as novas regras da F1 e o limite bem mais elevado dos carros.
E nunca podemos descartar, ainda que também pouco provável, Wolff convidar Button ou Massa para reconsiderarem sua decisão de deixar a F1.
A definição da Mercedes não deve demorar muito tempo. Com certeza os celulares de Wolff e o dos empresários de todos os pilotos mencionados acima devem permanecer bom tempo ocupado nos próximos dias.
A vaga aberta na Mercedes mexeu com as outras duas da Manor e uma da Sauber, ainda disponíveis na F1. O abandono de Rosberg pode ajudar Nasr a permanecer na F1. Esse, no entanto, é assunto para outra reportagem.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/motor/for ... sberg.html