Profissionais da F1 falam sobre 1º GP: Mercedes na frente, mas Ferrari colada
GloboEsporte.com percorre paddock de Barcelona, nesta segunda série de testes, a fim de ouvir o que pensam profissionais da competição sobre as chances de cada time
Depois de oito dias de treinos no Circuito da Catalunha, quatro horas de manhã e quatro à tarde, as dez equipes que vão disputar o campeonato programado para começar dia 26, na Austrália, passaram uma ideia do seu estágio de preparação, o que podem produzir nas etapas iniciais. Agora está a cargo delas ratificar o seu bom momento, como a Ferrari, ou demonstrar capacidade de reação no caso dos que ficaram bem abaixo das expectativas, a exemplo da McLaren-Honda.
Este ano, por conta da importante mudança do regulamento, os projetistas vão introduzir vários componentes novos já na prova de Melbourne, o que potencialmente pode criar um cenário distinto do que os testes de Barcelona sugerem. “O time que melhor trabalhar o desenvolvimento do carro será o que, provavelmente, será campeão”, afimou Rob Marshall, um dos responsáveis pelo modelo RB13-Tag Heuer (Renault) da RBR de Max Verstappen e Daniel Ricciardo.
“Vamos assistir a um aumento grande de desempenho a cada GP, praticamente, pois estamos descobrindo como fazer os carros serem mais rápidos com essas novas regras a cada treino”, explicou Bob Bell, diretor técnico da Renault.
O GloboEsporte.com percorreu o paddock e os motorhomes das equipes no Circuito da Catalunha, nesta segunda série de treinos, a fim de ouvir o que pensam profissionais da competição sobre as possíveis chances de cada um no começo da temporada.
Jacques Villeneuve, campeão do mundo de 1997, disse ter ficado impressionado com o crescimento, “não esperado”, da Ferrari. “Mas não penso que a Mercedes expôs todo os seu potencial, com fizeram em 2016. Vamos conhecer a verdadeira força deles na classificação, em Melbourne, e na corrida.”
Vários dos entrevistados comentaram que uma das características dos testes preparatórios, este ano, é “a impossibilidade de apontar favoritos dentre as três melhores escuderias”, Mercedes, Ferrari e RBR.
“Eu acredito que a Mercedes tem ainda uma vantagem, não vista aqui (Barcelona), mas a exemplo dos últimos anos aparecerá na Austrália. A Ferrari tem um carro igualmente muito rápido e confiável. Vamos ver na primeira corrida se a Ferrari está tão próxima da Mercedes como pareceu aqui. A RBR deu pinta de estar um pouco atrás. E na sequência vejo a gente”, afirmou Felipe Massa, da Williams.
Discurso combinado
Niki Lauda e Lewis Hamilton, da Mercedes, podem ter combinado o discurso para fazer os italianos acreditarem que o limite do W08 Hybrid da Mercedes seja o apresentado nos treinos. “A Ferrari é a favorita”, disse o inglês, e “a Ferrari está dois décimos na nossa frente”, Lauda. “O que de fato pode ser verdade, depois do que vimos nos treinos”, comenta o diretor da Haas, Gunther Steiner.
“Vejo a power unit (unidade motriz) da Ferrari no mesmo nível da Mercedes, no mínimo. É grande a diferença entre a que usamos no ano passado e a desta temporada”, disse Steiner. A Haas corre com a unidade italiana.
Estima-se que em vez dos 30 cavalos a mais, como a maioria esperava por causa da total liberdade do regulamento das unidades motrizes este ano, elas já estejam respondendo com 50 cavalos, o que ajuda a explicar muito também a impressionante melhora da Ferrari. Nesse campo teria evoluído mais que a Mercedes.
Outro que não descarta a possibilidade de a Ferrari disputar com a Mercedes a pole position e a vitória já na abertura do campeonato é Bob Fernley, diretor da Force India, a organização que com um orçamento semelhante ao da Sauber, 110 milhões de euros (R$ 370 milhões), em 2016, terminou em brilhante quarto lugar entre os construtores.
Mas a exemplo de outros profissionais, Fernley destaca: “Vamos conhecer a real capacidade desse novo grupo técnico da Ferrari agora, no desenvolvimento do seu carro (o modelo SF70H)”. A equipe montada por Mattia Binotto, diretor técnico sem experiência que assumiu a Ferrari em julho, enfrentará o maior desafio daqui para a frente, segundo muitos.
Joan Villadelprat foi chefe da McLaren pouco antes de Ayrton Senna se transferir da Lotus para lá, em 1988. O espanhol ganhou dois títulos com Alain Prost e um com Niki Lauda. Apesar de Kimi Raikkonen ter registrado com a Ferrari SF70H o melhor tempo dos oito dias e o carro se mostrar rápido em todas as condições, simulação de definições do grid e corrida, Villadelprat ainda pensa que a Mercedes está na frente.
“Se eles tinham 30 quilos de gasolina no tanque viraram um segundo mais lentos. E só eles sabem disso. A Ferrari pode achar que por ter registrado os melhores tempos vai começar o campeonato na frente. Vão se surpreender na hora que a Mercedes liberar tudo para os seus pilotos”, disse o espanhol.
Red Bull ficou na sua
Essa vantagem do modelo W08 Hybrid não é, no entanto, como a dos modelos anteriores dos alemães nessa era da tecnologia híbrida. “Sebastian e Kimi vão estar bem perto de Lewis e Valtteri. E eu aposto que a Red Bull não fez nenhuma questão de mostrar suas garras. Tiveram problemas com a unidade motriz Renault, mas a hora que colocarem as peças novas no carro serão muito mais fortes.”
Entre os três, Mercedes, Ferrari e RBR a diferença de performance será pequena. “A superioridade da Mercedes não parece grande. Vamos assistir a uma temporada em que Lewis e Valtteri verão os concorrentes próximos deles.” E na luta entre os dois pilotos da Mercedes, outra atração do início do campeonato, Villadelprat comentou ter acompanhado a evolução do finlandês. “Será uma surpresa, ele vai estar no nível do Lewis.”
Outro que vê a Mercedes escondendo o jogo é o mexicano Jo Ramirez, chefe da McLaren na época dos três títulos de Senna, 1988, 1990 e 1991. “É impressionante o que a Ferrari está fazendo, como melhoraram. Mas a hora que todos estiverem na mesma condição, em Melbourne, vamos conhecer de fato a força da Mercedes.” E acrescenta: “De qualquer forma, a diferença, imagino, será pequena para a Ferrari. E a Red Bull vai chegar.”
Os problemas da Honda, especialmente, têm impedido Fernando Alonso não apenas de desenvolver o novo carro da McLaren, MCL32, mas prestar muita atenção no que outros times fizeram em Barcelona. Mas informalmente comentou que “na hora certa a Mercedes vai mostrar ser ainda a equipe a ser batida”.
Pensamento semelhante tem o diretor técnico da STR, o conceituado inglês James Key: “A Ferrari fez um bom carro, muito bom, mas vejo a Mercedes na frente”.
Essas dúvidas sobre o mais veloz hoje na F1, lembra Steve Nielsen, diretor esportivo da Williams, são boas para o campeonato. Ele também aposta numa pequena superioridade alemã. “Mas o fato de ninguém falar que eles (Mercedes) vão ser tão rápidos como costumavam ser é um sinal de que deveremos ter maior competitividade este ano. Nosso grupo também está se reestruturando e devemos crescer bastante. O nosso carro tem grande margem de crescimento.”
Os carros voltam à pista, agora, apenas dia 24, no primeiro treino livre do GP da Austrália.
Fonte:
http://globoesporte.globo.com/motor/for ... olada.html