Ele era em disparado o animal de estimação com quem mais tive apego, e que mais sofri de ter perdido. Estava com agente há 13 anos, e devia ter aproximadamente 14, porque já o pegamos grande.
Quando jovem, na outra cidade que morávamos, botava o terror na cachorrada e na criançada quando conseguia escapar e sair pra rua. Todos corriam desesperados, sem exceção. Tinha uma cadela que corria dele já berrando desesperadamente mesmo faltando metros de distância pra ele alcança-la

Na rua nunca fez mal a nenhuma pessoa. Mas em casa, era um leão com desconhecidos. Com alguns parentes ele chegou a fazer amizade, porém, havia um limite, bastava essa pessoa com quem ele já estava acostumado tocar em algum objeto que ele sabia que era nosso, que ele a olhava de forma fulminante e rosnava mostrando os dentões, como se quisesse avisar: "Larga essa porra aí que é do meu dono, se não vai dar merda pro teu lado!".

Quando íamos pescar, eu, meu pai, ele e meu avô, ele pulava na água, nadava e trazia as linhas de pesca do meu avô para o meu pai

E como ele gostava de mato. E de nadar também. E ficava pulando alto pra tentar pegar os passarinhos. E era destemido, dava corridão nos bois e uma vez correu atrás e tascou uma mordida na bunda de um cavalo

Quando eu era pequeno, numa dessas pescarias, nadávamos eu e meu pai quando de repente ele pulou na água, agarrou minha camisa pela boca e começou a me puxar pra águas mais rasas, certamente pensou que eu estava me afogando.

Nesse últimos tempos passou por poucas e boas. Tinha umas crises, como era forte, se recuperava. Mas estava muito debilitado. Andava fraco, as vezes caia sozinho, enxergava mal, escutava mal, enfim. A velhice não perdoa, era um ruim ver aquele cão outrora forte, exuberante, destemido, impondo respeito a todos que o conheciam; agora apático, magro, meio curvado e tendo dificuldades até pra deitar e se levantar.
Ontem estava mal, não estava conseguindo mais se levantar e não queria beber nem comer nada. Hoje de manha acordei e fui vê-lo, estava morto. Lamentei muito, mas pra falar a verdade não estou tão triste, uma porque já estava preparado e sabia que se ele continuasse vivo por mais um tempo considerável, viveria mal. E outra por ter a consciência que sempre o tratamos bem, demos carinho, cuidado, atenção, e como resultado ele teve uma vida longa, boa e saudável enquanto pôde.
Vá em paz guerreiro!
